1980-89: Reestruturação

1980: A polêmica decisão da Taça MG de 1980

Terceiro colocado do Campeonato Mineiro
Finalista da Taça MG
Décimo Lugar na Taça de Prata (Série B)

CAMPEONATO MINEIRO

Pela sétima vez consecutiva, o América ficou em terceiro lugar durante o Campeonato Mineiro de 1980.

O Estadual daquele ano foi dividido em quatro grupos que ofereciam 2 vagas cada um para as fases finais, formada por um octogonal que decidiria o campeão.

O América classificou-se para a fase final com o primeiro lugar de seu grupo, composto por Villa Nova, Tupi, Uberaba, Guarani, Atlético-TC e Ateneu. Mas no Octagonal decisivo, o Coelho ficou em quarto lugar, com 6 vitórias, 4 empates e 4 derrotas em 14 jogos. Mesmo assim, o América foi considerado o terceiro colocado na classificação geral, que contava jogos da primeira e segunda fase.

TAÇA DE PRATA

O desempenho americano no Campeonato Mineiro valeu ao clube uma vaga na Taça de Prata, equivalente à Segunda Divisão Nacional.

Nessa época, todas as equipes do Brasil classificavam-se para as competições nacionais a partir de suas colocações nos Campeonatos Estaduais, algo impensável nos dias de hoje. Ao Estado de Minas Gerais, eram oferecidas apenas 2 vagas na Taça de Ouro, equivalente à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro, e mais 2 vagas na Taça de Prata, equivalente à Série B.

Esse método de classificação prejudicou muitos clubes tradicionais da época, e não à toa foi abolido, já que equipes desciam e subiam de divisão apenas em função de suas campanhas no estadual. Não apenas o América foi prejudicado por esse método de classificação, ficando afastado da elite nacional entre 1980-86 depois de 9 participações consecutivas, como outras equipes importantes como Corinthians (1981 e 83) e Botafogo (1982) também chegaram a ficar de fora da Primeira Divisão nesse período.

Como o América ficou entre a terceira e quarta posição durante onze estaduais consecutivos (de 1975 a 1986), o clube garantiu presença na Taça de Prata de 1980 a 1986, mas ficou de fora da “Primeirona” durante toda década. Durante sua primeira participação na Segunda Divisão Nacional, o América ficou em vigésimo lugar, em uma competição confusa que reuniu nada menos que 64 equipes.

TAÇA MINAS GERAIS

O América classificou-se à final da Taça Minas Gerais pela primeira vez na história em 1980. Depois de superar o Valério com facilidade durante as semifinais (vitória em casa e fora), o Coelho supostamente enfrentaria o Uberaba E.C na decisão, equipe que superou o Uberlândia na outra chave. No entanto, aquela que prometia ser uma emocionante final de dois jogos, na verdade, se tornou uma complicada disputa judicial, que logo fugiu dos gramados para invadir as tribunas da justiça desportiva mineira.

A controversa nasceu porque o América recebeu o direito de disputar a segunda final como mandante, já que foi considerado o clube de melhor campanha na competição. Mas a equipe do Triangulo Mineiro questionou tal direito ao alegar que a chave do Coelho na primeira fase possuía 7 participantes, enquanto o grupo do Uberaba possuía apenas 6 equipes. Portanto, o América disputou mais partidas e teve mais chances de conquistar pontos que o Uberaba para alcançar a condição de melhor campanha na competição e o direito de disputar a segunda final como mandante.

Mesmo assim, a Federação Mineira ignorou as acusações e confirmou a disputa do primeiro jogo da final no interior. Com a confirmação da partida, o Coelho e sua torcida, de fato, viajaram rumo ao triangulo mineiro para acompanhar a decisão, mas, ao invés de uma final, assistiu uma equipe que fechou os portões do próprio estádio.

O vexame  foi tamanho que os jogadores americanos não puderam sequer entrar no estádio, tendo que ficar do lado de fora do “Uberabão”. Depois de esperar o tempo determinado pelo árbitro, a comissão técnica do Coelho assinou a súmula e retornou à capital como o vencedor da primeira partida por W.O.

NOVA CONFUSÃO

Sem a realização da primeira final, a diretoria do Uberaba exigiu que a partida disputada no Mineirão fosse considerada o primeiro jogo das finais, ou que fosse realizada uma decisão de jogo único, mas as demandas foram recusadas. Dessa forma, o Coelho foi à campo para a segunda partida da final com a vantagem de ter vencido o primeiro jogo por W.O, que correspondia ao placar de 3×0.

Enfim, quando todos esperavam assistir a final da TAÇA MG de 1980, a diretoria do Uberaba aprontou mais uma: Momentos antes da partida decisiva, a equipe deixou a concentração e retornou ao triângulo mineiro.

Assim como na partida anterior, o América novamente foi à campo sem ter um adversário contra quem jogar. Declarado campeão por W.O, sem ter que jogar efetivamente as finais, torcida e clube mal chegaram a comemorar um título conquistado sem muita graça.

Ainda hoje existe confusão para definir o campeão daquele ano, mas a verdade é que, no dia 02/03/1980, o Coelho oficialmente deixou o estádio do Mineirão como campeão da Taça MG de 1980, já que o adversário se recusou a disputar as finais, independente do que foi ordenado pela federação.

FONTE: Carlos Paiva

1981:

Terceiro colocado do Campeonato Mineiro
Vigésimo colocado na Taça de Prata

Raposa no jantar! 

O América goleou o Cruzeiro por 5×0 durante um amistoso com quase 15.000 presentes em 1981. Na época, foi a maior goleada do clássico desde os tempos do deca-campeonato. Após a partida, o “Estado de Minas” publicou uma manchete no mínimo curiosa: “O América é um timão, ou o Cruzeiro é um timinho?”.

Composto principalmente por jogadores formados nas categorias de base, o time que goleou a Raposa era conhecido pelo “estilo brigador”. Destacavam-se jogadores que subiram para a equipe profissional entre 1978 e 80, como o folclórico artilheiro Paulinho Kiss ou o oportunista Wagner Oliveira, além dos meias Matheus e Ludo.

AMÉRICA 5×0 CRUZEIRO
Data: 18/08/1981
Público: 13.115 pagantes
Renda: Cr$ 2.075.615,00
Gols: Paulinho Kiss (28″), Wagner Oliveira (22’ e 28’), Paulinho Kiss (55’) e Eraldo (88’)

AMÉRICA: Hélio; Cacau, João Batista, Eraldo e Vâner; Lúcio, Ludo (Cláudio Barbosa) e Mateus (Aquiles); Augusto (Vaguinho), Wagner (Júlio César) e Paulinho Kiss – Tec: Luciano Vieira.

Fonte: Torcida Desorganizada Avacoelhada

A DIVISÃO DO TÍTULO

A decisão que confirmava o título americano da taça MG de 1980 foi revogada em abril de 1981, quando a Federação Mineira confirmou a realização de novas finais. O América aceitou a decisão de forma indigesta, sem fazer maior alarde para garantir uma taça conquistada por W.O.

Quando enfim se jogou a primeira partida da final, prevista há um ano antes, o Uberaba venceu em casa por 2×1. No entanto, a partida foi anulada, já que ambas as equipes utilizaram jogadores que não haviam sido inscritos na Taça Minas Gerais de 1980.

A Federação Mineira então determinou que apenas os atletas inscritos no ano anterior poderiam atuar na decisão.  Na segunda final, ambas as equipes voltaram a escalar jogadores irregulares e a partida foi novamente cancelada.

Uma terceira final foi marcada, mas o América anunciou que já não possuía atletas em condição de jogo, uma vez que o time de 1980 já havia sido desmantelado. Dessa forma, a partida final, que seria disputada em um campo neutro em Poços de Caldas, jamais aconteceu.

Tanto o América quanto o Uberaba possuem razões para clamar o título da Taça MG de 1980, mas, por todo imbróglio judicial e ineficiência da Federação para resolver a situação, é complicado definir o autêntico campeão. No fim, o consenso e o bom senso sugerem que as equipes “dividam” o título de 1980, já que nunca houve a realização legítima das partidas finais previstas. Certamente, é um daqueles títulos que merece um “asterisco” para ambos os clubes.

O principal argumento americano é que tudo isso poderia ter sido evitado não fosse a vergonhosa conduta da equipe do interior durante o ano anterior, que fechou os portões do próprio estádio sem nenhum tipo de aviso prévio, deixando os americanos “a ver navios” em Uberaba, além de também terem fugido de BH momentos antes da partida final no Mineirão.

Fonte: Carlos Paiva

CAMPEONATO MINEIRO

Assim como nas quatro temporadas anteriores, o América novamente terminou o Campeonato Mineiro em terceiro lugar, ficando atrás apenas de Cruzeiro e Atlético, tanto durante a Primeira fase quanto no Hexagonal Final, com 18 vitórias e X derrotas. O desempenho garantiu uma das duas vagas oferecidas ao clubes do Estado durante a Taça de Prata de 1981.

TAÇA DE PRATA

Assim como no ano anterior, o Coelho terminou o Campeonato Nacional pouco acima da metade da tabela, ocupando a vigésima posição. A competição diminuiu seu número de participantes de 64 clubes em 1980 para 48 equipes em 1981.

1982:

70 anos!

O América se tornou um clube septuagenário em 1982, quando comemorou 70 anos de história.

O PRIMEIRO PATROCÍNIO

O América estreou o primeiro patrocínio estampado de sua história em 1982, ao celebrar acordo com 4 empresas apenas alguns dias depois da legalização dos patrocínios pela CBF. No entanto, os contratos foram mal recebidos pela fornecedora esportiva Adidas, que produzia os uniformes do clube desde a década de 1970 e não foi alertada sobre a negociação dos patrocínios. Dessa forma, a prestigiada empresa alemã deixou de ser a fornecedora esportiva do América logo após o estabelecimento dos contratos, mas sem antes deixar como legado uma série dos mais belos uniformes já vestidos pelo clube.

1983:

Fonte: Enciclopédia oficial do América, por Carlos Paiva

América MG 1983Time do América em 1983: De pé: Wellington, Wagner, Luis Carlos, Humberto, Lúcio e Jorge Luís. Agachados: Adilson, Zezinho, Paulinho, Luis Carlos Gaúcho e Augusto

1984: Apogeu e fim do Projeto Contagem

Desde meados da década de 70, o América semeava o projeto de construir um estádio de proporções monumentais no município de Contagem, a fim de concorrer com o Mineirão pelo posto de maior cancha do Estado. O projeto era inspirado, em parte, pela construção do gigante estádio do Morumbi na capital paulista, responsável por dar grande impulso ao clube são-paulino. Assim como no caso do São Paulo, o projeto americano também tinha o aval do governador do Estado, já que o plano estava arquitetado sob o comando do governador de Minas Gerais e ex-prefeito de Contagem, Newton Cardoso, torcedor americano doente.

O ápice do projeto foi em 1984, quando o Coelho anunciou em um jornal oficial para torcedores a construção do terceiro maior estádio privado do Brasil, com capacidade para abrigar mais de 60 mil pessoas.

As primeiras fases da construção chegaram a ser concluídas, como as etapas de terraplanagem e edificação das estruturas iniciais das arquibancadas. No entanto, o projeto foi desmantelado principalmente porque a ideia de afastar o América de sua base majoritária de torcedores na capital mineira assustava qualquer pessoa relacionada com o clube.

Com o tempo, o projeto do estádio em Contagem foi substituído por outro que provou ser ainda mais grandioso, concluído em 1987: a aquisição do histórico estádio Independência, o mais antigo de Belo Horizonte.

1986: Reabertura do Independência

Terceiro colocado do Campeonato Mineiro

NOVO INDEPENDÊNCIA

Um clássico entre América e Atlético reinaugurou o estádio do Independência em abril de 1986 – o estádio estava sendo reformado desde 1984, após anos de inabilitação.

Apesar de ter sido vendidos ingressos, o jogo teve os portões abertos e a maioria dos presentes não pagou para assistir “O Clássico das Multidões”, que naquele dia mais tinha um caráter de “clássico da paz”, com americanos e atleticanos assistindo o antigo derby lado a lado, sem nenhum resquício de violência. No fim, a histórica partida terminou em um empate por 0x0.

Fonte: Mario Monteiro e Carlos Paiva

Afc x Atl 1986 (marinho)

Ingresso original do clássico com portões abertos entre América e Atlético que reinaugurou o estádio do Independência em 1986. (Reprodução: Acervo Mário Monteiro)

CAMPEONATO MINEIRO

Em 1986, pela décima primeira vez consecutiva, o América terminou o Campeonato Mineiro entre os quatro melhores colocados da competição. Apenas em 1987 o Coelho se afastou do pódio estadual, ao ficar com a sétima colocação.

TERCEIRA EXCURSÃO DO AMÉRICA A EUROPA

Jogos:

1988: Independência Americano

A aquisição do Estádio do Independência

Em maio de 1988, o antigo clube do Sete de Setembro, em gradual processo de desaparecimento, celebrou um acordo com o América onde transferiu a administração do Estádio do Independência ao Coelho. O processo foi feito em articulação com o governador do Estado, Newton Cardoso, americano declarado e que há muito já manifestava o desejo de transferir o antigo estádio para o time de seu coração.

A ata foi oficialmente assinada no dia 9 de Julho de 1988, em reunião que congregou outros três americanos ilustres: Magnus Lívio, presidente do título estadual de 1993, Ruy da Costa Val, presidente do título estadual invicto de 1971 e que inaugurou o uniforme verde-negro em 1970, além de Raimundo Sampaio, histórico presidente do Sete de Setembro e um torcedor americano confesso, cujo nome batizou o estádio por cerca de 60 anos.

Durante a reunião, o América responsabilizou-se pela manutenção e administração do estádio Independência. Em março de 1989, o Coelho recebeu as chaves do estádio após uma reunião simbólica no Gabinete do Secretário do Estado de Esportes de Minas Gerais. A ADEMG concordou em deixar de ter participação ativa no processo administrativo, mas conservou o direito de utilização para outras atividades.

De casa nova, o clube recuperou força e voltou a ser o único da capital a possuir um estádio próprio, em acordo que posteriormente foi prorrogado pelo presidente Marcus Salum por mais 50 anos. Era o sinal dos novos tempos: A aquisição do estádio do Independência representou uma importante passo na reestruturação do América.

Fonte: Carlos Paiva

Indepa 2009

O estádio do Independência foi americanizado entre 1987 e 1988.

1989: Projeto Telê

PROJETO TELÊ SANTANA

Já sob o comando do histórico presidente americano Magnus Lívio, o América celebrou parceria com Telê Santana no fim de 1989. O lendário treinador brasileiro passou a agir como diretor e manager das categorias de base do clube. Ainda como treinador do São Paulo, onde seria bi-campeão mundial de clubes em 1992-93, Telê já havia confirmado que cederia maior tempo e atenção ao projeto quando saísse do clube tricolor, o que não pôde acontecer devido aos problemas de saúde que o aposentou do futebol em 96.

Mesmo assim, sempre que possível o treinador fazia o que podia para desenvolver seu sonho de trabalhar com o América. O projeto foi responsável por inaugurar a “Escola Internacional de Futebol do América”, em Santa Luzia, município de BH.

O antigo treinador tinha um carinho especial pelo Coelho, clube com quem dividiu sua juventude. Seu pai, Zico Santana, foi ex-goleiro do América na década de 30 e um dos fundadores do departamento infantil de futebol do clube nos anos 1970. Já seu filho Renê Santana também participou do projeto “Telê americano”, até de forma mais ativa que o pai. O América agradece e deve muito a família Santana por carregar o nome do clube com tanto carinho e saudosismo por tantas gerações.

FONTE: Enciclopédia Oficial do América, por Carlos Paiva

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Telê Santana aclamou o América como o time de seu coração durante crônica para o Estado de São Paulo em 1996.

O NOVO CT: LANNA DRUMOND

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Fachada do CT Lanna Drummond. (Foto oficial do clube)

Em maio de 1989, ainda comemorando a aquisição do Estádio do Independência, o Coelho promoveu a inauguração simbólica do Centro de Treinamento Lanna Drummond, que abriga os treinos da equipe profissional de futebol do América até hoje.

O CT Lanna Drummond foi mais uma importante conquista patrimonial do América no período. Desde então, o Coelho encerraria de vez os problemas estruturais e patrimoniais que tanto atrapalhou o clube entre as décadas de 1970 e 80.

O CT carrega o nome da família Lanna Drummond, cujos membros estavam ativamente engajados no projeto. Atualmente, é um dos centros de treinamentos mais modernos do país.

CT Lanna Drummond 2

Vista atual do CT Lanna Drummond