ORIGENS

1912: As origens do deca-campeão

O América Football Clube foi fundado no dia 30 de abril de 1912, por um grupo de estudantes do antigo colégio “Gymnasium Anglo-Mineiro”, instituição de primeiro e segundo grau onde as aulas eram ministradas em inglês por professores norte-americanos em sua maioria.

Empolgados com a ascensão do esporte no país, os rapazes tinham o sonho de construir o próprio time de futebol. A ideia nasceu entre as ruas Bahia e Timbiras, local onde os fundadores do América se reuniam para praticar o novo esporte de forma informal. O time nasceu em 1912, mas foi posto em prática oficialmente em 1913.

Primeiro time da história do América

O primeiro time da história do América.

NOME E COR

A reunião que definiu o nome, as cores e a primeira diretoria da história do América, foi realizada na antigo casa de José Gonçalves – Secretário do Estado e da Agricultura e um dos fundadores da primeira agremiação esportiva da história de MG, o Sport Club Minas. A histórica reunião foi abrigada no porão de José Gonçalves, e seu sobrinho, Adhemar de Meira, organizou e coordenou o encontro.

Segundo a lenda, o nome América foi definido por sorteio. Entre as outras opções, estavam Guarani, Timbiras, Riachuelo e Alerquim. Todos os possíveis nomes foram colocados no chapéu de Aureliano Lopes de Magalhães, antes do bilhete premiado ser retirados por Alda Meira, irmã do anfitrião Adhemar. No entanto, é difícil precisar ao certo se o nome América foi realmente escolhido por sorteio ou se prevaleceu o consenso na ocasião. O que realmente é certo é que as cores, o nome e a primeira diretoria do América foram definidos nesse dia.

Afinal, os estudantes que fundaram o América gostariam de batizar o clube em homenagem aos Estados Unidos, já que eram grandes admiradores do país. Lecionados em inglês por professores norte-americanos em sua maioria, os jovens fundadores americanos ficavam impressionados com as gloriosas histórias e estórias da fundação dos EUA.  Além disso, alguns dos fundadores, como no caso de Afonso Silvano Brandão, primeiro presidente alviverde, também eram torcedores do América FootBall Clube do Rio de Janeiro, outro fato que prevaleceu para a escolha do nome. O clube carioca realizou uma excursão à jovem Belo Horizonte de 1910, e impressionou os mineiros ao vencer simplesmente todos os amistosos disputados contra as equipes locais.

PRIMEIRA DIRETORIA

Presidente: Afonso Silvano Brandão
Vice-presidente: Aureliano Lopes de Magalhães
Secretário: Adhemar de Meira
Tesoureiro e Zelador: Oscar Gonçalves

ESTATUTO ORIGINAL

O primeiro estatuto oficial da história do América proibia a entrada de jogadores com mais de 14 anos. O estatuto original seria revogado um ano mais tarde, à fim de atender as transformações do clube em um time de adultos.

Diferente de qualquer outro clube no Estado, o primeiro estatuto americano não previa nenhum tipo de restrição étnica aos seus integrantes, sendo o América o primeiro clube do Brasil a ter um fundador de origem afro-descendente: Geraldino de Carvalho, que também participou como jogador de alguns dos títulos do deca-campeonato.

PRIMEIRA EQUIPE

O primeiro time da história do América foi formado pelos seguintes jogadores: Oscar Gonçalves, Leonardo, Gutierrez, Fioravante, Labruna, Luiz Guimarães, Augusto Penna, Lincoln Brandão, Dario Ferraz, Waldemar Jacob e Geraldino de Carvalho.

Nessa época, o clube era composto apenas por garotos de 13 a 14 anos e disputava apenas torneios adequados para a idade. Não há registro do primeiro jogo disputado pelo América, mas constam-se partidas contra equipes juvenis do Athlético, além de outros times já extintos, como o Vera Cruz, Santa Cruz e Ouro Pretano. No futuro, grande parte dos garotos da primeira equipe americana participariam do deca-campeonato como jogadores do primeiro ou do segundo quadro.

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PRIMEIRO CAMPO

O primeiro campo da história do América localizava-se entre as ruas Espírito Santo, a Avenida Álvares Cabral e a rua das Timbiras. A rua das Timbiras era especialmente especial para os americanos, já era onde os garotos se reuniam para que foi onde nasceu o projeto América e quase inspirou o nome da agremiação. O campo pertencia a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

O segundo campo da história do clube ficava na Avenida Mantiqueira. Uma rústica arquibancada se acomodava entre um barranco, e os torcedores acompanhavam as partidas em certo desconforto. Para atender melhor seus torcedores, o clube migrou para o terceiro campo de sua história, na rua Córrego Leitão, na esquina das ruas Timbiras com a Bias Fortes.

FUSÃO COM O MINAS

Um ano após a sua formação, em setembro de 1913, o América recebeu grande impulso ao adquirir o patrimônio e todos os jogadores do antigo clube Minas Geraes, equipe de adultos presidido por Octávio Penna. Penna propôs o ato seguindo o desejo de praticamente todos os sócios do Minas.

O presidente de honra do Minas Geraes, Dr. Olyntho Meyrelles, na época prefeito de Belo Horizonte e antigo membro fundador do primeiro clube esportivo do Estado (o Sport Club Minas), foi quem conduziu as negociações que fundiram as duas equipes. Coincidentemente, a extinta equipe havia sido fundado no mesmo dia que o América, no dia 30 de abril.

Em conclusão da fusão, o América recebeu todos os jogadores da equipe, além da propriedade do antigo campo do Prado Mineiro, onde foi disputado todos os jogos do Campeonato Mineiro de 1915 até o fim dos anos 20. Situado na Avenida Paraopeba (atual Avenida Augusto Lima), o local do primeiro estádio do América atualmente abriga o Mercado Central de Belo Horizonte.

Como parte do acordo, o América comprometeu-se em aceitar todos os antigos sócios do Minas Geraes, além de conservar o registro documentado da desintegrada equipe e pagar as dívidas acumuladas da instituição, que eram 25.998 Réis.

Entre as outras propriedades adquiridas pelo clube alviverde durante as negociações, estavam alguns objetos curiosos, como uma bola de futebol, uma trave de gol (uma, não duas), três pastas de documentos da secretaria e tesouraria, um livro para registro de sócios e um carimbo com o nome do clube.

MUDANÇAS NO ESTATUTO

Em reunião datada no dia 27 de setembro, o América mexeu pela primeira vez em seu estatuto original e revogou a cláusula que proibia a entrada de jogadores com mais de 14 anos na equipe, confirmando as intenções de transformar-se em um time de adultos apto para disputar o Campeonato Mineiro. As mudanças no estatuto original causou polêmica, e alguns dos mais antigos membros debandaram do clube.

Mesmo assim, ao fim do ano, o Dr. Olyntho de Meyrelles, prefeito de Belo Horizonte, foi eleito presidente do América, o que aumentou ainda mais força política e social do clube. Meyrelles substituiu Afonso Silvano Brandão, fundador, primeiro presidente e uma das mais influentes figuras políticas do América, já que era sobrinho do presidente de Minas Gerais, Bueno Brandão. (Na época, os Estados brasileiros possuíam presidentes e não governadores).

LEVANTE ALVINEGRO

No mesmo período que o América adquiriu o patrimônio do clube Minas Geraes, um Atlético Mineiro ainda em processo de formação vivia uma profunda crise interna, quando diversos membros, jogadores e até fundadores do clube entraram em conflito sobre alguns procedimentos tidos como autoritários por parte da cúpula mandante.

Depois de muita confusão, três dos fundadores, todos os antigos presidentes atleticanos até então, além de metade dos jogadores alvinegros, debandaram do clube e vieram bater na porta do envergado América que, a sombra do prefeito local e do sobrinho do governador, estava construindo o seu time de adultos.

Para oficializar a mudança, o estatuto oficial americano foi novamente alterado. Como símbolo da transformação, o clube alviverde adicionou a cor preta, tornando-se, desde então, no Tricolor das Alterosas. O América passou a jogar com calções negros em homenagem às contribuições dos antigos jogadores e diretores alvinegros que integraram a equipe.

Os meninos fundadores do América passaram a integrar a equipe do segundo quadro, como jogadores juvenis, enquanto o time de adultos do primeiro quadro era composto pelos antigos jogadores de Minas Geraes e Atlético, na verdade os ídolos dos fundadores do clube.

Depois da grande debandada de integrantes ao América, o Atlético-MG foi praticamente refundado, apesar de manter a primeira data de fundação, mudando seu nome oficial de Athlético Mineiro Futebol Clube para Clube Athlético Mineiro. O Athlético também alterou seu escudo e copiou a forma que delineava o símbolo americano, o que foi mantido com poucas alterações até os tempos atuais.

PRIMEIRO CLÁSSICO

No dia 15 de novembro de 1913, o América propôs um amistoso contra o Athlético para comemorar a formação do time de adultos. No entanto, um duro empate por 1×1 foi acompanhado de muita ansiedade e jogadas violentas, sendo aquele empate o primeiro lampejo da rivalidade que no futuro se transformaria no “Clássico das Multidões” – o primeiro grande clássico de Minas Gerais.

Já em 1914, o América conseguiu as primeiras vitórias diante de seu maior rival: No dia 14 de junho, o Coelho venceu o primeiro clássico de sua história, por 1×0, gol de Júlio Cunha. Ao fim do ano, nova vitória sobre seu principal adversário, dessa vez a primeira goleada do “clássico das multidões”: 4×0, em partida sem uma data oficial estabelecida. As bases para o deca-campeonato estavam lançadas e o América começava a assustar e crescer como clube de futebol.