JABURU (Jorge de Souza Mattos)

Jaburu - porto 2

O atacante Jaburu foi um dos grandes ídolos do América e do Porto de Portugal durante a década de 1950. O jogador revelado pelas categorias de base do Fluminense chegou ao Coelho em 1956, após breve passagem pelo Olaria. Encomendado diretamente pelo folclórico treinador Yustrich, Jaburu não demorou em conquistar a torcida americana.

Centroavante nato, o craque tinha todos os requisitos para um bom goleador: Apesar da altura e força física, sobrava frieza e habilidade para finalizar com qualquer das pernas. Craque de gols bonitos, Jaburu se tornou o principal jogador do clube durante o Campeonato Mineiro de 1956 e os amistosos nacionais disputados no mesmo ano.

GOLS GUARDADOS NA MEMÓRIA

A curta e fulminante passagem de Jaburu pelo América ficou marcada por belos gols, cujos registros residem apenas em jornais da época e nas memórias do torcedor americano.

Segundo consta reportagem de Eugênio Moreira para o jornal “O Estado de Minas”, em partida amistosa contra o Vasco da Gama, o jogador fez valer o ingresso com um golaço marcado após desconcertante chapéu em um zagueiro cruz-maltino, durante a derrota por 2×1.

Na partida seguinte, contra o Flamengo, Jaburu desenhou nova pintura ao driblar todos os adversários rubro-negros que se puseram a frente. No mesmo mês, novo golaço contra o Cruzeiro apenas confirmou o talento do atacante, após o tento que definiu a vitória do América por 2×0. Após a partida, seu gol foi a principal manchete do diário esportivo do Estado de Minas: “Portentoso gol de Jaburu, o grande lance da partida”, anunciou o tabloide seguido de uma foto do goleador.

EM PORTUGAL

O sucesso de Jaburu pelo América rendeu ao atacante uma transferência ao Porto de Portugal, em um valor que consumou 700 mil Cruzeiros. A negociação durou mais de um mês, tendo sido iniciada por fax no dia 26 de junho e concluída no dia 10 de agosto.

O jogador também havia despertado o interesse de outros clubes como Flamengo e Vasco da Gama. Alguns dizem que a ida ao Rio de Janeiro teria consagrado o jogador no “hall da fama” do futebol brasileiro. Para substituí-lo no ataque americano, o antigo ídolo indicou Gunga, outro notório atacante alviverde – o segundo maior artilheiro da história do América, atrás apenas de Satyro Taboada. Foi a última contribuição do craque pelo América.

Pelo Dragão Português, Jaburu viveu a melhor fase de sua carreira. Novamente o craque foi encomendado pelo técnico Yustrich, recém-contratado pelo Porto. Segundo o ex-treinador americano, o atacante “era realmente um jogador de qualidades, um senhor craque do futebol. Um atleta possante, inteligente, com 1,85 cm e pernas fortes, coisas raras para um ponta-de-lança”. O jogador tinha particular identificação com o folclórico treinador Yustrich, outro grande ídolo do América. Segundo Gastão, ex-jogador do Atlético e companheiro de Jaburu no Porto, “apenas Yustrich era capaz de doma-lo”.

Jaburu - PORTO

A serviço de seu antigo treinador do Coelho, Jaburu foi o principal jogador da equipe durante o título português de 1957. Eleito o melhor jogador do Campeonato, seu futebol impressionou os portugueses, que até hoje o aclamam como um dos melhores jogadores da história de sua Liga Nacional.

 O atleticano e antigo companheiro Gastão relembrou com saudades:

“No penúltimo jogo do campeonato, vencemos o Sporting por 3 a 1 e foi a maior consagração popular que vi a um atleta profissional. Jaburu marcou dois gols e, num deles, coroando sua atuação sensacional, driblou toda a defesa adversária. Tinha um estilo diferente, chutava com os dois pés e era frio ao extremo”.

jaburu charge

Jaburu também é considerado um ídolo histórico do Porto de Portugal.

A DECADÊNCIA

Contudo, após anos de glórias, gols e vitórias, Jaburu viveu uma vertiginosa decadência, como tantos outros grandes jogadores de sua época. Transferido ao Celta de Vigo em 1959, o atacante não conseguiu repetir as atuações do passado, prejudicado por uma grave contusão na coluna cervical.

Sem sucesso no futebol espanhol, o craque voltou a Portugal para atuar no Leixões. No entanto, por seu novo clube, Jaburu envolveu-se em polêmicas que chegaram a acionar a embaixada brasileira: Sem receber e nem atuar como jogador, o jogador chegou a ser internado pela prefeitura da cidade como indigente, após noites e mais noites de alcoolismo. Apenas a diplomacia nacional foi capaz de retira-lo do país.

Prejudicado por lesões e, segundo muitos, pela vida boêmia, Jaburu teve um fim precoce e pendurou as chuteiras ainda jovem. Sem dar continuidade a promissora carreira como boleiro profissional, o antigo artilheiro passou a viver na miséria das ruas cariocas de onde veio, arrecadando algum dinheiro apenas com publicidade e outros acordos relacionados. Antigo residente de uma pequena casa dividida com a mãe (comprada por seu irmão, apelidado de “Jaburu 2”, ex-jogador do Fluminense e Benfica), Jaburu chegou a ser despejado sem conseguir pagas as contas.

Pelas calçadas de Madureira, a maior alegria do antigo ídolo de Porto e América era ser passista na escola de samba do bairro. Em seus últimos dias, o craque não tinha nem lugar para morar. Sua única renda eram as doações feitas pela delegacia local que, ciente do seu talento no passado – conservado em uma caixa de sapatos com jornais e revistas – lhe dava alguns trocados para o ex-jogador não passar fome.

Ao fim, com relatos de uso de drogas, Jaburu passou seus últimos dias em contraste com o tempo que deixava torcedores inspirados. Sem grande cerimônia, faleceu em 1991, com apenas 54 anos.

Talvez não soubesse, talvez não se lembrasse, mas sua história tornou-se patrimônio do torcedor português e mineiro-americano. Lenda de ambos os clubes, seus gols, guardados apenas na memória, gravações de rádio e recortes de jornal, permanecem vivos entre os sonhos.

Fonte: “O Estado de Minas”, reportagem de Eugênio Moreira.