Campeão Brasileiro da Série B de 1997

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(Reprodução: Foto oficial)

O América venceu seu primeiro título nacional em 1997, com a conquista inédita do Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão, apenas um ano depois do clube reconquistar o direito de atuar nacionalmente, em razão de longo processo na Justiça Comum contra o CBF.

A campanha de 97 é considerada histórica não apenas por ser o primeiro título mineiro-americano em nível nacional, mas também por ter sido conquistado após anos de ausência do clube no circuito nacional, já que, entre 1994 e 1995, o Coelho esteve banido das competições promovidas pela CBF, depois de mover processo contra a entidade na Justiça Comum, à fim de reverter um injusto rebaixamento no Brasileirão de 1993.

(Apesar de ocupar a décima sexta posição em uma competição de 32 equipes, o América foi rebaixado do Campeonato Brasileiro da Série A de 1993 segundo critérios técnicos impostos pela CBF, que determinou que os clubes de maior torcida no país não seriam rebaixados naquele ano. Portanto, equipes como o rival Atlético Mineiro, último-colocado, e os cariocas Botafogo, penúltimo, e Fluminense, vigésimo-quarto, mantiveram suas posições na Primeira Divisão, enquanto clubes melhores posicionados que os referidos, como Coelho, Coritiba, Atlético-PR, Santa Cruz, Goiás e Ceará, seriam transferidos à Série B em 1994.

O América do presidente Magnus Lívio foi o único dos clubes prejudicados que se recusou a aceitar o descenso de braços cruzados e reinvidicou seus direitos na Justiça Comum Brasileira.  Como punição, o Coelho foi imediatamente banido das competições promovidas pela CBF. Os atritos penderam até 1996, quando o novo presidente alviverde, Marcus Salum, retirou o processo da Justiça, após acordo com a entidade. Como resultado, o Coelho foi relacionado à Série B de 96, e conseguiu ser campeão da competição no ano seguinte.

Se em 1996 o América reconquistou o direito de jogar Campeonatos Brasileiros, 1997 significou a redenção de um clube e uma torcida que foram claramente injustiçados. O título da Série B de 97 foi como a recompensa tardia do destino pela brava resistência de 1993-96, quando foi o único clube disposto a lutar contra o autoritarismo da entidade máxima do futebol brasileiro.

O América pode se orgulhar não apenas de ter desafiado a CBF e sobrevivido, como de ter voltada a elite do futebol brasileiro pela porta da frente, com a mesma honra que saiu. Quase que num piscar de olhos, o tamanho da queda foi substituído pela força da reerguida, como a marca de uma instituição que lutou contra tudo e contra todos pelo que acreditava, fazendo de sua história um exemplo de resistência e redenção.

O Coelho do presidente Marcus Salum garantiu voltar ao circuito nacional com estilo e cumpriu suas promessas: Beneficiado pela parceria com o banco BMF (o maior patrocínio da história do clube), o América montou o que é, para muitos, a melhor equipe de sua história recente. Em 1997, o Coelho escalou uma equipe histórica, que mesclou jogadores consagrados do futebol brasileiro com valiosas pratas da casa e antigos ídolos do pavilhão.

O resultado não poderia ser outro se não uma equipe que brilhou diante de sua torcida e se manteve invicto no estádio do Independência durante toda competição, acumulando 12 vitórias em 13 jogos, das quais 10 delas foram em sequência. A qualidade como mandante era tamanha que nenhuma equipe marcou gol na casa do América durante todo torneio, e o time alviverde chegou a acumular mais de 1000 minutos sem sofrer gol em seus domínios. Razões de sobra para os americanos jamais esquecerem a forte defesa formada por ídolos como Dênis, Ricardo Evaristo, Gilberto Silva, Wellington Paulo, Júnior, além dos goleiros Gilberto e Milagres.

O setor ofensivo também mostrou particular entrosamento e, comandado por Tupãzinho, Boiadeiro, Rinaldo, Irênio e Celso, marcou 34 gols e foi o segundo melhor da competição, apenas um tento atrás de Ponte Preta (vice-campeã) e Náutico (terceiro colocado), ambos com 35. Como não podia deixar de ser, Tupãzinho, meia-atacante mineiro-americano, foi o artilheiro do certame, ao marcar 13 gols (primeira vez que um jogador do América é artilheiro de uma competição nacional). Donos da maior goleada da edição (5×0 sobre o Tuna Luso, do Piauí), os comandados de Givanildo Oliveira mostraram sua força durante 14 vitórias, 4 empates e apenas 5 derrotas em 23 partidas disputadas.

Os números não mentem, a história consagra: O América fez uma campanha de campeão para conquistar o título da redenção.

América 1997 (globoesporte)

O jogo do título contra o Villa Nova-GO contou com o maior público do América no estádio do Independência até então. (Foto: Globo Esporte)

REGULAMENTO

O Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão 1997 foi disputado em quatro fases.

Primeira fase: 25 equipes divididas em 5 grupos se enfrentavam em turno e returno. Os dois primeiros colocados de cada chave classificavam-se para a segunda fase, acompanhado dos três melhores terceiro colocados entre todos os grupos.

Segunda fase: Uma espécie de oitavas-de-final, onde dezesseis equipes classificadas se dividiam em oito “grupos” de 2 participantes.

Após duelos no sistema “melhor de três”, oito equipes se classificavam à terceira fase da competição.

Terceira fase: 2 grupos de 4 participantes, com partidas em turno e returno. Os dois melhores classificados de cada grupo garantia vaga no quadrangular final que definiria os clubes classificados à Primeira Divisão.

Quadrangular final: Quatro equipes jogavam em turno e returno por duas vagas na Primeira Divisão de 1998.

comemoração do título da série b de 97. foto: marcelo santana

A torcida do Coelho invadiu o gramado do Independência para saudar seus jogadores e comemorar o título brasileiro. (Foto de Marcelo Santana)

PRIMEIRA FASE

Assim como em tantas outras campanhas vencedoras da história do clube (como 1915, 57 e 2001), o Coelho estreou a competição que seria campeão com uma derrota na primeira rodada: derrota por 2×1 para o CRB, em Alagoas. O Coelho reagiu com vitórias mínimas sobre Sergipe e Villa Nova-GO, no estádio do Independência, mas voltou a tropeçar longe de casa, dessa vez para o Náutico, nos Aflitos (2×1).

Era o primeiro sinal do fantasma que o Coelho precisou derrotar para ser campeão: se, por um lado, a equipe venceu todas as partidas disputadas em seus domínios pela primeira fase, por outro, não conseguiu sequer uma vitória fora de Belo Horizonte. O futuro campeão até chegou a perder de 4×0 para o modesto Sergipe, durante goleada que caiu indigesta para os torcedores americanos. O desafio do técnico Givanildo estava claro: manter o bom desempenho fora do Horto.

Apesar disso, os 13 pontos conquistados quase que exclusivamente no Independência foram suficientes para a classificação em segundo lugar do grupo. Em 8 jogos, foram 4 vitórias e 12 pontos como mandante e 3 derrotas, 1 empate e apenas 1 ponto conquistado como visitante.

Jogos: Primeira Fase Série B 1997

Turno:
América 1×2 CRB
Estádio: Rei Pelé
América 1×0 Sergipe
Estádio: Independência
América 1×0 Villa Nova
Estádio: Independência
América 1×2 Náutico
Estádio: Aflitos

Returno:
América 0x4 Sergipe
Estádio: Batistão
América 1×0 Náutico
Estádio: Independência
América 3×3 Villa Nova –GO
Estádio: Serra Dourada
América 1×0 CRB
Estádio: Independência
América 1×0 Tupi

SEGUNDA FASE

As 16 equipes classificadas na primeira fase formaram 8 “grupos” de apenas 2 participantes. Na prática, era como “oitavas-de-final” no sistema de “melhor de três”, mas sem dar sequência ao mata-mata. Os vencedores integraria os 2 grupos com 4 equipes que ofereciam vagas ao quadrangular final.

O América não teve dificuldades para despachar o Desportiva-ES (5×2 no placar agregado) e, de quebra, faturar seu primeiro sucesso como visitante (2×1, no terceiro jogo em Vitória). Além disso, o Coelho manteve o 100% de aproveitamento no Independência, completando 5 partidas sem sofrer gols em casa.

Jogos: Segunda fase Série B 1997

Primeiro jogo:
América 2×0 Desportiva
Estádio: Independência
Segundo jogo:
América 1×1 Desportiva
Estádio: Engenheiro Araripe
Terceiro jogo:
América 2×1 Desportiva
Estádio: Engenheiro Araripe

TERCEIRA FASE

As duas vitórias contra o Desportiva-ES credenciaram o América como participante do Grupo B da Terceira Fase, composto por Villa Nova, Joinville e Tuna Luso. O grupo oferecia duas vagas ao quadrangular final que decidiu o campeonato.

Sem sofrer gols em casa durante toda competição, o América novamente venceu todas suas partidas no Independência, inclusive ao protagonizar a maior goleada da edição: 5×0 sobre o Tuna Luso. Ao todo, já eram 9 vitórias em 9 jogos disputados no Horto: Um desempenho espetacular!

Como visitante, a equipe também mostrou que havia amadurecido. Embora não tenha tido um desempenho espetacular, os 4 pontos conquistados fora de casa (1 derrota, 1 empate e 1 derrota) pela terceira fase, foram muito mais úteis do que as 3 derrotas e 1 ponto pela fase inicial.

Novamente com 13 pontos, o América classificou-se para o quadrangular final com pinta de favorito. A torcida mineira não hesitou em acreditar naquele time que brilhava entre os gols de Tupãzinho, os passes de Boiadeiro, a liderança de Pintado e um sistema defensivo que praticamente não sofria gols em casa. Todos sabiam que aquela equipe tinha cara de Primeira Divisão.

O quadrangular final do Campeonato Brasileiro da Série B de 1997 foi composto por times tradicionais do futebol brasileiro e de muita importância no esporte em seus estados. Ao lado do América, estavam: Associação Athlética da Ponte Preta, time mais antigo do futebol paulista; Clube Náutico Capibaribe, terceiro maior campeão permanbucano; Villa Nova Futebol Clube, segundo maior campeão goiano. O Coelho teve que enfrentar verdadeiros caldeirões para ser campeão, mas o Horto provou que estava à altura.

Jogos: Terceira Fase Série B 1997

Turno:
América 3×0 Tuna Luso
Estádio: Mangueirão
América 2×0 Villa Nova-GO
Estádio: Independência
América 1×0 Joinville
Estádio: Independência

Returno:
América 2×2 Joinville
Estádio: Ernesto Sobrinho
América 0x2 Villa Nova
Estádio: Serra Dourada
América 5×0 Tuna Luso
Estádio: Independência

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(FOTO: Reprodução – Super Esportes)

 

Quadrangular Final

Jogos: Quadrangular Final Série B 1997

Turno:
América 2×0 Villa Nova
Estádio: Serra Dourada
América 2×0 Náutico
Estádio: Independência
América 0x0 Ponte Preta
Estádio Independência

Returno:
América 0x1 Ponte Preta
Estádio: Moisés Lucarelli
América 2×0 Náutico
Estádio: Aflitos
América 1×0 Villa Nova-GO
Estádio: Independência

1a rodada: Calando o Serra-Dourada

O Coelho estreou no quadrangular final contra um adversário conhecido da competição: Foi a sétima partida entre América e Villa Nova-GO durante a Série B, contra quem o Coelho jogou 8 vezes ao todo, pela primeira, segunda e última fase. Até a fase final, o desempenho era favorável aos americanos (3 vitórias, 2 empates e 1 derrota), o que sugeria que o América pudesse estrear o quadrangular com o pé direito. Não deu outra: Inspirado pelo monumental Serra Dourada, o América conseguiu apenas sua terceira vitória como visitante até então: 2×0. A goleada do Náutico por 3×0 sobre a Ponte Preta colocou o Timbu na liderança pelo critério do Saldo de Gols.

2a rodada: O jogo da liderança

Na segunda rodada, América e Náutico se enfrentaram no Independência em uma partida que valia a liderança do quadrangular. O jogo foi difícil, mas o iluminado Tupãzinho, artilheiro da competição, garantiu a vitória e o primeiro lugar do América (2×0), que mantinha a invencibilidade como mandante que pairou durante todo certame. A Ponte venceu o Villa e empatou na segunda colocação com o Náutico.

3a rodada e 4a rodada: A Ponte-Preta de Pepe

No último jogo do primeiro turno do quadrangular, o Coelho enfrentou a Macaca, no Independência. Vice-campeã e classificada para a Série A de 98, a Ponte-Preta era comandada por Pepe (campeão brasileiro como treinador e jogador) e tinha Régis Pitbull como principal artilheiro. O time de 97 da Ponte também é lembrado com saudosismo pelos torcedores do time paulista. No fim, o duelo equilibrado no Horto não saiu do zero. Se em casa foi difícil, fora dela prometia ser pior.

Pela quarta rodada do quadrangular, a torcida alviverde armou uma grande caravana para acompanhar o América em Campinas, mas assistiu o time perder a liderança com uma vitória apertada da Ponte (1×0). Após a partida, houve tumulto entre as torcidas adversárias, o que afastou grande parte dos americanos do jogo decisivo contra o Náutico, em Pernambuco.

5a rodada: O jogo do ano

Com a derrota para a Ponte Preta, o América precisava vencer o Náutico, no Recife, para conseguir acesso à Série A de 1998. Missão ingrata, ainda mais para um clube copeiro que conseguiu apenas 3 vitórias fora de casa em toda competição. Para piorar, havia sido o mesmo Náutico quem eliminara o Coelho da Série B um ano antes.

Em um Estádio dos Aflitos completamente tomado pelos alvirrubros, ambas as equipes encararam o jogo do ano. Porém, contra tudo e contra todos, quem fez história foi o América, que superou a pressão dos pernambucanos e o velho dilema de não jogar bem fora de casa para vencer uma partida que foi considerada épica pelos torcedores. Com dois gols marcados por jogadores criados nas categorias de base do clube (ambos no segundo tempo), o Coelho venceu por 2×0, repetindo o placar do Independência.

Primeiro, foi a vez de Rinaldo, eleito o melhor da Copa SP 1996, que marcou um golaço de cobertura. Na sequência, Irênio, um dos cinco jogadores que mais vestiram a camisa do América, marcou um dos gols mais importante de sua carreira no clube – em um petardo de fora da área que garantiu o silêncio dos Aflitos.

Após a vitória heróica do Coelho, a torcida do Náutico invadiu o gramado para agredir seus jogadores, em um tumulto generalizado. Em meio à pancadaria, o América voltou para casa precisando de uma simples vitória no Independência sobre o Villa Nova de Goiás para garantir o acesso e, de quebra, o primeiro título nacional de sua história. A festa estava pronta.

Com a derrota para a Ponte Preta, o América precisava vencer o Náutico, no Recife, para conseguir acesso à Série A de 1998. Missão ingrata, ainda mais para um clube copeiro que conseguiu apenas 3 vitórias fora de casa em toda competição. Para piorar, havia sido o mesmo Náutico quem eliminara o Coelho da Série B um ano antes.

Em um Estádio dos Aflitos completamente tomado pelos alvirrubros, ambas as equipes encararam o jogo do ano. Porém, contra tudo e contra todos, quem fez história foi o América, que superou a pressão dos pernambucanos e o velho dilema de não jogar bem fora de casa para vencer uma partida que foi considerada épica pelos torcedores. Com dois gols marcados por jogadores criados nas categorias de base do clube (ambos no segundo tempo), o Coelho venceu por 2×0, repetindo o placar do Independência.

Primeiro, foi a vez de Rinaldo, eleito o melhor da Copa SP 1996, que marcou um golaço de cobertura. Na sequência, Irênio, um dos cinco jogadores que mais vestiram a camisa do América, marcou um dos gols mais importante de sua carreira no clube – em um petardo de fora da área que garantiu o silêncio dos Aflitos.

Após a vitória heróica do Coelho, a torcida do Náutico invadiu o gramado para agredir seus jogadores, em um tumulto generalizado. Em meio à pancadaria, o América voltou para casa precisando de uma simples vitória no Independência sobre o Villa Nova de Goiás para garantir o acesso e, de quebra, o primeiro título nacional de sua história. A festa estava pronta.

6a rodada: O jogo do título

Todos sabiam que aquele clube que havia vencido 11 e empatado 2 das 13 partidas que jogou em Belo Horizonte, dificilmente perderia para o Villa Nova – contra o qual jogou 5 vezes na competição (Primeira, Segunda e Terceira Fase), ganhou três, empatou uma, e perdeu apenas uma, fora de casa.

Apesar do empate bastar para recolocar o clube na Primeira Divisão, a torcida queria a vitória para alcançar seu primeiro título brasileiro.

Em um Independência com 15.493 pagantes (lotação máxima à época), o América confirmou as expectativas e venceu o jogo, pelo apertado placar de 1×0, com um gol de falta do iluminado atacante Celso, xodó dos americanos e conhecido pelos gols importantes que marcou.

O triunfo garantiu o título nacional do América e uma histórica festa no Independência, quando toda torcida invadiu o gramado. Até o governador Eduardo Azeredo, ilustre americano e primeiro governador mineiro nascido na capital, estava presente.  O político chegou a declarar: “

Depois, a festa seguiu para a Savassi, enquanto os jogadores iriam comemorar o título em uma churrascaria. Os milhares de americanos presentes comemoraram em campo, com seus jogadores aos braços, o desfecho heróico de uma campanha memorável. Depois de dois anos ausente de competições nacionais, o América ressurgiu das cinzas com uma conquista que lhe valeu um lugar que é seu por direito.

Celso_vs villa 97

Artilheiro dos gols importantes, Celso anotou o gol do título do Coelho contra o Villa Nova. (Reprodução: Super Esportes)