ESTÁDIO INDEPENDÊNCIA
A HISTÓRIA DO ESTÁDIO INDEPENDÊNCIA
Construído para sediar a Copa do Mundo de 1950, sediada pela primeira vez no Brasil, o estádio Independência já conta com mais de 60 anos de história. E que história… Ainda que completamente modernizado a partir de 2009, o campo permanece como o mais antigo em atividade na capital mineira.
O estádio foi construído a partir de 1948, sob o comando do ex-jogador e presidente do América, Otacílio Negrão de Lima, então prefeito de Belo Horizonte, que seguiu o desejo do presidente da CBD de apresentar uma sede mineira para a disputa do Mundial. O lugar escolhido foi o antigo bairro da floresta, atual bairro do Horto, reduto eleitoral do antigo prefeito americano. Tudo era festa, até o atraso nas obras começar a incomodar ninguém menos que o francês Jules Rimet.
O lendário primeiro presidente da FIFA, que já havia estado em BH durante o ano de 1929, chegou a visitar a capital mineira pela segunda vez em sua vida, a fim de vistoriar a construção do estádio. Mas o atraso nas obras não animou Jules Rimet, que chegou a indicar o estádio americano da Alameda como alternativa ao torneio caso o Independencia não fosse concluído a tempo. Teria sido uma oportunidade histórica para o América, mas Otacílio Negrão fez de tudo para cumprir seu acordo com Rimet e concluiu as obras às vésperas do mundial após ordenar que os trabalhos fossem feito em dois turnos diários.
Após a disputa da Copa do Mundo, o estádio foi herdado pelo Sete de Setembro, clube sediado no bairro do Horto e o único da capital mineira que não possuía estádio próprio. Como compensação, América, Atlético e Cruzeiro concordaram em receber 2 milhões de cruzeiros da Prefeitura.
COPA DO MUNDO DE 1950
Três jogos da Taça Jules Rimet de 1950 foram disputados no recém-inaugurado Estádio do Independência, todos válidos pela primeira fase da competição: Iuguslávia x Suíça; Inglaterra x Estados Unidos e Uruguai x Bolívia.
Durante o primeiro jogo oficial da história do estádio, a seleção da Iuguslávia, vice-campeã da edição anterior 1938, venceu os suíços com facilidade (3×0).
Na rodada seguinte, o estádio abrigou o jogo que ficou conhecido na época como a “maior zebra da história das Copas do Mundo”, quando os Estados Unidos venceu a Inglaterra por 1×0. Ninguém imaginava na época que os norte-americanos, de rasa tradição no futebol, fossem realmente capazes de derrotar os inventores do esporte, que participavam de um Mundial pela primeira vez na história, com a condição de pleno favorito ao título. Até então, a Inglaterra se julgava imensamente superior aos demais e não via necessidade de competir internacionalmente. Partida mais lembrada do “soccer norte-americano”, o magro placar foi parar em Hollywood, durante o filme “The Game of our Lives”.
Na última partida abrigada pelo estádio durante o Mundial, o Uruguai, futuro campeão do torneio, aplicou sua maior goleada na história da competição, ao golear a Bolívia impiedosamente por 8×0. A goleada uruguaia só foi superada como a maior do estádio do Independência em 2006, quando o América goleou o Jataiense-GO por 9×0 pelo Campeonato Brasileiro da Série C.

Americanos comemoram vitória sobre a Inglaterra, durante jogo que ficou conhecido na época como “a maior zebra da história das Copas do Mundo”.
PÓS-COPA
Após a realização da Taça Jules Rimet de 1950, o estádio do Independência foi herdado pelo extinto Sete de Setembro, clube sediado no mesmo bairro do estádio e o único da capital mineiro sem um campo apropriado para abrigar suas partidas. O nome da equipe acabou inspirando o batismo popular do estádio, já que sete de setembro é a data oficial da independência do Brasil. Mas o nome verdadeiro do estádio é Raimundo Sampaio, em homenagem ao antigo presidente do Sete e torcedor americano declarado, que emprestou seu nome ao estádio por quase 60 anos.
Como compensação, América, Atlético e Cruzeiro concordaram em receber 2 milhões de cruzeiros da Prefeitura, embora os três principais clubes mineiros permanecessem utilizando o alçapão para partidas de média e grande importância do Campeonato Mineiro.
O América comemorou seu primeiro título no estádio sete anos depois de sua inauguração, em 1957, durante a conquista da Tríplice Coroa Estadual (campeão mineiro em nível profissional, juvenil e aspirantes) sobre o Democrata de Sete Lagoas. Em 1964, o Coelho voltou a escrever história no estádio quando o americano Jair Bala tornou-se o maior artilheiro do Independência em uma edição do Campeonato Mineiro, com 25 gols. (Naquele ano, o América mandou a maioria de suas partidas no local, como fazia frequentemente, já que os jogos do Campeonato Mineiro eram sempre disputados em Belo Horizonte).
Já o maior público da história do Independência foi em 1973, quando 32.721 pagantes prestigiaram a vitória da Seleção Mineira de Futebol sobre a o selecionado Carioca por 1×0. No entanto, com a inauguração do Mineirão e o processo de extinção do Sete de Setembro, o Independência acumulou problemas de manutenção e chegou a ser desativado na década de 1980.
Depois de uma série de reformas, a cancha foi reinaugurada apenas em 1986, durante clássico comemorativo entre América e Atlético, realizado com os portões abertos. Com torcedores americanos e atleticanos acompanhando o jogo lado a lado, o antigo “Clássico das Multidões” naquele dia teve mais um caráter de “clássico da paz”, encerrando-se com um empate cordial por 0x0.
AMERICANIZAÇÃO DO HORTO
Desde o fim da década de 70, o América semeava um projeto de construir um estádio monumental para 60.000 pessoas no município de Contagem, capaz de rivalizar com o Mineirão pelo posto de maior do Estado. A empreitada era articulada pelo governador de Minas Gerais e prefeito de Contagem, Newton Cardoso, torcedor americano fanático. No entanto, a ideia de afastar o América da sua base majoritária de torcedores residente em Belo Horizonte era assustadora, o que contribuiu decisivamente para o fim do projeto, que não passou das etapas de terraplanagem. Pouco a pouco, o projeto de Contagem seria substituído por um ainda mais grandioso: a aquisição do estádio do Independência.
Transferir a administração do Independência para o América era outro antigo desejo do governador Newton Cardoso, que nutria a certeza de que o Coelho apresentaria melhores condições para administrar o estádio do que o Sete de Setembro, o que logo provou ser uma realidade. A extinta equipe sempre teve problemas para exercer a manutenção do Independência, que chegou a ser desativado no começo da década de 80.
Aliás, o próprio presidente da equipe do Sete, Raimundo Sampaio (cujo nome batizou o estádio por 60 anos), era torcedor americano declarado e concordava com a ideia de transferir os direitos de administração do antigo campo ao América – clube que sempre teve uma identificação histórica com o estádio, onde abrigou tantas partidas desde década de 50, como a que garantiu o título da Tríplice Coroa de 1957 contra o Democrata.
Com a aprovação do governador do Estado e do presidente do Sete, a diretoria americana não perdeu tempo e assinou uma ata confirmando os direitos de propriedade do América sobre o estádio durante uma reunião datada no dia no dia 9 de julho 1988, que congregou outros cinco americanos ilustres: Paulo Afonso, o presidente que “conquistou” a posse do Independência; Magnus Lívio, presidente do histórico título estadual de 1993; Ruy da Costa Val, presidente do título estadual invicto de 1971 e idealizador do uniforme verde-negro; Marcus Salum, presidente que conquistou 4 títulos com o clube entre a década de 90 e anos 2000; além de Raimundo Sampaio, presidente do Sete de Setembro mas declarado torcedor do Coelho, cujo nome foi emprestado ao estádio por quase 60 anos.
Durante a reunião, o clube do Sete de Setembro oficialmente transferiu as responsabilidades de manutenção e administração do estádio ao América, enquanto a ADEMG deixou de ter participação ativa no processo administrativo, embora conservasse o direito de utilização para outras atividades. O acordo previu a posse americana do estádio Independência por 29 anos, mas que posteriormente foi prorrogado por mais 50 anos durante a gestão do presidente Marcus Salum.
Em março de 1989, o presidente americano Paulo Afonso recebeu as chaves do estádio durante ato simbólico realizado no Gabinete do Secretário de Esportes de Minas Gerais. Agora era oficial: O Independência é do América!
De casa nova, o clube recuperou força, voltou a possuir o diferencial de ser a única equipe da capital com estádio próprio e, enfim, sanou as feridas causadas pelo fim da Alameda em 1972. O novo estádio deu grande impulso à história do clube, e, desde a aquisição do Independência em 1988/89, o América conquistou seus 2 primeiros títulos nacionais (1997 e 2009), um inédito título regional (2000), além de outros 4 títulos estaduais (1993, 2001, 2005 e 2008). Um grande avanço para quem ficou 21 anos sem títulos entre 1971 e 1993.
ERA INDEPENDÊNCIA
A aquisição do Estádio do Independência foi o símbolo dos novos tempos para a história do América. Depois de uma década de 1980 ofuscada e sem muito brilho nos clássicos de mata-mata, o Coelho voltou a encantar durante a década de 90, redimindo seus fiéis torcedores com conquistas heroicas. E o novo estádio seria peça fundamental durante esse importante processo de renovação, já todas as grandes campanhas do Coelho durante o período contaram com o alçapão do Horto como grande trunfo. Não a toa, o período vencedor de 1990 à 2001 ficou conhecido pelos torcedores como a “Era Independência”.
Apenas um ano depois de comemorar as chaves do novo estádio, o Independência abrigou a primeira final do América em Campeonatos Brasileiros, durante a decisão da Série C de 1989 contra o Atlético-GO. O Coelho foi vice-campeão nacional após dois empates por 0x0 e uma decisão por pênaltis no Serra Dourada, mas a campanha trouxe o clube de volta às divisões principais do futebol brasileiro. O Horto continuou dando sorte e, em 1992, o América estava de volta as finais do Campeonato Mineiro e a elite do futebol brasileiro, com o acesso na Série B. Mas foi mesmo em 1993 que o estádio provou ser o “pé de Coelho” do América, que voltou a ser campeão mineiro após 23 anos de jejum, invicto em clássicos e nas partidas disputadas como mandante.
Em 1997, o alçapão voltou a mostrar sua importância durante o primeiro título brasileiro da história americana. Naquele ano, o Coelho fez valer o mando de campo e foi campeão do Campeonato Brasileiro da Série B invicto em seus domínios e sem sofrer um gol sequer no Independência. Durante o jogo do título contra o Villa Nova-GO, o América registrou seu segundo maior público na história do estádio: 17.893 pagantes, lotação máxima da época. Já em 1999, a vitória do América por 2×1 sobre o Náutico pela Série B registrou o maior público do Independência desde 1973 e o segundo maior da história do estádio até então: mais de 20.000 pessoas compareceram à partida, excedendo à capacidade máxima do estádio, já que o preço do ingresso naquele dia foi apenas 2 reais. Essa partida contou com o recorde de público do Coelho no Velho Independência.
Em 2000, o Coelho voltou a ser campeão após campanha invicta no estádio, com a conquista do histórico título da Copa Sul-Minas sobre o Cruzeiro. Enfim, a época gloriosa se concretizou com o último Campeonato Mineiro conquistado pelo clube, em 2001, o quarto título em oito anos.
Pouco depois, o Horto abrigou mais um título americano, a Taça Minas Gerais, após decisão por pênaltis contra a Caldense. Durante a conquista do módulo II do Campeonato Mineiro em 2008, o Coelho novamente foi campeão após campanha invicta como mandante.
Mas o último título do Coelho no velho estádio antes da reforma foi o Campeonato Brasileiro da Série C de 2009, conquistado sobre o Asa de Alagoas. O desempenho no Horto novamente foi decisivo: Em 10 partidas, 8 vitórias e 2 empates. O último jogo do América no Independência pré-reforma foi durante o segundo jogo das finais daquele ano, quando a equipe venceu os alagoanos por 1×0 e selou a conquista de seu segundo título nacional. Mais de 10.000 pessoas compareceram aquela decisão que também teve um caráter de despedida, atingindo a lotação máxima do estádio, que já havia limitado sua capacidade de ocupação. Um adeus a altura da importância do estádio na história do América.
Desde que adquiriu o estádio em 1988 e até a sua completa modernização em 2010, o Coelho venceu 2 títulos brasileiros (1997 e 2009), 1 título regional (2000) e 4 títulos estaduais (1993, 2001, 2005, 2008), sendo que os inéditos títulos nacionais do América foram conquistados exatamente no local. Além disso, entre os 8 títulos conquistados desde então, 6 deles tiveram campanhas invictas como mandante, provando que o estádio foi mesmo decisivo para as principais conquistas da história recente do Coelho.
REINAUGURAÇÃO
Depois de quase 4 anos de reforma, o antigo estádio do Independência, responsável por abrigar jogos da Copa do Mundo de 1950, foi completamente reformado e transformado em um dos mais modernos estádios do país. Construído no novo modelo “Arena”, o palco ampliou sua capacidade de ocupação de 10.000 lugares em 2009 para mais 25.000 pessoas em 2012.
A nova cancha foi reinaugurada no dia 16 de abril de 2012, apenas 5 dias depois das comemorações do centenário mineiro-americano, durante partida contra o Argentino Juniors, campeão da Copa Libertadores em 1983. O adversário foi escolhido segundo sua semelhança e identificação com o América, já que o clube também é conhecido por sua tradição em revelar grandes jogadores, entre eles Diego Maradona.
A partida também comemorou a despedida dos gramados de Euller, “O Filho do Vento”, grande ídolo americano, além da estreia do lateral-esquerdo Gilberto, que defendeu a Seleção Brasileira em duas Copas do Mundo. O pontapé inicial do estádio foi dado por Jair Bala, considerado melhor jogador da história do América e maior artilheiro do antigo estádio. A reinauguração do estádio do Independência teve ainda mais clima de festa já que o Coelho havia eliminado o Cruzeiro e retornado às finais do Campeonato Mineiro às vésperas do centenário.
Apesar da expectativa de muitos jogadores americanos, o primeiro gol do novo estádio não foi marcado por um brasileiro, já que o atacante uruguaio Jarbas abriu o placar para o time visitante. No entanto, o grande herói da festa foi o artilheiro Alessandro, que virou o placar (2×1) e garantiu a primeira vitória americana no Centenário e no novo Estádio.
O atacante Alessandro ficou conhecido pelos gols importantes que marcou com a camisa do América: Além de garantir os dois primeiros gols do Coelho na nova Arena, o jogador também foi o autor do gol do último titulo mineiro do clube, em 2001, e de 3 gols contra o Cruzeiro durante as semifinais do Campeonato Mineiro de 2012, responsáveis por recolocar o América na final do Estadual.