América Vermelho (1930-1942)

Década de 30:

O futebol mineiro viveu anos de turbulência durante a primeira metade da década de 1930, ao ponto dos principais clubes mineiros se dividirem em duas ligas distintas entre 1931 e 1932. Apenas um ano depois do cessar-fogo, o profissionalismo foi instaurado no futebol brasileiro, gerando ainda mais tensão.

Como reflexo dessas dificuldades, o América passou por um período complicado durante a transição do amadorismo para o profissionalismo, ao ponto de ameaçar abandonar o futebol profissional em diversas oportunidades. Certamente, a renúncia do maior campeão mineiro da época (10, contra apenas 3 do Athlético e Palestra Itália) representaria um grande ataque à legitimidade do futebol local, que ainda lutava para se firmar em âmbito nacional. No fim, temeroso em ter o mesmo fim que o Paulistano (maior campeão paulista da época amadora) e depois de muitos apelos formais da Liga e até de seus rivais, o América enfim acatou o profissionalismo, mas sem antes arcar com grande resistência interna. Como um último ato de protesto, o clube mudou a cor alviverde para alvirubro durante dez anos.

Mas não foi só o América que sofreu com a instauração do profissionalismo em Minas, já que, durante a década de 30, o Palestra Itália também viveu anos de marasmo, enquanto a taça escapou das mãos dos times da capital durante cinco oportunidades, fato inédito na história até hoje. Já o Atlético ganhou 4 títulos, mas um deles sem disputar contra América, Palestra Itália e Villa Nova (que disputaram uma liga distinta em 1932) e outro após renúncia dos rivais antes do término da competição (1931).

1931: Desgaste do futebol mineiro

Os primeiros sinais de desgaste no futebol mineiro apareceram durante a antepenúltima rodada do Campeonato Mineiro de 1931, quando o América, vice-líder da competição, se uniu ao Villa Nova, terceiro colocado, para liderar um protesto contra a Liga Mineira de Desportes (LMTD), após uma partida controversa contra o Atlético, que foi estopim da rivalidade entre ambos os clubes, o evento que despertou de vez a colisão das equipes locais.

Depois de acumular oito jogos de invencibilidade durante a competição, o Coelho encarou o Atlético precisando de uma vitória no derby para encaminhar o primeiro título desde o deca. No entanto, o clássico daquele dia ficou marcado pelo caráter agressivo e violento, sobretudo por parte do Atlético-MG, misteriosamente tolerado pela arbitragem. O atacante Satyro Taboada, maior artilheiro da história do América, chegou a se contundir por 6 meses após a partida, tamanha a brutalidade dos defensores atleticanos, que não receberam nenhum tipo de punição. O grande artilheiro americano até teve que abandonar o futebol em decorrência dessa contusão.

Desde já, os torcedores americanos, assim como os mineiros de Nova Lima, clamavam por maior justiça nos gramados de Belo Horizonte, questionando anos de favorecimento ao rival Atlético. Afinal, o América tinha suas razões para acreditar que era perseguido desde a instauração durante o deca-campeonato, acusando o Atlético de exercer grande influência sobre Federação, arbitragem e imprensa da época, o que coincidia em decisivos erros de arbitragem principalmente durante os derbys.

Enfim, após diversas acusações, um grupo de clubes liderado pelo América anunciou que romperia com a Liga Mineira de Desportes. Em vão, a Liga ainda tentou banir as equipes rebeldes antes destes confirmarem sua saída.

Entre os clubes que seguiram os americanos estavam os italianos do Palestra Itália, atual E.C Cruzeiro, o Vila Nova, de Nova Lima, que daria início a série tetra-campeã estadual um ano depois, o Sete de Setembro, antiga equipe da capital mineira, extinta em 1997, o Uberaba, que até hoje frequenta a elite estadual, além de outras equipes desaparecidas do futebol local, como o Montes Claros, Vespasiano e o Sírio Horizontino.

Portanto, antes do fim do Campeonato Mineiro de 1931, o futebol mineiro se dividiu em dois Campeonatos distintos pela primeira e única vez na história:

– AMEG (Associação Mineira de Esportes): América, Palestra Itália, Vila Nova, Sete de Setembro, Grêmio Ludopédio e Vespasiano.

Graças aos esforços dos americanos, a nova Liga passou a incluir a prática de esportes olímpicos, como vôlei, basquete e atletismo, uma grande inovação em nível estadual. O departamento de futebol ficou sob o encargo da LAF (Liga dos Amadores de Futebol), enquanto outros departamentos foram criados para coordenar as novas modalidades. Como recompensa pelos esforços em promover a prática de esportes olímpicos em Minas Gerais, o América se tornou o primeiro time mineiro a enviar um atleta as Olimpíadas (Juvenal dos Santos, 1937, atletismo) e conquistou 10 títulos estaduais de basquete até os anos 1950.

– LMDT (Liga Mineira de Desportos Terrestres): composta por Atlético, em aliança com as menores e piores equipes do futebol local, todas já extintas, como Calafate, Sabará, Carlos Prates, Fluminense da Lagoinha, Guarany da Lagoinha e Santa Cruz, Alves Nogueira e Sabará.

Apesar de abandonar a Liga antes do fim da competição, o América foi oficialmente o vice-campeão mineiro de 1931, já que, em quantidade de pontos conquistados, o Coelho foi apenas inferior ao Atlético.

1932: A divisão do Campeonato Mineiro

Pela primeira e única vez na história do futebol mineiro, houve a realização de dois campeonatos estaduais distintos e considerados oficiais em 1932. Além disso, foi a primeira vez que o título de campeão mineiro foi “dividido” por duas equipes, o que voltou a acontecer em 1956. Entre os quatro maiores campeões do Estado, o América é o único a não possuir uma taça “dividida”.

Ao vencer a Liga LMTD, que reuniu equipes inexpressivas de Minas Gerais, o Atlético alcançou o bi-campeonato estadual contra o Retiro, de Nova Lima.

Prova da superioridade da Liga fundada pelo América foi o amistoso entre Villa Nova, campeão da AMEG, contra o Retiro, vice-campeão da LMTD, ambos os clubes de Nova Lima. Disputado em janeiro daquele ano, o jogo acabou com uma goleada de 6×1 para o Villa, onde ficou clara a supremacia do Leão sobre seu rival municipal.

Já a Liga AMEG, que reuniu as principais equipes mineiras da época com exceção do Atlético, teve como campeão o Villa Nova, que levou o estadual pela primeira vez em sua história.

Já o América foi o quarto colocado da AMEG e o vice-campeão do Torneio Início, novamente conquistado pela equipe alvirrubra de Nova Lima.

Nos primeiros meses de 1933, o futebol mineiro se pacificou e as duas ligas voltaram a se fundir. Uma nova liga foi fundada (LAF, sob a jurisdição da AMEG). Também é formada a FAMA (Federação Amadora Mineira de Atletismo), resultado da clara contribuição do América em promover esportes olímpicos em uma Liga organizada, como a AMEG.

1933: América vermelho

O PROFISSIONALISMO

Em maio de 1933, representantes dos principais clubes mineiros visitaram o Rio de Janeiro, sede da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), para discutir o movimento a favor do profissionalismo do futebol nacional, conduzido em articulação com o governo de Getúlio Vargas.

O controverso movimento serviu como um divisor de águas na história do futebol brasileiro, responsável por gerar uma espécie de “guerra civil” entre Ligas e clubes, o que determinou o fim de alguns antigos campeões, que jamais voltaram a atuar profissionalmente – como é o caso o Paulistano, maior campeão paulista da fase amadora e clube do antigo e lendário atacante Friedriech. Certamente, a forma como o movimento foi conduzido, sem qualquer tipo de planejamento ou articulação entre federações e clubes, prejudicou diversos times do futebol brasileiro, culminando no fim de muitos deles.

Em Minas Gerais, quem abordou a questão primeiramente foi o presidente atleticano Thomas Naves, que congregou uma reunião secreta entre os dirigentes dos quatro maiores campeões mineiros da época. Entusiasmado pelas conferências do Rio de Janeiro, o mandatário alvinegro prestou claras referências a favor do profissionalismo, enxergando uma oportunidade de concorrer com a supremacia de títulos estaduais do América. Na verdade, há muito Atlético e Palestra já praticavam o chamado “amadorismo marrom”, dando empregos, casas ou outros benefícios para atrair jogadores. Já os americanos eram formados em maioria por estudantes, que defendiam o clube por amor, antes de atingirem a maturidade e exercerem suas profissões. Segundo os alviverdes, “amadores” no sentido genuíno da palavra, o futebol deveria ser jogado por fins de lazer.

De mãos dadas aos atleticanos, estava o presidente palestrino, Miguel Perrela, que também se posicionou a favor do movimento. Na sequência, a dupla rival conquistou o apoio do presidente da Liga, Heitor de Souza, e de Castor Cifuentes, histórico presidente do Villa Nova, que oferece o nome ao estádio da equipe até hoje. O América era o único clube dividido em relação a questão e se tornou uma oposição isolada .

Presidido por Clóvis Pinto, a maioria dos integrantes americanos, identificado por uma grande comunidade acadêmica de torcedores, foi contra a adoção do futebol profissional segundo os termos que lhes foram apresentados.

No entanto, temendo futuras retaliações e um possível colapso do recém-pacificado futebol mineiro, o presidente americano acabou por ceder às pressões da Liga e assinou um ato a favor do profissionalismo, a despeito das tantas controversas entre os associados do clube.

Com a aprovação final do América, a partir de 1o de Julho de 1933, o futebol mineiro aderiu oficialmente ao profissionalismo.

REBELDE

No mesmo dia em que foi anunciado a implantação do profissionalismo do futebol mineiro, todos os membros da diretoria do América renunciaram seus cargos, indignados com o desprezo do presidente em relação ao desejo manifesto de grande parte dos integrantes.

Em meio ao caos interno, o América deu um olé na crise e goleou o Siderúrgica por 7×2, no primeiro jogo de sua história como clube profissional, no dia 4 de junho.

No dia 5 de julho, quatro dias depois da imposição do profissionalismo, foram feitas reuniões para definir uma nova diretoria americana. Para evitar maiores conflitos, a antiga cúpula foi reintegrada.  Por fim, no dia 15, a Liga Amadora de Futebol (LAF) se transformou na Associação Mineira de Esportes (AME), de modo a atender o profissionalismo.

Mas o América voltou a resistir, ao se recusar a assinar contratos assalariados com seus jogadores como havia sido ordenado, ameaçando levar o caso às cortes do Estado, após intermináveis discussões com dirigentes atleticanos. Os atletas do América já haviam anunciado que não exigiam salários e jogariam na equipe por amor à camisa.

No dia 18, América e Atlético se enfrentaram pelo Campeonato Estadual, mas poucos prestigiaram o “Clássico das Multidões”, sem saber se o time alviverde realmente jogaria o derby. Abalado pelas confusões, os americanos perderam por 3×2.

No dia 22, um ultimato ordenou ao América assinatura de contratos profissionais. Em caso de recusa, o clube seria excluído do Campeonato.

O presidente Clóvis Pinto respondeu ameaçando boicotar a entidade. Afinal, o último boicote liderado pelos alviverdes, em 1931, foi bem-sucedido, razão suficiente para levarem a sério as declarações americanas.

Dessa forma, os presidentes da Associação Mineira de Esportes, em conjunto com os presidentes de Atlético, Palestra, Vila Nova, Retiro e Siderúrgica, fizeram um apelo formal para os americanos aceitarem as determinações da nova Liga em prol do futebol mineiro.

Afinal, a nova liga sofreria grandes problemas de legitimidade caso o maior campeão da época não se filiasse. Certamente, o fim do América, maior campeão estadual da época, poderia acarretar em um grande obstáculo ao desenvolvimento do futebol mineiro, principalmente em termos de popularidade.

Temeroso em ter o mesmo fim que equipes como o recém-extinto Paulistano, tetra-campeão paulista nos anos 1920, o América, em nome da sobrevivência do clube e da paz na Liga, enfim acatou o profissionalismo e assinou contratos com seus jogadores.

Porém, em um último ato de rebeldia, o clube abandonou as tradicionais cores verdes e adotou um uniforme vermelho como forma de protesto.

1934: Crise política

Em grave crise política e financeira, o América teve três presidentes diferentes durante a temporada de 1934. O clube ainda estava se redirecionando após a imposição do futebol profissional em Minas.

Com a obrigação de assinar contratos profissionais, a base do time americano foi desintegrada e alguns atletas tiveram que ser dispensados. Como resultado, o América alcançou a sua pior colocação no Campeonato Mineiro até então, ficando na penúltima colocação. Seus rivais também não foram bem em face das transformações e novamente o título estadual fugiu da capital, acabando nas mãos do Vila Nova.

Naquele ano, um novo estatuto foi redigido pelo clube, completamente redigido na cor vermelha. O histórico documento foi disponibilizado pelo historiador e ilustre torcedor Mario Monteiro, em exposição presente no Museu Municipal de Belo Horizonte Abílio Neto. No novo estatuto, o América oficializou a cor vermelha e o assalariamento de seus jogadores, além de outros detalhes particulares, como a mudança no número de conselheiros.

estatuto

Estatuto original do América de 1933, completamente tangido na cor vermelha em alusão aos protestos do clube contra o profissionalismo do futebol. (Reprodução: Acervo Mário Monteiro)

JUVENAL DOS SANTOS

1934 também guardou a revelação do atleta americano Juvenal dos Santos, um dos grandes pioneiros do atletismo no Brasil, que ficou em segundo lugar no Campeonato Brasileiro de 1.500 metros rasos de 34, com 4 minutos e 18 segundos.

Juvenal foi uma das grandes referências dos esportes olímpicos de sua época, quebrando diversos recordes em nível estadual e nacional. Em 1935, Juvenal alcançou a melhor posição de um corredor mineiro na história da corrida São Silvestre até então. Já em 1936, sob as cores do América, tornou-se o primeiro atleta de Minas Gerais participar das Olimpíadas. Torcedor americano declarado, Juvenal treinou nas comodidades do clube até o fim da fatídica Alameda em 1972. Seu nome batiza as duas maiores pistas de atletismo do Estado.

Excursão pelo interior de Minas Gerais (agosto de 1935)

Em agosto de 1935, o América excursionou pelo interior de Minas Gerais pela primeira vez na história. Foi a primeira vez que o América disputou jogos fora da capital, já que naquela época todos os jogos do Campeonato Mineiro eram disputadas em Belo Horizonte, mesmo entre as equipes de fora da cidade.

O primeiro jogo da excursão, que contou com a única derrota do América durante a viagem, foi contra o clube presidido pelo antigo craque americano Antônio Hermetto “Tonico”, zagueiro que participou das conquistas do deca-campeonato, foi titular da Seleção Mineira de Futebol por quase 10 anos e foi conhecido em sua época como “O Príncipe do Futebol Mineiro”.

Em homenagem ao ex-atleta, que também era apelidado de “Embaixador do Futebol Mineiro”, o América ofereceu a taça “Otacílio Negrão de Lima” ao clube presidido por Tonico, o Lavras Sport Club.

JOGOS:

07/08/1935: Lavras-SC 4×2 AFC

09/08/1935: América de São João Napomuceno 4×6 AFC

14/08/1935: Caxambu 1×4 AFC

18/08/1935: Seleção “Sul-Mineira” 1×1 AFC

1935: Problemas Patrimoniais

Os problemas financeiros e administrativos acumulados em 1934 logo se transformaram em uma crise patrimonial durante os anos seguintes.

O clube esteve ameaçado de perder seus principais atletas em departamentos como atletismo, basquete e vôlei, do qual sempre foi referência. Só foi possível contornar a situação a partir da contribuição financeira direta de alguns antigos sócios, que serviram como verdadeiros “messenas” do América.

Em face das dificuldades, o time de futebol novamente fugiu da qualidade que caracterizava o “América pré-profissionalismo”. Como retrato dos problemas internos, a equipe não brigou pelo título e ficou na quarta colocação. Apesar da limitação técnica, algumas vitórias em clássicos salvaram o ano, como durante o derby que marcou a estreia do goleiro e ídolo atleticano Kafunga.

A temporada também ficou marcada por diversos conflitos entre a torcida do América e seus rivais, o que já não faz parte da identidade americana há muito tempo. Mas, naquela época, o América ainda brigava com o Atlético pelo posto de maior torcida do Estado, então os encontros entre os clubes eram sempre calorosos.

Em janeiro, não precisou nem de futebol para as torcidas de América e Palestra se confrontarem durante o Campeonato Mineiro de Basquete, em uma incontrolável pancadaria. Já em abril, momentos antes de um clássico diante do Atlético Mineiro, o América abandonou o gramado alegando tramoia dos rivais em torno da arbitragem. Poucos dias depois, novamente a rivalidade fugiu dos campos e invadiu as quadras, quando os torcedores alvinegros, em retaliação ao derby adiado, jogaram bombas durante partida de basquete entre América e Uberlândia, resultando em vários feridos.

1936: Reação

A partir do investimento direto por parte de antigos sócios, o América reagiu diante da crise em 1936. O patrono da equipe, Otacílio Negrão de Lima, ex-jogador americano e futuro prefeito de Belo Horizonte, foi o principal líder das transformações.

Sob as ordens de seu patrão, o América montou um dos melhores times de Minas Gerais, aclamado pela imprensa como “o time mais caro do Estado”, com jogadores trazidos dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. O futebol voltou a fazer bonito e o clube foi campeão do Torneio Início, além de alcaçar as semifinais do Estadual.

Porém, novas confusões voltaram a invadir o cotidiano da Liga, já que os clubes de Nova Lima, Villa Nova, tetra-campeão estadual de 31-35, e Retiro, vice da LMTD em 3l, romperam com a federação e se associaram a FAMA (Federação das Associações Mineiras de Atletismo), o que serviu como mais um duro golpe ao desenvolvimento do futebol profissional em Minas Gerais. Na época, Nova Lima era o principal polo do futebol mineiro fora da capital.

Os dirigentes de América e Palestra foram responsáveis por formular um novo regulamento, estatuto e fórmula para o Campeonato Mineiro sem os clubes de Nova Lima, conseguindo evitar que o Estadual não fosse disputado.

1937: Desorganização

Com a ausência dos clubes de Nova Lima e outros times do interior do Estado no Campeonato Mineiro, o futebol mineiro voltou a viver anos de completa desorganização. A antiga Liga foi refundada com o nome de Liga de Futebol de Belo Horizonte (LFBH), mas ainda sob a sombra da FAMA, que ganhava cada vez mais força por ser a liga oficial do profissionalismo. As práticas amadoras passaram a ser cada vez mais repudiadas por dirigentes e elementos da imprensa esportiva mineira, que prometiam a reestruturação total do futebol local. Diante de tantas turbulências, o Campeonato Estadual de 1937 começou apenas em novembro e terminou em março de 1938. Além disso, as partidas dos estaduais de 37 e 38 foram disputadas simultaneamente.

1939: Vice-campeão

Vice-campeão do Campeonato Mineiro
14 J, 8V, 3 E, 1D; 26 GP; 17 GC

O América foi vice-campeão do vigésimo quinto Campeonato Mineiro da história, em 1939, atrás apenas do Atlético. Foi o mais perto do título que o clube conseguiu trajado de vermelho. Com apenas 1 vitória e 1 empate a mais, o Coelho teria faturado a taça, deixando o certame com 8 vitórias, 3 empates e 4 derrotas. Mas a temporada de 1939 foi confusa como a maior parte da década. Poucos jogos foram disputados naquele ano (apenas 15) e poucos gols foram marcados (o artilheiro do América no ano, Manoel, anotou apenas 8 gols). Também não foi disputado o tradicional Torneio Início naquele ano. O futebol mineiro perdeu apelo entre o público com as tantas confusões que marcaram a instauração do profissionalismo, com sérios embates entre clubes e Liga.

Outro fato marcante foram os títulos estaduais de vôlei, basquete, natação e atletismo, modalidades que ainda não haviam sido profissionalizadas. Nessa época, o América era referência em esportes olímpicos.

1940: Rompendo com o profissionalismo

Quarto colocado do Campeonato Mineiro
14 J, 8V, 3 E, 1D

Apesar de ter sofrido apenas uma derrota na competição, o América ficou em quarto lugar no Campeonato Mineiro de 1940.

No entanto, ainda convivendo com diversas dificuldades financeiras resultantes da instauração do profissionalismo, o Conselho Deliberativo americano aprovou um projeto que rompeu com o futebol profissional no segundo semestre de 1940, e o América foi refundado como um time universitário que contava apenas com jogadores de formação acadêmica.

No dia 1o de Agosto, logo após a formação de uma nova diretoria conhecida como “Junta Governativa”, o presidente interino, Gil Prates, confirmou o passe livre de todos os jogadores americanos, que pediam adeus pressionados pelos turbulentos eventos internos. A decisão foi tomada sem a aprovação de conselheiros e diretores, e nem da junta que contava com 5 membros-chave.

A forma brilhante como o América começou a década, em plena hegemonia estadual, contrastou diretamente com seu final, quando o clube passou por tempos difíceis, assolado em dívidas financeiras e administrativas. O rompimento da equipe profissional foi apenas a ponta do iceberg. Os novos tempos chegavam, sem anunciar se o destino do maior campeão mineiro seria o mesmo do maior campeão paulista.

No entanto, muita pressão foi feita por parte da imprensa, torcedores e antigos membros diretivos para que a equipe mais bem-sucedida do futebol mineiro até então voltasse à ativa no futebol profissional. Afinal, o fim do maior campeão da história do Estado poderia representar um enorme golpe histórico ao futebol mineiro.

1941: A volta do América

Como era de se esperar, imprensa, torcedores, antigos membros diretivos e até a própria Liga Mineira de Futebol (LFBH) se sensibilizaram com o fim do maior campeão mineiro e fizeram grande pressão por seu retorno, em uma grande mobilização interna e externa. Para se ter uma ideia, o processo foi articulado não apenas com dirigentes da Liga Mineira, como também contou com o auxílio de alguns dos principais rivais do América, que percebiam que o Campeonato perdia muito apelo e competitividade sem o clube.

No dia 4 de março de 1941, a LFBH finalmente anunciou a volta do América ao Campeonato Mineiro Profissional. A notícia chegou em polvorosa e foi altamente aclamada e comemorada pelos fãs do futebol mineiro.

Porém, sem jogadores e ainda com dívidas financeiras, o América sofreu para montar sua nova equipe. Curiosamente, o clube chegou a apelar para os jornais locais, divulgando até uma peneira entre torcedores. Muitos tentaram a chance de jogar no seu clube de coração, mas nenhum deles conseguiu.

A volta oficial do América se deu em um jogo contra o Siderúrgica no antigo estádio da Alameda. Com um time ainda em construção, a comemoração pela volta aos gramados ficou marcada com uma derrota.

A equipe não era lá essas coisas e, pela primeira vez na história do Campeonato Mineiro, os americanos sofreram mais gols do que marcaram. Mas a verdade é que poucos ligaram: o importante é que o deca-campeão tinha voltado para ficar.

No dia 24 de outubro, o América assinou contrato com cinco de seus jogadores e adentrou permanentemente e para sempre o futebol profissional. Apesar da resistência, o clube não conseguiu resistir aos eventos que transformaram o futebol brasileiro. Depois de lutar por toda década, não houve outra alternativa além de abrir as portas ao profissionalismo.

O período rebelde marcou a história americana para sempre – para o bem e para o mal. Após o protesto, novas dificuldades, principalmente financeiras, passaram a fazer parte do cotidiano do clube que um dia foi a maior potência do esporte mineiro. Os 10 anos de protesto ameaçaram a hegemonia do deca-campeão, e até a própria sobrevivência da equipe alviverde, mas o América sobreviveu e resistiu com a dignidade e o espírito de superação que caracteriza o clube até hoje.

O retorno do Alviverde

Após quase 10 anos de protestos, o América finalmente abandonou o vermelho e retomou suas cores originais  em 1943. Foi uma maneira simbólica de anunciar que, depois de muita resistência, o clube estava determinado a se conformar e competir no futebol profissional.

A partir de então, iniciou-se um processo para reafirmar o lugar de direito do América no futebol mineiro, ameaçado pelos tantos protestos e dificuldades que caracterizaram a década anterior.

1943: Inspirando a camisa do Goiás

Em 1943, a recém-formada equipe do Esporte Clube Goiás, em grave crise financeira, solicitou uniformes às principais equipes do sudeste brasileiro. Em um nobre ato de honra, o América foi o único que prestou socorro aos goianos. Pouco tempo depois, a equipe oficializou a cor verde como forma de gratidão e homenagem ao ato americano.

FONTE:
Enciclopédia Oficial do América