história

1912 - 1915
Origens

1915 - 1929
Supremacia

1930 - 1942
América vermelho

1943 - 1963
Era Alameda

1964 - 1979
Era Mineirão

1980 - 1989
Reestruturação

1990 - 2002
Era Independência

2003 - 2011
Crise e Renascimento

2012 -
Centenário

acervo
Acervo do Coelho | America MG » 2014 » novembro

Valsechi

Roque Filomeno Valsechi

O argentino Roque Valsechi, conhecido pela classe e elegância no trato da bola, defendeu o América entre 1948 e 1950 e foi, talvez, o principal ídolo da torcida americana no período.

O craque liderou o Coelho rumo ao primeiro título do Campeonato Mineiro desde o deca-campeonato, além da conquista da Taça dos Campeões Estaduais, depois de apresentações de gala durante a temporada de 1948.

O jogador já era conhecido e reconhecido em seu país natal antes de brilhar em território brasileiro. Pelo Boca Juniors, Valsechi, foi bi-campeão nacional, em 1940, e o mais notório deles, em 1944 – após violenta partida contra o Lanús, que culminou nas duas primeiras mortes em estádios de futebol no país. O argentino também teve passagem pelo Platense e pelo Chicarita Juniors antes de aportar no Brasil.

O meia atacante chamou a atenção do Botafogo após amistoso internacional, e foi contratado pela equipe carioca em 1946. Seu melhor momento pela equipe alvinegra foi durante a maior goleada do clube sobre o Flamengo até então (5×2), quando marcou um dos gols.Durante o clássico histórico, os jogadores rubro-negros sentaram em campo após o quinto gol botafoguense e simplesmente desistiram da partida diante da superioridade da equipe liderada por Valsechi.

EM MINAS

Valsechi foi contratado pelo Atlético-MG em 1947, e deu novo ânimo à equipe alvinegra que conseguiu o bicampeonato estadual naquele ano. Considerado o principal maestro do time alvinegro, o argentino se tornou o pivô de uma transferência polêmica no fim da temporada, quando decepcionou os atleticanos e teve seu passe comprado pelo América a peso de ouro.

Camisa 10 por natureza, o argentino brilhou ainda mais com a camisa alviverde, e se tornou peça fundamental durante os dois títulos conquistados pelo América na temporada de 1948. No primeiro deles, o craque só faltou fazer chover durante a conquista da Taça dos Campeões, marcando gol contra equipes históricas como “O Expresso da Vitória” do Vasco da Gama, que cedeu 7 jogadores titulares a Seleção Brasileira de 1950.

Já durante o estadual, o craque se tornou o jogador mais lembrado do histórico título americano sobre o Atlético. No entanto, o meia quase ficou de fora da decisão, após ser acusado de indisciplina pelo técnico Yustrich. O argentino só foi confirmado para a final após apelo da torcida e diretoria americana, e uma dura conversa com o saudoso treinador americano. Apesar da polêmica extra-campo, o jogador foi um dos grandes carrascos de seu antigo clube durante a vitória americana por 3×1.

O argentino ainda foi vice-campeão estadual em 49, antes de deixar o Coelho como ídolo no ano de 1950. O camisa 10 então voltou ao futebol argentino, onde despediu-se do futebol sob as cores do Newells Old Boys, em 1952.

Tonho

TONHO (Antônio Starling Alves)

O goleiro Antônio Starling Alves, mais conhecido como “Tonho”, é o terceiro jogador com mais partidas pelo América, tendo acumulado 325 partidas pelo clube entre os anos de 1947 e 1958.

Tonho foi um dos poucos jogadores que participou das conquistas estaduais do Coelho em 1948 e 1957, ao lado do zagueiro Gaia. Em 1948, o arqueiro foi titular absoluto da primeira conquista estadual americana desde o deca. Já durante a Tríplice Coroa de 1957, o goleiro começou a competição como titular, mas perdeu a vaga para o jovem Jardel durante a campanha, outro que também despontou como grande ídolo americano. Além disso, Tonho serviu como representante do América na Seleção Mineira de Futebol durante anos e anos em sequência, ora como titular, ora como reserva.

Tonho conquistou a torcida americana não apenas pela qualidade em campo, mas pela fidelidade fora dele: Apenas Milagres, durante a década de 90, conseguiu superar o saudoso Tonho como goleiro que mais vezes defendeu o América. Após mais de 10 anos no clube, o antigo arqueiro despediu-se do futebol em 1958, sem nunca ter defendido outra equipe além do Coelho.

Tostão

TOSTÃO (Eduardo Gonçalves de Andrade)

NOME COMPLETO: Eduardo Gongalves de Andrade

O lendário craque Tostão, campeão do mundo com a seleção brasileira de 1970, teve um forte vínculo com o América durante a juventude: Ainda menino, o futuro craque acompanhou seu pai, confesso torcedor americano, a empolgantes jogos do Coelho no antigo estádio da Alameda, além de ser associado do clube social mineiro-americano durante grande parte da infância e adolescência, onde passou diversas tardes azucrinando a vida de seus pequenos rivais. O jogador recebeu o apelido de “Tostão” porque com apenas 6 anos era capaz de jogar com garotos de mais de 10, apesar de ser pequeno como um “tostão”, moeda do Brasil à época.

Com apenas 14 anos, Tostão já era o craque-mirim da equipe juvenil de futsal do América, multi campeã no cenário local e, com 16, embora não tivesse contrato assinado, treinava e disputava Campeonatos Estaduais pelas equipes de base do Coelho.

Tostão_AFC

Tostão posa ao lado da equipe juvenil do América em 1962. O jogador é o segundo agachado da esquerda para a direita.

No entanto, durante o fatídico ano de 1964, (que também marcou um dos mais tristes vice-campeonatos do América, diante do Siderúrgica), um diretor americano promoveu o encerramento do departamento de juniores, mesmo sem o reconhecimento da diretoria, e deu passe livre para todos os jovens jogadores do clube, ao alegar dificuldades financeiras.

Ao lado de outros antigos americanos, como Vanderlei e Hilton de Oliveira, Tostão foi seduzido pela equipe do Cruzeiro, que ofereceu contrato assalariado aos jovens atletas de apenas 16 anos. Sem maior cuidado com as suas joias e ainda marcado pela incompetência de alguns diretores conservadores, o Coelho deu adeus a um dos melhores jogadores da história do futebol mineiro e brasileiro para o rival emergente.

O destino foi mesmo cruel e, dois anos depois, Tostão comandava o Cruzeiro rumo ao título da Taça Brasil sobre o Santos de Pelé, durante o momento-chave que consolidou o rival americano em nível estadual e nacional. Pouco a pouco, o craque despontou como o jogador mineiro de maior destaque durante a década de ouro do futebol brasileiro, sendo titular do histórico tricampeonato mundial da Seleção Brasileira, em 1970, no México.

No entanto, depois de curta passagem pelo Vasco da Gama, o lendário jogador deixou os amantes do esporte de luto ao abandonar o futebol de forma precoce, com apenas 26 anos, em razão da seguidas lesões no joelho e um glaucoma no olho esquerdo. A forma como Tostão pendurou as chuteiras foi ainda mais dramática porque o antigo craque se afastou do grande público durante quase dez anos.

Tostão então passou a dedicar-se a medicina, carreira que teve de abandonar antes de ingressar no futebol profissional, além de ter provado ser um craque dentro e fora dos gramados como cronista esportivo.  Atualmente, o antigo jogador escreve colunas semanais para a sessão de Esportes do jornal “O Estado de São Paulo” e “O Estado de Minas”.

Lenda do futebol mundial, Tostão carrega um pouco de América em sua história e, certamente, pode dedicar um pouco de seu amor pelo futebol ao próximo vínculo que teve com o Coelho, clube do coração de seu pai, durante a juventude.

Éder Aleixo

ÉDER ALEIXO:

Famoso por ser o ponta-esquerda titular da célebre seleção brasileira de 1982, Éder Aleixo foi a principal revelação das categorias de base do América durante a década de 70.

O Coelho prestou grande auxílio à Éder durante seu desenvolvimento como jogador: Durante a juventude, o futuro craque até chegou a morar nos alojamentos do clube, que antigamente se situava em baixo das arquibancadas do estádio da Alameda.

Foi lá que Éder se tornou o astro dos juvenis americanos e uma das grandes promessas de sua geração. Promovido aos profissionais do clube em 1974, Éder ficou no América até 1978, onde foi um dos craques solitários de uma equipe marcada por diversas campanhas na elite do futebol brasileiro. Ao todo, Éder disputou três Campeonatos Brasileiros da Série A à serviço do América, e marcou 23 gols em 81 jogos como profissional.

Em 1979, o jogador foi vendido ao Grêmio, mas permaneceu apenas um ano em Porto Alegre. Pouco depois, o ponta voltou a Belo Horizonte para defender o Atlético-MG, onde recebeu o apelido de “A Bomba de Vespasiano” e se consagrou como um dos maiores jogadores da história rival.

O destaque pelo Atlético rendeu ao ponta-esquerda uma convocação para a Copa do Mundo de 1982. Éder disputou todos os jogos do Brasil como titular, e foi um dos grandes craques de uma Seleção histórica que, apesar de não ter conquistado o título, é considerada uma das mais geniais de todos os tempos. Durante o torneio, a revelação americana ficou marcada por um dos gols mais bonitos da história da competição, com o seu característico petardo de fora da área. O golaço foi eleito o mais bonito da Copa do Mundo da Espanha de 1982. Éder foi o segundo jogador revelado pelo América a disputara uma Copa do Mundo, entre 4 no total.

No final de carreira, Éder ainda atuou pelo Cruzeiro, onde foi o líder-veterano do título da Copa do Brasil em 1993, completando uma carreira de sucesso pelos 3 maiores clubes da capital.

Fred

FRED

Os primeiros passos de Fred pelo América estão eternizados na partida diante do Villa Nova-GO, válido pela Copa SP de Futebol Junior de 2003, quando o artilheiro marcou o gol mais rápido da história do futebol brasileiro, com apenas 3,17 segundos de jogo.

O atacante foi elevado para a equipe profissional no mesmo ano e, rapidamente, se tornou o principal destaque em nível individual de uma equipe americana marcada por campanhas inexpressivas na série B e no Campeonato Mineiro. Mesmo assim, o goleador conseguiu brigar pela artilharia do Campeonato em 2003 e 2004 (foi o vice-artilheiro da competição com 10 e 9 gols, respectivamente).

Logo após a disputa do Estadual de 2004, Fred teve uma rápida e marcante passagem pelo Cruzeiro – quando se tornou o maior artilheiro da Copa do Brasil em uma edição do torneio, com 15 gols – antes de ser contratado pelo Olympique de Lyon, durante sua única passagem pelo futebol europeu.

O atacante chegou a marcar 4 gols em seus 2 primeiros jogos pelo clube francês, um deles após um “elástico” seguido de “caneta” no marcador, o gol mais bonito de sua carreira segundo o próprio jogador. No entanto, seguidas lesões impediram o artilheiro de alcançar maior destaque no futebol do “Velho Continente”.

Mesmo assim, o início de carreira promissor rendeu a Fred uma convocação para a Copa do Mundo de 2006. O jogador deixou sua marca no Mundial da Alemanha logo na segunda rodada torneio, durante a vitória de 2×0 sobre a Austrália.

De volta ao futebol brasileiro, Fred tornou-se um jogador “símbolo” do Fluminense, onde foi campeão brasileiro duas vezes, artilheiro do Brasileirão em 2012 e vice-artilheiro em 2011. Como recompensa, o atacante voltou a integrar a Seleção Brasileira, durante as disputas da Copa América de 2011, da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo no Brasil de 2014.

Seu principal momento pelo selecionado nacional foi durante a Copa das Confederações, quando foi o artilheiro da competição com 5 gols, depois de marcar sobre goleiros do nível de Casillas e Buffon. Apesar da artilharia no ano anterior, Fred teve atuação apagada durante Copa do Mundo de 2014, marcando apenas 1 gol em 6 jogos, o que rendeu diversas críticas da imprensa e torcida brasileira. O artilheiro chegou a ser vaiado após ser substituído durante a vexatória derrota por 7×1 para a Alemanha, em pleno Mineirão – estádio onde já marcou 48 gols durante a carreira.

Yustrich

YUSTRICH (Dorival Knipel)

O COMANDANTE

Conhecido como Yustrich em função da semelhança física com um antigo meio-campo argentino, o ex-jogador do Flamengo, Dorival Knipel, foi um dos principais treinadores do Brasil durante as décadas de 1950 e 60. Único da história a conquistar o Campeonato Mineiro por quatro equipes distintas (América, Atlético, Cruzeiro e Siderúrgica), Yustrich ainda é o técnico com mais partidas na história do Coelho, com 278 partidas no comando do clube.

Yustrich chegou a acumular mais de 50 anos de vivência no futebol entre as carreiras de jogador e treinador, tendo passagens marcantes por América, Atlético, Cruzeiro, Flamengo e Porto. Ao todo, conquistou 10 títulos como técnico, e outros 4 como jogador do Flamengo.

O antigo goleiro faz parte do folclore do futebol nacional não apenas pelos tantos títulos conquistados, mas também pelo temperamento explosivo e caráter disciplinador, razão pela qual, dificilmente, ficava mais de dois anos no mesmo clube. Yustrich era conhecido por não tolerar atrasos no treino e muito menos falta de empenho, além de não permitir que seus jogadores fumassem ou deixassem a barba ou o cabelo crescer, tendo acumulado diversas polêmicas envolvendo jogadores, cartolas e imprensa durante a carreira de treinador:

Yustrich foi praticamente “expulso” do Atlético Mineiro pelos próprios jogadores do clube, mesmo após ser bicampeão estadual em 1953-54, além de ser o pivô de uma discussão pública na imprensa esportiva contra João Saldanha, então treinador da Seleção Brasileira, durante o fim da década de 70, entre outras peripécias.

O folclórico treinador nutria uma particular identificação com o América, seu primeiro clube na função, onde acumulou quatro passagens e 278 jogos durante a carreira. Seu principal momento pelo Coelho foi durante a conquista do Campeonato Mineiro e da Taça dos Campeões de 1948, logo em sua temporada de estreia na função de técnico.

Já em 1956, Yustrich foi o comandante da primeira excursão internacional do clube à Europa, enquanto em 1973, liderou o Coelho rumo ao vice-campeonato estadual. O treinador ainda teve outra passagem em 1971, quando comandou o América de Jair Bala, campeão mineiro invicto do mesmo ano, durante o primeiro Campeonato Brasileiro da Série A da história.

Yustrich também fez sucesso a serviço dos rivais do América, sendo campeão estadual por Atlético, em 1953-54 e 1969, e pelo Cruzeiro, em 1977. Em 1969, o treinador brilhou ao comandar uma histórica vitória da equipe alvinegra sobre a Seleção Brasileira de Pelé (2×1), responsável por determinar o fim dos jogos da Seleção contra clubes nacionais.

Além disso, o antigo goleiro é o único treinador que venceu o Campeonato Mineiro por quatro clubes diferentes, já que também liderou o modesto Siderúrgica rumo ao seu segundo e último título estadual mineiro, em final disputada justamente contra o América, clube que possuía tanta identificação.

Yustrich também foi um dos primeiros treinadores do Brasil com passagem vitoriosa por clubes do exterior, sendo tricampeão nacional com o Porto de Portugal durante a segunda metade da década de 1950, após um jejum de 16 anos sem títulos (Bi-campeão do Campeonato Português em 1955-56 e campeão Taça de Portugal de 1955). O brasileiro foi o primeiro treinador da história da equipe a conquistar a “dobradinha” (Copa e Campeonato de Portugal no mesmo ano).

Orlando Fantoni

ORLANDO FANTONI

”TITIO” FANTONI

Orlando Fantoni, o “titio” do futebol brasileiro durante a década de 1970, foi o primeiro treinador da história a conquistar Campeonatos Estaduais por clubes de cinco Estados distintos. O ex-atacante recebeu o apelido de “titio” e “paizão” em razão do estilo amigável com o qual tratava seus comandados, sendo um treinador querido pelo elenco na maioria das ocasiões.

O belorizontino construiu equipes vitoriosas por Corinthians, Grêmio, Vasco da Gama, Bahia e Náutico, mas possui ligação histórica com o Cruzeiro, clube onde seus irmãos, Ninão e Niginho, além do primo Nininho, atuaram como jogador. Fantoni foi o caçula de uma família de boleiros ítalo-brasileiros, e chegou a receber o apelido de “Fantoni IV” durante seus tempos de atacante da Lázio (seus parentes também atuaram pelo clube de Roma).

No entanto, apesar da identificação com o Cruzeiro, o “titio” Fantoni também é lembrado por seu grande trabalho pelo América, em 1973. Naquele ano, o treinador liderou o Coelho rumo à liderança do Brasileirão durante grande parte do certame, fato inédito na história do clube até então. Enquanto o América liderava a elite nacional, Orlando Fantoni pediu aumento salarial, com a promessa de voos altos na competição, mas a diretoria, ultrajada, negou o acordo. O treinador saiu dizendo que faria àquela bela equipe do América ser campeã brasileiro.

Sem Fantoni, o time deixou a liderança e terminou a competição em sétimo lugar, colocação que permanece sendo a melhor da história do América na Série A do Campeonato Brasileiro. Os torcedores lamentaram a saída precoce do identificado treinador e apontaram o adeus de Fantoni como um dos principais motivos pela queda de rendimento da equipe.

Depois de deixar o América, Orlando Fantoni desbravou o Nordeste brasileiro, onde triunfou pelo Náutico e Bahia. Pelo Timbú, foi campeão estadual em 1974, depois de contratar os principais jogadores do América de 73, como os meias Pedro Omar, Juca Show, além do goleiro Neneca. Logo depois, foi campeão baiano em 1976.

Antes do fim da década, Fantoni ainda seria campeão carioca pelo Vasco em 1977 (o primeiro desde 1970), e gaúcho pelo Grêmio em 1979. O treinador é ídolo de ambos os clubes: Fantoni é o treinador com melhor aproveitamento pelo Vasco em Campeonatos Brasileiros, com a conquista de mais de 70% dos pontos disputados entre 77 e 78, mesmo sem levar a taça; enquanto também é querido pela torcida gaúcha do Grêmio, já que conquistou apenas o segundo título estadual da equipe em onze anos (que vivia sob a sombra da hegemonia colorada de Falcão), justamente no ano do último título brasileiro do rival. Além disso, Orlando foi o primeiro treinador brasileiro a conquistar Campeonatos Estaduais por cinco Estados diferentes, já que também foi campeão mineiro pelo Cruzeiro em 1968.

Mestre Telê Santana

MESTRE TELÊ SANTANA

Tele eterno

O antigo “Mestre do Futebol” Telê Santana, considerado por muitos o maior treinador da história do futebol brasileiro, teve um profundo vínculo com o América, clube com quem dividiu a infância, grande parte da juventude e uma antiga paixão familiar.

Afinal, o Coelho foi o clube de coração de Telê Santana e toda sua família, inclusive seu pai, Zico Santana, ex-goleiro do América nos anos 30 e um dos fundadores do departamento infantil alviverde no início da década de 1970.

Em 1989, sob o comando do presidente Magnus Lívio, o América celebrou o antigo sonho de firmar parceria com Telê Santana, que passou a agir como diretor e manager das categorias de base do clube.

Ainda como treinador do São Paulo, onde foi bi-campeão mundial em 1992-93, Telê havia confirmado que cederia maior tempo e dedicação ao projeto americano quando deixasse o clube tricolor. Não à toa, o São Paulo fez produtivos acordos com o Coelho na época, tendo contratado três das principais revelações alviverdes do período: Palhinha, Euller e Ronaldo Luís, todos jogadores que fizeram sucesso pela equipe paulista.

Telê não pode dar maior sequência ao projeto mineiro-americano devido aos problemas de saúde que o afastaram definitivamente do futebol, em 1996. Mesmo assim, o treinador fez o possível para dar continuidade a seu velho sonho, responsável por inaugurar a “Escola Internacional de Futebol do América”, em Santa Luzia, município de BH. Seu filho Renê Santana também teve participação no projeto desde 1989, até de forma mais ativa que o pai.

O América deve muito à família Santana, não apenas pelos serviços prestados, mas também por carregar o nome do clube com tanto carinho e saudosismo durante tantas gerações.

Telê até chegou a publicar uma crônica sobre suas lembranças do América, repleta de saudosismo e nostalgia. A crônica comemorativa ao título da Copa SP de 1996 foi publicada pelo Estado de Minas em outubro do mesmo ano, dez anos antes do histórico treinador falecer em 2006. O texto confirmou sua paixão pelo clube e tomou como nome “Meu time de coração”. Confira na íntegra:

Meu time de coração.

A garotada campeã da Copa São Paulo de juniores em 1996, reforçada por Pintado e Tupãzinho, transformou o América no novo sócio da elite do futebol brasileiro. Junto com Ponte Preta, também formada por jovens valores, o América mostrou um excelente futebol.

Tenho motivos de sobra para estar falando do América: eu e toda minha família somos torcedores do América. Meu pai, o seu Zico, lá pelos idos de 1927, 1928, era o goleiro da equipe. Eu nem era nascido, nem vi meu pai atuando, mas a paixão dele pelo clube encheu toda nossa casa.

Depois de crescido, passei a ir ao estádio e a companhar o time. Era a segunda torcida de Minas Gerais. Na época, os seguidores do Cruzeiro eram poucos. Eles só ultrapassaram os do América depois da série de campeonatos conquistados pela geração de Tostão, Dirceu e Piazza.

Os torcedores americanos diminuíram em número, mas não em exigência de bom futebol. Eles são capazes de vaiar o time, mesmo vencendo, se ele não está jogando bem. Isso, as vezes, atrapalha.

Mas, hoje, não posso fazer outra coisa que elogiar a diretoria e os jogadores do clube.”

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Prado Mineiro – A primeira casa do América

Estádio do Prado Mineiro

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O estádio do Prado Mineiro foi o primeiro estádio gramado e com arquibancadas cobertas de Minas Gerais. Responsável por abrigar praticamente todos os jogos do Campeonato Mineiro de 1915 a 1929, o local do antigo alçapão atualmente abriga o Mercado Municipal de Belo Horizonte. (FOTO: Reprodução – “O Estado de Minas)

 

O estádio do Prado Mineiro foi a casa do América e o campo oficial da Liga Mineira de Futebol durante quase quinze anos, de 1915 a 1929. Nessa época, o estádio abrigou a histórica conquista do deca-campeonato, quando simplesmente todas as partidas da competição eram disputadas no local, já que era o único estádio de Minas Gerais apto a realizar partidas em alto nível.

O alçapão passou por uma série de reformas entre 1920 a 23, quando ampliou sua capacidade para cerca de 5.000 espectadores e se transformou no primeiro estádio completamente gramado e com arquibancadas cobertas de Minas Gerais.

Situado na antiga “Rua Paraopeba”, atual “Avenida Augusto Lima”, entre as ruas Coritiba, Santa Catarina e Goytacazes, o local do antigo campo atualmente abriga o Mercado Municipal de Belo Horizonte. O campo foi substituído pelo estádio da Alameda apenas em 1929.

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Arquibancada coberta era uma das grandes atrações do primeiro estádio americano. (Foto: Reprodução – “O Estado de Minas”)

Estádio da Alameda

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ESTÁDIO DA ALAMEDA

O estádio Otacílio Negrão de Lima, mais conhecido como estádio da Alameda, foi a casa do América durante mais de 40 anos, de 1929 a 1972. Situado entre as ruas Bahia e Álvares Cabral, às cercas da região central de Belo Horizonte, no bairro de Santa Efigênia, o nostálgico campo guardava muito da história americana, onde o clube foi campeão pela primeira vez desde o deca-campeonato.

Inaugurado em 1929, o estádio recebia o nome do antigo jogador e presidente do América, Otacílio Negrão de Lima, grande figura política da época, responsável por trazer os jogos da Taça Jules Rimet enquanto era prefeito de Belo Horizonte, com a construção do Independência em 1950.

Mas foi mesmo em 1948 que a Alameda viveu os melhores dias de sua história. Naquele ano, o alçapão ampliou sua capacidade de ocupação para 15.000 lugares sob o comando do antigo presidente americano Alair Couto, o que lhe rendeu o posto de maior estádio de Minas Gerais e terceiro maior do Brasil no ano de sua reinauguração. Junto à nova cancha, o América também reformou seu clube social e inaugurou a maior e mais moderna praça esportiva do Estado no período, com disponibilidade para a prática de modalidades olímpicas, como atletismo, natação, vôlei, tênis e basquete.

A nova Alameda deu sorte ao Coelho, que voltou a ser campeão estadual no ano de reinauguração do estádio e igualou-se ao Atlético como maior campeão estadual, com 11 títulos. Além disso, o América também foi campeão do único torneio interestadual da temporada, a “Taça dos Campeões”, torneio quadrangular que reuniu os campões estaduais do sudeste brasileiro. Naquele ano, o estádio abrigou uma das finais mais folclóricas da história do Campeonato Mineiro, durante a vitória americana por 3×1 na grande decisão contra o Atlético.

O último grande momento do América em seu antigo e nostálgico estádio foi em 1964, quando o clube enfrentou o Siderúrgica precisando apenas de um empate para voltar a ser campeão mineiro. No entanto, apesar de ser o grande favorito ao título, o Coelho perdeu de virada (3×1), e foi vice-estadual para o desalento geral da Alameda, que seria desativada pouco depois.

Com problemas de manutenção e administração, o terreno correspondente ao estádio foi vendido a uma rede de supermercados sem o consentimento dos torcedores, em um acordo misterioso articulado com a ditadura militar, que demoliu a Alameda sem muita cerimônia em 1972. Pouco antes, o alçapão já havia sido penhorado e não estava mais em condições de jogo, sendo utilizado apenas para treinamentos das equipes profissional e júnior, alojamento das equipes juvenis e demais comodidades. Um jornalista americano que publicou uma reportagem questionando a controversa venda do estádio chegou a ser preso pelo regime militar.

Para os americanos, ainda havia algo de místico naquela velha Alameda e seu fim representou um duro golpe à identidade do clube e seus torcedores, apenas superado com a aquisição do Independência, décadas mais tarde. Afinal, uma geração de futebolistas, do nível de Telê Santana e Tostão, foram apresentados ao futebol naquele lugar, e ambos já descreveram em crônicas a nostalgia que sentiam pelo estádio. Um dos palcos mais antigos e lendários do esporte mineiro, a Alameda merecia ter sido preservada com mais respeito, questão de patrimônio histórico.

A identificação do clube com o alçapão era tamanha que, segundo uma lenda que persiste por gerações de torcedores americanos, o portão do estádio se recusou a deixar o solo e permaneceu fincado ao chão mesmo após a demolição completa das arquibancadas e demais comodidades, tendo que ser retirado com explosivos e dinamites – algo que impressionou até os engenheiros encarregados da obra. Era o último suspiro do estádio Otacílio Negrão de Lima, que ainda lutava contra seu fim iminente. Atualmente, já não existe mais nenhum sinal do antigo estádio que tanto encantou os americanos.

Mineirão Americano

MINEIRÃO AMERICANO

O América também é dono do Mineirão! Confira um pouco da história do Coelho no Gigante da Pampulha:

– O América venceu três títulos no estádio do Mineirão: dois Campeonatos Mineiros (1971 e 2001) e uma Copa Sul-Minas (2000). Ao todo, disputou cinco finais: Estaduais de 1973, 1992, 1999 e 2001, além da Copa Sul-Minas de 2000.

– Nove jogadores com passagem pelo América possuem os pés marcados na calçada da fama do estádio: Jair Bala, Juca Show, Tostão, Amaury Horta, Éder Aleixo, Euller, João Leite, Palhinha, Procópio Cardoso e Buglê.

– Jair Bala e Geraldo foram os dois jogadores do América convocados para a primeira partida oficial da história do Mineirão, durante a vitória por 1×0 da Seleção Mineira sobre o River Plate. Buglê, autor do primeiro gol da história do estádio, jogou no Coelho entre 1974 e 75.

– Durante o Campeonato Brasileiro da Série A de 1973, ano que marcou a melhor campanha do América em Brasileiros da Primeira Divisão, todos os jogos da equipe foram disputados no estádio Mineirão, já que clube havia vendido o estádio da Alameda, casa americana desde 1929, um ano antes, em 1972. Com 19 jogos, 9 vitórias, 7 empates e apenas 3 derrota em casa, o Coelho alcançou seu melhor desempenho como mandante na história da Série A nacional, tendo 63% de aproveitamento em seus domínios. O América disputou outros três jogos no Mineirão como visitante naquele ano, tendo uma vitória e uma derrota contra o Atlético-MG (1×0 e 1×2) e uma derrota para o Cruzeiro (1×0).

– O maior público do América na história do Mineirão foi durante clássico contra o Atlético Mineiro, válido pelo Campeonato Mineiro de 1969, quando cerca de 82.960 pagantes prestigiaram o “clássico das multidões” que terminou com a vitória alvinegra por 2×0.

Durante a segunda final do Campeonato Mineiro de 1992, o estádio abrigou o maior público do derby entre América e Cruzeiro, com nada menos que 62.589 pagantes, durante a vitória por 2×0 da equipe rival.

Outro público marcante do Coelho no Gigante da Pampulha se deu durante partida contra o Vasco da Gama, válida pelo Campeonato Brasileiro de 1976: Com 40.691 pagantes, mas estimativa de quase 50.000 presentes, o América comemorou seu melhor público na história da competição até hoje, durante a equilibrada partida que terminou 3×2 para os cruzmaltinos.

– Durante a vitória por 3×1 sobre o Joinville pela sexta rodada do Brasileirão da Série B de 2014, o América não apenas celebrou o maior público da competição até então, como também bateu o próprio recorde de público no novo Mineirão: 19.562 pagantes, com estimativa de mais de 20.000 presentes.

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