Deca-campeão

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Time do América que foi enea-campeão mineiro em 1924: Porphirio, Gabriel, Ralfo, Antônio Hemetto (Tonico), Salim, Camilo, Silvano Brandão, Saint’Clair Valadares, Bolivar, Osvaldinho e Satyro Taboada.

O América conquistou nada menos do que dez campeonatos mineiros consecutivos entre 1916 e 1925, um recorde mundial de títulos em sequência, jamais superado por nenhum outro clube de futebol no mundo. A façanha até rendeu ao clube uma menção honrosa no “Guiness Book”, o livro dos recordes, como a primeira agremiação da história do esporte mundial a conquistar a mesma competição por dez vezes seguidas.

A incrível série de títulos representa a condição de principal potência esportiva do Estado assumida pelo América durante a Era Amadora do futebol mineiro. Afinal, o Coelho não apenas deteve o campo oficial da Liga Mineira durante mais de 15 anos (Prado Mineiro, o primeiro estádio gramado de Minas Gerais), como também foi o dono da primeira e maior praça esportiva de Minas Gerais no período, onde foi pioneiro na prática de esportes olímpicos como basquete, hockey e atletismo. O América também foi a base da Seleção Mineira durante quase uma década, sendo que o próprio Selecionado Mineiro treinava nas comodidades do clube. Em 1925, a Seleção Mineira, servida de 10 americanos entre os 11 titulares, chegou a golear a Seleção Carioca, o grande polo do futebol brasileiro na época,  por 4×1, evidenciando a força da equipe em nível nacional e não apenas provinciano. Certamente, o clube pode ser considerado uma das principais forças da época amadora do futebol brasileiro, já que, naquela época, nenhuma equipe do Estado e poucos do país podiam equiparar-se aos americanos em questão de títulos conquistados, estrutura esportiva e expressão histórica.

No cenário local, a superioridade americana era tão evidente, que sete dos dez títulos da série foram conquistados de forma invicta. O América perdeu apenas quatro partidas do Campeonato Mineiro durante os 10 anos de hegemonia e conquistou nada menos que 23 vitórias consecutivas (sendo apenas uma por W.O) entre 1916 e 1919, que permanece sendo um recorde de vitórias seguidas na competição até hoje. Além disso, o América ficou 5 anos e 36 jogos invicto entre 1916 e 1921.

Diante de seus principais rivais da capital, a equipe do deca também provou seu poder de fogo com marcas inigualáveis. Durante dez anos, o América não perdeu nenhuma partida oficial do Campeonato Mineiro para o Atlético, tendo conquistado 9 vitórias e 1 empate em 10 jogos contra seu principal rival. Já contra o Palestra Itália, atual Cruzeiro E.C, o América perdeu apenas uma partida no período – e por W.O, uma vez que já havia garantido o título por antecipação – tendo 8 vitórias, 1 empate e 1 derrota contra o antigo time da colônia italiana. Isso significa dizer que, em 20 clássicos disputados ao longo de 10 anos de Campeonato Mineiro, o América venceu 17, empatou 2 e perdeu apenas 1, por W.O. O Atlético foi quatro vezes vice-campeão para o América nessa época, tri-vice entre 1916-18 e outra vez em 1921, enquanto o antigo Palestra Itália foi tetra-vice de forma consecutiva para o Coelho entre 1922 e 24.

Tantas vitórias transformaram o América no clube mais popular de Minas Gerais até meados da década de 1930, fato atestado pela conquista da “Taça Líder”, troféu oferecido pelo tradicional jornal “A Folha de Minas” para a equipe de maior torcida no Estado após uma série de pesquisas realizadas entre a população local.

É difícil apontar qual foi o melhor time do Coelho no período glorioso. Se foi a equipe campeã em 1917 sem sofrer um gol sequer, o que jamais foi igualado por nenhum outro clube do Estado, ou se foi o time de 1921, que foi hexa-campeão após vencer a primeira final da história do Campeonato Mineiro. Já a escalação tetra-campeã em 1919 goleou o Athlético por nada menos que 5×0 na rodada inaugural, além de marcar outros 20 gols em 5 jogos, enquanto o histórico time que conquistou o deca em 1925 era a base completa da Seleção Mineira, tendo 10 jogadores entre 11 titulares.

Satyro Taboada foi o maior goleador americano do período, tendo marcado no mínimo 178 gols entre 1921 e 1931, um recorde de gols do clube. No entanto, a marca é questionada por alguns historiadores, que calculam que Satyro possa ter marcado mais do que 250 gols pelo clube na época, mas que são impossíveis de serem confirmados pelos antigos registros. O atacante também é o jogador que mais fez gols em um jogo do Campeonato Mineiro, ao marcar nada menos que nove gols em partida contra o Palmeiras-MG (14×0).

“Mas o primeiro grande time de Minas foi mesmo o América, campeão estadual dez vezes seguidas entre 1916 e 1925. Segundo a lenda, o time americano – que tinha João Brito, Francisco Matos e Rato entre suas estrelas – era tão bom, que um jornalista esportivo em Belo Horizonte, na primeira metade do século, chamado Arco e Flexa, costumava comparecer à redação horas antes de cada partida, para preparar, por antecipação, um comentário de exaltação ao clube. Só deixava em branco o espaço para incluir depois os números de mais uma vitória.”
– Celso Unzelte, em trecho do “O Livro de Ouro do Futebol”.

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As 6 medalhas restantes do deca-campeonato americano. As outras 4 foram doadas para o governo Brasileiro durante a campanha “Ouro para o bem do Brasil” de 1954.

 

DECA – ANO A ANO

1916: O primeiro título da história

1o Quadro: 10 jogos, 9 vitórias, 1 derrota
35 Gols Pró, 5 Gols Contra
2o Quadro: 10 jogos, 9 vitórias, 1 derrota
45 Gols Pro, 3 gols contra

O primeiro passo do deca campeonato americano foi dado no dia 29 de abril de 1916, em partida diante da extinta equipe do Yale. Curiosamente, aquele jogo contaria uma das únicas quatro derrotas do América em jogos oficiais do Campeonato Mineiro em mais de 10 anos: 3×1 para os visitantes.

Ninguém era capaz de imaginar que, daquela derrota em diante, o América construiria uma das maiores hegemonias da história do futebol mundial, mas a reação foi avassaladora: Nos seis jogos seguintes, o América marcou nada menos que 27 gols e sofreu apenas 1, goleando todos os adversários no caminho. A equipe chegou a golear o Sete de Setembro por 8×1, além de vencer o clássico contra o Atlético por 3×0 na “decisão do primeiro turno”.

O América somou 8 vitórias seguidas, 31 gols marcados e apenas 1 sofrido, até chegar a rodada final contra o Atlético. Certamente, era o time a ser batido, mas o rival alvinegro tinha uma última carta nas mangas para tentar evitar o primeiro título da história do Coelho.

POLÊMICA

Na época, além do Atlético Mineiro, o extinto Sport Hygiênicos era a única equipe do Campeonato Mineiro capaz de rivalizar com o América. Tanto é que o Coelho venceu o Sport por apenas 1×0 no dia 8 de outubro, enquanto o Atlético perdeu por 3×0. Antes da grande decisão, uma verdadeira coligação contra o América foi formada pelos dois principais rivais americanos em nível local, quando o Atlético Mineiro se fundiu com o Sport Hygiênicos para tentar formar um supertime capaz de evitar o título alviverde. A nova esquadra prometia frustrar as ambições dos americanos, mas antes teve que enfrentar a revolta da Liga.

Os clubes mineiros questionavam a legalidade da fusão entre as duas equipes, afirmando não haver nenhum artigo no estatuto oficial do torneio que permitisse tal ato durante o andamento do Campeonato. Além disso, novos jogos teriam que ser remarcados contra a nova equipe, que não podia simplesmente ficar com os pontos do Atlético ou do Hygiênicos.

Para evitar maiores polêmicas, o Atlético manteve o nome original, a fim de ficar com os pontos que tinha e não ser obrigado a disputar novos jogos. Essa é a principal razão do Atlético-MG nunca ter se chamado “Athlético Higiênicos”.

Com a pontuação necessária para jogar a final, um completamente novo e reconfigurado Atlético, com nada menos que quatro jogadores do antigo Sport em seu time titular, conquistou de forma controversa o direito de disputar a última rodada do Campeonato com chances de título, tendo que vencer o América para ser campeão.

DECISÃO

Na partida final do Campeonato, válida pela sexta rodada do segundo turno, chamada à epoca de “decisão do returno”, o Atlético enfrentou o América reforçado por quatro jogadores do Sport Hygiênicos em sua equipe titular. Para os alviverdes, bastava um empate para garantir o primeiro título de sua história. Depois da controversa fusão de equipes nos bastidores da justiça desportiva, o Coelho já se sentia o “campeão moral” apesar do resultado.

Mas o América provou que também estava disposto a suar dentro do gramado para superar a falcatrua alvinegra e conquistar o primeiro título de sua história centenária com uma vitória memorável. Depois de um típico derby, marcado por muita pressão e agressividade, o Coelho venceu a decisão contra seu maior rival pelo emocionante placar de 4×3, em um “jogaço” que deu início a uma das séries de títulos mais gloriosas do futebol mundial.

No mesmo dia, pelo Campeonato Mineiros do segundo quadro (que compunha os times reservas e juvenis), o América também foi campeão sobre seu maior rival (fortalecido com 6 jogadores do Hygiênicos), dessa vez goleando por 3×0, consagrando-se vencedor de todas as categorias promovidas pela Liga Mineira naquele ano (Campeonato Mineiro do Primeiro Quadro, Campeonato Mineiro do Segundo Quadrao, além do Torneio Início).

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Equipe que conquistou o primeiro título mineiro da história do América, em 1916. (Reprodução: Acervo oficial da Torcida Desorganizada Avacoelhada)

REGULAMENTO

O Campeonato Mineiro de 1916 reuniu seis participantes, todos eles da capital Belo Horizonte. Após a realização de partidas em turno e returno, o time que mais somasse pontos era determinado o campeão. A fórmula permaneceu vigente durante todo o período do deca-campeonato. O Estádio do América, “Prado Mineiro”, era o campo oficial da Liga.

Jogos – Estadual 1916:

Primeiro Turno:
13/06: AFC 1×3 Yale
18/06: AFC 3×0 Cristovam Colombo
25/06: AFC 4×0 Sport Hygiênicos
16/07: AFC 8×1 Sete de Setembro
30/07: AFC 3X0 Athlético (Decisão do Turno)

Segundo Turno:
10/09: AFC 5×0 Yale
01/10: AFC 4×0 Cristovam Colombo
08/10: AFC 1X0 Sport Hygiênicos
29/10: AFC 3×0 Sete de Setembro
12/11: AFC 4×3 Athlético

1917: Bi-campeão sem sofrer gol

Bi-Campeão Mineiro
Campeão do Torneio Início
1o Quadro: 10 jogos, 9 vitórias, 1 derrota
35 Gols Pró, 5 Gols Contra
2o Quadro: 10 jogos, 9 vitórias, 1 derrota
45 Gols Pro, 3 gols contra

O bicampeonato de 1917 foi o primeiro dos oito títulos da gloriosa série americana que foram conquistados de forma invicta. O América ainda teve 100% de desempenho durante a competição, vencendo absolutamente todas as partidas disputadas, e, se não bastasse, sem sofrer um gol sequer, o que jamais foi igualado por nenhuma outra equipe em Minas Gerais e talvez até no Brasil.

Assim como no ano anterior, o Atlético foi novamente vice campeão, o que acirrou ainda mais a rivalidade já contundente entre os dois principais clubes mineiros da época.

Oito jogos no total foram previstos à cada equipe durante a competição de 1917. No entanto, diante da superioridade americana, três das oito vitórias foram conquistadas por W.O., uma prática comum no futebol da época. Quando o clube julgava não ter capacidade de vitória, preferia abandonar a partida do que sofrer uma humilhação dentro de campo. Afinal, a derrota por W.O correspondia a um placar por 3×0 – muito melhor, até em questão de saldo de gols, do que tomar de 6, 7 ou até 8, algo recorrente aos adversários do América no período. Prova disso é que, só nas partidas de turno e returno, o América marcou nada menos que 12 gols em 2 jogos contra uma extinta equipe chamada Cristovão Colombo.

A equipe do Sete de Setembro, extinta apenas em 1997, faltou às partidas contra o América no primeiro e segundo turno, talvez temendo um massacre americano, já que havia sido goleado por nada menos que 10×0 em partida amistosa durante o início do ano. O Yale, que já havia sido derrotado pelo América no primeiro turno, também decidiu abandonar a partida contra os alviverdes durante as últimas rodadas da Segunda Fase, já que não tinha mais possibilidades de sucesso na competição.

Nesse ano, o América também disputou sua primeira partida interestadual, diante do Flamengo-RJ, em Belo Horizonte. Os cariocas venceram por 2×1, mas o resultado foi prestigiado pela imprensa e público, diante do equilíbrio que marcou a partida contra uma das principais equipes do eixo Rio-SP, em uma época que esporte brasileiro era ainda mais polarizado naquela região e o futebol mineiro ainda lutava para se firmar em nível nacional. Se hoje o futebol mineiro é um dos mais prestigiados do país, certamente deve um pouco disso ao América, primeiro clube mineiro capaz de enfrentar equipes do eixo Rio-SP, como tanto foi demonstrado durante o período do deca-campeonato.

América 1917 (jornal O footbal , colecao linhares )

Imagem recortada do jornal “O Football” (Reprodução: Coleção Nabuco Linhares)

Jogos – Estadual 1917:

Primeiro Turno:
01/07: América 3×0 Athlético
15/07: América 6×0 Christovam Colombo
12/08: América 1×0 Sete de Setembro
19/08: América 1×0 Yale

Segundo Turno:
09/09: América 2×0 Athlético
21/10: América 1×0 Sete de Setembro
28/10: América 1×0 Yale
18/11: América 6×0 Christovam Colombo

1917 - gazeta esportiva colecao linhares

Gazeta Esportiva de 1917 destaca o clássico entre América e Atlético. (Reprodução: Coleção Nabuco Linhares)

1918: O primeiro tri-campeão do Estado

O tri campeonato mineiro-americano de 1918 foi adiado alguns meses em razão da crise de saúde pública que se arrastou no Brasil após o surto da “gripe espanhola”, também conhecida como “influenza”, epidemia que se arrastou pelo território após a participação do exército nacional na Primeira Guerra Mundial.

Previsto para ser jogado em Abril, Maio e Junho, o campeonato de 1918 esteve paralisado durante três meses devido à epidemia, sendo reiniciado apenas em agosto. À despeito da infeliz fatalidade, o tricampeonato também foi invicto, assim como outros 7 títulos da série deca-campeã. Os atleticanos foram novamente vice-campeões, sendo vice para o América pela terceira vez consecutiva (tri-vice).

A última partida do certame foi contra o Sete de Setembro. O Coelho empatou em 2×2, mas o adversário, que escalou vários jogadores de forma irregular, foi posteriormente declarado perdedor. Com ou sem o resultado, o América já havia selado o tri. O Atlético estaria fadado a esperar mais de 50 anos para alcançar o mesmo feito.

Jogos – Estadual 1918:

Primeiro Turno:
14/04: América 4×0 Yale
25/04: América 2×0 Sete de Setembro
19/05: América 1×0 Sete de Setembro
26/05: América 1×0 Yale

Segundo Turno:
28/07: América 1×0 Yale
25/08: América 3×0 Luzitano (W.O)
01/09: América 1×1 Athlético
22/09: América 2×2 Sete de Setembro

1919: É tetra!

Durante a primeira partida do Campeonato Mineiro de 1919, o América já mostrou que estava disposto a conquistar o tetra-campeonato estadual ao golear o Atlético, tido como o único adversário capaz de ameaçar o tetra inevitável, por nada menos que 5×0 (o maior placar do confronto até então, jamais repetido pelo rival). Na rodada seguinte,  a superioridade americana ficou ainda mais evidente com uma goleada de 6×0 sobre o Luzitano.

Com 100% de aproveitamento no primeiro turno, a equipe alviverde venceu todas as partidas da primeira fase da competição, ao marcar nada menos que 20 gols em apenas 5 jogos. Além disso, o América já acumulava uma sequência invicta de 23 partidas sem derrotas desde 1917.

Novamente, o América era o time a ser batido.

Após a quinta vitória seguida do time americano (4×2 sobre o Sete de Setembro), a equipe do Yale foi a primeira a desistir do Campeonato, assim como no ano anterior. O Athlético, inconformado com o sucesso americano e o tetra-campeonato praticamente confirmado, tentou melar o título alviverde, já que a festa do tetra estava prevista para acontecer justamente contra o clube alvinegro na última rodada.

Dessa forma, atormentado por seus próprios fracassos, o Athlético se juntou ao Yale e também abandonou a competição. No fundo, havia uma tentativa frustrada de atentar contra a superioridade americana, de arranhar mais uma taça conquistada com facilidade por seu maior rival da época, além do constrangimento de sofrer nova goleada para o Coelho durante a festa do título, já que perdeu de 5×0 para o América na primeira partida do certame.

Ao fim, todos os outros clubes desistiram da competição, e o América, primeiro colocado desde a primeira partida, foi campeão sem disputar seus 2 jogos finais, contra Athlético, que tinha perdido de 5, e contra o Luzitano, que tinha perdido de 6.

Com ou sem atleticanos, com ou sem final, o América foi tetracampeão invicto e legítimo, já que, antes de abandonarem a competição, todos os clubes participantes assinaram um documento oficial da Liga confirmando o título e a superioridade do América.

Jogos – Estadual 1919:

Primeiro Turno:
11/05: América 5×0 Athlético
18/05: América 6×0 Luzitano
08/06: América 2×1 Yale
26/06: América 3×2 Sete de Setembro

Segundo Turno:
América 4×2 Sete de Setembro

1920: Campeão de tudo

Campeão do Campeonato Mineiro
Campeão do Torneio Início
Campeão do Campeonato Mineiro do Segundo Quadro

O América foi pentacampeão mineiro em 1920, além de vencer todos os 3 Campeonatos promovidos pela Liga Mineira de Futebol no ano de forma invicta.

Com 37 gols marcados em 11 jogos, o penta-campeonato americano foi conquistado com relativa facilidade e ficou marcado por goleadas constrangedoras do América sobre seus adversários locais: O Athlético sofreu goleada dos americanos pelo quinto ano consecutivo, perdendo de 4×1 pela terceira rodada do segundo turno, enquanto o Sete, de Setembro, que foi bi-vice para o América em 1920, perdeu de 6. Já o Yale, time da colônia britânica, perdeu de 5×2, e o Luzitano, dos portugueses, sofreu goleadas de 6×0 para a equipe do primeiro quadro e de 7×0 para a equipe do segundo. Por fim, o Guarany de Sobral também foi goleado, mas “apenas” por 4×2.

Ou seja, a única equipe do Campeonato que não foi goleada pelo América foi o Alves Nogueira, que desistiu da competição ainda nas primeiras rodadas. No entanto, o Alves havia perdido de 10×0 para o América no Torneio Início, e decidiu que não havia condições de disputar a Liga após a humilhante derrota.

Claramente, nenhuma equipe de Minas Gerais foi capaz de ameaçar o poderoso América durante as páginas mais gloriosas de sua história. 1920 comprova.

Jogos – Estadual 1920:

Primeiro Turno:
25/04: América 4×1 Athlético
23/05: América 3×0 Guarany
13/06: América 3×0 Alves Nogueira (W.O)
22/08: América 5×2 Yale
25/09: América 6×0 Luzitano
17/10: América 2×1 Sete de Setembro

Segundo Turno:
31/10: América 1×1 Athlético
07/11: América 4×2 Guarany
21/11: América 4×1 Yale
28/11: América 6×2 Sete de Setembro
05/12: América 2×0 Luzitano

O PRIMEIRO ESTÁDIO DE MINAS GERAIS

Após empate em 2×2 com a Seleção Carioca de Futebol, os americanos, que compunham majoritariamente a Seleção Mineira, se entusiasmaram com a ideia de construir o primeiro verdadeiro estádio de Minas Gerais, como forma de aproveitar o bom momento americano.

Até 1920, todos os jogos da Liga eram disputados no Campo do Prado, do América, ainda não completamente gramado. O novo estádio, com campo e arquibancadas adequadas, foi inaugurado dois anos depois, em 1922, e serviu até 1928 anos como o campo oficial da Liga, sendo a casa do América até a inauguração da Alameda em 1928.

1921: Hexa

O América conquistou a incrível marca de “3 gols e meio” por jogo durante a conquista do hexa-campeonato estadual, ao marcar 41 gols em apenas 12 jogos.

Assim como nos anos anteriores, Coelho voltou a protagonizou goleadas espetaculares durante o Campeonato Mineiro, vencendo o Atlético por 6×2 durante a 5ª rodada do 1º turno e o Luzitano por 7×1 na terceira partida do 2º turno, além de marcar nada menos que doze gols sobre a extinta equipe do Progresso, pelo chamado campeonato do “2o quadro”, que envolvia os jogadores reservas.

Novamente, o título foi conquistado sobre as barbas do Atlético Mineiro, após empate no clássico da última rodada (1×1), resultado que favoreceu o América e garantiu novo título ao clube. Já era o quarto vice-campeonato do Atlético para o América desde sua fundação.

No entanto, dessa vez, a conquista não foi invicta, já que o Yale surpreendeu e venceu o América por 3×1 durante a 3ª rodada do primeiro turno. Desde 1916, o América não perdia uma partida do Campeonato Mineiro: Curiosamente, a última derrota havia sido justamente para o time da colônia britânica do Yale.

Jogos – Estadual 1921:

Primeiro Turno:
12/06: América 3×2 Luzitano
26/06: América 4×1 Yale
10/07: América 2×0 Palestra Itália
17/07: América 4×2 Sete de Setembro
24/07: América 9×0 Guarany
31/07: América 1×1 Athlético

Segundo Turno:
25/09: América 4×0 Luzitano
06/10: América 4×0 Sete de Setembro
19/10: América 1×3 Yale
30/10: América 4×3 Palestra Itália
13/11: América 4×1 Guarany
20/12: América 1×1 Athlético

Curiosidade:

Um encontro histórico aconteceu na Estação Mineira de Juiz de Fora, quando a histórica equipe hexa-campeã estadual do América topou por acaso com o não menos lendário Santos Dummont, o grande pai da aviação, e o saudou com entusiasmados agradecimentos.

1922: A primeira final do Campeonato Mineiro

Pela primeira vez na história, o Campeonato Mineiro foi decidido pelo sistema de final em 1922, já que América e Palestra Itália, atual Cruzeiro, empataram em pontos após a última rodada e um jogo de desempate foi marcado para decidir o campeão. Até então, todos os Campeonatos Estaduais de Minas Gerais haviam sido decididos pelo sistema de pontos-corridos.

Durante a conquista, o América teve a média exata de 3 gols por partida, terminando a competição com 34 tentos em 12 jogos. Além disso, a seleção mineira de 1922 foi composta quase que inteiramente por atletas americanos, do time reserva ao time titular. Com apenas um jogador do Atlético em campo (Ivo Mello), a Seleção “Mineiro-Americana” venceu o Fluminense por 2×1, comprovando a força dos americanos em nível nacional.

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SANTO

O grande herói do hepta campeonato americano foi o atacante Clair Valadares, autor dos dois gols para o América durante a virada por 2×1 sobre o Palestra. O curioso é que o artilheiro quase ficou de fora da final, por estar com mais de 38 graus de febre. Ao saber do “milagre”, imprensa e torcida “beatificaram” o jogador segundo à moda inglesa: Desde então, Clair Valadares passou a ser conhecido por Saint Clair, o primeiro “santo” do futebol mineiro.

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Jogos – Estadual 1922:

Primeiro Turno:
16/04: América 4×2 Palestra Itália
21/05: América 4×1 Progresso
28/05: América 0x1 Luzitano
04/06: América 3×1 Sete de Setembro
11/06: América 6×2 Athlético
18/06: América 1×2 Yale

Segundo Turno:
20/08: América 1×1 Palestra Itália
17/09: América 3×0 Progresso (W.O.)
24/09: América 7×1 Luzitano
01/10: América 3×1 Sete de Setembro
08/10: América 1×1 Athlético
15/10: América 4×0 Yale

1923: Octa Invicto

Depois do América golear todos os adversários que enfrentou no primeiro turno (com exceção do Yale), os clubes participantes do Campeonato Mineiro desistiram da competição durante a segunda rodada do turno seguinte, a fim de evitar novas humilhações durante o caminho do Coelho rumo ao octa-campeonato.

O único candidato que ousou enfrentar o América no segundo turno foi justamente o Yale, que havia perdido apenas por 3×1 no turno inicial. No entanto, os ingleses se deram mal e perderam por nada menos que 10×0. Após essa partida, todos os clubes assinaram um documento oficial na Liga Mineira que confirmava o título e a evidente superioridade mineiro-americana.

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Jogos – Estadual 1923:

Primeiro Turno:
03/06: América 3×1 Yale
10/06: América 5×0 Palmeiras
24/06: América 7×1 Palestra Itália
01/07: América 1×1 Athlético
08/07: América 6×0 Luzitano
22/07: América 4×2 Luzitano

Segundo Turno:
16/09: América 10×0 Yale

INAUGURAÇÃO

1923 também foi o ano da inauguração do primeiro estádio completamente gramado de Minas Gerais: o estádio mineiro-americano do Prado Mineiro, campo oficial da Liga de 1915 até 1928, que passou por um processo de modernização anos antes e ampliou sua capacidade para mais de 5.000 pessoas (o maior estádio do país da épca abrigava pouco mais de 10 mil). O América também reinaugurou sua Praça de Esportes, uma das mais modernas do país à época.

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O estádio do Prado Mineiro em 1923. (Foto: Reprodução – Jornal “O Estado de Minas”)

1924: Enea-campeão com antecipação

O América foi campeão com duas rodadas de antecipação durante a conquista do ênea campeonato estadual em 1924.

No entanto, pela terceira vez, a conquista não foi invicta, já que os americanos entregaram os pontos para o Palestra, vice-campeão, durante a última rodada do certame. Como o resultado não interferia na tabela nem interessava ao Coelho, a equipe do América não foi a campo e perdeu por W.O, naquela que foi sua única derrota para o atual Cruzeiro durante todo período do deca.

Na época, os jogadores deca-campeões do América eram universitários que jogavam no clube em paralelo com os estudos acadêmicos. Após o Estadual, a maioria deles retornava à cidade de origem, à fim de praticar a profissão. Com vista em um possível deca-campeonato previsto para acontecer no ano seguinte, muitos dos jogadores americanos permaneceram na capital após a disputa do Campeonato Mineiro para participar da histórica conquista.

Jogos – Estadual 1924:

Primeiro Turno:
03/06: América 2×1 Palestra Itália
06/07: América 1×0 Sete de Setembro
24/06: América 4×2 Yale
01/07: América 3×0 Palmeiras

Segundo Turno:
16/09: América 8×0 Sete de Setembro
14/12: América 1×0 Yale
21/12: América 0x3 Palestra Itália (W.O)

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1925: 10 vezes América

O América contratou jogadores do futebol paulista e carioca, construindo um poderoso esquadrão a fim de se tornar o primeiro clube do mundo a conquistar dez campeonatos consecutivos. O resultado foi imediato, e o Coelho conquistou o “Torneio Início” e a “Taça Mello Viana” logo no início do ano.

Logo depois, o América conquistou outras duas taças durante excursão a cidade de Juiz de Fora, sendo campeão da “Taça Defeo” (2×1 versus Tupi) e da “Taça Eqüitativa” (3×2 versus Tupinambás), além de também brilhar na “Taça 24 de maio”, conquistada após goleada por 4×2 sobre o Palestra.

Finalmente, o galáctico time do América estreou no Campeonato Mineiro, e não decepcionou ao golear seu principal rival, o Atlético, por 4×1, durante partida completamente dominada pelo Coelho. Pouco depois, a Seleção Mineira, composta por doze americanos, goleou a Seleção do Estado do Rio de Janeiro por nada menos que 6×0.

Depois do massacre do Coelho sobre os cariocas, todas as equipes do Campeonato Mineiro desistiram da competição, temendo humilhação semelhante a que sofreu o Atlético, tido como o único time capaz de enfrentar o Coelho, na primeira rodada do certame. Certamente, o América teria dado um baile em seus adversários rumo ao deca-campeonato, que não concordaram em ser coadjuvantes da festa dos americanos. Dessa forma, todos os clubes assinaram um documento oficial da Liga Mineira que confirmava a conquista do deca-campeonato mineiro americano.