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ESTÁDIO DA ALAMEDA

O estádio Otacílio Negrão de Lima, mais conhecido como estádio da Alameda, foi a casa do América durante mais de 40 anos, de 1929 a 1972. Situado entre as ruas Bahia e Álvares Cabral, às cercas da região central de Belo Horizonte, no bairro de Santa Efigênia, o nostálgico campo guardava muito da história americana, onde o clube foi campeão pela primeira vez desde o deca-campeonato.

Inaugurado em 1929, o estádio recebia o nome do antigo jogador e presidente do América, Otacílio Negrão de Lima, grande figura política da época, responsável por trazer os jogos da Taça Jules Rimet enquanto era prefeito de Belo Horizonte, com a construção do Independência em 1950.

Mas foi mesmo em 1948 que a Alameda viveu os melhores dias de sua história. Naquele ano, o alçapão ampliou sua capacidade de ocupação para 15.000 lugares sob o comando do antigo presidente americano Alair Couto, o que lhe rendeu o posto de maior estádio de Minas Gerais e terceiro maior do Brasil no ano de sua reinauguração. Junto à nova cancha, o América também reformou seu clube social e inaugurou a maior e mais moderna praça esportiva do Estado no período, com disponibilidade para a prática de modalidades olímpicas, como atletismo, natação, vôlei, tênis e basquete.

A nova Alameda deu sorte ao Coelho, que voltou a ser campeão estadual no ano de reinauguração do estádio e igualou-se ao Atlético como maior campeão estadual, com 11 títulos. Além disso, o América também foi campeão do único torneio interestadual da temporada, a “Taça dos Campeões”, torneio quadrangular que reuniu os campões estaduais do sudeste brasileiro. Naquele ano, o estádio abrigou uma das finais mais folclóricas da história do Campeonato Mineiro, durante a vitória americana por 3×1 na grande decisão contra o Atlético.

O último grande momento do América em seu antigo e nostálgico estádio foi em 1964, quando o clube enfrentou o Siderúrgica precisando apenas de um empate para voltar a ser campeão mineiro. No entanto, apesar de ser o grande favorito ao título, o Coelho perdeu de virada (3×1), e foi vice-estadual para o desalento geral da Alameda, que seria desativada pouco depois.

Com problemas de manutenção e administração, o terreno correspondente ao estádio foi vendido a uma rede de supermercados sem o consentimento dos torcedores, em um acordo misterioso articulado com a ditadura militar, que demoliu a Alameda sem muita cerimônia em 1972. Pouco antes, o alçapão já havia sido penhorado e não estava mais em condições de jogo, sendo utilizado apenas para treinamentos das equipes profissional e júnior, alojamento das equipes juvenis e demais comodidades. Um jornalista americano que publicou uma reportagem questionando a controversa venda do estádio chegou a ser preso pelo regime militar.

Para os americanos, ainda havia algo de místico naquela velha Alameda e seu fim representou um duro golpe à identidade do clube e seus torcedores, apenas superado com a aquisição do Independência, décadas mais tarde. Afinal, uma geração de futebolistas, do nível de Telê Santana e Tostão, foram apresentados ao futebol naquele lugar, e ambos já descreveram em crônicas a nostalgia que sentiam pelo estádio. Um dos palcos mais antigos e lendários do esporte mineiro, a Alameda merecia ter sido preservada com mais respeito, questão de patrimônio histórico.

A identificação do clube com o alçapão era tamanha que, segundo uma lenda que persiste por gerações de torcedores americanos, o portão do estádio se recusou a deixar o solo e permaneceu fincado ao chão mesmo após a demolição completa das arquibancadas e demais comodidades, tendo que ser retirado com explosivos e dinamites – algo que impressionou até os engenheiros encarregados da obra. Era o último suspiro do estádio Otacílio Negrão de Lima, que ainda lutava contra seu fim iminente. Atualmente, já não existe mais nenhum sinal do antigo estádio que tanto encantou os americanos.