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Acervo do Coelho | America MG » 2014 » dezembro

Dênis

Dênis

Denis vs Cruzeiro

FICHA TÉCNICA:

NOME COMPLETO: Dênisson Ricardo de Souza
Data de nascimento:
27/04/1974
Clubes:  América-MG (1990-2000, 2006-2007); Villa Nova-MG (empr.) (1994; 1996); Valeriodoce (empr.)  (1995); Uberaba -(empr.) (1996); Botafogo-RJ (2000-2001); Goiás (2002); Sporting Cristal (2002); Palmeiras (2003); Portuguesa (2004); Paysandu (2004); Grêmio (2005);
Partidas pelo América: 199
Gols pelo América: 19

Dênis foi um dos principais ídolos da torcida americana durante a chamada “Era Independência”: O zagueiro defendeu o Coelho cerca de 10 anos e teve participação em todas as principais conquistas do clube na década. Autor de 199 partidas e 20 gols pelo América, Dênis é considerado um dos melhores jogadores de sua posição na história do clube, onde é lembrado pela fidelidade e comprometimento com a instituição.

Outra grande cria da base americana, Dênis começou sua carreira nas categorias de base do Coelho em 1990. Apesar de atuar como zagueiro, o jogador impressionou ao ser o vice-artilheiro do América no Campeonato Mineiro de Juniores de 1992 e recebeu uma chance no profissional como recompensa, após suspensão do titular Luiz Carlos Marins, outro grande zagueiro americano, autor de 273 partidas pelo clube.

Denis 1990

Dênis: Americano desde 1990.

Com apenas 17 anos de idade, Dênis foi considerado pela imprensa uma das principais revelações do Estadual de 92, durante a campanha que levou o time americano a final do Campeonato Mineiro pela primeira vez em 19 anos. No fim de sua primeira temporada pelo América, ainda participou do retorno do América à Série A do Campeonato Brasileiro depois de 11 anos.

Teria o América achado um amuleto da sorte? Talvez, porque na temporada seguinte, Dênis conquistaria o primeiro título da carreira profissional, durante a histórica conquista americana do Campeonato Mineiro após 22 anos de jejum. O zagueiro de apenas 18 anos ainda era reserva da dupla formada por Luis Carlos Marins e Lelei, mas mesmo assim participou de um sólido setor defensivo, responsável por ficar mais de 400 minutos sem sofrer gol durante a competição.

O futuro ídolo estava tendo um bom início de carreira pelo América, mas depois do clube ser banido do circuito nacional após acionar a Justiça Comum contra a a CBF, muitos jogadores da base tiveram que ser emprestados para aliviar a folha salarial de uma equipe sem divisão nacional. Dessa forma, assim como outros futuros ídolos como Wellington Paulo, Dênis foi um dos tantos jogadores da base do Coelho que foi emprestado para equipes do interior mineiro entre 1994 e 1996: O jogador defendeu o tradicional Villa Nova, de Nova Lima, no segundo semestre de 1994 e no Campeonato Mineiro de 1996, permaneceu no Valeriodoce durante toda temporada de 1995 e ainda teve uma breve passagem pelo Uberaba no segundo semestre de 1996.

Mas Dênis se firmou definitivamente no América ao retornar de empréstimo em 1997, quando provou de vez que conferia uma estranha sorte ao clube. Afinal, bastou o zagueiro voltar para o América ser campeão de seu primeiro título nacional, o Campeonato Brasileiro da Série B. Então com 23 anos, Dênis voltou a participar com frequência da equipe titular do América e participou com eficiência do setor defensivo mais bem-sucedido da história do clube. Ao lado de alguns dos mais célebres defensores americanos, como Ricardo Evaristo, Gilberto Silva, Wellington Paulo e Júnior, o jogador contribuiu para a equipe permanecer durante todo Campeonato Brasileiro sem sofrer nenhum gol no estádio do Independência, somando mais de 1000 minutos de invencibilidade como mandante, um recorde nacional entre equipes mineiras. O jogador ainda era reserva, mas no papel de substituto imediato de Ricardo Evaristo e Júnior, em caso de lesão ou suspensão dos titulares, e, no fim, atuou em 19 das 23 partidas do certame, tendo mais minutos em campo que o titular Ricardo.

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Dênis participou do título brasileiro de 1997 como o primeiro reserva do Coelho. (Foto: Reprodução – Acervo Torcida Desorganizada Avacoelhada)

Em 1998, Dênis enfim assumiu a titularidade do América e não largou mais o osso até deixar o clube. Em 1999, foi o capitão da equipe que levou o América à final do Campeonato Mineiro e que garantiu o acesso à série A de 2000. O jogador logo se tornou uma das presenças mais fortes do clube na época, tendo um importante papel de liderança para o elenco.

O zagueiro tinha o América como a própria casa e família e, sem fugir das responsabilidades típicas de um capitão, ajudava os companheiros dentro e fora de campo sempre com muita dedicação, ética e comprometimento. Diversos são os casos que confirmam esse aspecto de liderança do jogador: Dênis diretamente evitou a dispensa de Fábio Noronha após ato de indisciplina, fazendo com que o goleiro se regenerasse e renovasse o contrato diversas vezes, levou o artilheiro Somália para morar em sua própria casa e direcionou a carreira do jogador quando foi transferido para o exterior, ajudou o talentoso Claudinei a se controlar, jogador que tragicamente faleceu em 2004, e ainda influiu diretamente para evitar que o maior campeão da história do América desde o deca-campeonato deixasse o clube, influindo diretamente na permanência do zagueiro Wellington Paulo.

A interferência de Dênis para a permanência de Wellington Paulo noo clube foi um dos casos mais emblemáticos de liderança e visão do capitão americano. Confiando no talento e integridade de WP, Dênis fez de tudo a seu alcance para que o então jovem zagueiro, que havia acabado de retornar de um empréstimo ao Americano-RJ, enfim recebesse suas merecidas chances na equipe titular do Coelho. Apesar de certa desconfiança da diretoria em um primeiro momento, a dupla não decepcionou, foi a melhor defesa do Campeonato Mineiro de 1999, chegou à final contra o Atlético-MG e só não foi campeão por causa de um erro do árbitro Luiz Afonso Bicalho na terceira final, a única que foi apitada por um juiz caseiro (1×1, 0x0 e 0x1).  No futuro, Wellington Paulo acumularia 315 partidas e 6 títulos pelo Coelho, tudo graças a Dênis, que lhe deu um voto de confiança lá atrás em 1999.

Dupla afiada

Dênis e WP: Parceria dentro e fora dos gramados.

A consagração merecida do defensor veio com a conquista de seu terceiro e último título pelo clube, a Copa Sul-Minas de 2000, quando formou uma histórica dupla de zaga com seu antigo companheiro Wellington Paulo. Com atuações seguras e convincentes durante o título, Dênis consolidou-se ainda mais como ídolo americano, não apenas pela qualidade em campo, como também pela dedicação fora dele. Pouco a pouco, o jogador ganhou a torcida pela raça, qualidade e voluntariedade nos gramados, mas também pelo longo tempo de casa e pelo comprometimento com a causa mineiro-americana.  Com a conquista regional de 2000, Dênis completou sua “trinca pessoal” de títulos pelo Coelho, sendo campeão pelo clube em nível estadual, regional e nacional. A taça apenas coroou a incrível carreira de um jogador que esteve ao lado do América durante mais de 10 anos, da terceira à primeira divisão, do título mineiro após 23 anos, até o primeiro título brasileiro e regional da história do clube.

Denis _ WP SULMINAS

A histórica dupla de zaga formada por Dênis e WP é considerada uma das melhores da história do América. Ambos interferiram diretamente na conquista da Copa Sul-Minas de 2000.

Valorizado e preterido pelas maiores equipes do país, Dênis foi vendido para o Botafogo-RJ em 2000, por cerca de R$1.000.000. O clube carioca venceu disputa acirrada contra o São Paulo e contratou o jogador logo após o fim do Estadual daquele ano. Pouco antes, Dênis havia recusado uma transferência para o Atlético-MG, que pretendia leva-lo junto a Gilberto Silva e Irênio. O jogador ainda teve boas passagens por outras equipes competitivas do futebol brasileiro, como o Goiás em 2002, o Palmeiras em 2003, o Paysandu em 2004 e o Grêmio em 2005.

Pouco antes de pendurar as chuteiras, Dênis confirmou um esperado retorno ao Coelho em 2006. No entanto, a volta do ídolo foi ofuscada pelo mau momento do clube na época e o zagueiro teve que deixar o América após 3 meses de salário atrasado, rumo a uma transferência para a China em 2007, quando recusou-se a acionar à Justiça contra o time do seu coração.

Nota-se que a carreira de Dênis serve como registro da história do América durante a década de 90. Não é a toa: São poucos que tem a honra de dizer que defendeu um clube por 10 anos. Ao todo, foram 199 partidas, 20 gols, 3 títulos e 3 vice-campeonatos.

Atualmente, Dênis é sócio e fundador da empresa DR3 Sports, que administra a carreira de mais de 50 atletas em atividade no futebol profissional. O jogador mais ilustres já empresariado por Dênis foi Gilberto Silva, seu antigo parceiro de zaga no Coelho entre 1997 e 1999.

Questionado sobre a qualidade da base americana na década de 90, Dênis não hesitou em destacar a humildade, valentia e união como fatores determinantes para o sucesso dos garotos americanos:

“Não tinha vaidade em dizer se quem cuida da base era A ou B. Éramos do América. Queríamos jogar no Independência ou no Mineirão contra Atlético e Cruzeiro para mostrar que éramos capazes de vencer. Éramos uma família que respeitava um ao outro, e o América na frente. Quem viesse, tinha que se enquadrar, se não estava fora.” – disse o zagueiro em entrevista exclusiva para o Acervo do Coelho.

Wellington Paulo

WELLINGTON PAULO

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Nome completo: Wellington Paulo da Silva Barros
Data de nascimento:
01/12/1972
Clubes:  América-MG (1990-2000, 2005, 2009-2010); Jequié (empr/1993, 1995); Paraisense-MG (empr./1994); Americano-RJ (empr./1998); Atlético-PR (2002); Vasco da Gama (2003-2004); Náutico (2005)
Partidas pelo América: 315

Wellington Paulo da Silva Barros, ou “O Eterno Capitão” para os torcedores americanos, é um dos jogadores que mais venceu e atuou pelo América na história. Autor de 315 partidas pelo clube, o antigo zagueiro é o maior campeão da história do pavilhão desde o deca-campeonato, tendo vencido seis títulos a serviço do Coelho, três deles como capitão: Campeonato Brasileiro da Série B de 1997 e da Série C de 2009 (capitão), Copa Sul-Minas de 2000, Campeonato Mineiro de 1993 e 2001 (capitão), além da Taça Minas Gerais em 2005 (capitão). Wellington Paulo também teve passagens de destaque pelo Atlético Paranaense campeão paranaense em 2002 e pelo Vasco da Gama, campeão carioca pela última vez em 2003.

Assim como Gilberto Silva, Dênis e Ricardo Evaristo, Wellington Paulo foi outro grande zagueiro formado nas categorias de base do clube durante a década de 1990, fazendo parte de uma safra de ouro que certamente correspondeu as expectativas pela equipe profissional. O futuro capitão foi promovido para os profissionais do América em 1992 e, na temporada seguinte, comemorou o primeiro título de sua carreira, o Campeonato Mineiro de 1993. Embora não tenha não disputado nenhuma partida no certame, WP fez parte do elenco campeão e chegou a ser relacionado para partida contra o Valério. Mesmo assim, torcida e o próprio jogador não titubeiam em considerar o estadual de 1993 como o primeiro título do vitorioso zagueiro pelo clube.

Pouco depois, após o América ser banido do circuito nacional após acionar a Justiça Comum contra a CBF, a maior parte dos jovens jogadores do elenco foram emprestados, a fim de aliviar o orçamento de um clube sem divisão nacional. Dessa forma, a fim de se manter em atividade e ganhar experiência, o zagueiro foi emprestado para clubes de menor expressão, como o Jequié da Bahia (1993-95), então na primeira divisão do Campeonato Baiano, e o Paraisense-MG (1994), que disputava o Módulo II. Mas em 1997, WP retornou ao América e, ainda como reserva, participou do primeiro título nacional da história do clube. O zagueiro integrou a lendária defesa que ficou toda competição sem sofrer gol no Independência.

​Depois de um último empréstimo ao Americano-RJ para a disputa do Campeonato Carioca de 1998, WP enfim se firmou como titular do Coelho durante a temporada de 1999, muito graças a influência de outro ídolo americano, Dênis. Então capitão do América, Dênis influenciou diretamente para que seu futuro sócio recebesse chances na equipe titular. Apesar de certa desconfiança da diretoria, a nova dupla não decepcionou e logo se consagrou como uma das melhores defesas do América no séc. XX: No Campeonato Mineiro do mesmo ano, o América teve a melhor defesa da competição, alcançou à final contra o Atlético-MG, mas perdeu o título graças a um erro do árbitro Luiz Afonso Bicalho na terceira e última final, a única que foi administrada por um juiz de dentro do Estado (1×1, 0x0 e 0x1). Mesmo assim, o Coelho ainda alcançou o acesso à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro na mesma temporada.

Mas a consagração veio mesmo na temporada seguinte, quando a dupla liderou o Coelho rumo ao título da Copa Sul-Minas de 2000, a primeira conquista de WP como titular do América. Mesmo em disputa com as maiores equipes de Minas Gerais e da região Sul do Brasil, o Coelho conseguiu a histórica conquista, sobretudo, porque era comandado por uma defesa espetacular formada por três dos maiores ídolos da torcida americana na história (WP, Dênis e Milagres). Aos prantos, Wellington Paulo não conteve a emoção por seu primeiro título como titular americano e desabafou após a histórica vitória por 2×1 sobre o Cruzeiro na final: “Contra tudo e contra todos! Contra tudo e contra todos! O nosso time é poderoso também! Não é fácil ganhar do América, não! Precisa ganhar aqui dentro!”, disse o defensor de forma extasiada a imprensa.

Denis _ WP SULMINAS

Wellington Paulo se firmou ainda mais como ídolo americano em 2001, com a conquista de seu segundo título estadual pelo Coelho, o primeiro como capitão da equipe, quando comandou um time desacreditado composto majoritariamente por jogadores formados nas categorias de base. Curiosamente, o Coelho esteve ameaçado de rebaixamento durante o início da competição, depois de 5 jogos sem vitória nas primeiras rodadas, mas protagonizou grande reviravolta rumo a final, com 9 vitórias em 11 jogos. Wellington Paulo foi o autor do primeiro gol do América durante a histórica goleada por 4×1 sobre o Atlético na primeira final de 2001 e o maior símbolo do título e reviravolta americana.

Valorizado com as conquistas, o zagueiro transferiu-se para o Atlético-PR em 2002, um ano depois da equipe da capital paranaense se sagrar campeã do Brasileirão da Série A. O jogador foi campeão estadual do mesmo ano e também se destacou durante as disputas da Copa Libertadores da América e do Campeonato Brasileiro. As boas atuações pelo Furacão chamaram a atenção do Vasco da Gama, que o contratou em 2003. Ao lado de verdadeiros craques como Petcovic e Marcelinho Carioca, WP foi titular da equipe campeã carioca em 2003, o último título estadual conquistado pela equipe cruzmaltina até então, e permaneceu até 2004 em São Januário.

Depois de dois anos no Vasco, o defensor acertou com o Náutico em 2005, por quem também teve boas atuações durante a Série B de 2005. Wellington Paulo quase subiu de divisão com o Timbu, mas perdeu o acesso depois da famosa “Batalha dos Aflitos” contra o Grêmio, que superou os pernambucanos fora de casa mesmo com 3 jogadores a menos.

Depois de disputar os Campeonatos mais competitivos do país, WP retornou ao América ainda no fim de 2005 e trouxe de volta a bagagem e experiência necessária para novamente ser campeão como capitão, durante o primeiro título americano da Taça Minas Gerais desde 1980, após emocionante disputa por pênaltis contra a Caldense, no estádio do Independência. Já era o quinto título de Wellington Paulo pelo América, o segundo como capitão.

O ídolo americano ainda teve tempo para levantar seu sexto e último troféu como capitão do América em 2009, durante a conquista do Campeonato Brasileiro da Terceira Divisão. Ao lado do meio-campo Irênio e do lateral Evanílson, WP foi um dos poucos que participou dos dois títulos nacionais do Coelho. Não à toa,  foi um dos grandes símbolos do bi-campeonato brasileiro conquistado sobre o ASA-AL. Durante a segunda final contra os alagoanos, o zagueiro completou exatas 300 partidas pelo Coelho e recebeu permissão da CBF para jogar com o número simbólico em sua camisa.

O jogador se despediu oficialmente do clube em 2010, após completar 315 partidas pelo América no total. Após breve passagem pelo Funorte-MG, WP pendurou as chuteiras definitivamente em 2011. Campeão de seis títulos pelo e terceiro jogador que mais atuou pelo América, WP é um dos jogadores mais queridos pela torcida do Coelho e o maior campeão da história do clube desde o deca-campeonato.

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WP levantou sua terceira e última taça como capitão do América em 2009, durante o título brasileiro da Série C. (Foto: Reprodução – Globo Esporte)

Juca Show

JUCA SHOW

Juca Show Mineirao

Juca Show é imortalizado na calçada da fama do Mineirão um dia antes do início das reformas do estádio para a Copa do Mundo.

Juca Show é considerado um dos maiores ídolos da história do América: O craque brilhou com a camisa americana no início da década de 70, sobretudo durante o Campeonato Brasileiro da Série A de 1973, quando liderou o Coelho rumo à sua melhor colocação na história do torneio, o sétimo posto. Ao lado de outros doze ex-jogadores do América, o eterno Juca possui os pés imortalizados na calçada da fama do estádio do Mineirão, onde é considerado um dos jogadores que mais brilhou no estádio.

Juca Show foi um daqueles craques que não precisou conquistar títulos para conquistar o status de ídolo da torcida. Momentos de enorme destaque individual e um grande amor à camisa americana foram suficientes para colocar o craque no hall maior dos ídolos americanos.  Afinal, Juca Show permaneceu frequentando os jogos do América como torcedor até o dia de seu falecimento, enquanto como jogador, era o tipo de craque que encantava o torcedor com um futebol alegre, marcado por dribles desconcertantes e uma habilidade fora do comum, no melhor estilo “show-man”, como bem sugere seu nome de batismo no futebol.

Juca Show

Nascido na capital paulista, Juca Show teve passagens pela base do São Paulo ainda jovem, mas começou a carreira profissional bem longe de casa, no futebol do interior mineiro, à serviço do Ituiutaba. Mas as primeiras aparições de destaque do meia foram mesmo pelo Independente de Uberaba, em 1967, quando foi considerado uma das principais revelações do Campeonato Mineiro.

Alguns anos depois, o craque voltaria a brilhar no Campeonato Mineiro de 1971 pelo modesto Fluminense de Araguari. Juca Show chamou atenção, sobretudo, em partida contra o Coelho, sua futura equipe: Na penúltima rodada do certame, o craque só faltou fazer chover contra uma das melhores formações da história do América, garantindo o empate de sua equipe por 1×1, resultado que quase comprometeu o título estadual americano invicto. Juca Show jogou tanta bola naquele jogo, que os próprios torcedores contribuíram financeiramente para adquirir o passe do jogador, durante o folclórico caso que ficou conhecido como “a vaquinha para contratar Juca Show”.

Os torcedores americanos provaram estar certo e o jogador não demorou para se entrosar com aquele time mágico de 1971, campeão mineiro invicto e que garantiu presença no primeiro Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão da história. A parceria entre Jair Bala e Juca Show durante a histórica Série A Nacional de 71 marcou o encontro histórico de dois ídolos sagrados do pavilhão americano, mesmo que por pouco tempo.

Mas o principal momento de Juca Show pelo América seria mesmo em 1973, quando o craque liderou o clube rumo ao vice-campeonato estadual e à sétima colocação na Série A do Campeonato Brasileiro, a melhor colocação do clube na história da competição. Naquele ano, o Coelho chegou a liderar o Campeonato Brasileiro por algumas rodadas, mas não conseguiu manter o bom desempenho após a demissão do identificado treinador Orlando Fantoni no meio da competição, que deixou o clube após ter pedido de aumento salarial recusado pela diretoria.

Sem o antigo treinador, que sabia dirigir Juca Show “como quem pilotava uma Ferrari”, o América caiu de rendimento e ficou em terceiro lugar de seu grupo e em sétimo lugar geral. Mesmo assim, aquele time ficou lembrado por atuações históricas durante o Campeonato Nacional, quase sempre lideradas por Juca, como as vitórias sobre Vasco da Gama, Atlético-MG, Corinthians e Santos, ainda com Pelé.

Nessa época, Juca Show chegou a ser cogitado para integrar a Seleção Brasileira durante a Copa de 1974 e fez parte das listas de pré-convocação do Mundial, mas foi cortado da lista às vésperas do torneio. O antigo treinador da Seleção, Mario Zagallo, declarou publicamente que o craque americano era um jogador de nível de seleção Brasileira e até foi visitar o Mineirão para avaliar seu desempenho, além de outros jogadores americanos que também encantavam o Brasil, como Pedro Omar e o goleiro Neneca.

Juca Show também recebeu elogios públicos de membros importantes da mídia esportiva nacional do período: Enquanto o lendário João Saldanha, jornalista e antigo treinador da Seleção Brasileira, o definiu como “O Novo Didi”, “O Mestre” Nelson Rodrigues, impressionado pela atuação do jogador durante a vitória americana por 2×1 sobre o Vasco em pleno Maracanã, escreveu uma coluna em sua homenagem, no dia seguinte a partida, batizada de “Seu Nome é o Show”. O célebre Armando Nogueira também se rendeu ao talento do craque, ao exigir a convocação de Juca Show para a Copa do Mundo de 1974.

No entanto, depois da disputa do Campeonato Brasileiro, um valorizado Juca Show foi vendido ao Náutico, ao lado dos craques Pedro Omar e Neneca, a pedido de seu antigo técnico no América, Orlando Fantoni.  Os ex americanos não decepcionaram e foram campeões pernambucanos de 1974, após alguns anos de jejum do Timbu.

No total, Juca fez 71 partidas pelo Coelho entre 1971 e 1974 e marcou nove gols. O craque teve seu pé imortalizado na calçada da fama do Mineirão em 2010, apenas dois dias antes da grande reforma do estádio para a Copa do Mundo de 2014.

Xodó eterno da torcida americana, Juca costumava frequentar o Independência nos dias de jogo do Coelho. Amigo íntimo dos torcedores, Juca Show nunca recusou o abraço de nenhum americano e se alegrava com pedidos de autógrafos e fotos. No entanto, após driblar tantos zagueiros, Juca Show jamais conseguiu driblar a bebida que lhe causou tantos problemas durante a carreira – como tanto costumam dizer nas esquinas do Independência.

Em 2011, a triste notícia de que Juca Show era vítima de um câncer generalizado abalou o coração dos fieis americanos. Juca passou seus últimos dias sob dificuldades, e coube ao América financiar o tratamento de seu ídolo após tantos anos.

No dia 31 de dezembro de 2011, apenas um dia antes do América entrar no ano de seu centenário, a tristeza tomou conta do Horto com o adeus a Juca, que deixou a Terra para imortalizar-se na história do Coelho. Aos torcedores, coube a ilusão de que o antigo meia deixou o América às vésperas do centenário para poder comemorar a data ao lado dos antigos heróis do pavilhão. Juca Show foi um dos grandes nomes da instituição América, e, talvez, sua morte tenha ocorrido em um dia tão simbólico para o Coelho adentrar seu centenário em contato com aqueles que deram a vida para construir o clube.

Juca Show Mineirao 2

Juca Show durante a cerimônia que o imortalizou na calçada da fama do Gigante da Pampulha.

Jardel

Jardel

Jardel

“O Cavaleiro Negro” 

Jardel foi considerado pela grande maioria dos torcedores americanos o melhor goleiro da história do Coelho até a aparição de Milagres na década de 90, jogador com mais partidas pelo clube na história. Notabilizado por sempre trajar um uniforme preto esem precisar do auxílio de luvas, Jardel ficou conhecido como “Cavaleiro Negro” por imprensa e torcedores mineiros dos anos 1950.

Com menos de 20 anos, o jovem arqueiro foi titular da histórica equipe americana de 1957, campeã da “Tríplice Coroa” estadual. Naquela temporada, o Coelho foi hegemônico no futebol mineiro, sendo campeão de todas as categorias promovidas pela Liga (Profissional, Juvenil e Aspirantes). Jardel foi um dos cincos jogadores que foram campeões mineiros em nível juvenil, e subiram para a equipe na sequência para ser campeão mineiro profissional, assim como o notório atacante Zuca.

Apesar da pouca idade, o jovem goleiro foi capaz de bancar o antigo ídolo americano Tonho, terceiro jogador com mais partidas pelo América e um dos poucos remanescentes do título estadual de 1948. se destacou durante a campanha, fechando a meta americana com defesas plásticas e saltos olímpicos. O talento de Jardel era tamanhocapaz de bancar o ídolo Tonho, terceiro jogador que mais atuou pelo clube e um dos poucos remanescentes do título estadual de 1948.

Jardel também ganhou o torcedor americano pelo costume de brilhar em partidas decisivas. Em entrevista ao site Superesportes, o ex-goleiro recordou da importante vitória no clássico contra o Atlético-MG (2×0) durante a campanha de 1957:

“O Alvinho deu um chute certeiro. Saltei para fazer a defesa e, no ar, vi a torcida do Atlético se preparando para comemorar o gol. Fiz a defesa e mostrei a bola nas minhas mãos para os torcedores” – Disse orgulhoso o antigo Cavaleiro Negro.

De jovem revelação a ídolo máximo da torcida, Jardel seguiu se destacando após o título de 57, quando se firmou como um dos atletas mais respeitados e reconhecidos de Minas Gerais. Xodó e ícone do Coelho, Jardel também foi vice-campeão estadual em 1958 e 59, sendo um dos principais ídolos da geração de 57-61, marcada por excelentes campanhas no Estadual e um time recheado de jogadores talentosos.

SANTA CRUZ

Depois de brilhar pelo Coelho, Jardel seguiu se destacando na capital pernambucana à serviço do Santa Cruz, durante a década de 1960, onde foi campeão estadual em 61 e 62. Assim como no América, o goleiro também é considerado um ídolo histórico do clube nordestino. O grande legado de Jardel é que, em ambos os clubes já centenários, o arqueiro é constantemente indicado como um dos melhores da posição em todos os tempos.

APOSENTADORIA E O ADEUS

Após pendurar as luvas, Jardel se dedicou como professor de escolinhas de futebol de base e foi o fundador de equipes de futebol juvenil como o “Cavaleiro Negro Esporte Clube”, em atividade até hoje, e o “Jardel Escola de Futebol”.

O antigo paredão faleceu em uma sexta-feira, no dia 5 de junho de 2009, vítima de uma parada cardíaca. Apesar de ter partido em Terra, Jardel vive para sempre eternamente nas memórias americanas. Até hoje, o antigo goleiro é constantemente indicado pelos torcedores americanos como um dos melhores de sua posição na história do clube.

Gunga

Gunga

DO AMÉRICA AO BARCELONA

O atacante Gunga é o segundo maior artilheiro da história do América, com 105 gols marcados em 153 jogos, atrás apenas do imortal Satyro Taboada. Gunga teve duas passagens brilhantes pelo América: Em 1956, foi o principal destaque da primeira excursão do clube a Europa, o que lhe valeu uma transferência para o Barcelona no início de 1957, enquanto entre 1958 e 61, Gunga retornou ao Coelho para ser três vezes vice-campeão estadual (1958/59 e 1961) e o artilheiro do Campeonato Mineiro de 1959 com 13 gols e o vice-artilheiro em 1958 com 9.

Gunga chegou ao América em 1956, com a ingrata missão de substituir o ídolo Jaburu, recém contratado pelo Porto de Portugal. Gunga foi indicação pessoal do antigo xodó americano, que o conhecia dos campos de várzea em Valença, no Rio de Janeiro.

Habilidoso e exímio finalizador, o centroavante conhecia como poucos os segredos da pequena área, onde, segundo suas próprias palavras, “o atacante é o deus”:

“A área é do atacante, ali ele é o deus. O adversário é quem tem que se virar mesmo, porque, além da vantagem que o artilheiro tem, existe o que é importante para ele: a trave, com mais de sete metros, e a área do pênalti.” – disse Gunga, com precisão inigualável para descrever a facilidade que um dia teve para balançar as redes.

Logo em sua primeira temporada pelo América, Gunga brigou pela artilharia do Campeonato Mineiro, sendo o principal goleador americano na competição, com 8 gols. Mas o atacante brilhou mesmo durante a primeira excursão do clube a Europa, quando o Coelho disputou partidas contra equipes da Alemanha, França, Espanha, Polônia e Bélgica. Gunga foi o principal artilheiro do América na viagem, tendo registros de pelo menos 15 gols marcados pelo atacante durante a excursão pelo Velho Continente.

O impressionante desempenho do craque em território espanhol (7 gols em 4 jogos)  chamou a atenção de ninguém menos que o poderoso Barcelona, que comprou o passe do atacante por quase um milhão de cruzeiros (800 mil) em março de 1957. Pouco antes, o atacante havia integrado a Seleção Mineira de Futebol, ao lado de outros cinco jogadores americanos (Edgar, Wilson Santos , Geraldo, Dodô e Tonho).

Depois de cerca de um ano no clube catalão, Gunga retornou ao Brasil em 1957, para atuar no Botafogo. O jogador ainda teve uma curta passagem pelo Sport antes de confirmar o aguardado retorno ao América, em 1958.

Durante sua segunda passagem pelo América, Gunga confirmou ainda mais seu status de ídolo mineiro-americano. De volta a Alameda para defender a equipe que havia conquistado a tríplice coroa um ano antes, o craque por pouco não levou ao Coelho ao bicampeonato estadual, quando foi vice-campeão e vice-artilheiro, com 9 gols.

O América tem muito a se queixar pelo vice de 1958 justamente porque Gunga, que já havia se transformado na principal esperança de gols da equipe, ficou de fora de todo o restante da competição após uma goleada por 3×0 clássico contra o Atlético, quando foi trucidado em campo pela agressividade da marcação adversária. Naquele dia, Gunga teve uma fratura nos ossos da região orbital tamanha a brutalidade alvinegra, o que lhe custou a participação no restante do certame. A forma como o jogador foi agredido em campo foi covarde de tal forma que o caso foi parar na delegacia, em um acontecimento sem precedentes no futebol mineiro. Em entrevista ao jornal “O Estado de Minas”, o jogador narrou o caso com suas próprias palavras:

“Todos sabem que jogo duro, mas na bola. Arizona, Benito, Celso e William (jogadores do Atlético-MG) tramaram um complô para inutilizar-me. Desde que viram o jogo perdido, passaram a caçar-me. No lance em que fui atingido e estranhamente o juiz não viu, os quatro investiram contra mim, tendo um deles gritado: ‘é agora!’. Quando me preparava para saltar e cabecear a bola, os quatro me imprensaram e o zagueiro, aproveitando a confusão, desferiu-me criminosa cotovelada no olho. Caí vendo tudo escuro. Tentei levantar-me, mas estava tonto e cego. Ao ser retirado de campo, ainda pude perceber que eles não estavam satisfeitos, pois naquele exato momento Ilton atacava ferozmente o meu companheiro Roberto. O sangue que escorria pelo meu rosto é o mesmo que ferve minhas veias. Por isto voltei ao campo quase cego de indignação e dor. Não estava vendo nada direito e parti sobre Celso, supondo que fosse Benito. Porém, qualquer um dos dois serviria. Como serviriam também o Arizona e o William… Voltei para terminar a briga começada por eles de maneira tão indigna. Eles porém se acovardaram. Mas aí depois que errei o alvo o juiz me expulsou. Matem-me, mas não me batam!”.

(Depoimento disponibilizado na enciclopédia oficial do clube)

Os gols e o talento de Gunga o transformava no principal alvo da pancadaria dos rivais. Mas apesar da impiedosa perseguição adversária, o desempenho do craque foi ainda melhor em 1959, quando o atacante se recuperou da lesão no ano seguinte de forma magistral e, com sede de vingança, conseguiu pela primeira vez a artilharia do Campeonato Mineiro, ao anotar incríveis 17 gols durante a campanha novamente vice-campeã do América. Dois anos mais tarde, em 1961, o Coelho foi vice pela terceira vez em cinco anos, dessa vez pela diferença de apenas um ponto para o primeiro colocado Cruzeiro.

Por detalhes, injustiças, erros de arbitragem ou mesmo o próprio azar, Gunga foi um daqueles craques que conseguiu se marcar como ídolo de um clube mesmo sem a conquista definitiva de um título. Afinal, o artilheiro participou com protagonismo de uma das mais memoráveis gerações americanas, marcada por grandes campanhas no estadual, e que tanto encantou torcedores na velha Alameda. Vice-campeão estadual duas vezes consecutivas, o grande azar de Gunga no América foi ter ficado de fora da conquista da Tríplice Coroa em 1957. Mesmo assim, o craque participou indiretamente da conquista, contribuindo financeiramente para a formação da equipe campeã, já que foi, ao lado de Edgar, a principal transferência do Coelho durante a temporada vitoriosa.

Após cinco temporadas à serviço do Coelho, Gunga deixou a Alameda logo após o vice-campeonato estadual de 1961, como ídolo da torcida e maior artilheiro da era profissional do América. O atacante ainda foi treinador-jogador na Venezuela, por equipes como o Galícia e o Deportivo Itália, antes de encerrar a carreira com 43 anos.

Curiosamente, apesar de ter sido um notável craque com passagem pelo Barcelona e tudo mais, o segundo maior artilheiro da história do América passou seus últimos dias na pobreza, como tantas outras lendas de sua época, em um trágico contraste com os eternos dias de glória do passado. Falecido em 1991, com apenas 59 anos, Gunga deixou a Terra sem dizer adeus, mas jamais deixará a memória do centenário América, onde permanece vivo como o segundo maior artilheiro da história do clube mais de 50 anos depois de sua passagem.

Jaburu

JABURU (Jorge de Souza Mattos)

Jaburu - porto 2

O atacante Jaburu foi um dos grandes ídolos do América e do Porto de Portugal durante a década de 1950. O jogador revelado pelas categorias de base do Fluminense chegou ao Coelho em 1956, após breve passagem pelo Olaria. Encomendado diretamente pelo folclórico treinador Yustrich, Jaburu não demorou em conquistar a torcida americana.

Centroavante nato, o craque tinha todos os requisitos para um bom goleador: Apesar da altura e força física, sobrava frieza e habilidade para finalizar com qualquer das pernas. Craque de gols bonitos, Jaburu se tornou o principal jogador do clube durante o Campeonato Mineiro de 1956 e os amistosos nacionais disputados no mesmo ano.

GOLS GUARDADOS NA MEMÓRIA

A curta e fulminante passagem de Jaburu pelo América ficou marcada por belos gols, cujos registros residem apenas em jornais da época e nas memórias do torcedor americano.

Segundo consta reportagem de Eugênio Moreira para o jornal “O Estado de Minas”, em partida amistosa contra o Vasco da Gama, o jogador fez valer o ingresso com um golaço marcado após desconcertante chapéu em um zagueiro cruz-maltino, durante a derrota por 2×1.

Na partida seguinte, contra o Flamengo, Jaburu desenhou nova pintura ao driblar todos os adversários rubro-negros que se puseram a frente. No mesmo mês, novo golaço contra o Cruzeiro apenas confirmou o talento do atacante, após o tento que definiu a vitória do América por 2×0. Após a partida, seu gol foi a principal manchete do diário esportivo do Estado de Minas: “Portentoso gol de Jaburu, o grande lance da partida”, anunciou o tabloide seguido de uma foto do goleador.

EM PORTUGAL

O sucesso de Jaburu pelo América rendeu ao atacante uma transferência ao Porto de Portugal, em um valor que consumou 700 mil Cruzeiros. A negociação durou mais de um mês, tendo sido iniciada por fax no dia 26 de junho e concluída no dia 10 de agosto.

O jogador também havia despertado o interesse de outros clubes como Flamengo e Vasco da Gama. Alguns dizem que a ida ao Rio de Janeiro teria consagrado o jogador no “hall da fama” do futebol brasileiro. Para substituí-lo no ataque americano, o antigo ídolo indicou Gunga, outro notório atacante alviverde – o segundo maior artilheiro da história do América, atrás apenas de Satyro Taboada. Foi a última contribuição do craque pelo América.

Pelo Dragão Português, Jaburu viveu a melhor fase de sua carreira. Novamente o craque foi encomendado pelo técnico Yustrich, recém-contratado pelo Porto. Segundo o ex-treinador americano, o atacante “era realmente um jogador de qualidades, um senhor craque do futebol. Um atleta possante, inteligente, com 1,85 cm e pernas fortes, coisas raras para um ponta-de-lança”. O jogador tinha particular identificação com o folclórico treinador Yustrich, outro grande ídolo do América. Segundo Gastão, ex-jogador do Atlético e companheiro de Jaburu no Porto, “apenas Yustrich era capaz de doma-lo”.

Jaburu - PORTO

A serviço de seu antigo treinador do Coelho, Jaburu foi o principal jogador da equipe durante o título português de 1957. Eleito o melhor jogador do Campeonato, seu futebol impressionou os portugueses, que até hoje o aclamam como um dos melhores jogadores da história de sua Liga Nacional.

 O atleticano e antigo companheiro Gastão relembrou com saudades:

“No penúltimo jogo do campeonato, vencemos o Sporting por 3 a 1 e foi a maior consagração popular que vi a um atleta profissional. Jaburu marcou dois gols e, num deles, coroando sua atuação sensacional, driblou toda a defesa adversária. Tinha um estilo diferente, chutava com os dois pés e era frio ao extremo”.

jaburu charge

Jaburu também é considerado um ídolo histórico do Porto de Portugal.

A DECADÊNCIA

Contudo, após anos de glórias, gols e vitórias, Jaburu viveu uma vertiginosa decadência, como tantos outros grandes jogadores de sua época. Transferido ao Celta de Vigo em 1959, o atacante não conseguiu repetir as atuações do passado, prejudicado por uma grave contusão na coluna cervical.

Sem sucesso no futebol espanhol, o craque voltou a Portugal para atuar no Leixões. No entanto, por seu novo clube, Jaburu envolveu-se em polêmicas que chegaram a acionar a embaixada brasileira: Sem receber e nem atuar como jogador, o jogador chegou a ser internado pela prefeitura da cidade como indigente, após noites e mais noites de alcoolismo. Apenas a diplomacia nacional foi capaz de retira-lo do país.

Prejudicado por lesões e, segundo muitos, pela vida boêmia, Jaburu teve um fim precoce e pendurou as chuteiras ainda jovem. Sem dar continuidade a promissora carreira como boleiro profissional, o antigo artilheiro passou a viver na miséria das ruas cariocas de onde veio, arrecadando algum dinheiro apenas com publicidade e outros acordos relacionados. Antigo residente de uma pequena casa dividida com a mãe (comprada por seu irmão, apelidado de “Jaburu 2”, ex-jogador do Fluminense e Benfica), Jaburu chegou a ser despejado sem conseguir pagas as contas.

Pelas calçadas de Madureira, a maior alegria do antigo ídolo de Porto e América era ser passista na escola de samba do bairro. Em seus últimos dias, o craque não tinha nem lugar para morar. Sua única renda eram as doações feitas pela delegacia local que, ciente do seu talento no passado – conservado em uma caixa de sapatos com jornais e revistas – lhe dava alguns trocados para o ex-jogador não passar fome.

Ao fim, com relatos de uso de drogas, Jaburu passou seus últimos dias em contraste com o tempo que deixava torcedores inspirados. Sem grande cerimônia, faleceu em 1991, com apenas 54 anos.

Talvez não soubesse, talvez não se lembrasse, mas sua história tornou-se patrimônio do torcedor português e mineiro-americano. Lenda de ambos os clubes, seus gols, guardados apenas na memória, gravações de rádio e recortes de jornal, permanecem vivos entre os sonhos.

Fonte: “O Estado de Minas”, reportagem de Eugênio Moreira.

Petrônio

PETRÔNIO

O atacante Petrônio é o terceiro maior artilheiro da história do América, com 106 gols marcados, apenas 3 tentos atrás do segundo colocado Gunga. O jogador defendeu o Coelho de 1948 a 1954.

Revelado pelo Villa Nova, de Nova Lima, Petrônio já era conhecido no interior mineiro antes de brilhar na capital. O atacante viveu seu momento de maior destaque pelo América em 1948, logo em sua temporada de estreia do clube, quando foi campeão do Campeonato Mineiro e da Taça dos Campeões Estaduais.

Petrônio teve atuação decisiva, sobretudo, na histórica conquista do Estadual de 1948, quando foi o artilheiro da competição com 19 gols, além de deixar sua marca durante a folclórica final contra o Atlético, vencida por 3×1. Em 1949, o jogador voltou às finais da competição a serviço do Coelho, mas dessa vez foi vice-campeão, após nova decisão contra a equipe alvinegra.

Outro momento marcante do artilheiro foi durante a primeira partida de Nilton Santos pela equipe do Botafogo. Naquela histórica data do futebol brasileiro, e Petrônio ofuscou a estreia do lendário lateral-esquerdo com um golaço de bicicleta. O atacante não apenas era conhecido como um craque de muitos gols, mas também como um “artilheiro dos gols bonitos”.

No mesmo período, Petrônio marcou outro gol histórico, dessa vez em clássico contra o Cruzeiro: o artilheiro arrancou de antes do meio de campo, driblou todos os adversários pelo caminho e, quando ficou frente a frente com o goleiro cruzeirense, esticou as mãos e o convidou a pegar a bola; Quando o arqueiro reagiu já era tarde, e Petrônio estava nos braços da galera americana.

O atacante seguiu como grande ídolo alviverde até 1954, quando se despediu da equipe como o maior goleador desde Satyro Taboada, que marcou mais de 200 gols durante o período do deca-campeonato. Petrônio só foi superado como maior artilheiro mineiro-americano da era profissional pelo ídolo Gunga, que atingiu a marca de 109 gols durante o ano de 1961.

Givanildo Oliveira

“MESTRE GIVA” (Givanildo Oliveira)

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O pernambucano Givanildo Oliveira, conhecido como “O Rei dos Acessos”, foi o único treinador que conquistou títulos nacionais com o América, sendo duas vezes campeão brasileiro sob as cores do time do Horto (Campeonato Brasileiro da Série B de 1997 e da Série C de 2009). Além disso, “O Mestre Giva”, como é chamado carinhosamente pelos torcedores americanos, liderou o Coelho rumo à final do Campeonato Mineiro, após ausência de onze anos, justamente no ano do centenário da equipe, em 2012.

PRIMEIRA PASSAGEM

(abril de 1997 – abril de 1998)

 

Total de jogos: 71 (35 vitórias, 21 empates e 15 derrotas)

Amistosos (1997): 6 vitórias e 3 empates

Copa Centenário de BH: 3 empates

Campeonato Mineiro de 1997: 5 vitórias, 4 empates e 1 derrota

Campeonato Brasileiro da Série B de 1997: 14 vitórias, 4 empates e 5 derrotas

Campeonato Mineiro de 1998: 7 vitórias, 6 empates e 7 derrotas

Copa do Brasil de 1998: 3 vitórias, 1 empate e 2 derrotas

 

O caso de amor entre América e Givanildo começou em 1997, quando o pernambucano assumiu o time na 11ª colocação do Campeonato Mineiro daquele ano, que reunia 12 equipes. A identificação foi imediata e a equipe prontamente reagiu com a chegada do novo treinador, alcançando uma sequência de 8 jogos de invencibilidade (4 vitórias e 4 empates) para deixar a penúltima posição e alcançar um lugar nas semifinais, onde enfrentou o Cruzeiro. Depois de perder a primeira partida por 3×2, o América venceu o jogo da volta por 1×0, mas foi eliminado por ter ficado abaixo do rival na tabela de classificação, apesar do empate no placar agregado. Esses jogos ficaram marcados pela polêmica arbitragem de Luiz Carlos Wright, que expulsou o meio-campo Boiadeiro de forma controversa. Mesmo assim, até em função das circunstâncias, o desempenho foi considerado positivo à época.

 

Na sequência, o técnico liderou o clube durante a disputa da Copa Centenário de Belo Horizonte, torneio que reuniu equipes de 7 países diferentes para celebrar o aniversário de 100 anos da capital mineira. Mesmo em um grupo complicado, composto por Milan, Corinthians e Atlético-MG, o Coelho não deixou os badalados adversário fazerem festa em sua casa e se despediu do certame com 2 empates no Independência e outro no Mineirão, durante o clássico contra o Atlético. Vale lembrar que nessa ocasião o América chegou a arrancar um empate contra o Milan do melhor jogador do mundo de 1995, George Weah (1×1 – Salve Celso!).

 

Pouco depois, o treinador ainda liderou a terceira excursão oficial da história do América à Europa. O Coelho visitou países como Áustria, Croácia, Sérvia e Eslovênia, não perdeu nenhum jogo (com direito a empates contra Roma e Estrela Vermelha) e ainda teve tempo para aplicar a maior goleada oficial de sua história, que superou o placar de 14×0 sobre o Palmeiras-MG em 1926: 20×0, sobre o Kaindorf.

 

O bom desempenho no primeiro semestre de 1997 trouxe confiança ao treinador para a disputa do Campeonato Brasileiro da Série B e assim o Coelho despontou de vez. Reforçado por craques como Tupãzinho, Pintado, Boiadeiro e Celso, mesclados com valores criados em casa como Ricardo Evaristo, Dênis, Gilberto Silva e Rinaldo, o Coelho conquistou o primeiro título nacional de sua história após uma campanha de gala: Invicto e sem sofrer gols no estádio Independência, o América teve a melhor defesa (18 gols sofridos em 23 jogos), o segundo melhor ataque da competição (34 gols marcados) e ainda aplicou a maior goleada da edição (5×0 sobre o Tuna Luso-PI), além de contar com o artilheiro do torneio (Tupãzinho, 13, primeiro jogador americano a ser artilheiro de um torneio nacional e maior goleador da Era Givanildo).

 

É importante lembrar que o título de 1997 também serviu como um grande momento de redenção para o América, que reconquistou o direito de atuar nacionalmente um ano antes, em 1996, já que estava banido de competições nacionais entre 1994 e 1995 após mover um processo na justiça comum contra a CBF, questionando o injusto rebaixamento na Série A de 1993, quando ficou em décimo sexto na classificação geral, em um torneio de 32 equipes.

No entanto, como nem tudo são flores, a novela entre América e Giva foi rompida abruptamente no Campeonato Mineiro do ano seguinte, quando uma sequência negativa de resultados custou o cargo do treinador, apesar de um início de temporada fenomenal, que contou com apenas uma derrota nos 12 primeiros jogos (sendo que essa derrota foi no jogo que determinou a eliminação do Internacional da Copa do Brasil). Seu substituto, Hélio dos Anjos, não emplacou, arrumou confusões com as estrelas do elenco (como Pintado e Boiadeiro, que deixaram o clube) e, enfim, o brilho daquela equipe de 1997 havia acabado, indo embora junto com Mestre dos Acessos.

 

SEGUNDA PASSAGEM

(maio de 2009 – dezembro de 2009)

 

Total de jogos: 14 (9 vitórias, 2 empates e 3 derrotas)

Campeonato Brasileiro da Série C: 9 vitórias, 2 empates e 3 derrotas

 

Após liderar a equipe rumo ao seu primeiro título nacional em 1997, Givanildo só retornou ao América em 2009, doze anos após a histórica conquista.

 

Nesse período, o treinador fez sucesso por outras equipes tradicionais do futebol brasileiro e conseguiu o acesso por três times da região Norte-Nordeste: Sport, Santa Cruz e Paysandu.

 

Natural de Olinda, o treinador é considerado uma das figuras mais importantes da história do futebol pernambucano, onde possui 15 títulos estaduais entre as carreiras de técnico e jogador. Pelo Santa Cruz, “O Bruxo” foi octa-campeão estadual como jogador e outra como treinador, após 10 anos de jejum da equipe tricolor, além de ter conquistado o acesso em 2005 e de ser o dono do recorde de invencibilidade do Santa Cruz no estádio Arruda (45 jogos). Já pelo rival Sport, Givanildo foi 4 vezes campeão estadual como jogador, 3 como técnico e ainda conquistou o acesso em 2006.

 

Givanildo também foi particularmente vitorioso na cidade de Belém, onde conquistou 8 títulos pelo Paysandu, entre eles a Copa dos Campeões de 2002 (torneio nacional que reunia os campeões regionais), o Campeonato Brasileiro da Série B de 2001, a Copa Norte de 2002, além de 5 campeonatos estaduais. O sucesso no Paysandu foi tamanho, que o nome do treinador deve batizar o novo centro de treinamento da equipe paraense.

 

E foi com essa polpa que Givanildo retornou, cheio de grife, a um América abatido por disputar a terceira divisão pelo quinto ano consecutivo em 2009, e traumatizado pelo inédito rebaixamento no Campeonato Mineiro em 2007. Para se ter uma ideia, o time só não caiu para a quarta divisão do Campeonato Brasileiro em 2008 graças uma incrível combinação de resultados na última rodada, ficando na 20ª colocação de um torneio com 66 equipes (Nesse ano, o esdrúxulo regulamento da CBF previu o rebaixamento de 46 equipes a fim de inaugurar a Quarta Divisão do futebol brasileiro. Dessa forma, apenas 20 equipes mantiveram sua posição na Série C).

 

Para muitos, foi a pior crise da história americana, mas tudo mudou com a chegada do Mestre Giva, o nome certo e ideal para aliviar o astral e a pressão de um gigante em crise. Ao lado de nomes famosos do pavilhão, como Euller, Wellington Paulo e Evanílson, e contando com a revelação de jogadores como o lateral direito Danilo, atualmente no Real Madrid, Givanildo enfim conseguiu tirar o América da lama e, de quebra, conquistou o segundo título nacional da história do clube, em uma campanha que contou com 9 vitórias, 2 empates e apenas 3 derrotas.

 

Mas, dessa vez, quem surpreendeu foi Givanildo, que deu o troco pela demissão de 1998 ao assinar com o Sport pela quinta vez em sua carreira como técnico. A torcida americana ficou de luto, com a impressão que havia sido uma espécie de vingança pessoal do treinador pela injusta demissão em 1998. Mas, entre idas e vindas, o casamento não havia terminado. Novos capítulos ainda estavam por vir para consagrar a carreira do único treinador que levantou títulos nacionais pelo América.

 

TERCEIRA PASSAGEM

(agosto de 2011 – agosto de 2012)

 

Total de jogos: 61 (28 vitórias, 13 empates e 20 derrotas)

Campeonato Brasileiro da Série A de 2011: 7 vitórias, 8 empates e 10 derrotas

Amistosos (2012): 3 vitórias

Campeonato Mineiro de 2012: 8 vitórias, 1 empate e 5 derrotas

Copa do Brasil de 2012: 1 vitória, 2 empates e 1 derrota

Campeonato Brasileiro da Série B de 2012: 9 vitórias, 2 empates e 4 derrotas

 

Depois de conquistar títulos nacionais nas duas passagens anteriores, Givanildo retornou ao América em 2011, a fim de salvar o Coelho de um iminente rebaixamento no Campeonato Brasileiro da Série A, quando a equipe segurava a lanterna da competição. O América até reagiu com a chegada do treinador, que estreou com goleada por 3×0 sobre o atual campeão Fluminense e ainda venceu o futuro campeão Corinthians em Uberlândia (2×1), além de golear o Vasco por 4×1. Mas já era tarde demais, e o Coelho acabou rebaixado, na penúltima colocação, com 37 pontos. Em 24 partidas sob o comando do pernambucano em 2011, foram 7 vitórias, 8 empates e 10 derrotas, com aproveitamento de 38,6% dos pontos, que seria suficiente para livrar o time do rebaixamento.

 

Mas Giva voltaria a escrever história no América em 2012, no ano do centenário do clube, quando comandou a equipe rumo a decisão do Campeonato Mineiro, após de 11 anos de ausência, com direito a duas vitórias sobre o Cruzeiro nas semifinais, às vésperas do centenário. Antes da grande decisão contra o Atlético, o Coelho ainda re-inaugurou o estádio Independência durante a vitória de virada sobre os Argentinos Juniors, jogo que também serviu para comemorar o histórico aniversário de cem anos.

O título em pleno centenário já parecia ser destino manifesto, mas o América não conseguiu segurar o ímpeto do Atlético de Cuca, que venceria o principal título de sua história no ano seguinte. O Coelho até empatou a primeira partida (1×1), com um gol de Bruno Meneghel nos últimos momentos – resultado que criava a obrigação de vencer a segunda peleja, já que o critério de desempate favorecia os atleticanos. Mas o time não conseguiu repetir a boa atuação no segundo jogo e perdeu de forma decepcionante (0x3) para dar adeus ao sonho.

 

Na Série B, a equipe voltou a brilhar na Série B, estreando a competição com 4 vitórias consecutivas e uma sequência de 8 vitórias e 1 empate. A primeira derrota veio apenas na décima rodada e o América pintava como favorito ao acesso. No entanto, depois de desfalques e 3 derrotas consecutivas que retiraram o América da zona de acesso pela primeira vez em 15 rodadas, Givanildo foi novamente demitido de forma controversa, enquanto Milagres, tão vitorioso como jogador americano e treinador das categorias de base, assumiu o leme do clube que detém o recorde de partidas consecutivas. No entanto, dessa vez Mila não emplacou e o Coelho acabou a competição na oitava colocação, a 16 pontos de distânciae da zona de acesso.

 

QUARTA PASSAGEM

(Setembro de 2014 – ?)

 

Total de jogos: 67 (35 vitórias, 18 empates e 14 derrotas)

Campeonato Brasileiro da Série B de 2014: 10 vitórias, 4 empates e 1 derrota

Campeonato Mineiro de 2015: 5 vitórias, 5 empates e 1 derrota

Copa do Brasil de 2015: 1 vitória, 1 empate e 1 derrota

Campeonato Brasileiro da Série B de 2015: 19 vitórias, 8 empates e 11 derrotas

 

Depois de uma demissão controversa em 2012, Givanildo retornou ao América em 2014, com o objetivo de salvar a equipe do rebaixamento para a terceira divisão em um primeiro momento, já que o Coelho havia perdido 21 pontos no STJD pela escalação irregular do volante Eduardo. A punição posteriormente diminuiu para 6 pontos, mas ainda assim o acesso americano ficou complicado.

 

Apesar das dificuldades, Givanildo, novamente, conseguiu sacudir uma equipe abatida, de tal forma que demorou 9 jogos para conhecer sua primeira derrota desde o retorno.  No fim, quando os matemáticos já cravavam apenas 1% de chance de acesso americano, o time conseguiu 4 vitórias consecutivas na reta final e ficou a apenas um ponto de distância da elite do futebol brasileiro, na quinta posição, mesmo tendo perdido 6 no tribunal. Se o Vasco vencesse o Avaí na rodada final, um resultado comum, o Coelho teria antecipado o destino de 2015 com “o acesso mais épico da história dos futebóis”, segundo o jornalista Flávio Gomes. O América ainda escaparia do rebaixamento mesmo se fosse confirmada a perda dos 21 pontos.

Ao todo, foram 14 jogos sob o comando de Giva em 2014, com 9 vitórias, 4 empates e apenas 1 derrota. O aproveitamento do treinador teria valido o título do torneio e, sem a punição, o América teria garantido o acesso em terceiro lugar, a frente do Vasco. Na verdade, o Coelho tinha claras chances de título, já que era o líder da competição quando sofreu a denúncia do Joinville e ficou alguns jogos sem vencer em meio ao abalo emocional da punição.

O bom momento seguiu nos primeiros meses de 2015, quando o América acumulou 9 jogos de invencibilidade (14, se contar as últimas partidas do ano anterior), enquanto a segurança defensiva voltava a ser marca da equipe de Givanildo – Tanto é que o Coelho só sofreu gols de “bola rolando” na nona rodada do Estadual, quando conheceu sua primeira derrota na temporada. No entanto, apesar de contar com a segunda melhor defesa do certame (7 gols sofridos, mesmo número de Atlético e Cruzeiro) e ser o time com menos derrotas na competição (1), o América foi previamente eliminado na primeira fase, graças à surpreendente derrota do Cruzeiro para o Tombense na última rodada.

O time ainda ficou 4 jogos sem vencer entre o início da Série B e a eliminação na Copa do Brasil para o Ceará, o que quase custou o cargo do treinador. Mas Givanildo reagiu, dessa vez a partir da goleada por 4×1 sobre o Santa Cruz, e, desde então, o Coelho venceu todas as partidas em casa até chegar à última rodada do primeiro turno na vice-liderança e com a condição de melhor mandante das Séries A, B e C do Campeonato Brasileiro.

No entanto, o time voltou a oscilar a partir de uma derrota para o Botafogo na última derrota do primeiro turno e chegou a acumular 5 jogos sem vitórias e 3 derrotas consecutivas em casa nas partidas seguintes. Muitas já pediam a cabeça de Givanildo quando o Coelho viajou ao Maranhão para enfrentar o Sampaio Corrêa, então melhor mandante e logo no dia do aniversário da cidade de São Luís. Mas se muitos previam um desastre, foi nesse momento que o dedo do técnico pesou: Giva trocou a formação, voltando com o esquema do 3-5-2, e o Coelho conseguiu a vencer a partida de forma heróica, com um show de Richarlison. O jogo serviu como um divisor de águas para o América na competição, que evitou que a distância para a zona de acesso aumentasse para mais de 3 pontos e, a partir de então, não perdeu mais no Independência (6 vitórias consecutivas e 1 empate no último jogo) para recuperar seu lugar no G-4 e encaminhar sua vaga na Primeira Divisão.

 

Antes de disparar rumo ao acesso, Givanildo ainda completou 200 jogos no comando do América durante o empate contra o Atlético-GO, que também celebrou os 500 jogos do goleiro Márcio, que é o oitavo maior artilheiro da posição do futebol mundial, com 33 gols.

 

 

O REI DOS ACESSOS

Givanildo é conhecido como “O Rei dos Acessos” por ter elevado quatro equipes do Norte-Nordeste à elite nacional (Paysandu em 2001, e um “tri-acesso” com Santa Cruz, em 2005, Sport, em 2006, e Vitória, em 2007), além de conquistado o acesso junto ao América em outras duas oportunidades, e com direito ao título.

O treinador possui carreira vitoriosa, sobretudo, no Norte-Nordeste brasileiro, especialmente por equipes do Recife. Afinal, Givanildo Oliveira já foi campeão estadual pernambucano em catorze oportunidades durante as carreiras de jogador e treinador.

Ídolo histórico do Santa Cruz, Giva foi sete vezes campeão estadual como jogador do tricolor pernambucano (penta entre 1969-73 e bi em 78-79) e outra vez como treinador, em 2005, após dez anos de jejum. Já pelo rival Sport, Givanildo foi seis vezes campeão estadual: metade deles como jogador (tri em 1980-81-82) e a outra metade na função de treinador (1992, 1994 e 2010), além de também ter conquistado a Copa do Nordeste em 1994. Vale lembrar que Giva já conseguiu o acesso com ambas as equipes.

Outro time marcante da carreira de Givanildo foi o Paysandu. Assim como no América, Givanildo também conquistou dois títulos nacionais pela equipe do Pará – a Copa dos Campeões de 2002 (maior título da história de uma equipe da região Norte) e o Campeonato Brasileiro da Série B de 2001 (primeiro título nacional do Papão) – além de um pentacampeonato estadual (1987, 1992, e um tri entre 2000-2001-2002) e um título da Copa Norte em 2002. Era Givanildo quem comandava o Paysandu durante a famosa vitória da equipe paraense sobre o Boca Juniors, em pleno La Bombonera, durante a Copa Libertadores de 2003 (1×0). Ao todo, Givanildo conquistou 8 títulos pelo Paysandu e, como homenagem, empresta o nome ao centro de treinamento oficial da equipe até hoje. Givanildo também foi bi-campeão paraense pelo maior rival do Paysandu, o Remo, em 1993-94.

O treinador também conquistou Campeonato Baiano de 2007, pelo Vitória, e o Campeonato Alagoano, pelo CSA, em 1990. Givanildo confessou recentemente o desejo de vencer um título pelo Náutico, por onde ficou entre 2002 e 2004, e único clube da capital pernambucana que ainda não foi campeão como treinador.

Como jogador, Givanildo foi ídolo e multi-campeão com o Santa Cruz, participou da histórica conquista do Campeonato Paulista de 1977 pelo Corinthians, após 23 anos de jejum, e ainda foi campeão carioca com o Fluminense, em 1980.

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MILAGRES

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O MAIS AMERICANO DA HISTÓRIA

Nome Completo: Marco Antônio Milagres
Data de Nascimento: 23 de Abril de 1966
Cidade Natal: Juiz de Fora – MG
Posição: Goleiro
Clubes: Flamengo (1987-1991); América (1991-2001); Santa Cruz (2001); Atlético Mineiro (2001-2002); Uberaba (2003)
Partidas pelo América: 371 (recorde individual do clube)
Títulos pelo América:
Como jogador:
Campeonato Mineiro (1993)
Campeonato Brasileiro da Série B (1997)
Copa Sul-Minas (2000)
Como treinador:
Campeonato Brasileiro da Série A sub-20 (2011)
Copa BH de Futebol Júnior (2014)

O goleiro Milagres é o jogador com mais partidas na história do América, com 361 jogos disputados entre 1991 e 2000. Ao todo, o antigo goleiro conquistou cinco títulos a serviço do clube, três deles como jogador e outros dois como treinador das categorias de base.

Como jogador, Milagres foi campeão do Campeonato Mineiro de 1993, do Campeonato Brasileiro da Série B de 1997 e da Copa Sul-Minas de 2000, além de ser vice-campeão estadual em 1992, 95 e 99. O goleiro foi um dos principais ídolos americanos durante as conquistas do Estadual de 93 e a Sul-Minas de 2000, quando protagonizou defesas heroicas que interferiram diretamente no desfecho vitorioso. Mas durante o primeiro título nacional da história do Coelho em 1997, Milagres atuava como reserva em razão de uma lesão na retina do olho esquerdo e não teve tanto destaque.

A fidelidade do eterno goleiro permanece até hoje: Desde que abandonou a carreira profissional, Milagres integra o clube americano em alguma função específica. Atualmente, é o treinador das categorias de base, onde já conquistou dois importantes títulos nacionais: o Campeonato Brasileiro sub-20 da Série A em 2011, após final contra o Fluminense, e a Taça BH de Futebol Júnior em 2014, após final contra o Atlético. O ex goleiro também chegou a assumir o comando técnico da equipe profissional durante o ano centenário do clube em 2012.

PRIMEIRAS DEFESAS

Milagres iniciou a carreira nas categorias de base do Flamengo em 1988 e foi elevado para a equipe profissional rubro-negra em 1990. Na época, era reserva do famoso goleiro Zé Carlos, campeão brasileiro pelo clube carioca. Sem maiores chances no Flamengo, time conhecido por descuidos históricos com as equipes de base, Milagres foi contratado pelo América no segundo semestre de 1991.

O goleiro vindo do Flamengo agradou rapidamente os americanos e logo conquistou uma vaga no time com belas defesas. Em 1992, durante sua primeira temporada completa pelo Coelho, Milagres foi o titular da campanha que levou o clube de volta à final do Campeonato Mineiro e à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro. Era um momento de ascensão.

CAMPEÃO MINEIRO

Após uma excelente temporada de 1992, com boas defesas, o vice-campeonato estadual e o acesso para a Série A, Milagres conquistou de vez um lugar no coração dos torcedores americanos em 1993, quando foi um dos principais responsáveis pelo título estadual americano após 22 anos de jejum.

O goleiro teve influência direta no título heroico: Com apenas 8 gols sofridos em 18 jogos, Milagres ficou mais de 400 minutos sem ser vazado durante a campanha e sofreu menos que “meio gol” por jogo durante a competição, tendo a incrível média de 0,44 gols sofridos por partida. Muito graças as defesas espetaculares de Milagres, o América foi campeão com a melhor defesa do Campeonato.

FIDELIDADE

O goleiro voltou a se destacar durante o Campeonato Brasileiro da Série A de 1993, quando o América terminou no meio da tabela, com a décima sexta colocação em um torneio de 32 equipes. No entanto, o clube foi rebaixado segundo imposições da CBF, que livrou as equipes de maior torcida no país do descenso naquele ano. Após mover um processo na Justiça Comum para reivindicar seus direitos, o América foi banido de toda e qualquer competição nacional promovida pela entidade máxima do futebol brasileiro.

Diante da dramática situação, muitos jogadores deixaram o Coelho a esmo, mas Milagres foi um daqueles que permaneceu junto ao pavilhão. Com dificuldades para conseguir novos patrocínios e jogadores, o clube deve muito a alguns antigos ídolos como Milagres, Marins e Flávio Lopes, que permaneceram na equipe como remanescentes do time campeão estadual de 1993.

Muito graças a fidelidade de antigos ídolos, o Coelho manteve o bom desempenho nos Estaduais dos anos seguintes mesmo sem divisão nacional: Foi terceiro lugar em 94 e vice-campeão em 95. Isso significa dizer que, em seus 4 primeiros Campeonatos Mineiros pelo América, Milagres foi campeão uma vez e vice-campeão outras duas. O goleiro ficou marcado como um dos grandes símbolos daquele Coelho da década de 90, que brigava de igual pra igual com qualquer um de seus rivais locais.

LESÃO NA RETINA

A fim de manter o elenco em atividade e sacudir o orçamento de uma equipe banida das competições nacionais, o América realizou excursões internacionais para países como Arábia Saudita, China e Qatar durante o segundo de 1994 e 95. Durante as excursões, o América conseguiu bons resultados e venceu as respectivas Seleções Nacionais desses países em repetidas oportunidades. O único prejuízo das viagens foi a contusão de Milagres.

Em 1995, no penúltimo dos cinco jogos entre América e Seleção Olímpica da China (O Coelho perdeu apenas uma), uma confusão generalizada entre jogadores marcou a carreira do ídolo americano para sempre, quando o pacífico Milagres foi pego despercebido por uma pancada no olho, conferida de forma covarde por um defensor chinês, resultando no deslocamento de retina do olho esquerdo. Aparentemente, o goleiro só estava tentando apartar a confusão. Seja como for, a contusão interrompeu a grande fase que o arqueiro desfrutava desde que chegou ao clube. Enquanto alguns diziam que o ícone americano jamais mais seria o mesmo, o América goleou a Seleção da China em um jogo arranjado para “selar a paz”, mas que na verdade serviu como uma espécie de vingança pelo ídolo ferido.

CAMPEÃO BRASILEIRO

Ainda prejudicado pela lesão na retina do olho esquerdo, Milagres não foi titular durante a primeira conquista nacional do América, mas demonstrou profissionalismo ao seguir trabalhando com dedicação e amor a camisa apesar do banco de reservas. No final, como um veterano de guerra, foi uma presença importante nos balneários americanos.

Apesar de não ser protagonista como em 1993, novamente o goleiro fez parte de uma defesa história do América. Afinal, durante a competição de 1997, o Coelho não sofreu mais gol de nenhum adversário como mandante, somando quase 1000 minutos de invencibilidade no estádio do Independência. A campanha nacional do América naquele ano foi marcante, sobretudo, pela força defensiva de uma equipe que podia ser dar ao luxo de colocar craques como Milagres, Gilberto Silva, Dênis e Wellington Paulo no banco de reservas se fosse o caso. De qualquer forma, ninguém contesta que o goleiro foi merecedor do título de 1997, por todos os serviços prestados na guerra pela sobrevivência do América poucos anos antes.

Após o título de 97, Milagres recuperou a vaga de titular durante as participações do América no Campeonato Brasileiro da Série A em 1998 a 2000. Em 1999, por pouco Milagres não voltou a ser campeão estadual após final contra Atlético-MG, no sistema “melhor de três”. O goleiro fechou o gol nas três finais e só foi vazado pelo rival na última partida, após o pênalti polêmico que decidiu a fatura (1o jogo: 0x0; 2o jogo: 0x0, 3o jogo: 1×0). No fim do ano, o goleiro ainda ajudaria o América a conseguir novo acesso para a elite do futebol brasileiro.

CAMPEÃO REGIONAL

Milagres ainda teria tempo de conquistar seu último título pelo América em 2000, durante a histórica conquista da Copa Sul-Minas. Com mais de 30 anos de idade, o goleiro voltou a assumir papel de protagonista da equipe, sendo considerado o melhor em campo durante as duas finais contra o Cruzeiro.

Curiosamente, o futuro herói do título foi o vilão do primeiro jogo das semifinais contra o Atlético-PR, quando falhou nos últimos minutos e permitiu o empate dos atleticanos no finalzinho da partida. Mas Milagres reagiu como só os maiores sabem, e respondeu defendendo uma cobrança de pênalti na segunda partida, responsável por ajudar a eliminar o Furacão. Mas foi na final contra o Cruzeiro que Milagres consagrou de vez seu status de ídolo americano: Trajado com o manto de Nossa Senhora embaixo do uniforme, Milagres salvou o título americano em diversas oportunidades com defesas plásticas e espetaculares após bombardeio do rival, sendo eleito o melhor em campo durante as duas finais.Era a consagração definitiva do “mito de Milagres”.

Poucos meses depois de conquistar seu terceiro título pelo Coelho, Milagres apenas confirmou sua posição de lenda do Independência ao completar 357 partidas pelo América, e superar Gaia, dono do recorde por 45 anos, como o jogador com mais partidas pelo clube na história. O goleiro ainda faria 371 partidas antes de deixar o clube com um legado impressionante. O jogador ainda teve uma breve passagem pelo rival Atlético-MG, mas que nada que fosse suficiente para arranhar seu status de ídolo americano. Até porque “o Milagres do Atlético” também jogou no América: Assim como Mila, o goleiro João Leite é ídolo máximo e recordista de partidas do clube e defendeu um rival, o América, no fim da carreira entre 1989 e 1990.

Mas Milagres confirmou de vez sua fidelidade ao América ao permanecer no pavilhão até depois de pendurar as luvas. Atualmente, o ex goleiro é o treinador das categorias de base do clube e já conquistou dois importantes títulos nacionais na categoria: O Campeonato Brasileiro da Série A sub-20 de 2011 e a Taça BH de Futebol Júnior de 2014.