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Acervo do Coelho | America MG » 2015 » fevereiro

Deca-campeão Mineiro (1916-1925)

Deca-campeão

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Time do América que foi enea-campeão mineiro em 1924: Porphirio, Gabriel, Ralfo, Antônio Hemetto (Tonico), Salim, Camilo, Silvano Brandão, Saint’Clair Valadares, Bolivar, Osvaldinho e Satyro Taboada.

O América conquistou nada menos do que dez campeonatos mineiros consecutivos entre 1916 e 1925, um recorde mundial de títulos em sequência, jamais superado por nenhum outro clube de futebol no mundo. A façanha até rendeu ao clube uma menção honrosa no “Guiness Book”, o livro dos recordes, como a primeira agremiação da história do esporte mundial a conquistar a mesma competição por dez vezes seguidas.

A incrível série de títulos representa a condição de principal potência esportiva do Estado assumida pelo América durante a Era Amadora do futebol mineiro. Afinal, o Coelho não apenas deteve o campo oficial da Liga Mineira durante mais de 15 anos (Prado Mineiro, o primeiro estádio gramado de Minas Gerais), como também foi o dono da primeira e maior praça esportiva de Minas Gerais no período, onde foi pioneiro na prática de esportes olímpicos como basquete, hockey e atletismo. O América também foi a base da Seleção Mineira durante quase uma década, sendo que o próprio Selecionado Mineiro treinava nas comodidades do clube. Em 1925, a Seleção Mineira, servida de 10 americanos entre os 11 titulares, chegou a golear a Seleção Carioca, o grande polo do futebol brasileiro na época,  por 4×1, evidenciando a força da equipe em nível nacional e não apenas provinciano. Certamente, o clube pode ser considerado uma das principais forças da época amadora do futebol brasileiro, já que, naquela época, nenhuma equipe do Estado e poucos do país podiam equiparar-se aos americanos em questão de títulos conquistados, estrutura esportiva e expressão histórica.

No cenário local, a superioridade americana era tão evidente, que sete dos dez títulos da série foram conquistados de forma invicta. O América perdeu apenas quatro partidas do Campeonato Mineiro durante os 10 anos de hegemonia e conquistou nada menos que 23 vitórias consecutivas (sendo apenas uma por W.O) entre 1916 e 1919, que permanece sendo um recorde de vitórias seguidas na competição até hoje. Além disso, o América ficou 5 anos e 36 jogos invicto entre 1916 e 1921.

Diante de seus principais rivais da capital, a equipe do deca também provou seu poder de fogo com marcas inigualáveis. Durante dez anos, o América não perdeu nenhuma partida oficial do Campeonato Mineiro para o Atlético, tendo conquistado 9 vitórias e 1 empate em 10 jogos contra seu principal rival. Já contra o Palestra Itália, atual Cruzeiro E.C, o América perdeu apenas uma partida no período – e por W.O, uma vez que já havia garantido o título por antecipação – tendo 8 vitórias, 1 empate e 1 derrota contra o antigo time da colônia italiana. Isso significa dizer que, em 20 clássicos disputados ao longo de 10 anos de Campeonato Mineiro, o América venceu 17, empatou 2 e perdeu apenas 1, por W.O. O Atlético foi quatro vezes vice-campeão para o América nessa época, tri-vice entre 1916-18 e outra vez em 1921, enquanto o antigo Palestra Itália foi tetra-vice de forma consecutiva para o Coelho entre 1922 e 24.

Tantas vitórias transformaram o América no clube mais popular de Minas Gerais até meados da década de 1930, fato atestado pela conquista da “Taça Líder”, troféu oferecido pelo tradicional jornal “A Folha de Minas” para a equipe de maior torcida no Estado após uma série de pesquisas realizadas entre a população local.

É difícil apontar qual foi o melhor time do Coelho no período glorioso. Se foi a equipe campeã em 1917 sem sofrer um gol sequer, o que jamais foi igualado por nenhum outro clube do Estado, ou se foi o time de 1921, que foi hexa-campeão após vencer a primeira final da história do Campeonato Mineiro. Já a escalação tetra-campeã em 1919 goleou o Athlético por nada menos que 5×0 na rodada inaugural, além de marcar outros 20 gols em 5 jogos, enquanto o histórico time que conquistou o deca em 1925 era a base completa da Seleção Mineira, tendo 10 jogadores entre 11 titulares.

Satyro Taboada foi o maior goleador americano do período, tendo marcado no mínimo 178 gols entre 1921 e 1931, um recorde de gols do clube. No entanto, a marca é questionada por alguns historiadores, que calculam que Satyro possa ter marcado mais do que 250 gols pelo clube na época, mas que são impossíveis de serem confirmados pelos antigos registros. O atacante também é o jogador que mais fez gols em um jogo do Campeonato Mineiro, ao marcar nada menos que nove gols em partida contra o Palmeiras-MG (14×0).

“Mas o primeiro grande time de Minas foi mesmo o América, campeão estadual dez vezes seguidas entre 1916 e 1925. Segundo a lenda, o time americano – que tinha João Brito, Francisco Matos e Rato entre suas estrelas – era tão bom, que um jornalista esportivo em Belo Horizonte, na primeira metade do século, chamado Arco e Flexa, costumava comparecer à redação horas antes de cada partida, para preparar, por antecipação, um comentário de exaltação ao clube. Só deixava em branco o espaço para incluir depois os números de mais uma vitória.”
– Celso Unzelte, em trecho do “O Livro de Ouro do Futebol”.

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As 6 medalhas restantes do deca-campeonato americano. As outras 4 foram doadas para o governo Brasileiro durante a campanha “Ouro para o bem do Brasil” de 1954.

 

DECA – ANO A ANO

1916: O primeiro título da história

1o Quadro: 10 jogos, 9 vitórias, 1 derrota
35 Gols Pró, 5 Gols Contra
2o Quadro: 10 jogos, 9 vitórias, 1 derrota
45 Gols Pro, 3 gols contra

O primeiro passo do deca campeonato americano foi dado no dia 29 de abril de 1916, em partida diante da extinta equipe do Yale. Curiosamente, aquele jogo contaria uma das únicas quatro derrotas do América em jogos oficiais do Campeonato Mineiro em mais de 10 anos: 3×1 para os visitantes.

Ninguém era capaz de imaginar que, daquela derrota em diante, o América construiria uma das maiores hegemonias da história do futebol mundial, mas a reação foi avassaladora: Nos seis jogos seguintes, o América marcou nada menos que 27 gols e sofreu apenas 1, goleando todos os adversários no caminho. A equipe chegou a golear o Sete de Setembro por 8×1, além de vencer o clássico contra o Atlético por 3×0 na “decisão do primeiro turno”.

O América somou 8 vitórias seguidas, 31 gols marcados e apenas 1 sofrido, até chegar a rodada final contra o Atlético. Certamente, era o time a ser batido, mas o rival alvinegro tinha uma última carta nas mangas para tentar evitar o primeiro título da história do Coelho.

POLÊMICA

Na época, além do Atlético Mineiro, o extinto Sport Hygiênicos era a única equipe do Campeonato Mineiro capaz de rivalizar com o América. Tanto é que o Coelho venceu o Sport por apenas 1×0 no dia 8 de outubro, enquanto o Atlético perdeu por 3×0. Antes da grande decisão, uma verdadeira coligação contra o América foi formada pelos dois principais rivais americanos em nível local, quando o Atlético Mineiro se fundiu com o Sport Hygiênicos para tentar formar um supertime capaz de evitar o título alviverde. A nova esquadra prometia frustrar as ambições dos americanos, mas antes teve que enfrentar a revolta da Liga.

Os clubes mineiros questionavam a legalidade da fusão entre as duas equipes, afirmando não haver nenhum artigo no estatuto oficial do torneio que permitisse tal ato durante o andamento do Campeonato. Além disso, novos jogos teriam que ser remarcados contra a nova equipe, que não podia simplesmente ficar com os pontos do Atlético ou do Hygiênicos.

Para evitar maiores polêmicas, o Atlético manteve o nome original, a fim de ficar com os pontos que tinha e não ser obrigado a disputar novos jogos. Essa é a principal razão do Atlético-MG nunca ter se chamado “Athlético Higiênicos”.

Com a pontuação necessária para jogar a final, um completamente novo e reconfigurado Atlético, com nada menos que quatro jogadores do antigo Sport em seu time titular, conquistou de forma controversa o direito de disputar a última rodada do Campeonato com chances de título, tendo que vencer o América para ser campeão.

DECISÃO

Na partida final do Campeonato, válida pela sexta rodada do segundo turno, chamada à epoca de “decisão do returno”, o Atlético enfrentou o América reforçado por quatro jogadores do Sport Hygiênicos em sua equipe titular. Para os alviverdes, bastava um empate para garantir o primeiro título de sua história. Depois da controversa fusão de equipes nos bastidores da justiça desportiva, o Coelho já se sentia o “campeão moral” apesar do resultado.

Mas o América provou que também estava disposto a suar dentro do gramado para superar a falcatrua alvinegra e conquistar o primeiro título de sua história centenária com uma vitória memorável. Depois de um típico derby, marcado por muita pressão e agressividade, o Coelho venceu a decisão contra seu maior rival pelo emocionante placar de 4×3, em um “jogaço” que deu início a uma das séries de títulos mais gloriosas do futebol mundial.

No mesmo dia, pelo Campeonato Mineiros do segundo quadro (que compunha os times reservas e juvenis), o América também foi campeão sobre seu maior rival (fortalecido com 6 jogadores do Hygiênicos), dessa vez goleando por 3×0, consagrando-se vencedor de todas as categorias promovidas pela Liga Mineira naquele ano (Campeonato Mineiro do Primeiro Quadro, Campeonato Mineiro do Segundo Quadrao, além do Torneio Início).

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Equipe que conquistou o primeiro título mineiro da história do América, em 1916. (Reprodução: Acervo oficial da Torcida Desorganizada Avacoelhada)

REGULAMENTO

O Campeonato Mineiro de 1916 reuniu seis participantes, todos eles da capital Belo Horizonte. Após a realização de partidas em turno e returno, o time que mais somasse pontos era determinado o campeão. A fórmula permaneceu vigente durante todo o período do deca-campeonato. O Estádio do América, “Prado Mineiro”, era o campo oficial da Liga.

Jogos – Estadual 1916:

Primeiro Turno:
13/06: AFC 1×3 Yale
18/06: AFC 3×0 Cristovam Colombo
25/06: AFC 4×0 Sport Hygiênicos
16/07: AFC 8×1 Sete de Setembro
30/07: AFC 3X0 Athlético (Decisão do Turno)

Segundo Turno:
10/09: AFC 5×0 Yale
01/10: AFC 4×0 Cristovam Colombo
08/10: AFC 1X0 Sport Hygiênicos
29/10: AFC 3×0 Sete de Setembro
12/11: AFC 4×3 Athlético

1917: Bi-campeão sem sofrer gol

Bi-Campeão Mineiro
Campeão do Torneio Início
1o Quadro: 10 jogos, 9 vitórias, 1 derrota
35 Gols Pró, 5 Gols Contra
2o Quadro: 10 jogos, 9 vitórias, 1 derrota
45 Gols Pro, 3 gols contra

O bicampeonato de 1917 foi o primeiro dos oito títulos da gloriosa série americana que foram conquistados de forma invicta. O América ainda teve 100% de desempenho durante a competição, vencendo absolutamente todas as partidas disputadas, e, se não bastasse, sem sofrer um gol sequer, o que jamais foi igualado por nenhuma outra equipe em Minas Gerais e talvez até no Brasil.

Assim como no ano anterior, o Atlético foi novamente vice campeão, o que acirrou ainda mais a rivalidade já contundente entre os dois principais clubes mineiros da época.

Oito jogos no total foram previstos à cada equipe durante a competição de 1917. No entanto, diante da superioridade americana, três das oito vitórias foram conquistadas por W.O., uma prática comum no futebol da época. Quando o clube julgava não ter capacidade de vitória, preferia abandonar a partida do que sofrer uma humilhação dentro de campo. Afinal, a derrota por W.O correspondia a um placar por 3×0 – muito melhor, até em questão de saldo de gols, do que tomar de 6, 7 ou até 8, algo recorrente aos adversários do América no período. Prova disso é que, só nas partidas de turno e returno, o América marcou nada menos que 12 gols em 2 jogos contra uma extinta equipe chamada Cristovão Colombo.

A equipe do Sete de Setembro, extinta apenas em 1997, faltou às partidas contra o América no primeiro e segundo turno, talvez temendo um massacre americano, já que havia sido goleado por nada menos que 10×0 em partida amistosa durante o início do ano. O Yale, que já havia sido derrotado pelo América no primeiro turno, também decidiu abandonar a partida contra os alviverdes durante as últimas rodadas da Segunda Fase, já que não tinha mais possibilidades de sucesso na competição.

Nesse ano, o América também disputou sua primeira partida interestadual, diante do Flamengo-RJ, em Belo Horizonte. Os cariocas venceram por 2×1, mas o resultado foi prestigiado pela imprensa e público, diante do equilíbrio que marcou a partida contra uma das principais equipes do eixo Rio-SP, em uma época que esporte brasileiro era ainda mais polarizado naquela região e o futebol mineiro ainda lutava para se firmar em nível nacional. Se hoje o futebol mineiro é um dos mais prestigiados do país, certamente deve um pouco disso ao América, primeiro clube mineiro capaz de enfrentar equipes do eixo Rio-SP, como tanto foi demonstrado durante o período do deca-campeonato.

América 1917 (jornal O footbal , colecao linhares )

Imagem recortada do jornal “O Football” (Reprodução: Coleção Nabuco Linhares)

Jogos – Estadual 1917:

Primeiro Turno:
01/07: América 3×0 Athlético
15/07: América 6×0 Christovam Colombo
12/08: América 1×0 Sete de Setembro
19/08: América 1×0 Yale

Segundo Turno:
09/09: América 2×0 Athlético
21/10: América 1×0 Sete de Setembro
28/10: América 1×0 Yale
18/11: América 6×0 Christovam Colombo

1917 - gazeta esportiva colecao linhares

Gazeta Esportiva de 1917 destaca o clássico entre América e Atlético. (Reprodução: Coleção Nabuco Linhares)

1918: O primeiro tri-campeão do Estado

O tri campeonato mineiro-americano de 1918 foi adiado alguns meses em razão da crise de saúde pública que se arrastou no Brasil após o surto da “gripe espanhola”, também conhecida como “influenza”, epidemia que se arrastou pelo território após a participação do exército nacional na Primeira Guerra Mundial.

Previsto para ser jogado em Abril, Maio e Junho, o campeonato de 1918 esteve paralisado durante três meses devido à epidemia, sendo reiniciado apenas em agosto. À despeito da infeliz fatalidade, o tricampeonato também foi invicto, assim como outros 7 títulos da série deca-campeã. Os atleticanos foram novamente vice-campeões, sendo vice para o América pela terceira vez consecutiva (tri-vice).

A última partida do certame foi contra o Sete de Setembro. O Coelho empatou em 2×2, mas o adversário, que escalou vários jogadores de forma irregular, foi posteriormente declarado perdedor. Com ou sem o resultado, o América já havia selado o tri. O Atlético estaria fadado a esperar mais de 50 anos para alcançar o mesmo feito.

Jogos – Estadual 1918:

Primeiro Turno:
14/04: América 4×0 Yale
25/04: América 2×0 Sete de Setembro
19/05: América 1×0 Sete de Setembro
26/05: América 1×0 Yale

Segundo Turno:
28/07: América 1×0 Yale
25/08: América 3×0 Luzitano (W.O)
01/09: América 1×1 Athlético
22/09: América 2×2 Sete de Setembro

1919: É tetra!

Durante a primeira partida do Campeonato Mineiro de 1919, o América já mostrou que estava disposto a conquistar o tetra-campeonato estadual ao golear o Atlético, tido como o único adversário capaz de ameaçar o tetra inevitável, por nada menos que 5×0 (o maior placar do confronto até então, jamais repetido pelo rival). Na rodada seguinte,  a superioridade americana ficou ainda mais evidente com uma goleada de 6×0 sobre o Luzitano.

Com 100% de aproveitamento no primeiro turno, a equipe alviverde venceu todas as partidas da primeira fase da competição, ao marcar nada menos que 20 gols em apenas 5 jogos. Além disso, o América já acumulava uma sequência invicta de 23 partidas sem derrotas desde 1917.

Novamente, o América era o time a ser batido.

Após a quinta vitória seguida do time americano (4×2 sobre o Sete de Setembro), a equipe do Yale foi a primeira a desistir do Campeonato, assim como no ano anterior. O Athlético, inconformado com o sucesso americano e o tetra-campeonato praticamente confirmado, tentou melar o título alviverde, já que a festa do tetra estava prevista para acontecer justamente contra o clube alvinegro na última rodada.

Dessa forma, atormentado por seus próprios fracassos, o Athlético se juntou ao Yale e também abandonou a competição. No fundo, havia uma tentativa frustrada de atentar contra a superioridade americana, de arranhar mais uma taça conquistada com facilidade por seu maior rival da época, além do constrangimento de sofrer nova goleada para o Coelho durante a festa do título, já que perdeu de 5×0 para o América na primeira partida do certame.

Ao fim, todos os outros clubes desistiram da competição, e o América, primeiro colocado desde a primeira partida, foi campeão sem disputar seus 2 jogos finais, contra Athlético, que tinha perdido de 5, e contra o Luzitano, que tinha perdido de 6.

Com ou sem atleticanos, com ou sem final, o América foi tetracampeão invicto e legítimo, já que, antes de abandonarem a competição, todos os clubes participantes assinaram um documento oficial da Liga confirmando o título e a superioridade do América.

Jogos – Estadual 1919:

Primeiro Turno:
11/05: América 5×0 Athlético
18/05: América 6×0 Luzitano
08/06: América 2×1 Yale
26/06: América 3×2 Sete de Setembro

Segundo Turno:
América 4×2 Sete de Setembro

1920: Campeão de tudo

Campeão do Campeonato Mineiro
Campeão do Torneio Início
Campeão do Campeonato Mineiro do Segundo Quadro

O América foi pentacampeão mineiro em 1920, além de vencer todos os 3 Campeonatos promovidos pela Liga Mineira de Futebol no ano de forma invicta.

Com 37 gols marcados em 11 jogos, o penta-campeonato americano foi conquistado com relativa facilidade e ficou marcado por goleadas constrangedoras do América sobre seus adversários locais: O Athlético sofreu goleada dos americanos pelo quinto ano consecutivo, perdendo de 4×1 pela terceira rodada do segundo turno, enquanto o Sete, de Setembro, que foi bi-vice para o América em 1920, perdeu de 6. Já o Yale, time da colônia britânica, perdeu de 5×2, e o Luzitano, dos portugueses, sofreu goleadas de 6×0 para a equipe do primeiro quadro e de 7×0 para a equipe do segundo. Por fim, o Guarany de Sobral também foi goleado, mas “apenas” por 4×2.

Ou seja, a única equipe do Campeonato que não foi goleada pelo América foi o Alves Nogueira, que desistiu da competição ainda nas primeiras rodadas. No entanto, o Alves havia perdido de 10×0 para o América no Torneio Início, e decidiu que não havia condições de disputar a Liga após a humilhante derrota.

Claramente, nenhuma equipe de Minas Gerais foi capaz de ameaçar o poderoso América durante as páginas mais gloriosas de sua história. 1920 comprova.

Jogos – Estadual 1920:

Primeiro Turno:
25/04: América 4×1 Athlético
23/05: América 3×0 Guarany
13/06: América 3×0 Alves Nogueira (W.O)
22/08: América 5×2 Yale
25/09: América 6×0 Luzitano
17/10: América 2×1 Sete de Setembro

Segundo Turno:
31/10: América 1×1 Athlético
07/11: América 4×2 Guarany
21/11: América 4×1 Yale
28/11: América 6×2 Sete de Setembro
05/12: América 2×0 Luzitano

O PRIMEIRO ESTÁDIO DE MINAS GERAIS

Após empate em 2×2 com a Seleção Carioca de Futebol, os americanos, que compunham majoritariamente a Seleção Mineira, se entusiasmaram com a ideia de construir o primeiro verdadeiro estádio de Minas Gerais, como forma de aproveitar o bom momento americano.

Até 1920, todos os jogos da Liga eram disputados no Campo do Prado, do América, ainda não completamente gramado. O novo estádio, com campo e arquibancadas adequadas, foi inaugurado dois anos depois, em 1922, e serviu até 1928 anos como o campo oficial da Liga, sendo a casa do América até a inauguração da Alameda em 1928.

1921: Hexa

O América conquistou a incrível marca de “3 gols e meio” por jogo durante a conquista do hexa-campeonato estadual, ao marcar 41 gols em apenas 12 jogos.

Assim como nos anos anteriores, Coelho voltou a protagonizou goleadas espetaculares durante o Campeonato Mineiro, vencendo o Atlético por 6×2 durante a 5ª rodada do 1º turno e o Luzitano por 7×1 na terceira partida do 2º turno, além de marcar nada menos que doze gols sobre a extinta equipe do Progresso, pelo chamado campeonato do “2o quadro”, que envolvia os jogadores reservas.

Novamente, o título foi conquistado sobre as barbas do Atlético Mineiro, após empate no clássico da última rodada (1×1), resultado que favoreceu o América e garantiu novo título ao clube. Já era o quarto vice-campeonato do Atlético para o América desde sua fundação.

No entanto, dessa vez, a conquista não foi invicta, já que o Yale surpreendeu e venceu o América por 3×1 durante a 3ª rodada do primeiro turno. Desde 1916, o América não perdia uma partida do Campeonato Mineiro: Curiosamente, a última derrota havia sido justamente para o time da colônia britânica do Yale.

Jogos – Estadual 1921:

Primeiro Turno:
12/06: América 3×2 Luzitano
26/06: América 4×1 Yale
10/07: América 2×0 Palestra Itália
17/07: América 4×2 Sete de Setembro
24/07: América 9×0 Guarany
31/07: América 1×1 Athlético

Segundo Turno:
25/09: América 4×0 Luzitano
06/10: América 4×0 Sete de Setembro
19/10: América 1×3 Yale
30/10: América 4×3 Palestra Itália
13/11: América 4×1 Guarany
20/12: América 1×1 Athlético

Curiosidade:

Um encontro histórico aconteceu na Estação Mineira de Juiz de Fora, quando a histórica equipe hexa-campeã estadual do América topou por acaso com o não menos lendário Santos Dummont, o grande pai da aviação, e o saudou com entusiasmados agradecimentos.

1922: A primeira final do Campeonato Mineiro

Pela primeira vez na história, o Campeonato Mineiro foi decidido pelo sistema de final em 1922, já que América e Palestra Itália, atual Cruzeiro, empataram em pontos após a última rodada e um jogo de desempate foi marcado para decidir o campeão. Até então, todos os Campeonatos Estaduais de Minas Gerais haviam sido decididos pelo sistema de pontos-corridos.

Durante a conquista, o América teve a média exata de 3 gols por partida, terminando a competição com 34 tentos em 12 jogos. Além disso, a seleção mineira de 1922 foi composta quase que inteiramente por atletas americanos, do time reserva ao time titular. Com apenas um jogador do Atlético em campo (Ivo Mello), a Seleção “Mineiro-Americana” venceu o Fluminense por 2×1, comprovando a força dos americanos em nível nacional.

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SANTO

O grande herói do hepta campeonato americano foi o atacante Clair Valadares, autor dos dois gols para o América durante a virada por 2×1 sobre o Palestra. O curioso é que o artilheiro quase ficou de fora da final, por estar com mais de 38 graus de febre. Ao saber do “milagre”, imprensa e torcida “beatificaram” o jogador segundo à moda inglesa: Desde então, Clair Valadares passou a ser conhecido por Saint Clair, o primeiro “santo” do futebol mineiro.

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Jogos – Estadual 1922:

Primeiro Turno:
16/04: América 4×2 Palestra Itália
21/05: América 4×1 Progresso
28/05: América 0x1 Luzitano
04/06: América 3×1 Sete de Setembro
11/06: América 6×2 Athlético
18/06: América 1×2 Yale

Segundo Turno:
20/08: América 1×1 Palestra Itália
17/09: América 3×0 Progresso (W.O.)
24/09: América 7×1 Luzitano
01/10: América 3×1 Sete de Setembro
08/10: América 1×1 Athlético
15/10: América 4×0 Yale

1923: Octa Invicto

Depois do América golear todos os adversários que enfrentou no primeiro turno (com exceção do Yale), os clubes participantes do Campeonato Mineiro desistiram da competição durante a segunda rodada do turno seguinte, a fim de evitar novas humilhações durante o caminho do Coelho rumo ao octa-campeonato.

O único candidato que ousou enfrentar o América no segundo turno foi justamente o Yale, que havia perdido apenas por 3×1 no turno inicial. No entanto, os ingleses se deram mal e perderam por nada menos que 10×0. Após essa partida, todos os clubes assinaram um documento oficial na Liga Mineira que confirmava o título e a evidente superioridade mineiro-americana.

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Jogos – Estadual 1923:

Primeiro Turno:
03/06: América 3×1 Yale
10/06: América 5×0 Palmeiras
24/06: América 7×1 Palestra Itália
01/07: América 1×1 Athlético
08/07: América 6×0 Luzitano
22/07: América 4×2 Luzitano

Segundo Turno:
16/09: América 10×0 Yale

INAUGURAÇÃO

1923 também foi o ano da inauguração do primeiro estádio completamente gramado de Minas Gerais: o estádio mineiro-americano do Prado Mineiro, campo oficial da Liga de 1915 até 1928, que passou por um processo de modernização anos antes e ampliou sua capacidade para mais de 5.000 pessoas (o maior estádio do país da épca abrigava pouco mais de 10 mil). O América também reinaugurou sua Praça de Esportes, uma das mais modernas do país à época.

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O estádio do Prado Mineiro em 1923. (Foto: Reprodução – Jornal “O Estado de Minas”)

1924: Enea-campeão com antecipação

O América foi campeão com duas rodadas de antecipação durante a conquista do ênea campeonato estadual em 1924.

No entanto, pela terceira vez, a conquista não foi invicta, já que os americanos entregaram os pontos para o Palestra, vice-campeão, durante a última rodada do certame. Como o resultado não interferia na tabela nem interessava ao Coelho, a equipe do América não foi a campo e perdeu por W.O, naquela que foi sua única derrota para o atual Cruzeiro durante todo período do deca.

Na época, os jogadores deca-campeões do América eram universitários que jogavam no clube em paralelo com os estudos acadêmicos. Após o Estadual, a maioria deles retornava à cidade de origem, à fim de praticar a profissão. Com vista em um possível deca-campeonato previsto para acontecer no ano seguinte, muitos dos jogadores americanos permaneceram na capital após a disputa do Campeonato Mineiro para participar da histórica conquista.

Jogos – Estadual 1924:

Primeiro Turno:
03/06: América 2×1 Palestra Itália
06/07: América 1×0 Sete de Setembro
24/06: América 4×2 Yale
01/07: América 3×0 Palmeiras

Segundo Turno:
16/09: América 8×0 Sete de Setembro
14/12: América 1×0 Yale
21/12: América 0x3 Palestra Itália (W.O)

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1925: 10 vezes América

O América contratou jogadores do futebol paulista e carioca, construindo um poderoso esquadrão a fim de se tornar o primeiro clube do mundo a conquistar dez campeonatos consecutivos. O resultado foi imediato, e o Coelho conquistou o “Torneio Início” e a “Taça Mello Viana” logo no início do ano.

Logo depois, o América conquistou outras duas taças durante excursão a cidade de Juiz de Fora, sendo campeão da “Taça Defeo” (2×1 versus Tupi) e da “Taça Eqüitativa” (3×2 versus Tupinambás), além de também brilhar na “Taça 24 de maio”, conquistada após goleada por 4×2 sobre o Palestra.

Finalmente, o galáctico time do América estreou no Campeonato Mineiro, e não decepcionou ao golear seu principal rival, o Atlético, por 4×1, durante partida completamente dominada pelo Coelho. Pouco depois, a Seleção Mineira, composta por doze americanos, goleou a Seleção do Estado do Rio de Janeiro por nada menos que 6×0.

Depois do massacre do Coelho sobre os cariocas, todas as equipes do Campeonato Mineiro desistiram da competição, temendo humilhação semelhante a que sofreu o Atlético, tido como o único time capaz de enfrentar o Coelho, na primeira rodada do certame. Certamente, o América teria dado um baile em seus adversários rumo ao deca-campeonato, que não concordaram em ser coadjuvantes da festa dos americanos. Dessa forma, todos os clubes assinaram um documento oficial da Liga Mineira que confirmava a conquista do deca-campeonato mineiro americano.

Taça dos Campeões (1948)

Taça dos Campeões de 1948

Taça dos Campeoes 48

Para comemorar a reinauguração do Estádio da Alameda, modernizado e ampliado em março de 1948 sob o comando do presidente americano Alair Couto, o América promoveu um torneio quadrangular comemorativo que ficou conhecido como a “Taça dos Campeões”. A disputa reuniu os campeões estaduais de Rio de Janeiro (Vasco), São Paulo (SPFC) e Minas Gerais (Atlético), além do anfitrião América, sendo o único torneio interestadual da temporada.

Em uma época marcada pela ausência de campeonatos nacionais, convidar os ídolos do futebol carioca e paulista para enfrentar as equipes mineiras era uma iniciativa de alto interesse para o público mineiro. Afinal, pela primeira vez na história, uma partida entre um time carioca e um time paulista foi sediada em Belo Horizonte.

Definidos pelo jornal “O Estado de Minas”, sob as palavras do lendário jornalista Ari Barroso, como “legítimos expoentes do futebol paulista e carioca”, as equipes que visitaram a Alameda em 1948 se situavam entre as melhores do futebol brasileiro na época. Para se ter uma ideia, o Vasco da Gama foi campeão estadual e o primeiro campeão continental da América do Sul naquele mesmo ano e ficou lembrado como “O Expresso da Vitória” por seus torcedores. Nada menos que sete jogadores que foram goleados por 4×2 pelo América em no torneio participaram da Copa do Mundo de 1950: o goleiro Barbosa, os meias “Príncipe” Danilo e Eli, além do histórico quarteto de atacantes formado por Ademir de Menezes, Friaça, Maneca e Chico.

Já o São Paulo, apelidado de “Rolo-Compressor” pela imprensa paulista, venceu cinco títulos paulistas na década e vinha reforçado por craques de Copa do Mundo como Leônidas da Silva e Dino Sani, enquanto o Atlético, famoso pelo “trio maldito” de atacantes formado por Jairo, Sahid e Mário de Castro, era o atual bi-campeão mineiro de 1946-47.

No entanto, nenhuma dessas badaladas equipes foram páreas para o América, que tornava-se o dono do maior patrimônio esportivo do Estado e do quarto maior estádio do Brasil com a modernização do estádio da Alameda no início do ano. Afinal, o time americano de 1948 também possui seu lugar de honra na história do futebol: Não bastasse todas as conquistas extra-campo, o América também conquistou seu primeiro título mineiro na Era Profissional naquele ano, empatando com seu maior rival em número de títulos estaduais (11) e evitando um até então inédito e muito cobiçado tri-campeonato estadual atleticano, e, de quebra, ainda levou pra casa o único torneio interestadual da temporada. Grandes ídolos do pavilhão participaram das conquistas, como o folclórico treinador Yustrich, campeão mineiro como técnico por quatro equipes diferentes, o camisa 10 argentino Valsechi, ex-jogador do Boca Juniors, Botafogo e do próprio Atlético, o artilheiro Petrônio, autor de gol na final e terceiro maior artilheiro da história do clube, e o craque Murilinho, marcado por um talento fora do comum, além do goleiro Tonho e do zagueiro Gaia, que estão entre os 5 jogadores que mais serviram o América e foram os únicos jogadores do clube que participaram tanto do título estadual de 48, quanto o de 57.

RODADA DE ABERTURA

A expectativa em relação ao desempenho dos times mineiros na Taça dos Campeões eram relativamente pessimistas antes do início da competição, principalmente em função da qualidade das equipes que visitavam a Alameda. De fato, a primeira partida do certame deixou o público mineiro preocupado: No jogo de abertura do torneio, o São Paulo não teve maiores dificuldades para vencer um decepcionante Atlético por 3×1.

Na sequência, o América enfrentou o poderoso Vasco da Gama, campeão carioca e sul-americano daquele ano. Muitos já previam nova goleada dos visitantes, mas o Coelho queria fazer bonito em seu primeiro jogo no novo estádio e não decepcionou, goleando a histórica equipe cruzmaltina, campeã carioca e sul-americana de 1948, por 4×2, com gols de Valsechi, Jorge, Murilinho e Hélio. O futebol demonstrado pelo América de Yustrich naquele jogo foi tão absoluto e eficiente, e a festa para a vitória foi tamanha, que a partida terminou com a torcida da Alameda entoando “olés” há cada passe do Coelho. Em uma tarde histórica, o América alcançou um resultado muito epor ser sua primeira vitória na Nova Alameda, mas também diante da qualidade do adversário, talvez a equipe mais importantes do mais de 110 anos de Vasco da Gama.

SEGUNDA RODADA

Na segunda rodada, o Galo provou não ser Coelho e perdeu para o temido “Expresso da Vitória” do Vasco da Gama por 2×0. Os alvinegros seguiam decepcionando sua torcida na competição, tendo 5 gols sofridos e nenhuma vitória contra os times de fora do Estado.

Na sequência, o América tinha um novo grande desafio, dessa vez contra o “Rolo Compressor” do São Paulo que havia depenado o Galo na primeira rodada. No fim, o placar de 0x0 acabou por refletir o equilíbrio das duas históricas equipes em campo.

RODADA FINAL

A partida que abriu a rodada final, entre São Paulo e Vasco da Gama, foi o primeiro jogo disputado entre um time carioca e um paulista em solo mineiro. Como as equipes ainda tinham chances de título, ambos buscaram a vitória com agressividade a todo instante. O “Expresso da Vitória” cruzmaltino chegou a abrir 2×0, o que pressionaria o Coelho a vencer o clássico da última rodada, mas o “Rolo Compressor” precisou de apenas 20 minutos para empatar o jogo, estimulado pelo enorme público presente na Alameda, que havia adotado o time paulista fim de facilitar a conquista do título pelo América. Fim de jogo: empate por 2×2 entre duas equipes históricas que marcaram a história do futebol brasileiro e de suas respectivas torcidas. No fim, tiveram uma nobre passagem pelas páginas mais gloriosas do América e da saudosa Alameda.

O resultado deixou o América em boa posição para faturar a Taça dos Campeões na rodada final, precisando apenas de um empate no clássico contra o Atlético para ser campeão. Disputado apenas 20 minutos após o termino do jogo entre cariocas e paulistas, o clássico mineiro pedia apenas um empate para pintar a taça de verde e branca, mas a pressão era grande, já que uma vitória atleticana daria o título aos paulistas. Dessa forma, o Galo foi à campo com uma única motivação: evitar a histórica conquista americana.

CLÁSSICO DAS MULTIDÕES

A partida decisiva teve clima de final. Tenso e sem gols durante todo o primeiro tempo, o clássico foi marcado pelo bom desempenho defensivo das equipes durante a partida. Segundo relatos, o goleiro Tonho, terceiro jogador que mais atuou pelo América em toda história e campeão estadual pelo clube em 48 e 57, estava inspirado e foi uma verdadeira parede dentro do gol durante a partida, evitando que os atleticanos saíssem na frente e ameaçassem o título.

As zagas estariam fadadas a sucumbir apenas no final do primeiro tempo: o Coelho saiu na frente com Hélio, que deu belo drible em seu marcador antes de afundar as redes do célebre goleiro Cafunga, ídolo histórico do Atlético. O Coelho botou meia mão na taça, mas os alvinegros responderam em seguida, empatando o jogo após escanteio cobrado pelo meia Lusitano, nos minutos finais da primeira etapa. Os 2 gols da partida aconteceram em menos de 5 minutos.

Como não podia deixar de ser, o segundo tempo foi carregado de pura tensão e ansiedade. Oportunidades claras de gols vinham de ambos os lados do campo, mas os atacantes pecavam diante de tanta pressão.

Ao final, o América teve mais forças para segurar resultado e inaugurar o seu novo estádio com uma festa de gala, com a taça e as faixas de campeão sendo entregues por seu maior rival. O título abriu as portas para o futuro título estadual, conquistado no mesmo ano, naquele mesmo estádio, contra o mesmo adversário.

A reinauguração da Alameda com um título de tamanha qualidade técnica trouxe novos ares ao clube e representou o ressurgimento de um gigante adormecido do futebol mineiro. Após ser deca campeão, peitar a federação mineira de Futebol e protestar contra a falta de profissionalismo das equipes mineiras, o América finalmente retornou em 1948 ao grande cenário do futebol mineiro e brasileiro como um clube de alto escalão no futebol profissional. Além disso, a conquista também revela a força do Coelho de 1948 em nível nacional, já que foi o único campeonato do gênero disputado naquela temporada.

Campeonato Mineiro (1948)

Campeão Mineiro de 1948

Time 1948

O América conquistou seu primeiro título estadual como clube profissional em 1948, auxiliado pela ampliação do estádio da Alameda e pela conquista da “Taça dos Campeões” apenas alguns meses antes. Comandado por uma geração de ídolos como os lendários Yustrich, Valsechi, Petrônio e Murilinho, a conquista serviu para confirmar o ressurgimento americano no cenário local, após uma década de 1930 conturbada e marcada pelos tantos protestos do clube contra o profissionalismo do futebol.

CAMPANHA:

Primeiro Turno:
13/05: América 1×0 Metaluzina
16/05: América 2×0 Villa Nova
13/06: América 1×1 Cruzeiro
19/06: América 5×0 Sete de Setembro
27/06: América 5×0 Siderúrgica
04/07: América 0x3 Atlético
Segundo Turno:
25/07: América 2×0 Sete de Setembro
08/08: América 1×1 Villa Nova
15/08: América 3×1 Metaluzina
28/08: América 1×3 Atlético
05/09: América 2×1 Cruzeiro
12/09: América 2×1 Siderúrgica
Terceiro Turno:
26/09: América 5×0 Siderúrgica
10/10: América 4×1 Sete de Setembro
31/10: América 2×0 Cruzeiro
07/11: América 3×2 Metaluzina
21/11: América 0x0 Villa Nova
28/11: América 3×1 Atlético

O América passou a maior parte da competição entre a vice-liderança e a terceira colocação, apenas à espreita para conseguir uma vaga na final durante as últimas rodadas do certame. O Atlético, bicampeão em 46-47 e vice-campeão de 1948, manteve a liderança durante todo o certame e era considerado o grande favorito ao título, até porque havia vencido as duas partidas contra o América até a grande decisão. O time alvinegro era famoso pelo “trio maldito” no ataque composto por Mário de Castro, Sahid e Jairo.

Enfim, o jogo que decidiu o destino dos americanos nem precisou do Coelho em campo, durante o clássico entre Atlético-MG e Palestra Itália válido pela penúltima rodada: Os palestrinos venciam os alvinegros por 2×1 até os momentos finais, placar que colocava a equipe “italiana” em boa posição para roubar a vaga do Coelho na decisão; Porém, já nos acréscimos do segundo tempo, quando muitos davam a fatura como decidida, o Atlético conseguiu o gol de empate que enterrou o rival. O América, então correndo por fora, finalmente elevou-se a vice-liderança. Bastou mais uma rodada para ser oficial: O maior clássico mineiro da época decidiria o campeão.​

Não é novidade para ninguém que o antigo “clássico das multidões” entre América e Atlético era o grande derby de Minas Gerais até meados da década de 1960 e início de 70. O Palestra já era tido como uma força potencial, mas ainda algo restrita a colônia de italianos em Belo Horizonte e às redondezas da toca da raposa. Mas era o confronto entre América e Atlético reunia não apenas as duas maiores torcidas da época, como os dois maiores campeões do Estado.

O Coelho era o inimigo mortal dos atleticanos da época, que sonhavam há muito em superar a hegemonia de títulos estaduais instaurada durante o deca-campeonato. Um ano antes da grande decisão de 1948, os alvinegros enfim superaram os alviverdes em números de títulos estaduais, somando 11 contra 10. Os duelos entre as equipes costumavam ser agressivos, violentos e controversos, com os “nervos a flor da pele”, enquanto a imprensa local ainda reforçava a rivalidade com o contraste caricaturado entre “elite” (América) e “povo” (Atlético).​

Não bastasse a rivalidade, a história recente despertava ainda mais ansiedade para a final. Afinal, os planos de ambos os clubes eram ambiciosos: Para o Coelho, a conquista representaria o fim de um longo jejum sem títulos do Campeonato Mineiro, que pairava desde o deca-campeonato, muito em razão ao protesto da equipe contra o profissionalismo do futebol brasileiro durante a década de 1930. Já ao Atlético, clube de melhor campanha no certame e tido como grande favorito ao título, a taça representava a concretização de um antigo sonho perseguido desde sua fundação e que àquela altura já havia sido alcançado por seus dois maiores rivais, além do Villa Nova: o inédito tri-campeonato mineiro.

A COLIGAÇÃO CONTRA O ATLÉTICO

Poucos dias depois de confirmada a final, o antigo presidente americano Alair Couto, responsável pela ampliação do Estádio da Alameda em março do mesmo ano, convocou a torcida mineira a favor do Coelho durante um anúncio oficial à imprensa. Seu discurso inflamado tomou as manchetes dos principais jornais esportivos locais, como “O Diário da Tarde”, “A Folha de Minas” e “O Estado de Minas”:

“Torcidas do Cruzeiro, Vila Nova, Sete de Setembro, Metalusina e Siderúrgica, unam-se em torno do América. Não podemos permitir a festa do tricampeonato sob nossas barbas!”.

A desconfiança que o Atlético era uma equipe constantemente beneficiada pela arbitragem caseira já era familiar aos fãs mineiros da época, ainda mais diante das contribuições do controverso juiz Cidinho “Bola Nossa”, declarado torcedor atleticano. Não tardou para o povo abraçar a ideia como forma de manifestar sua antiga antipatia ao clube alvinegro: Estava criada a “coligação contra o Atlético”, histórico momento em que a torcida alviverde multiplicou-se por sete. Quase que de repente, todas as torcidas de Minas Gerais, com exceção da massa atleticana, anunciavam a torcida para o América ser campeão. Uma grande jogada do presidente Alair Couto.

Mas esse foi apenas um dos episódios do clássico extra-campo que precedeu a final. Afinal, há cada dia que passava, uma nova polêmica surgia dos escritórios administrativos dos clubes para a farra da imprensa local. Bastou o América anunciar o valor do “bicho” (recompensa pela vitória) em caso de título, para a diretoria do Atlético declarar que pagaria o dobro aos seus jogadores caso fossem campeões.

MAS LOGO CIDINHO?

No dia 22 de novembro, a novela teve seu ponto crítico, quando o presidente atleticano rompeu com o departamento de arbitragem de Minas Gerais após exigir que Cidinho “Bola Nossa” fosse o árbitro da final. “Mas logo Cidinho, o ‘bola é nossa’?!” – reclamava indignada a diretoria do Coelho. Ocorria que o ilustre Cidinho era, antes de árbitro, um sublime torcedor atleticano que, em certa partida, apressou um jogador alvinegro para realizar a cobrança de lateral, dizendo: “Vai, vai, que a bola é nossa!”.

​Sem obter justiça em seu próprio lar, a diretoria americana então apelou à Federação Carioca, solicitando a arbitragem do juiz britânico “Mr. Barrick” para a grande final. A demanda foi concedida pela federação Guanabara no dia 26 de novembro e, pela primeira vez na história, a final do Campeonato Mineiro foi apitada por um árbitro estrangeiro. Mas o Atlético não se deu por satisfeito e exigiu, ao menos, que Cidinho fosse um dos bandeirinhas. A demanda foi novamente recusada por motivos óbvios. O curioso da história

yustrich-ii

O lendário treinador Yustrich não levava desaforo pra casa. O ex-goleiro conquistou seus primeiros títulos na função à serviço do Coelho em 1948.

YUSTRICH versus VALSECHI

Não bastasse a confusão em torno da arbitragem da final, o Coelho também sofreu dores de cabeça com problemas domésticos quando o folclórico treinador americano Yustrich ameaçou a afastar dos treinamentos e da final o grande craque da equipe, o argentino Valsechi, que foi acusado de indisciplina por chegar atrasado na concentração. A diretoria americana penou, mas conseguiu contornar a situação e fazer o vaidoso Valsechi se desculpar perante o  disciplinador Yustrich. Após uma longa conversa com o treinador, o argentino enfim foi confirmado para a final e acabou tendo influência decisiva no primeiro título de Yustrich na função de treinador.

A grande final: América 3×1 Atlético

Alameda final 1948 (Acervo Marinho Monteiro)

Estádio da Alameda completamente abarrotado para acompanhar o clássico entre América e Atlético que decidiu o Campeonato Mineiro de 1948. (Reprodução: Acervo Mário Monteiro)

A histórica final teve data no dia 28 de novembro de 1948, que amanheceu especialmente nublado e chuvoso, despertando ainda mais tensão para a tão aguardada decisão. O jogo estava previsto para às quatro horas, mas, desde muito antes, as torcidas adversárias já se exprimiam nas arquibancadas da recém-reformada Alameda em busca de uma boa vista do campo. A polícia e o corpo de bombeiros ficavam a beira do campo para acobertar o nostálgico estádio.

As 4 horas, em meio a muita festa de ambas as torcidas, o alçapão tremeu para recepcionar o América de Tonho, Didi, Lusitano, Jorge, Lazarotti, Negrinhão, Helio, Elgem, Petrônio, Valsechi e Murilinho. Na sequência veio o Atlético, que entrou em campo com Kafunga, Murilo, Ramos, Mexicano, Zé do Monte, Afonso, Lucas, Lauro, Carlayle. Alvim e Nivio.  Os minutos antecessores a final de 1948 foi um dos maiores espetáculos apresentados pelo futebol mineiro até então, com quase 15 minutos ensurdecedores de fogos de artifício enquanto os rivais perfilados entravam em campo. 

Luzitano e Carlayle

Lusitano, jogador do Atlético, cumprimenta o americano Carlayle, momentos antes da histórica final de 1948. De autoria desconhecida, é uma das mais simbólicas fotos da decisão.

O JOGO

Determinado a vencer seu primeiro título como clube profissional para estrear a nova Alameda com uma festa de gala, o América entrou em campo pilhado, e não hesitou em sair na frente logo aos 3 minutos da primeira etapa, com um gol relâmpago do atacante Murilinho, após jogada do ídolo americano Lusitano em parceria com Elgem, que foi quem deu a assistência para o gol.

Apesar de indigesta, a abertura no placar ainda não era um golpe fatal as convicções atleticanas. Os alvinegros fingiram não sentir a pressão e buscaram tranquilamente a bola no fundo do gol, acreditando que a superioridade durante o certame seria o maior trunfo para a vitória.

Mas os jogadores de negro desconheciam o heroísmo alviverde que, com o apoio de sua torcida, e de outras 7 mais, tinha energia de sobra para voltar a ser campeão. E é nessas horas que vale o timbre do comandante: O estilo controverso de Yustrich até pode ter sido notícia nos bastidores, mas naquela tarde, só faltou o treinador entrar em campo. O líder americano gritou, xingou, gesticulou, sobretudo, torceu por cada lance como o mais apaixonado torcedor.

Como efeito, até os mais técnicos jogadores da equipe brigavam como soldados por cada bola perdida. Frente a dura e inabalável marcação do Coelho, a equipe rival não conseguiu achar um caminho para o empate. Mas há cada movimento do ponteiro, o nervosismo do Galo aumentava.

PETRÔNIO É O NOME DELE!

Aos 42 minutos da etapa inicial, o grande Petrônio, terceiro maior artilheiro da história do América, protagonizou um dos lances mais folclóricos e excêntricos da história do Campeonato Mineiro: O artilheiro comprado do Villa Nova disparou em arrancada e arriscou um chute venenoso, mas despretensioso, à meta alvinegra. Aparentemente, o goleiro Kafunga engoliu um frango e a pelota entrou: Coelho 2×0.

No entanto, um zagueiro atleticano, alegou que a pelota resvalou nos pés de um dos tantos policiais à beira do campo antes de afundar nas redes, mas a verdade é que pouco se sabe sobre o que realmente ocorreu naquele lance.

Seja como for, serviu como deixa para os jogadores alvinegros, desesperados com a ampliação da vantagem alviverde, acudirem o árbitro estrangeiro para invalidar o segundo gol. Mas o pobre juíz inglês Mr Barrick pouco entendia do idioma popular brasileiro que conduziu a algazarra e começou o quebra-pau.

A torcida atleticana partiu pra cima dos americanos, que tentavam se defender fazendo barulho com morteiros. Logo os torcedores foram acompanhados dos jogadores, que desfilavam pontapés e perseguiam o árbitro britânico. Mas o time alviverde não se acovardou e também foi pra cima. Sobrou pra todo mundo, e a confusão só foi contida pelos impiedosos cassetetes dos policiais. Após muito tumulto, a partida foi reiniciada.​

​​NOCAUTE!

Nos primeiros minutos da segunda etapa, Nívio, astro da Seleção Mineira de Futebol, driblou alguns defensores americanos e marcou um golaço que devolveu esperanças ao Atlético. A torcida rival se animou, depois de seriamente golpeada com o inacreditável tento de Petrônio. As esperanças pelo tri-campeonato renasciam por um momento.

Mas logo elas ruiriam novamente com o fortuito cruzamento de Hélio, que foi premiado com um gol involuntário que garantiu o título. Graças ao forte vento daquela tarde chuvosa, o suposto cruzamento voou como uma folha seca em direção ao gol, morrendo do lado oposto do que o goleiro Kafunga havia previsto. Novo frango do goleiro e ídolo alvinegro.

Nocaute: 3×1 América!

Após o gol, os alvinegros, incrédulos com o fim da oportunidade de ser tri, iniciaram nova confusão. Os atleticanos também lamentavam um gol anulado, além de questionarem a validez do segundo gol americano. Dessa forma, em meio a um tumulto generalizado, os jogadores do Atlético abandonam o gramado rumo ao vestiário. O árbitro estrangeiro aguarda mais 15 minutos antes de confirmar o título americano, que só foi comemorado com garantia alguns meses depois, após a confirmação oficial da Federação.

A diretoria alvinegra até tentou pressionar a Liga para a realização de uma nova decisão, mas não conseguiu evitar o primeiro título do América na era profissional do futebol mineiro, que voltou a se igualar com o Atlético em número de conquistas estaduais como o maior campeão do Estado. Uma conquista legítima como a grandeza do clube, folclórica como o futebol da época e emocionante como um verdadeiro clássico. Para alguns historiadores, foi a primeira grande final da Era Profissional do futebol mineiro, por tudo que envolveu em termos de competitividade, repercussão, rivalidade e arrecadação.

Tríplice Coroa (1957)

Tríplice Coroa de 1957

America 57 (avacoelhada)

(Reprodução: Acervo Torcida Desorganizada Avacoelhada)

Um dos grandes momentos de hegemonia americana no futebol mineiro foi durante a temporada de 1957, quando o Coelho conquistou todos os campeonatos promovidos pela Federação Mineira no ano, sendo campeão estadual em nível profissional, juvenil e aspirantes, um feito inédito até então. A conquista ficou conhecida como a “Tríplice Coroa”, já que foi a primeira vez que um clube mineiro realizou esse feito na história. Foi a primeira vez que a imprensa local utilizou o termo, que também batiza uma conquista cruzeirense.

A Tríplice Coroa de 1957 serviu para consagrar uma safra de ídolos americanos. Afinal, entre 1957 e 1961, aquela geração composta por craques como Zuca, Jardel, Gunga, entre outras lendas, levou o clube ao topo das decisões do futebol mineiro durante quatro oportunidades em cinco anos: Além do título em 1957, o melhor resultado daquela geração, Coelho também brilhou durante as campanhas estaduais de 1958, 1959 e 1961, quando foi vice-campeão estadual três vezes em quatro anos. Não à toa, o América era a base da Seleção Mineira de Futebol no período. Em 1957, por exemplo, o clube chegou a enviar seis representantes, cinco deles titulares, para o Torneio de Seleções Estaduais de 1957, realizado na cidade de Barbacena-SP. Os enviados foram:

– Gunga: segundo maior artilheiro da história do clube;
– Edgar: único jogador mineiro convocado para a Seleção Brasileira durante a temporada;
– Wilson Santos e Dôdô: jogadores decisivos para o futuro título estadual;
– Geraldo: atacante do clube por mais de dez anos, também é famoso por ser um dos dois americanos presentes na inauguração do Mineirão, em 1965, ao lado de Jair Bala;
– Tonho: goleiro reserva do Selecionado Mineiro, foi terceiro jogador que mais atuou pelo América na história, com 231 partidas. Além disso, Tonho foi o único jogador do clube campeão estadual em 48 e 57, ao lado do zagueiro Gaia.

O América também contou com a revelação de quatro jogadores campeões mineiros de juniores do mesmo ano para levar a taça, entre eles o popular goleiro Jardel, conhecido como “O Cavaleiro Negro”,e o talentoso Zuca, autor de 78 gols com a camisa alviverde. O artilheiro do América na competição foi Miltinho, com 12 gols, enquanto o o meia Toledo foi eleito o melhor jogador do Campeonato Mineiro.

Em uma campanha que prevaleceu altos e baixos, o Coelho venceu 12 partidas, empatou 11 e perdeu apenas 1 (para o Siderúrgica). Ao todo, marcou o dobro de gols do que sofreu: foram 50 gols marcados e 25 sofridos em 24 jogos. Curiosamente, o América venceu apenas uma partida nas sete primeiras rodadas, mas reagiu com uma incrível sequência de 9 vitórias em 11 jogos para conseguir o título histórico.

No entanto, apesar de ser campeão estadual, o América inexplicavelmente ficou de fora da disputa do Robertão de 1958, primeiro torneio nacional oficial do futebol brasileiro, que reuniu os campeões estaduais das duas temporadas anteriores. Por razões ainda desconhecidas, o Coelho perdeu a chance de ser o primeiro clube mineiro a participar de uma competição em nível nacional.

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REGULAMENTO

Formado por 11 equipes, o Campeonato Mineiro de 1957 foi decidido em finais sobre o sistema “melhor de três”, composto pelo campeão do primeiro turno contra o campeão do segundo turno, sendo que cada turno previa 9 jogos para os times participantes. Em caso de empate de pontos entre duas equipes durante as fases de turno ou returno, uma decisão melhor de três era jogada para determinar o finalista.

CAMPANHA: :

18 jogos: 11 vitórias, 6 empates, 1 derrota;
34 gols marcados e 8 gols sofridos

Primeiro Turno:
30/06: América 1×1 Democrata de Sete Lagoas
07/07: América 3×2 Villa Nova
13/07: América 2×2 Meridional
20/07: América 2×2 Cruzeiro
28/07: América 1×1 Metalusina
04/08: América 0x1 Siderúrgica
11/08: América 2×1 Asas
24/08: América 3×1 Sete de Setembro

Segundo Turno:
29/09: América 2×1 Asas
06/10: América 1×0 Villa Nova
13/10: América 6×1 Metalusina
20/10: América 1×1 Cruzeiro
27/10: América 3×2 Meridional
03/10: América 3×2 Democrata de Sete Lagoas
10/11: América 2×2 Siderúrgica
19/11: América 3×0 Atlético
24/11: América 5×1 Sete de Setembro

Decisão do segundo turno:
01/12: América 1×1 Siderúrgica
05/12: América 1×1 Siderúrgica
15/12: América 2×0 Siderúrgica

Final:
22/12: América 4×1 Democrata de Sete Lagoas
29/12: América 0x0 Democrata de Sete Lagoas
03/12: América 2×2 Democrata de Sete Lagoas

América 57 2(avacoelhada)

PRIMEIRO TURNO:

O América oscilou durante o início do Campeonato Mineiro 1957, sem demonstrar nem de longe o brilho que teve para ser campeão. Durante as sete partidas iniciais, o futuro dono da “Tríplice Coroa” venceu apenas uma, empatou 5 e, ainda, vivenciou sua primeira e única derrota na competição, para o Siderúrgica.

O mau desempenho no início do Campeonato de 57 pode ser explicado, em parte, pela sobrecarga física de alguns jogadores antes do início da competição, já que metade da equipe titular havia servido a Seleção Mineira de Futebol durante o confronto de Seleções Estaduais em Barbacena-SP, enquanto a outra metade viajou à Argentina e Uruguai para disputar amistosos de pré-temporada. Pouco antes, em 1956, muitos deles haviam excursionado com o clube para a Europa, durante a primeira excursão americana ao Velho Continente. Para completar, o Campeonato Mineiro de 1956 só terminou em maio de 1957.

Em outras palavras: antes da disputa do estadual de 57, alguns dos principais jogadores americanos haviam atuado por amistosos, pelo torneio de Seleções Estaduais e pelo Estadual de 56. Esses fatores ajudam a explicar porque a equipe de 1957 demorou para alcançar a plenitude técnica. Dessa forma, com apenas uma vitória em sete jogos, o futuro campeão terminou só na quarta posição durante a classificação geral do primeiro turno da competição.

REESTRUTURAÇÃO

Além do desgaste físico, o elenco americano de 1957 também teve de se recuperar de algumas baixas sofridas, como a transferência de Gunga, segundo maior artilheiro da história do Coelho, para ninguém menos que o poderoso Barcelona (Gunga havia brilhado durante excursão americana à Europa em 1956, tendo marcado 7 gols em território espanhol). Além de Gunga, o atacante Edgar, único jogador mineiro convocado para a Seleção Brasileira naquele ano, também chamou a atenção e foi comprado pelo Botafogo por alta quantia.

O time americano demorou a encontrar substitutos à altura para dois de seus maiores craques, mas no final, remanescentes como Miltinho, Wilson Santos, Dôdô e Toledo deram conta do recado. Além disso, quatro jogadores que foram campeões mineiros pelo time de juniores foram elevados a equipe profissional para suprir a ausência dos antigos ídolos, entre eles o goleiro Jardel, conhecido como “O Cavaleiro Negro”. Com menos de 20 anos, o arqueiro teve bala para desbancar Tonho (campeão em 1948 e terceiro jogador que mais atuou pelo América) para agarrar o posto de titular da histórica equipe com belas atuações. O meia-atacante Zuca, décimo maior artilheiro da história do clube, foi outro dessa safra que não demorou em se destacar pelo profissional pouco depois de brilhar pelo juvenil.

VOLTA POR CIMA

Ao promover as devidas alterações no time titular, o América retomou a força máxima e compensou o baixo rendimento inicial com 9 vitórias em 11 partidas. Durante o segundo turno, o Coelho fez campanha invicta e alcançou 7 vitórias e 2 empates em 9 jogos.

O desempenho valeu a liderança do returno, com pontuação idêntica ao Siderúrgica. Para determinar o finalista, uma decisão “melhor de três” foi marcada. O vencedor conquistaria o direito de jogar a final contra o Democrata de Sete Lagoas (melhor equipe da primeira fase).

Curiosamente, o desempenho de 57 foi bastante semelhante à outra campanha campeã do América. Em 2001, o Coelho também conseguiu apenas uma vitória nos sete jogos iniciais e, assim como há mais de 40 anos antes, reagiu na sequência com 9 vitórias em 11 partidas para ser campeão.

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Decisão do returno: América x Siderúrgica

Em uma decisão “melhor de três”, chamada de “decisão do returno”, o América precisava vencer o Siderúrgica para ter a oportunidade de jogar a final do Campeonato Mineiro contra o Democrata de Sete Lagoas.

Diante de um Independência lotado, o Coelho empatou a primeira das três partidas (01/12). O time alviverde até saiu na frente durante o primeiro tempo com Miltinho, artilheiro do certame, mas o empate veio na segunda etapa, com a marcação de um pênalti para a equipe adversária.

Na segunda partida (05/12), novamente no estádio do Independência, o América tomou um susto quando o Siderúrgica abriu o placar aos 25 minutos do primeiro tempo, com Joãozinho. O placar eliminava o Coelho e instaurou a tensão no Independência. Pela primeira vez na história, duas equipes de fora decidiriam o Estadual, já que a decisão seria entre Siderúrgica e Democrata. No entanto, quando ninguém mais esperava, aos 43 minutos do segundo tempo, Wilson Santos aproveitou rebote do goleiro e acabou com o desespero: 1×1.

O empate pediu uma terceira e última partida, marcada para 08/12, mas adiada para o dia 15 em razão das fortes tempestades que caíam sobre a capital mineira.

Em uma decisão de arbitragem polêmica, o América teve 2 jogadores expulsos (Jardel e Toledo), mas mesmo assim conseguiu vencer o Siderúrgica (que também teve 1 jogador expulso) por 2×0 – gols de Goiano e Wilson Santos. Um resultado heróico, ainda mais depois de todo drama na partida anterior.

Depois de sete anos de ausência, o América estava de volta à final do Campeonato Mineiro, com sorte de campeão.

Três jogadores do clube foram convocados para o “Escrete-Medalha”, tradicional Seleção do Campeonato Mineiro promovida pelo jornal “O Estado de Minas Gerais”: Fernando Fantoni, Wilson Santos e Toledo (eleito o craque da competição).

Final: América x Democrata-SL

Assim como na decisão do segundo turno, a final do Campeonato Mineiro foi disputada no sistema “melhor de três”, com as finais sediadas em um campo neutro, o Estádio do Independência. O adversário do América na final, o Democrata-SL, havia sido a grande surpresa do Campeonato. Com 13 vitórias em 20 jogos, o time do interior terminou o primeiro turno invicto.

Durante a primeira final, disputada em 22 de dezembro de 1957, apenas 3 dias antes do Natal, o América antecipou as festas ao golear os democratas por 4×1 – 2 gols de Wilson Santos e 2 gols de Goiano, ambos os jogadores decisivos para o time na fase final.

O presente de fim de ano veio no dia 29, com um empate por 0x0 na segunda final. A partir de então, bastava apenas mais um empate para garantir o primeiro título americano desde 1948. Porém, a façanha de 57 só poderia ser comemorada no ano seguinte, no dia 03 de janeiro de em 1958, data do terceiro jogo. É de se imaginar que os americanos tenham comemorado o novo ano cheio de promessas, em uma mistura de alegria e apreensão. Alguns dizem que o Coelho teve azar em finais durante os anos seguintes porque muitos torcedores não cumpriram as promessas de fim de ano que fizeram para garantir o título do Coelho no terceiro dia de 1958. Afinal, depois da conquista de 57, o time foi cinco vezes vice-campeão até 1965.

Seja como for, a terceira final foi jogada sob uma linda festa da torcida americana, que levou flâmulas e faixas de campeão, coelhos vivos e de papel e iluminou o céu de Belo Horizonte com foguetes e rojões para estrear o novo ano com uma festa de gala.

Aos 22 minutos do 1º tempo, Goiano – “sempre ele!” – recebeu passe de Wilson Santos e abriu o marcador para o Coelho. Após o gol, o estádio em polvorosa festejou mais 15 minutos de foguetório.

Mas o Democrata voltou para a segunda etapa decidido a frustrar a festa alviverde. Surpreendentemente, o time de Sete Lagoas chegou a virar o placar, com gols de Bertolo, aos 16 minutos, e Pedro Luiz, aos 21, deixando o Independência de boca aberta. Caso vencessem, levariam a final para os pênaltis. Provavelmente o América achou que já tinha garantido o título e se surpreendeu contra um adversário que já não tinha mais nada a perder.

De qualquer jeito, foi a deixa para a torcida cantar americana ainda mais, empurrando o Coelho pra cima do tento heroico que valeria o título. Depois de muita tensão e barulho no Independência, o empate veio aos 32 minutos do segundo tempo, quando Leônidas encontrou a bola na grande área e afundou as redes de uma geração. Lenços brancos à torcida adversária, comemoração pelo resto da cidade que cobria o Horto! Fogos de artifício, bombas e rojões sendo atirados para todos os lados! A taça estava perto!

Bastou mais 15 minutos de catimba e festa no Independência para o Coelho comemorar o sofrido título. A segunda maior torcida do Estado até então entrou em êxtase, invadiu o gramado do Horto e carregou os jogadores em seus braços, durante uma comemoração histórica.

Após uma campanha eletrizante, o América enfim confirmou seu décimo terceiro título estadual, conquistado com drama, redenção e heroísmo, como manda o figurino da história americana. Aliado aos títulos nas categorias juvenis e aspirantes, o Coelho celebrou uma temporada perfeita, quando foi campeão em todos os níveis do futebol local: A conquista ficou conhecida como a “Tríplice Coroa” – foi a primeira vez que a imprensa esportiva mineira utilizou o termo.

Campeonato Mineiro Invicto (1971)

Campeão Mineiro Invicto de 1971

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Elenco campeão estadual invicto de 1971. (Reprodução: Super Esportes)

O América conquistou seu primeiro título no estádio do Mineirão em 1971, quando foi campeão estadual invicto durante uma temporada que ficou conhecida na época como “o ano de ouro do futebol mineiro”: Além do América campeão estadual invicto, o Atlético comandado por Telê Santana foi campeão brasileiro pela primeira vez naquele ano, o Cruzeiro de Tostão e companhia teve uma séria penta-campeã estadual interrompida um ano antes e perdeu o título estadual em 71 apenas na última rodada, e até o Villa Nova, de Nova Lima, foi campeão da Taça de Prata, sendo o primeiro time brasileiro a conquistar o título da Série B nacional.

Apesar da concorrência, o América de craques como Jair Bala, Pedro Omar, Amaury Horta, Dario Alegria e Dirceu Alves, não decepcionou, foi brilhante durante toda campanha e conseguiu permanecer invicto para levar a taça mesmo diante dos fortes adversários locais. Apelidado de “Abacate-Atômico” em razão da estreia do novo modelo de uniforme verde-negro em 1970, a equipe de 1971 quebrou marcas históricas, como o melhor desempenho da história do clube nas rodadas iniciais do Campeonato Mineiro desde o deca-campeonato, com sete vitórias seguidas e 10 vitórias nos 11 jogos do primeiro turno. O Coelho também mostrou sua força ao vencer os dois clássicos contra o histórico Atlético campeão brasileiro de 71 (2×1 e 1×0).

Mas se a competição prometia equilíbrio, não decepcionou, e foi decidida apenas na última rodada, quando os americanos precisavam vencer o Uberlândia, no Mineirão, e “torcer” por uma vitória do Atlético sobre o Cruzeiro, em uma das raras oportunidades onde americanos e atleticanos uniram forças a fim de evitar novo título celeste. Caso a equipe palestrina vencesse o clássico, empataria em pontos com o América, mas levaria a fatura, já que, pela primeira vez na história, o Campeonato Mineiro seria decidido no saldo de gols.

O Coelho venceu o Uberlândia por 3×2 – com mais um gol de bicicleta de Jair Bala, artilheiro da competição e responsável por nada menos que 5 gols de bicicleta durante o certame, segundo lenda propagada não apenas por torcedores americanos. Já o Atlético não permitiu o Cruzeiro levantar a taça em suas costas e venceu o clássico por 2×1, ajudando o América a ser campeão invicto de forma indireta. Afinal, depois de liderar durante toda competição, seria muita perseguição do destino se aquela equipe que foi cinco vezes vice-campeã estadual desde a tríplice coroa 1957 fosse vice-campeã após uma campanha invicta quase perfeita como a de 71. Seja como for, os jogadores americanos fizeram uma romaria em agradecimento ao final feliz rumo à Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira do clube. Curiosamente, o “favor” atleticano foi curiosamente retribuído em 1979, quando uma vitória do América sobre o Cruzeiro, liderado pelo mesmo Jair Bala, dessa vez como treinador, garantiu o título mineiro à equipe alvinegra.

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Os reis do Mineirão: Poster comemorativo do título invicto de 1971. (Reprodução: Revista Placar)

CAMPANHA:

JOGOS:

Primeiro Turno:
América 1×0 Tupi
América 2×1 Uberaba
América 3×0 Casemiro de Abreu
América 1×0 Valério
América 2×1 Atlético
América 3×0 Flamengo de Varginha
América 2×1 Atlético de Três Corações
América 1×1 Cruzeiro
América 1×0 Villa Nova
América 3×1 Fluminense de Araguari
América 2×0 Uberlândia

Segundo Turno:
América 2×2 Tupi
América 2×2 Uberaba
América 2×2 Casemiro de Abreu
América 1×0 Valério
América 1×0 Atlético
América 1×0 Flamengo de Varginha
América 1×0 Atlético de Três Corações
América 1×1 Cruzeiro
América 2×0 Villa Nova
América 1×1 Fluminense de Araguari
América 3×2 Uberlândia

PRIMEIRO TURNO

Depois de repatriar grandes craques do futebol brasileiro, como Jair Bala, Amaury Horta, Dario Alegria e Dirceu Alves (jogadores que tiveram passagem de destaque pelo Coelho durante as campanhas vice-campeãs de 1964 e 65), América do técnico Biju começou o estadual de forma avassaladora e com pinta de favorito quando alcançou 100% de aproveitamento nas sete rodadas iniciais, o melhor início de Campeonato Mineiro do América desde desde a conquista do deca-campeonato, e 10 vitórias nos 11 jogos do primeiro turno, empatando apenas com o Cruzeiro. O desempenho que garantiu a liderança isolada da competição, com vantagem de 4 pontos sobre o segundo colocado, e o “título” do primeiro turno, segundo expressão utilizada na época.

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Recorte de jornal da época destaca os jogadores do América em 1971.

Durante a primeira fase, o América conseguiu resultados históricos, como a primeira derrota no ano do Atlético Mineiro de Telê Santana, futuro campeão brasileiro e equipe mais celebrada da história rival (2×1, gols de). Contra o Cruzeiro de Tostão e companhia, o América dividiu os pontos durante a última rodada da primeira fase (1×1), naquele que seria o único empate do América no primeiro turno; De resto, só vitória. Desde já, evidenciava-se que a briga pelo título de 71 seria mesmo entre as históricas escalações de América e Cruzeiro.

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Jair Bala em ação contra o Cruzeiro em 1971: Considerado o melhor jogador da história do América, Bala repetiu o feito de 64 e foi novamente artilheiro da competição. (Reprodução: Super Esportes)

SEGUNDO TURNO

Tudo parecia estar dando certo ao Coelho, que jogava bonito, estava invicto e liderava a competição com quatro pontos de vantagem para o segundo colocado. No entanto, uma fatalidade conseguiu abalar aquela equipe que parecia inabalável, quando o técnico Biju,  antigo e vitorioso americano, foi obrigado a abandonar o Coelho por questões de saúde. Um grande baque, gravemente sentido por jogadores e torcedores.

Nas partidas seguintes sem Biju, o América sentiu a ausência do querido treinador, e empatou três jogos em sequência. A liderança apertou, e uma provocação da época, que tanto atormentava a torcida americana, ressurgia com força: Marcados pelo azar de cinco vice-campeonatos estaduais desde a conquista da Tríplice Coroa em 57, diziam as más línguas que o América só conseguia ser campeão do primeiro turno, já que o Coelho desperdiçou títulos estaduais na década de 60 após campanhas brilhantes. A equipe americana foi testada com toda pressão extra-campo que se possa imaginar, não apenas por parte das torcidas rivais, como da própria imprensa mineira em si. Porém, àquela equipe se tornou ainda mais histórica por ter resistido a tudo isso de cabeça erguida.

Auxiliar técnico de Biju, Henrique Frade foi quem assumiu o leme. Conhecido por ser um torcedor americano fanático, Frade se saiu bem na missão ingrata de substituir o antigo comandante. Sua primeira grande missão foi recuperar o emocional daquela equipe abalada por empates indesejados e pelos problemas de Biju. Sob a liderança do novo treinador, os atletas se reuniram e assinaram um quadra com a foto da equipe, onde estava escrito “serei campeão mineiro”. O episódio acabou se tornando o símbolo da reação americana na competição.

Após vencer X por X, a moral da equipe se renovou de vez com uma nova vitória em clássico contra o Atlético campeão nacional, dessa vez, por 1×0. Na sequência, o pressionado Coelho conseguiria mais duas vitórias, apagando os 3 empates em sequência com 4 vitórias consecutivas.

Nas rodadas finais, o América novamente empatou contra o Cruzeiro por 1×1, mas conseguiu uma vitória importante no clássico inter-municipal contra o Villa, campeão brasileiro da Série B no mesmo, por 2×0, garantindo a liderança.

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O Cruzeiro dificultou a vida do América na competição e brigou com o Coelho pelo título até a última rodada. O rival foi o único adversário que o América não venceu no Estadual daquele ano, empatando ambas as partidas por 1×1. (Reprodução: Super Esportes)

Com o resultado, o América tinha uma tarefa aparentemente fácil para garantir o título com antecipação, durante a penúltima rodada do certame, bastando uma simples vitória diante do modesto Fluminense de Araguari. Mas o “Flu-pirata” tinha craques como Juca Show, lendário jogador americano, que acabou sendo o principal responsável pelo empate em 1×1. Nessa partida, Juca jogou tanta bola, que os torcedores americanos, impressionados, fizeram uma vaquinha para trazer o jogador à equipe.

O empate amargo desiludiu alguns americanos, já que com o resultado, o clube dependia da vitória ou empate do Atlético Mineiro sobre o Cruzeiro, na última rodada, para ser o campeão. Caso o Cruzeiro ganhasse, o clube celeste empataria em pontos com o Coelho, e seria campeão por saldo de gols (pela primeira vez o campeonato mineiro seria decidido por esse critério). O jogo do América seria no sábado, enquanto o clássico seria disputado no domingo.

Depois cinco vice-campeonatos traumáticos desde o título mineiro em 1957, seria muita perseguição do destino se o Coelho fosse vice-campeão invicto em 1971. Porém, calejado por anos difíceis, alguns achavam que o azar era iminente, e o América encarou o Uberlândia no Mineirão, pela última rodada, com menor público que o esperado, em contraste com jogos lotados durante todo campeonato. Mesmo assim, a equipe fez sua parte e venceu por 3×2, com direito a um histórico gol de bicicleta de Jair Bala, que já acumulava 5 gols do tipo na competição, um feito único na história do futebol brasileiro. Bala também foi o artilheiro do Campeonato Mineiro pela segunda vez na carreira, com 14 tentos.

Dessa forma, bastava um empate ou vitória do Atlético sobre o Cruzeiro, em clássico disputado no dia seguinte, para o América pintar a taça de verde, branco e preto. Em uma das raras vezes na história em que americanos e atleticanos uniram força, à fim de evitar novo título da equipe celeste, a sorte do Coelho prevaleceu e a vitória no clássico foi alvinegra.

Se o último jogo do América na competição não teve tanto público como esperado, já que o Coelho dependia do resultado do clássico entre Atlético e Cruzeiro, a comemoração pelo título, essa sim, teve o tamanho da ocasião. À época, os americanos ainda clamavam ser a segunda maior torcida da capital, e a celebração pelo décimo terceiro título estadual pareceu comprovar esse fato, com milhares americanos invadindo os quatros cantos de Belo Horizonte. Os atleticanos se juntaram à festa e foram bem-recebidos, já que contribuíram para evitar novo título cruzeirense. A revista Placar!, em reportagem em homenagem ao título do Coelho, registrou:

Para agradecer a sorte do destino, uma romaria de jogadores e torcedores partiu em direção à Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, que carrega o nome da padroeira oficial do clube.

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Campeonato Mineiro (1993)

Campeão Mineiro de 1993

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América, campeão mineiro de 1993 após 22 anos de jejum. (Foto: Revista Placar)

Em 1993, o América encerrou o maior jejum de títulos estaduais de sua história como clube profissional com a conquista do Campeonato Mineiro após 21 anos de jejum. O título foi aguardado por toda uma geração de torcedores do clube que nunca haviam visto o time ser campeão estadual.

Afinal, o América não botava as mãos na taça que foi sua dez vezes consecutivas desde o título mineiro invicto em 1971, mas o presidente Magnus Lívio prometia mudar esse cenário ao traçar como planejamento o retorno a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro e a volta do título estadual.

O Coelho já havia retornado para a Série A do Campeonato Brasileiro, após ser vice-campeão da Taça de Bronze (Série C) em 1990 e conseguir o acesso durante a Série B de 1992. Em 1992, o clube também quase antecipou o destino do ano seguinte, quando foi vice-campeão mineiro e encerrou a hegemonia de decisões entre Atlético e Cruzeiro, que pairava desde o duelo entre o Coelho de Juca Show contra a Raposa de Nelinho em 1973.

Mas a grande redenção estava mesmo guardada para 1993, quando o América fez uma brilhante campanha para conquistar o título mineiro de forma autoritária, sem perder nenhum clássico contra seus principais rivais. Provando da força de sua nova casa, o Coelho foi campeão invicto como mandante e com a melhor defesa da competição, responsável por alcançar a incrível marca de menos que “meio-gol” gol sofrido por jogo (8 gols sofridos em 18 jogos, média de 0,44 gols sofridos por jogo). A segurança defensiva americana era tamanha que o goleiro Milagres, recordista de partidas pelo clube, acumulou mais de 400 minutos sem sofrer gol durante o certame.

O trio de ataque americano naquele ano também deixou saudades: Formado por Hamilton, Robson e Euller, “o filho do vento”, o trio anotou 23 dos 34 gols marcados pelo clube na competição. Outro grande ídolo da conquista foi o identificado Flávio Lopes, que mais tarde venceria 2 títulos como treinador do América e outro como diretor.

Ao todo, foram 11 vitórias em 18 jogos, com outros 6 empates e apenas 1 derrota. Com 8 vitórias, 3 empates e 1 derrota na primeira fase, o América classificou-se para o quadrangular final como o primeiro lugar de seu grupo, animando sua torcida desde então. Na fase final, o clube duelou contra Atlético, Cruzeiro e Democrata, sendo campeão com 9 pontos, após 3 vitórias e 3 empates, enquanto seus rivais da capital somaram 7. Após golear o Atlético por 4×0 na estreia do quadrangular, o Coelho decidiu o título contra o Democrata em Governador Valadares com nova goleada: 4×1, em jogo que contou com a presença em massa da torcida americana, que foi maioria no estádio mesmo como visitante. Hamilton foi o artilheiro da competição com 14 gols, enquanto Euller foi eleito a revelação do campeonato.

CAMPANHA:

18 jogos, 11 vitórias, 6 empates, 1 derrota, 34 gols marcados, 8 gols sofridos

REGULAMENTO

A primeira fase do Campeonato Estadual Mineiro de 1993 reuniu 19 equipes do interior do Estado, divididas em 3 grupos. Os dois melhores de cada grupo classificavam-se para a fase seguinte, que já contava com o trio da capital (América, Atlético, Cruzeiro), mais o campeão do interior (Democrata-SL), como “cabeças de chave”.

Já a segunda fase previa 2 grupos de 6 participantes, com partidas de turno e returno entre equipes de chaves distintas. Os dois melhores de cada grupo garantiam vaga no quadrangular final que decidiu o campeão.

Na fase final, quatro equipes duelavam entre si em jogos de ida e volta. O time que mais somasse pontos durante o quadrangular ficava com o título. Em caso de empate na pontuação, um jogo extra seria marcado para decidir o campeão.

PRIMEIRA FASE

NO INDEPENDÊNCIA O BICHO PEGA!

As principais conquistas do América durante a década de 90 foram auxiliadas por campanhas impecáveis da equipe como mandante. A escrita valeu para todos os principais títulos da “Era Independência” e, durante o Campeonato Mineiro de 1993, não foi diferente: O Coelho venceu 4 das 5 partidas disputadas em casa pela primeira fase, empatando a outra, e impressionou ainda mais ao marcar 10 gols e não sofrer nenhum. O fator mandante também prevaleceu no Gigante da Pampulha, e o Coelho terminou a competição invicto como mandante em partidas no Mineirão ou no Independência.

PRIMEIRA E ÚNICA DERROTA

A única derrota do Coelho no Campeonato Mineiro de 1993 foi contra o Valério, pela segunda rodada da primeira fase, em partida disputada no acanhado estádio da equipe em Itabira. Essa derrota acabou impedindo que o América conquistasse o título estadual invicto pela décima vez em sua história.

Mas vale lembrar que o América foi muito prejudicado pelas más condições do gramado e pela arbitragem caseira que predominou durante toda partida. Afinal, o duelo já caminhava para um empate quando o juiz cedeu a pressão da torcida local e assinalou um pênalti muito duvidoso contra o América, responsável por definir a vitória da equipe mandante por 2×1.

FREGUÊS CELESTE

O América de 1993 ficou marcado pela valentia em clássicos. Afinal, aquele time não perdeu nenhuma partida para os badalados rivais da capital durante a campanha. Como manda a escrita, o Coelho provou que estava mesmo endiabrado principalmente contra o Cruzeiro.

Até então, todos os títulos estaduais do América contaram com campanhas invictas contra a Raposa e em 1993 não foi diferente. Na primeira fase, o Coelho se vingou da derrota na final de 92 e levou a melhor em ambos os clássicos, vencendo por 3×1 e 1×0, resultados que conferiram grande força moral ao futuro campeão. Na fase seguinte, o Coelho voltou a enfrentar seu antigo rival mais duas vezes e permaneceu invicto no confronto com 2 empates.

Confira o vídeo das partidas da primeira fase:

América 3×1 Cruzeiro
Quinta rodada – Primeiro turno
Primeira fase
Estádio do Mineirão

América 1×0 Cruzeiro
Terceira Rodada – Segundo Turno
Primeira Fase
Estádio do Mineirão

PRIMEIRO TURNO:

Rodada 1: América 0x0 Democrata
Local: Estádio do Independência
Rodada 2: Valério 2×1 América
Local: Itabira
Rodada 3: América 4×0 URT
Local: Estádio do Independência
Rodada 4: América 2×0 Flamengo de Varginha
Local: Estádio do Independência
Rodada 5: Cruzeiro 1×3 América
Local: Estádio do Mineirão

SEGUNDO TURNO
Rodada 1: América 2×0 Valério
Local: Estádio do Independência
Rodada 2: URT 1×1 América
Local:
Pato de Minas
Rodada 3: América 1×0 Cruzeiro
Local: Estádio do Mineirão
Rodada 4: Democrata-SL 1×1 América
Local: Sete Lagoas
Rodada 5: América 2×0 Democrata-GV
Local: Estádio do Independência

QUADRANGULAR FINAL

O Quadrangular final que decidiu o Campeonato Mineiro de 1993 foi formado por América (1o lugar do Grupo B), Atlético (1o lugar do Grupo A), Cruzeiro (2o lugar do Grupo B), e Democrata-SL (campeão do interior e 2o lugar do Grupo A).

PRIMEIRA RODADA: AMÉRICA 4×0 ATLÉTICO

Na primeira rodada do quadrangular final, o Coelho aplicou uma memorável goleada sobre seu maior rival, o Atlético-MG, quando venceu a equipe alvinegra por nada menos que 4×0. Para muitos torcedores, foi a melhor partida da equipe na competição.

SEGUNDA E TERCEIRA RODADA:
AMÉRICA 0x0 CRUZEIRO
AMÉRICA 1×0 DEMOCRATA

O América permaneceu invicto em clássicos durante um equilibrado empate sem gols no Mineirão contra o Cruzeiro durante a segunda rodada. Na sequência, bastou uma vitória magra sobre o Democrata, no Independência, para garantir o primeiro lugar do grupo, já que Atlético e Cruzeiro empataram em 2×2.

QUARTA RODADA: AMÉRICA 1×1 ATLÉTICO

Na primeira partida do returno, o América quase colocou tudo a perder durante o jogo mais dramático da competição. Diante de um Mineirão lotado por quase 50 mil pessoas, o Coelho perdia o clássico para o Atlético por 2×1 até os 10 minutos finais, placar que colocava os alvinegros na liderança do quadrangular.

Eis então que o camisa 10 Flávio Lopes cava uma falta nos momentos derradeiros da partida. O próprio jogador se encarrega da cobrança, mas a jogada ensaiada dá errado. Por um capricho dos “deuses do futebol”, a pelota sobra limpa para o voluntarioso Gutemberg após bate-rebate na grande área. O zagueiro não pensa duas vezes, enche o pé e empata a partida com um verdadeiro petardo de fora da área. Sorte de campeão! Uma jogada que contou com a ajuda dos americanos lá de cima.

O 2×2 manteve o América na liderança. O Coelho agora dependia apenas de suas próprias pernas para encerrar o longo jejum. Mas um novo empate contra o Cruzeiro, que se recusou a perder para o América pela terceira vez na competição, ofereceu um cenário de muita tensão para a última rodada do Campeonato Mineiro: Para ser campeão, o Coelho precisava vencer o Democrata na última rodada e ainda torcer para o Atlético não vencer o clássico contra o Cruzeiro no Mineirão. Caso a equipe alvinegra conseguisse a vitória, um jogo extra entre América Atlético seria imposto para decidir o título. Haja coração, amigo!

ÚLTIMA RODADA: A INVASÃO A GOVERNADOR VALADARES

Auxiliado pela mais legítima “zica” dos americanos, o Cruzeiro conseguiu levar a melhor sobre o Atlético no Mineirão. Dessa forma, o América precisava derrotar o campeão do interior Democrata para garantir o fim de um jejum de mais de 20 anos.

A torcida americana não decepcionou e fez valer o momento histórico, com uma excursão em massa para a cidade de Governador Valadares. A invasão foi tamanha que, segundo Carlos Paiva, historiador oficial do clube, a presença alviverde esgotou os bares da região três vezes e fez valer os rendimentos de um mês de trabalho. Apesar da bebedeira, a “minoria esclarecida” americana, que naquele dia era uma massa de milhares, foi simpática, respeitou e preservou a cidade, deixando até alguns torcedores como legado. O encontro entre as torcidas adversárias também foi incomumente pacífico, de tal forma que a torcida adversária “Pandemônio” cedeu parte de sua sede oficial para armazenar as bandeiras das organizadas americanas como a Avacoelhada e a UNA, que também foram recebidas com simpatia por outra torcida alvinegra, a “Pantera Cor de Raça”.

Apesar de ser a equipe visitante, o América lotou mais da metade do estádio e jogou como quem estivesse na própria casa. Embalado pela força de sua torcida e disposto a dar fim a um jejum de 22 anos, o time americano inspirou uma goleada histórica por 4×1 que serviu para lavar a alma de uma geração inteira de americanos. Com dois gols do artilheiro da competição Hamilton, um gol da revelação Euller e outro do veterano Robson, o América anunciava o fim do tabu e o início de uma nova era para quem quisesse ouvir. Com um campanha soberana, sem derrota em clássicos, o América era campeão após 22 anos. Era o fim do jejum!

Campeonato Brasileiro da Série B (1997)

Campeão Brasileiro da Série B de 1997

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(Reprodução: Foto oficial)

O América venceu seu primeiro título nacional em 1997, com a conquista inédita do Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão, apenas um ano depois do clube reconquistar o direito de atuar nacionalmente, em razão de longo processo na Justiça Comum contra o CBF.

A campanha de 97 é considerada histórica não apenas por ser o primeiro título mineiro-americano em nível nacional, mas também por ter sido conquistado após anos de ausência do clube no circuito nacional, já que, entre 1994 e 1995, o Coelho esteve banido das competições promovidas pela CBF, depois de mover processo contra a entidade na Justiça Comum, à fim de reverter um injusto rebaixamento no Brasileirão de 1993.

(Apesar de ocupar a décima sexta posição em uma competição de 32 equipes, o América foi rebaixado do Campeonato Brasileiro da Série A de 1993 segundo critérios técnicos impostos pela CBF, que determinou que os clubes de maior torcida no país não seriam rebaixados naquele ano. Portanto, equipes como o rival Atlético Mineiro, último-colocado, e os cariocas Botafogo, penúltimo, e Fluminense, vigésimo-quarto, mantiveram suas posições na Primeira Divisão, enquanto clubes melhores posicionados que os referidos, como Coelho, Coritiba, Atlético-PR, Santa Cruz, Goiás e Ceará, seriam transferidos à Série B em 1994.

O América do presidente Magnus Lívio foi o único dos clubes prejudicados que se recusou a aceitar o descenso de braços cruzados e reinvidicou seus direitos na Justiça Comum Brasileira.  Como punição, o Coelho foi imediatamente banido das competições promovidas pela CBF. Os atritos penderam até 1996, quando o novo presidente alviverde, Marcus Salum, retirou o processo da Justiça, após acordo com a entidade. Como resultado, o Coelho foi relacionado à Série B de 96, e conseguiu ser campeão da competição no ano seguinte.

Se em 1996 o América reconquistou o direito de jogar Campeonatos Brasileiros, 1997 significou a redenção de um clube e uma torcida que foram claramente injustiçados. O título da Série B de 97 foi como a recompensa tardia do destino pela brava resistência de 1993-96, quando foi o único clube disposto a lutar contra o autoritarismo da entidade máxima do futebol brasileiro.

O América pode se orgulhar não apenas de ter desafiado a CBF e sobrevivido, como de ter voltada a elite do futebol brasileiro pela porta da frente, com a mesma honra que saiu. Quase que num piscar de olhos, o tamanho da queda foi substituído pela força da reerguida, como a marca de uma instituição que lutou contra tudo e contra todos pelo que acreditava, fazendo de sua história um exemplo de resistência e redenção.

O Coelho do presidente Marcus Salum garantiu voltar ao circuito nacional com estilo e cumpriu suas promessas: Beneficiado pela parceria com o banco BMF (o maior patrocínio da história do clube), o América montou o que é, para muitos, a melhor equipe de sua história recente. Em 1997, o Coelho escalou uma equipe histórica, que mesclou jogadores consagrados do futebol brasileiro com valiosas pratas da casa e antigos ídolos do pavilhão.

O resultado não poderia ser outro se não uma equipe que brilhou diante de sua torcida e se manteve invicto no estádio do Independência durante toda competição, acumulando 12 vitórias em 13 jogos, das quais 10 delas foram em sequência. A qualidade como mandante era tamanha que nenhuma equipe marcou gol na casa do América durante todo torneio, e o time alviverde chegou a acumular mais de 1000 minutos sem sofrer gol em seus domínios. Razões de sobra para os americanos jamais esquecerem a forte defesa formada por ídolos como Dênis, Ricardo Evaristo, Gilberto Silva, Wellington Paulo, Júnior, além dos goleiros Gilberto e Milagres.

O setor ofensivo também mostrou particular entrosamento e, comandado por Tupãzinho, Boiadeiro, Rinaldo, Irênio e Celso, marcou 34 gols e foi o segundo melhor da competição, apenas um tento atrás de Ponte Preta (vice-campeã) e Náutico (terceiro colocado), ambos com 35. Como não podia deixar de ser, Tupãzinho, meia-atacante mineiro-americano, foi o artilheiro do certame, ao marcar 13 gols (primeira vez que um jogador do América é artilheiro de uma competição nacional). Donos da maior goleada da edição (5×0 sobre o Tuna Luso, do Piauí), os comandados de Givanildo Oliveira mostraram sua força durante 14 vitórias, 4 empates e apenas 5 derrotas em 23 partidas disputadas.

Os números não mentem, a história consagra: O América fez uma campanha de campeão para conquistar o título da redenção.

América 1997 (globoesporte)

O jogo do título contra o Villa Nova-GO contou com o maior público do América no estádio do Independência até então. (Foto: Globo Esporte)

REGULAMENTO

O Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão 1997 foi disputado em quatro fases.

Primeira fase: 25 equipes divididas em 5 grupos se enfrentavam em turno e returno. Os dois primeiros colocados de cada chave classificavam-se para a segunda fase, acompanhado dos três melhores terceiro colocados entre todos os grupos.

Segunda fase: Uma espécie de oitavas-de-final, onde dezesseis equipes classificadas se dividiam em oito “grupos” de 2 participantes.

Após duelos no sistema “melhor de três”, oito equipes se classificavam à terceira fase da competição.

Terceira fase: 2 grupos de 4 participantes, com partidas em turno e returno. Os dois melhores classificados de cada grupo garantia vaga no quadrangular final que definiria os clubes classificados à Primeira Divisão.

Quadrangular final: Quatro equipes jogavam em turno e returno por duas vagas na Primeira Divisão de 1998.

comemoração do título da série b de 97. foto: marcelo santana

A torcida do Coelho invadiu o gramado do Independência para saudar seus jogadores e comemorar o título brasileiro. (Foto de Marcelo Santana)

PRIMEIRA FASE

Assim como em tantas outras campanhas vencedoras da história do clube (como 1915, 57 e 2001), o Coelho estreou a competição que seria campeão com uma derrota na primeira rodada: derrota por 2×1 para o CRB, em Alagoas. O Coelho reagiu com vitórias mínimas sobre Sergipe e Villa Nova-GO, no estádio do Independência, mas voltou a tropeçar longe de casa, dessa vez para o Náutico, nos Aflitos (2×1).

Era o primeiro sinal do fantasma que o Coelho precisou derrotar para ser campeão: se, por um lado, a equipe venceu todas as partidas disputadas em seus domínios pela primeira fase, por outro, não conseguiu sequer uma vitória fora de Belo Horizonte. O futuro campeão até chegou a perder de 4×0 para o modesto Sergipe, durante goleada que caiu indigesta para os torcedores americanos. O desafio do técnico Givanildo estava claro: manter o bom desempenho fora do Horto.

Apesar disso, os 13 pontos conquistados quase que exclusivamente no Independência foram suficientes para a classificação em segundo lugar do grupo. Em 8 jogos, foram 4 vitórias e 12 pontos como mandante e 3 derrotas, 1 empate e apenas 1 ponto conquistado como visitante.

Jogos: Primeira Fase Série B 1997

Turno:
América 1×2 CRB
Estádio: Rei Pelé
América 1×0 Sergipe
Estádio: Independência
América 1×0 Villa Nova
Estádio: Independência
América 1×2 Náutico
Estádio: Aflitos

Returno:
América 0x4 Sergipe
Estádio: Batistão
América 1×0 Náutico
Estádio: Independência
América 3×3 Villa Nova –GO
Estádio: Serra Dourada
América 1×0 CRB
Estádio: Independência
América 1×0 Tupi

SEGUNDA FASE

As 16 equipes classificadas na primeira fase formaram 8 “grupos” de apenas 2 participantes. Na prática, era como “oitavas-de-final” no sistema de “melhor de três”, mas sem dar sequência ao mata-mata. Os vencedores integraria os 2 grupos com 4 equipes que ofereciam vagas ao quadrangular final.

O América não teve dificuldades para despachar o Desportiva-ES (5×2 no placar agregado) e, de quebra, faturar seu primeiro sucesso como visitante (2×1, no terceiro jogo em Vitória). Além disso, o Coelho manteve o 100% de aproveitamento no Independência, completando 5 partidas sem sofrer gols em casa.

Jogos: Segunda fase Série B 1997

Primeiro jogo:
América 2×0 Desportiva
Estádio: Independência
Segundo jogo:
América 1×1 Desportiva
Estádio: Engenheiro Araripe
Terceiro jogo:
América 2×1 Desportiva
Estádio: Engenheiro Araripe

TERCEIRA FASE

As duas vitórias contra o Desportiva-ES credenciaram o América como participante do Grupo B da Terceira Fase, composto por Villa Nova, Joinville e Tuna Luso. O grupo oferecia duas vagas ao quadrangular final que decidiu o campeonato.

Sem sofrer gols em casa durante toda competição, o América novamente venceu todas suas partidas no Independência, inclusive ao protagonizar a maior goleada da edição: 5×0 sobre o Tuna Luso. Ao todo, já eram 9 vitórias em 9 jogos disputados no Horto: Um desempenho espetacular!

Como visitante, a equipe também mostrou que havia amadurecido. Embora não tenha tido um desempenho espetacular, os 4 pontos conquistados fora de casa (1 derrota, 1 empate e 1 derrota) pela terceira fase, foram muito mais úteis do que as 3 derrotas e 1 ponto pela fase inicial.

Novamente com 13 pontos, o América classificou-se para o quadrangular final com pinta de favorito. A torcida mineira não hesitou em acreditar naquele time que brilhava entre os gols de Tupãzinho, os passes de Boiadeiro, a liderança de Pintado e um sistema defensivo que praticamente não sofria gols em casa. Todos sabiam que aquela equipe tinha cara de Primeira Divisão.

O quadrangular final do Campeonato Brasileiro da Série B de 1997 foi composto por times tradicionais do futebol brasileiro e de muita importância no esporte em seus estados. Ao lado do América, estavam: Associação Athlética da Ponte Preta, time mais antigo do futebol paulista; Clube Náutico Capibaribe, terceiro maior campeão permanbucano; Villa Nova Futebol Clube, segundo maior campeão goiano. O Coelho teve que enfrentar verdadeiros caldeirões para ser campeão, mas o Horto provou que estava à altura.

Jogos: Terceira Fase Série B 1997

Turno:
América 3×0 Tuna Luso
Estádio: Mangueirão
América 2×0 Villa Nova-GO
Estádio: Independência
América 1×0 Joinville
Estádio: Independência

Returno:
América 2×2 Joinville
Estádio: Ernesto Sobrinho
América 0x2 Villa Nova
Estádio: Serra Dourada
América 5×0 Tuna Luso
Estádio: Independência

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(FOTO: Reprodução – Super Esportes)

 

Quadrangular Final

Jogos: Quadrangular Final Série B 1997

Turno:
América 2×0 Villa Nova
Estádio: Serra Dourada
América 2×0 Náutico
Estádio: Independência
América 0x0 Ponte Preta
Estádio Independência

Returno:
América 0x1 Ponte Preta
Estádio: Moisés Lucarelli
América 2×0 Náutico
Estádio: Aflitos
América 1×0 Villa Nova-GO
Estádio: Independência

1a rodada: Calando o Serra-Dourada

O Coelho estreou no quadrangular final contra um adversário conhecido da competição: Foi a sétima partida entre América e Villa Nova-GO durante a Série B, contra quem o Coelho jogou 8 vezes ao todo, pela primeira, segunda e última fase. Até a fase final, o desempenho era favorável aos americanos (3 vitórias, 2 empates e 1 derrota), o que sugeria que o América pudesse estrear o quadrangular com o pé direito. Não deu outra: Inspirado pelo monumental Serra Dourada, o América conseguiu apenas sua terceira vitória como visitante até então: 2×0. A goleada do Náutico por 3×0 sobre a Ponte Preta colocou o Timbu na liderança pelo critério do Saldo de Gols.

2a rodada: O jogo da liderança

Na segunda rodada, América e Náutico se enfrentaram no Independência em uma partida que valia a liderança do quadrangular. O jogo foi difícil, mas o iluminado Tupãzinho, artilheiro da competição, garantiu a vitória e o primeiro lugar do América (2×0), que mantinha a invencibilidade como mandante que pairou durante todo certame. A Ponte venceu o Villa e empatou na segunda colocação com o Náutico.

3a rodada e 4a rodada: A Ponte-Preta de Pepe

No último jogo do primeiro turno do quadrangular, o Coelho enfrentou a Macaca, no Independência. Vice-campeã e classificada para a Série A de 98, a Ponte-Preta era comandada por Pepe (campeão brasileiro como treinador e jogador) e tinha Régis Pitbull como principal artilheiro. O time de 97 da Ponte também é lembrado com saudosismo pelos torcedores do time paulista. No fim, o duelo equilibrado no Horto não saiu do zero. Se em casa foi difícil, fora dela prometia ser pior.

Pela quarta rodada do quadrangular, a torcida alviverde armou uma grande caravana para acompanhar o América em Campinas, mas assistiu o time perder a liderança com uma vitória apertada da Ponte (1×0). Após a partida, houve tumulto entre as torcidas adversárias, o que afastou grande parte dos americanos do jogo decisivo contra o Náutico, em Pernambuco.

5a rodada: O jogo do ano

Com a derrota para a Ponte Preta, o América precisava vencer o Náutico, no Recife, para conseguir acesso à Série A de 1998. Missão ingrata, ainda mais para um clube copeiro que conseguiu apenas 3 vitórias fora de casa em toda competição. Para piorar, havia sido o mesmo Náutico quem eliminara o Coelho da Série B um ano antes.

Em um Estádio dos Aflitos completamente tomado pelos alvirrubros, ambas as equipes encararam o jogo do ano. Porém, contra tudo e contra todos, quem fez história foi o América, que superou a pressão dos pernambucanos e o velho dilema de não jogar bem fora de casa para vencer uma partida que foi considerada épica pelos torcedores. Com dois gols marcados por jogadores criados nas categorias de base do clube (ambos no segundo tempo), o Coelho venceu por 2×0, repetindo o placar do Independência.

Primeiro, foi a vez de Rinaldo, eleito o melhor da Copa SP 1996, que marcou um golaço de cobertura. Na sequência, Irênio, um dos cinco jogadores que mais vestiram a camisa do América, marcou um dos gols mais importante de sua carreira no clube – em um petardo de fora da área que garantiu o silêncio dos Aflitos.

Após a vitória heróica do Coelho, a torcida do Náutico invadiu o gramado para agredir seus jogadores, em um tumulto generalizado. Em meio à pancadaria, o América voltou para casa precisando de uma simples vitória no Independência sobre o Villa Nova de Goiás para garantir o acesso e, de quebra, o primeiro título nacional de sua história. A festa estava pronta.

Com a derrota para a Ponte Preta, o América precisava vencer o Náutico, no Recife, para conseguir acesso à Série A de 1998. Missão ingrata, ainda mais para um clube copeiro que conseguiu apenas 3 vitórias fora de casa em toda competição. Para piorar, havia sido o mesmo Náutico quem eliminara o Coelho da Série B um ano antes.

Em um Estádio dos Aflitos completamente tomado pelos alvirrubros, ambas as equipes encararam o jogo do ano. Porém, contra tudo e contra todos, quem fez história foi o América, que superou a pressão dos pernambucanos e o velho dilema de não jogar bem fora de casa para vencer uma partida que foi considerada épica pelos torcedores. Com dois gols marcados por jogadores criados nas categorias de base do clube (ambos no segundo tempo), o Coelho venceu por 2×0, repetindo o placar do Independência.

Primeiro, foi a vez de Rinaldo, eleito o melhor da Copa SP 1996, que marcou um golaço de cobertura. Na sequência, Irênio, um dos cinco jogadores que mais vestiram a camisa do América, marcou um dos gols mais importante de sua carreira no clube – em um petardo de fora da área que garantiu o silêncio dos Aflitos.

Após a vitória heróica do Coelho, a torcida do Náutico invadiu o gramado para agredir seus jogadores, em um tumulto generalizado. Em meio à pancadaria, o América voltou para casa precisando de uma simples vitória no Independência sobre o Villa Nova de Goiás para garantir o acesso e, de quebra, o primeiro título nacional de sua história. A festa estava pronta.

6a rodada: O jogo do título

Todos sabiam que aquele clube que havia vencido 11 e empatado 2 das 13 partidas que jogou em Belo Horizonte, dificilmente perderia para o Villa Nova – contra o qual jogou 5 vezes na competição (Primeira, Segunda e Terceira Fase), ganhou três, empatou uma, e perdeu apenas uma, fora de casa.

Apesar do empate bastar para recolocar o clube na Primeira Divisão, a torcida queria a vitória para alcançar seu primeiro título brasileiro.

Em um Independência com 15.493 pagantes (lotação máxima à época), o América confirmou as expectativas e venceu o jogo, pelo apertado placar de 1×0, com um gol de falta do iluminado atacante Celso, xodó dos americanos e conhecido pelos gols importantes que marcou.

O triunfo garantiu o título nacional do América e uma histórica festa no Independência, quando toda torcida invadiu o gramado. Até o governador Eduardo Azeredo, ilustre americano e primeiro governador mineiro nascido na capital, estava presente.  O político chegou a declarar: “

Depois, a festa seguiu para a Savassi, enquanto os jogadores iriam comemorar o título em uma churrascaria. Os milhares de americanos presentes comemoraram em campo, com seus jogadores aos braços, o desfecho heróico de uma campanha memorável. Depois de dois anos ausente de competições nacionais, o América ressurgiu das cinzas com uma conquista que lhe valeu um lugar que é seu por direito.

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Artilheiro dos gols importantes, Celso anotou o gol do título do Coelho contra o Villa Nova. (Reprodução: Super Esportes)

Copa Sul-Minas (2000)

Campeão da Copa Sul-Minas de 2000

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As margens do tradicional torneio Rio/São-Paulo e dos grandes públicos produzidos pela Copa do Nordeste, equipes de Estados fortes no futebol brasileiro, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, julgaram não estar disputando um campeonato regional de nível técnico considerável: afinal, a Copa Centro-Minas não tinha muito apelo entre os mineiros assim como a Copa Sul não oferecia grande desafio aos gaúchos. Durante um período, até foi considerada a inclusão dos clubes de Minas Gerais ao torneio Rio-SP, com a criação da Copa Sudeste, mas a solução não abrangia as equipes da região sul. A alternativa então ficou clara: incluir os clubes de Minas Gerais do Sul do Brasil na mesma competição regional.

Assim foi criada a Copa Sul-Minas, fadada a ter poucos anos de vida, morrendo junto a todos os outros torneios regionais brasileiros no ano de 2002. Porém, a tentativa de criar um campeonato regional de alto nível técnico fora do eixo Rio-SP deu certo – mesmo que apenas por 3 anos -, já que a competição teve formação equilibrada e reuniu equipes importantes do futebol brasileiro:

– Minas Gerais: América, Atlético e Cruzeiro;
– Rio Grande do Sul: Grêmio, Inter e Juventude;
– Paraná: Atlético-PR, Coritiba e Paraná Clube;
– Santa Catarina: Avaí, Figueirense e Grêmio Maringá.

Isso significa dizer que estiveram presentes no torneio 10 equipes campeãs nacionais e 5 equipes campeãs do Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão (o Atlético-PR seria campeão do Brasileirão apenas um ano depois, em 2001).

Mesmo diante de fortes adversários, o América teve o brilho e a raça necessária para ser o primeiro campeão da respeitável competição: Depois de eliminar adversários como o Internacional do tetra-campeão Dunga e do penta-campeão Lúcio, e o Atlético-PR campeão brasileiro na temporada seguinte, o Coelho levou a taça depois de duas vitórias inesquecíveis sobre seu grande rival Cruzeiro em pleno Mineirão. Sem dúvidas, trata-se de um dos grandes títulos da história americana, não só pela qualidade técnica das equipes participantes, como por toda superação, heroísmo e emoção envolvida durante a campanha.

pintado e zé

O capitão Pintado e o artilheiro Zé Afonso estão consagrados como dois grandes símbolos do título regional de 2000.

REGULAMENTO

Um total de 12 equipes distribuídas em 3 grupos duelaram em jogos de ida e volta. As equipes na primeira colocação se classificaram para as semifinais, acompanhadas do melhor 2º colocado entre os 3 grupos. As eliminatórias foram disputadas em jogos ida e volta. O campeão do torneio garantia lugar na Copa dos Campeões (2001), que reunia todos os campeões regionais do Brasil, oferecendo uma vaga na Copa Libertadores da América.

PRIMEIRA FASE

Classificação
Clube                                 PG    J      V      E       D       GP     GC   SG
América-MG                      11    6      3       2       1       10      5       5
Atlético-PR                         11    6      3       2       1        14     10     4
Internacional RS                 9     6      2       3       1        7       5       2
Avaí SC                                     6      0      1      2        3      14    -11

Partidas (primeira fase):
 rodada: Internacional-RS 0x1 América-MG;
 rodada: América-MG 4x1 Atlético-PR;
 rodada: América-MG 2x0 Avaí;
 rodada: Atlético-PR 3x2 América-MG;
5ª rodada: América-MG 1x1 Internacional-RS;
6a rodada: América-MG 0x0 Avaí

JOGOS DE IDA

Com seriedade e comprometimento, o América tratou a Copa Sul-Minas como prioridade desde o início da competição, encarnado na filosofia de “uma final por vez”, e não à toa, os jogadores anunciavam o sonho de ir longe na competição desde as primeiras partidas durante as entrevistas e coletivas de imprensa. Além disso, os dirigentes do clube foram os principais idealizadores da competição e tinham grande desejo de ver o América fazer uma boa campanha no torneio.

O foco e comprometimento tiveram resultados imediatos: O América teve 100% de aproveitamento nas três rodadas que abriram a competição, conquistando resultados convincentes.

Já na primeira rodada, o Coelho surpreendeu o Internacional, em pleno Beira-Rio, com uma vitória suada por 1×0, gol do lateral Rui “Cabeção”. Na sequência, Palhinha e Fabrício garantiram uma vitória tranquila sobre o Avaí no Independência por 2×0. Na terceira rodada, o time mostrou que estava mesmo entrosado e goleou em casa o Atlético-PR por 4×1, gols de Pintado, Rinaldo e 2 do Fabrício), resultado que alavancou de vez a moral daquela equipe que liderava o grupo B e já sonhava com vôos mais altos.

JOGOS DE VOLTA

Nos jogos de volta, a classificação até esteve ameaçada por alguns momentos, mas o Coelho soube reagir como um campeão. Na quarta rodada, o Atlético-PR aplicou a única derrota do América na competição: 3×2, na Arena da Baixada (os dois gols americanos marcados por Wellington Amorin). Após empatar sem gols com o Avaí no estádio da Ressacada, um empate contra o Inter bastava para a classificação. Porém, em caso de vitória colorada, o Coelho estava desclassificado.

A partida que decidiu a vaga no mata-mata foi emocionante e esteve aberta até os últimos minutos. O Inter instaurou o desespero no Horto aos 28 minutos do 2o tempo, quando abriu o placar com gol do zagueiro Lúcio, futuro capitão da Seleção Brasileira. Alguns americanos já haviam perdido a esperança, quando o iluminado Zé Afonso, ex-jogador do  Grêmio e antigo algoz colorado, marcou o gol do empate, apenas aos 39 de etapa final, garantindo o delírio do Independência. Fim de jogo: 1×1, vaga assegurada e o Internacional do tetra-campeão Dunga e do penta-campeão Lúcia era eliminado pelo América pela segunda vez em três anos, uma vez que o Coelho também despachou o Inter das oitavas de final da Copa do Brasil de 1998.

O resultado garantiu os 11 pontos necessários e idênticos aos do Atlético-PR, mas que conferiam o primeiro posto do grupo A ao Coelho em razão do saldo de gols. O Internacional de Porto Alegre, um dos grandes favoritos ao título, ficou em terceiro, com apenas duas vitórias, sendo eliminado diretamente pelo América.

WP vs inter... (avacoelhada)

O zagueiro Wellington Paulo, autor de mais de 300 partidas pelo América, não poupou nas botinadas e a equipe colorada foi eliminada da competição após empate por 1×1 contra o Coelho, que também já havia eliminado o Inter da Copa do Brasil de 98. (Reprodução: Acervo Torcida Desorganizada Avacoelhada)

Semifinais:

Primeiro jogo: América 2×2 Atlético-PR

As semifinais da Sul-Minas apresentou um duelo equilibrado entre duas formações históricas que estão guardadas com muito carinho na memória de suas respectivas torcidas: América, campeão regional de 2000 e estadual de 2001, versus Atlético Paranaense, campeão estadual de 2000 e nacional de 2001.

O rival era um adversário conhecido do América naquela época. Ambos os clubes já haviam se enfrentado duas vezes durante a primeira fase, com uma vitória em casa de cada lado (4×1 pro Coelho no Independência e 3×2 pro Furacão na Arena da Baixada), além de outros duelos pela Copa João Havelange, equivalente ao Campeonato Brasileiro. Se o confronto terminou com uma vitória para cada lado durante a fase de grupos, a semifinal prometia ser interessante e não decepcionou.

Ambas as equipes empataram na primeira colocação do grupo I em número de pontos, o que já sugeria equilíbrio desde então. O América ficou com a primeira vaga apenas no saldo de gols, enquanto o Atlético se classificou para a semifinal como o melhor segundo colocado dos três grupos, e a goleada no Independência influenciou diretamente nesse aspecto. Muito graças aquela goleada por 4×1, que acabou valendo muito mais que 3 pontos, o América pôde decidir a semifinal no Independência, o que viria a ser decisivo para a classificação da equipe.

Cruzeiro e Paraná disputaram a outra semifinal. Curiosamente, os clubes gaúchos, tidos como favoritos a uma possível final, foram previamente eliminados durante a fase de grupos, diante da boa fase de algumas equipes mineiras e paranaenses durante o início dos anos 2000.

Melhor 2º colocado entre os 3 grupos, o time atleticano derrotado pelo América possuía a escalação mais vencedora de sua história, famosa por ser campeão brasileiro no ano seguinte. No rubro-negro paranaense, brilhavam jogadores como Kléberson, convocado para a Copa do Mundo de 2002, os atacantes Ilan e Kléber Pereira, artilheiros da edição de 2000 da Sul-Minas, além do atacante revelado pelo América, Alex Mineiro, artilheiro e craque do Brasileirão 2001.

Apesar do embalo paranaense, o Coelho não temeu à grande equipe rubro-negra e se impôs rumo à final desde o primeiro minuto da primeira partida das semifinais. Por pouco, não conseguiu um resultado heroico, quando vencia na Baixada por 2×1, gols de Palhinha e Zé Afonso. Porém, já nos acréscimos, uma falha do ídolo Milagres permitiu o empate dos atleticanos. Ironicamente, o futuro herói do título voltou para casa como o vilão da primeira partida das semifinais.

Apesar do empate com gosto amargo, uma vitória simples em casa bastaria para a classificação americana. Mas se tratando de América, nada é simples, e uma vitória simples, nunca é tão simples assim…

América 2(4)x(2)2 Atlético-PR

Apesar do entusiasmo da torcida americana, que compareceu em bom público no estádio do Independência rumo à final da Copa Sul-Minas, o Atlético-PR não se deu por vencido e viajou à Belo Horizonte sabendo que precisava marcar gols para sonhar com a final do torneio. Enquanto muitos previam postura cautelosa dos paranaenses e um jogo baseado no contra-ataque, o time do Atlético, pelo contrário, preferiu provar da força que lhes tornou campeão brasileiro no ano seguinte, apresentando um futebol ofensivo e pressionando o Coelho desde o início, mesmo jogando fora de seus domínios.

O América foi pego de surpresa com a ofensividade do adversário e os rubro-negros aproveitaram para abrir o placar com Kléber Pereira, de cabeça. Pouco depois, quase aprontaram um desastre no Horto, quando marcaram mais um com Luizinho, de pênalti, além de carimbar a trave americana com um chute de fora da área. Fim do primeiro tempo e o placar apontava 2×0 para os visitantes.

Sentindo a pressão do momento histórico, o Coelho demorou a assimilar o tamanho da ocasião, mas a torcida americana, famosa pela cobrança do bom futebol, tratou de lembrar. Sem conseguir tolerar a apatia da equipe, a torcida presente no Horto despejou vaias para todos os lados, chegando a criticar até os grandes ídolos da equipe. No entanto, as reclamações vindas das exigentes arquibancadas do Independência parecem ter surtido efeito, já que o América voltou diferente para o segundo tempo, demonstrando, enfim, estar à altura do desafio.

Renovado pela bronca do técnico no vestiário, o time voltou disposto a doar 110% de suas forças em busca do resultado histórico. Com raça, vontade e sorte de campeão, o Coelho provou que tinha o necessário para ir à final.

Primeiro, brilhou a estrela do veterano e craque Palhinha, que diminuiu o placar com um dos gols mais importantes de sua carreira pelo América. Vale lembrar que o famoso atacante americano marcou no jogo de ida e volta, sendo um dos grandes personagens do título.

O Atlético continuou a pressionar após o 1×2, mas Milagres, o vilão do jogo de ida, ia se tornando o herói do jogo da volta, salvando a meta alviverde com defesas à altura de seu nome. O jogo permaneceu intenso e tumultuado até fim.

Após algumas chances desperdiçadas por ambos os lados, o atacante Rinaldo disparou em contra-ataque quando ninguém mais esperava, e serviu o artilheiro Zé Afonso com belo passe na entrada da área. Aos trancos e barrancos, o artilheiro ainda teve tempo de limpar um zagueiro antes de empatar a partida: 2×2! Na comemoração, Zé imita um Coelho e promove o delírio geral no Horto. Depois de estar perdendo por 2×0 no placar, o América conseguiu o empate histórico com a força de sua torcida.

Minutos depois, o mesmo Rinaldo quase selou a vaga americana na final: Porém, “cara a cara” com o goleiro, desperdiçou a chance do gol, de sua consagração definitiva e de protagonizar uma das maiores viradas da história do clube. Depois de dois resultados idênticos e constantes reviravoltas no placar, a emocionante semifinal foi decidida nos pênaltis. Um confronto à altura das duas formações históricas.

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Craque Palhinha em ação contra o Atlético-PR, em partida válida pelas semifinais da Copa Sul-Minas. (Reprodução: Acervo Torcida Desorganizada Avacoelhada)

O clima era tenso. Ambas as equipes converteram as duas primeiras penalidades. Logo após o América converter a terceira cobrança, coube ao ídolo Milagres finalmente se redimir da falha no jogo anterior, com bela defesa durante o pênalti cobrado por Luizinho, ironicamente o autor do segundo gol do jogo. Na sequência, o meio-campo Tucho converteu e fez 4×2 para os alviverdes.

Quando o atleticano Marco Antônio se aproximou da marca da cal para cobrar o quarto pênalti de sua equipe, a pressão foi grande. Em suas pernas estava o destino de duas equipes. Em seus ombros, todo peso do Horto. Caso perdesse, era o fim dos paranaenses na competição, e os americanos fizeram sua parte, com uma chuva de xingamentos ao jogador. Não deu outra: pressionado pela torcida, o jogador chutou para fora as chances de classificação de sua equipe. O estádio desabou! Glória e drama no Independência! O O Coelho consegue mais uma final, a terceira grande decisão do clube em 4 anos (97, 99, 00).

Um desempenho que reflete toda energia e sinergia do Independência durante àqueles bons tempos americanos. Vale lembrar que, somando o título estadual de 2001, o América alcançaria três finais consecutivas (99, 00, 01), além de 3 títulos (97, 00, 01) em 5 anos. Foi o último grande momento da história recente americana por muito tempo.

Final: América x Cruzeiro

Com a vitória do Cruzeiro sobre o Paraná, o clássico mineiro superou o paranaense durante a decisão da Copa Sul-Minas. Como reza o figurino de uma boa final mineira, o estádio Mineirão foi o palco das duas partidas. Para o Cruzeiro, bastava um empate, já que a equipe havia tido a melhor campanha que o Coelho.

O time da toca da raposa contava com jogadores conhecidos, como  Muller (campeão de tudo com o São Paulo) e Viveros (jogador da Seleção Colombiana), além do folclórico atacante Óseas, e do treinador Paulo Autuori, campeão brasileiro com o Botafogo (1995) e mundial com o São Paulo (2005). Mas acabou não sendo suficiente para deter Palhinha, Pintado, Milagres, Zé Afonso, Wellington Paulo e Dênis.

Primeiro jogo: América 1×0 Cruzeiro

O Coelho venceu a primeira partida das finais pelo apertado placar de 1×0, após pênalti marcado em Palhinha e convertido pelo experiente Pintado, aos 36’ do 1º tempo. O Coelho foi superior durante a partida e teve chances claras de abrir maior vantagem para o segundo jogo. No fim, não ter feito mais gols quase foi fatal para as ambições dos americanos.

Segundo jogo: América 2×1 Cruzeiro

Na segunda partida, as arquibancadas do Mineirão se entupiram para assistir ao jogo que definiria qual a equipe mineira seria campeã da primeira edição da Copa Sul-Minas. O Cruzeiro, como clube de melhor campanha, precisava apenas de uma vitória simples para levar o troféu sem prorrogação ou pênaltis. A torcida celeste era ampla maioria no Mineirão, mas a minoria mineiro-americana estava agigantada em entusiasmo e vibração.

No início da partida, como já era previsto, a Raposa partiu com tudo pra cima do Coelho. Ora com Muller, ora com Óseas, a equipe de Paulo Autuori procurou exaustivamente o primeiro gol, mas sequencialmente foi interrompida pelas inspiradas defesas do goleiro Milagres que, naquela noite, mais do que nunca, imortalizou seu status de ídolo do Coelho.

Salvo algumas poucas chances, o América só se defendia da ”blitzkrig” cruzeirense. Mas aos 34 minutos, a retranca enfim cedeu, quando o lateral Estevam cometeu pênalti sobre o colombiano Viveiros. Dessa vez, nem Milagres fez milagre: bola de um lado, goleiro de outro, e o Cruzeiro estava na frente. Nos últimos minutos da primeira etapa, ainda houve tempo para Oséias, livre de marcação, carimbar a trave americana. Por capricho de um destino já selado, o Cruzeiro não abriu um placar que dificilmente seria revertido.

Fim do primeiro tempo e o jogo estava aberto. Os americanos não sabiam o que esperar. Mas, contra tudo e contra todos, o Coelho fez uso de sua tradição para levar o título para o Horto. Cada dividida tinha o peso de uma história, e os jogadores do América demonstraram foco, raça e muita paixão para buscar a taça na segunda etapa.

No reinício da partida, o Cruzeiro até ameaçou alguma pressão, mas, pouco a pouco, a agressividade cessou diante da voluntariedade dos americanos em cada jogada. Em um piscar de olhos, aqueles que vestiam verde e negro se agigantaram sobre os trajados de azul. No espetáculo do Coelho, a Raposa se tornou coadjuvante.Sem dar chance ao azar, o time alviverde voltou a ter o brilho que o levou a final. ​

O escolhido foi Zé Afonso, o mesmo que decidiu as semifinais e o primeiro lugar do grupo durante a primeira fase. Após passe caprichado do craque Palhinha, o iluminado atacante invadiu a área e bateu de bico na bola. Por força de um detalhe imperceptível, a pelota desviou no zagueiro celeste e morreu no ângulo adversário. Já estava escrito: Um grito, contido há eras e gerações, explodia em um só som. Empate do América!

Na jogada seguinte, o Coelho mostrou que estava mesmo embalado rumo ao título quando o mesmo Zé Afonso arrancou em um contra-ataque que levou abaixo o Gigante da Pampulha. Perseguido pela defesa cruzeirense, o artilheiro disparou da intermediária e carregou a bola até as redondezas da área, quando um zagueiro desesperado o derrubou. Apesar de ser derrubado fora da área, o árbitro marcou pênalti. No entanto, o capitão Pintado, símbolo da equipe e autor do gol que definiu a vitória na primeira final, surpreendentemente desperdiçou a cobrança.

Porque nem tudo são flores, porque pênalti mal marcado não entra, porque um título histórico não poderia estar marcado por um gol irregular. Porque ganhar com pênaltis inexistentes não faz parte da identidade americana, perder com um pênalti inexistente é que faz.

Poderia ser a hora da balança do destino virando para o lado de lá, como tantas vezes, lamentavelmente, ocorreu na centenária e romântica história americana. Mas o destino já estava traçado e apenas por mais um de seus caprichos não deixou que uma noite tão mágica ficasse manchada com um pênalti mal marcado. A boa despedida pedia um golaço. E coube ao jovem Álvaro de apenas 20 anos cumprir o papel de herói.

O jogador, futuro ídolo de times da Suécia, substituiu o identificado Rinaldo e não precisou nem de 10 minutos para marcar o gol que consagrou sua carreira. Aos 42 minutos do segundo tempo, o volante interceptou um passe antes do meio de campo e arrancou em disparada.

Álvaro limpou quem apareceu pela frente e decidiu que só ia parar dentro do gol. Dois adversários já se haviam ido enquanto o jovem volante apostava corrida rumo a meta celeste e mais zagueiros chegavam para obstruir a jogada Mas, com a ginga dos deuses, Álvaro fez que foi, não foi, e deixou mais um deitado. Sozinho, bateu com tranquilidade no canto, enquanto adversários jogados ao relvado assistiam a bola graciosamente beijar as redes. Foi o gol do êxtase, do sonho, da vida, de uma história! Coelho campeão, e a galeria, enfim, estava completa, com taças em nível nacional, regional e estadual compondo o eterno museu americano.

Campeonato Mineiro (2001)

Campeão Mineiro de 2001

campeao mineiro 2001 c legenda

O América venceu seu décimo quinto e último título estadual em 2001. Com um time majoritariamente formado por jogadores pratas da casa, a conquista representou a consagração final das categorias de base do clube, que já havia vivenciado tempos vencedores e revelado grandes jogadores durante a década passada. Afinal, nada menos que 10 entre os 11 titulares do time campeão foram formados no próprio América e apenas o goleiro Fabiano não advinha da base alviverde. O zagueiro Wellington Paulo, maior revelação americana daquele ano e autor de mais de 300 partidas pelo clube, ficou marcado como capitão da conquista: Foi o quarto título do jogador pelo clube, entre 6 no total, o segundo como titular e o primeiro como capitão.

O título também consagrou o América como o primeiro campeão estadual do novo milênio e completou um importante ciclo de conquistas e grandes decisões do clube desde a aquisição do estádio do Independência. Afinal, ao levantar a taça de 2001, o América comemorou 4 títulos em 8 anos pela primeira vez em sua história como clube profissional. Além disso, a dobradinha de títulos Sul-Minas 2000-Mineiro 2001 foi a primeira vez que o América conquistou dois títulos em um espaço tão curto de tempo desde 1948 e também foi a primeira vez desde 1957-59 que o América participou de três finais consecutivas. Por essas e outras que o título de 2001 pode ser considerado a conquista que consagrou de vez a “Era Independência”, responsável por revolucionar a história do América com com quatro títulos, quatro finais, três vice-campeonatos e mais outros 2 títulos nacionais em nível de base em menos de 9 anos.

A conquista foi ainda mais emocionante por todo drama e superação envolvido durante campanha e finais: Após vencer apenas uma entre as sete partidas iniciais, o Coelho esteve ameaçado de ser rebaixado para a Segunda Divisão do Campeonato Mineiro pela primeira vez na história, mas protagonizou uma memorável volta por cima, com 9 vitórias em 11 jogos. Curiosamente, o desempenho foi muito semelhante à campanha do décimo terceiro título estadual do clube em 1957, quando o América também reagiu com 9 vitórias em 11 partidas após início turbulento, sem vitória nas 5 partidas iniciais.

Durante as duas finais que decidiram a competição contra o Atlético, Na primeira partida, todos pensaram que a fatura já estava resolvida quando o Coelho deu um baile no Mineirão e goleou seu rival pelo histórico placar de 4×1. Mas clássico é clássico, e ,na segunda final, a equipe alvinegra chegou a abrir 3×0 no marcador, resultado que levaria a partida para os pênaltis. Os americanos já previam o pesadelo quando o jovem atacante Alessandro saiu do banco de reservas para marcar o primeiro dos tantos gols importantes que fez pelo Coelho, garantindo o silêncio da massa alvinegra e o delírio da minoria esclarecida americana do Mineirão.

No fim, as finais acabaram sendo o reflexo da campanha americana: Caracterizada pelos altos e baixos, pelo contraste entre céu e inferno, mas, sobretudo, pela valentia de uma juventude que superou todas dificuldades e preferiu ficar na história como o primeiro campeão mineiro do século, do que como a primeira equipe do América a ser rebaixada no estadual.

Comandada por Lula Pereira em parceria com Procórpio Cardoso (grande jogador de América e Cruzeiro durante os anos 1960), a garotada do Coelho acumulou 10 vitórias, 2 empates e 7 derrotas em 19 jogos, com 30 gols marcados e 22 sofridos. O atacante Rodrigo foi o artilheiro do América na competição, com 8 gols, enquanto Wellington Paulo foi o capitão da conquista, naquele que foi seu quarto título pelo clube.

CAMPANHA:

18 jogos:

PRIMEIRA FASE:

Ao somar apenas uma vitória nos sete jogos iniciais da competição, o futuro campeão América chegou a estar a ameaçado de ser rebaixado no Campeonato Mineiro pela primeira vez na história, para as muitas críticas da torcida e imprensa. No entanto, quando ninguém mais acreditava, a molecada americana enfim demonstrou sua qualidade e reagiu com 5 vitórias consecutivas – desempenho que livrou o time do descenso e, de quebra, garantiu um lugar na fase seguinte.

Jogos – Primeira fase – Estadual 2001:
28/01: América 1×1 Rio Branco
Cidade: Andradas
04/02: América 0x0 Ipatinga
Estádio: Independência
10/02: América 1×4 Cruzeiro
Estádio: Mineirão
18/02: América 2×0 Uberlândia
Estádio: Independência
24/02: América 1×2 Villa Nova
Estádio: Independência
04/03: América 2×3 Mamoré
Cidade: Mamoré
12/03: América 2×1 Caldense
Estádio: Independência
07/03: América 0x1 Atlético
Estádio: Mineirão
25/03: América 4×0 Guarani
Estádio: Independência
01/04: América 2×1 URT
Estádio: Independência
07/04: América 1×0 Democrata-GV
Cidade: Governador Valadares

SEGUNDA FASE:

O desacreditado time americano de 2001 protagonizou uma grande volta por cima na segunda fase do torneio, quando deixou de ser um time ameaçado pelo rebaixamento para se tornar um verdadeiro candidato ao título. Depois de um início decepcionante, o Coelho mais uma vez surpreendeu a todos ao reagir com 9 vitórias e 2 empates em 11 jogos entre a primeira e segunda fase da competição, desempenho que garantiu a primeira colocação do Campeonato e uma vaga na final contra o Atlético.

A partida que decidiu a vaga americana nas finais ocorreu principalmente no clássico contra o Cruzeiro, pela quinta rodada, quando o América se vingou da derrota por 4×1 na primeira fase e goleou seu rival por 4×2. Bastou mais uma vitória  e ainda venceu o Ipatinga, fora de casa, por 1×0, na rodada final.

Com 3 vitórias e 3 empates em 6 jogos, o Coelho terminou a segunda fase de forma invicta, com 14 pontos, enquanto o clube rival se classificou na segunda posição com 10. A decisão teve um gostinho ainda mais especial para os americanos porque o adversário era o mesmo da última final estadual disputada pelo clube em 1999. Era a oportunidade de vingança.

América 4×1 Atlético

O CLÁSSICO DAS MULTIDÕES

Em 2001, América e Atlético decidiram o Campeonato Mineiro de forma direta ou indireta pela décima sexta vez na história, entre 17 no total. Ao todo, foram 8 títulos do Coelho (1916-17-18, 1921, 1923, 1948, 1993 e 2001) contra 9 do Galo (1915, 1927, 1939, 1942, 1949, 1958, 1995, 1999 e 2012), em um confronto histórico que predomina o equilíbrio.

PRIMEIRA PARTIDA – BAILE

A primeira partida das finais do Campeonato Mineiro de 2001 foi uma espécie de “jogo dos sonhos” para os torcedores americanos, que saíram do Mineirão de alma lavada após uma histórica goleada por 4×1 sobre seu maior rival.

O JOGO

O Coelho abriu o placar com menos de 5 minutos de jogo, quando o meia Fabrício, titular da equipe desde o título regional no ano anterior, cruzou na medida para o capitão e ídolo Wellington Paulo marcar, de cabeça, o gol mais importante de suas 315 partidas pelo clube.

O Atlético ainda tentava reagir, mas, aos 18 minutos, o lateral Ruy arremessou com força uma cobrança de lateral, que surpreendentemente deixou Tucho na cara do gol. Considerado a “Revelação do Campeonato”, o meio-campo não desperdiçou a oportunidade e acertou em cheio. O goleiro ainda resvalou na pelota, mas nada pôde fazer: 2×0 para a minoria esclarecida.

Sem capacidade de reação, pouco a pouco, o Atlético se tornava coadjuvante no espetáculo do América, que ainda marcou o terceiro antes dos 30: Aos 28 minutos, o herói póstumo Claudinei (jogador de grande talento, mas tragicamente falecido em 2004) fez uma jogada imortal pela lateral e serviu o artilheiro Rodrigo, que não titubeou em decretar a goleada: 3×0 e os americanos ainda se beliscavam sem saber se era sonho ou realidade.

Na sequência, aos 32, o rival enfim diminuiu o placar, quando Marques alçou bola na grande área e Gilberto Silva, por ironia do destino, marcou contra seu primeiro clube, o que voltaria a acontecer na segunda final. Mas o Coelho não permitiu a reação do rival e cozinhou o restante da partida com uma dura marcação, isso pra não dizer que cozinhou o Galo. Com a experiência que muitos pensavam que aquela juventude não tinha, o América administrou a partida embalado pelo nervosismo de seu adversário. Quando o Atlético já perdia as esperanças de empatar a partida, se contentando em tentar marcar um gol para diminuir a vantagem, foi aí que o América deu o último golpe de misericórdia, no seu tradicional contra-ataque. Aos 38 minutos do segundo tempo, após falha do zagueiro atleticano, a bola sobrou para Rodrigo, artilheiro americano na competição, que disparou como uma Ferrari em direção ao gol adversário e finalizou por debaixo das pernas do goleiro. Parecia o Ronaldo de verde-negro! Golaço!

Podem fechar os portões! 4×1 para o América! Uma goleada histórica que deixou o time muito perto do título. No fim, o quarto gol provou ser decisivo para a grande conquista americana. 

“O time não pode ser tão ridículo assim numa final. Tem gente aqui que não sabe que isso aqui é uma final. Esse time foi ridículo, ridículo! Desanima bastante.” – Guilherme, camisa 11 atleticano, descrevendo a atuação de sua equipe em entrevista a imprensa após o primeiro jogo das finais.

América 1×3 Atlético

O Atlético fez de tudo para acabar com a festa do América na segunda partida das finais, mas o Coelho resistiu e conseguiu ser campeão com a derrota mais saborosa de sua história. Depois de quase colocar tudo a perder e chegar a estar perdendo por 3×0 – resultado que levava a partida aos pênaltis – o jovem Alessandro foi o escolhido para marcar o gol da redenção americana, que garantiu o título do clube no placar agregado por 5×4.

CAMPEÃO DO APAGÃO

O América se recusou a entrar em campo após um “misterioso” corte de energia em seu vestiário e demorou mais de 20 minutos apenas para subir aos gramados. A polêmica causou muita confusão entre os jogadores e a partida começou quase 40 minutos depois do planejado. Desde então, a imprensa já batizava o futuro vencedor como “O Campeão do Apagão”. 

O JOGO

Diante de um Mineirão lotado por cerca de 46.934 pagantes, o América degustou a derrota mais saborosa de sua história com muito drama e emoção.

O time até começou bem a partida, tendo duas chances claras de gol, mas foi prejudicado por um pênalti polêmico, marcado aos 11 minutos do primeiro tempo, tudo que o rival queria. O atacante Guilherme, que tanto criticou a atuação do time no jogo anterior, não desperdiçou: 1×0.

Depois da marcação controversa, o clássico permaneceu lá e cá. Os atleticanos chegavam bem, mas os americanos se defendiam com voluntariedade, dispostos a reagir no contra-ataque. O primeiro tempo terminou 1×0 para o adversário: resultado perigoso, mas de acordo com os planos.

Porém, no início do segundo tempo, o Atlético não demorou em trazer mais emoção a final. Após bate e rebate na área americana, o goleiro Fabiano fez duas milagrosas defesas, mas na terceira tentativa, Gilberto Silva novamente marcou contra seu ex-clube: 2×0, resultado que tornava o pesadelo dos americanos uma possível realidade.

Aos 13 minutos, enfim o pior dos sonhos virou real. Após chute despretensioso de Guilherme, a bola rebateu no defensor americano e sobrou limpa para Lincoln, que marcou um gol confuso. O novo resultado levava a partida para os pênaltis e fazia os americanos questionarem suas religiões.

Como síntese da campanha americana, marcada pelo contraste entre extremos, o Coelho também foi do céu ao inferno do inferno ao céu em questão de minutos durante as finais. Os americanos já estavam de olhos aguados quando o jovem Alessandro substituiu Carlos Alberto aos 27 minutos. Então com 19 anos, o atacante que foi autor de tantos gols importantes pelo clube durante a carreira lavou a alma dos torcedores após um lance iluminado. Desde então, o artilheiro mostrava que tinha estrela com a camisa do Coelho.

Aos 31 minutos, o lateral Ruy fez bela jogada pela esquerda e serviu o bem posicionado atacante, que fugiu do marcador no jogo de corpo pouco antes de receber a bola. Depois, bastou dois toques para ajeitar e finalizar com precisão no canto direito do goleiro Velloso, que ainda resvalou na bola, mas nada pode fazer.

Delírio no Setor 13! 1×3 para o América! Em um Mineirão cheio de lágrimas, em um contraste automático de emoções, enfim, os torcedores americanos voltavam a celebrar suas crenças e religiões. Vítimas dos “Deuses do Futebol”, dessa vez, mais do que nunca, tinham certeza dos planos lá de cima. A emoção pelo gol de Alessandro foi tão grande que  causou o infarte do ilustre torcedor X, torcedor do Coelho há 50 anos. No fim, a paixão do torcedor acabou sendo imortalizada na história do América como um dos contos mais dramáticos e românticos da campanha. O clube homenageou a taça ao seu antigo adepto, que ao menos faleceu em glória com o time do coração -tão do coração, que até causou um infarte. E se você me perguntasse se esse é um bom jeito de morrer…. Bom, eu apenas diria que existem piores.

Na sequência, aos 35’’, por pouco o Coelho não matou a partida, quando Alessandro mostrou que estava mesmo endiabrado, fez um carnaval na defesa atleticana e devolveu a gentileza para Ruy, que o serviu com uma bela assistência no primeiro gol. O lateral chutou na trave e, no rebote, o artilheiro Rodrigo, autor de 2 gols na primeira final, chutou torto e desperdiçou uma chance clara de gol, mesmo com o goleiro Veloso já batido no lance. Mas o atacante americano, artilheiro do time na competição, tinha crédito para ser poupado de maiores críticas, ainda mais em função do desfecho vencedor.

Nos minutos finais, o Atlético ainda teve mais duas boas oportunidades para tentar levar o clássico aos pênaltis, mas foi interrompido pelo inspirado goleiro Fabiano. Aos 40 minutos, o arqueiro americano fez uma defesa magistral, digna de um quadro, após falta cobrada com perfeição pelo ídolo atleticano Marques. Já aos 48’’, quase na marca do pênalti, o Atlético tentou o último golpe com o zagueiro Lelei, que também foi campeão estadual pelo América, mas o goleiro Fabiano novamente mostrou segurança e garantiu o título.

Bastou mais um minuto para o pesadelo tornar-se sonho e o inferno virar paraíso: O América era campeão mineiro pela décima quinta vez, a oitava sobre o Atlético, igualando-se a seu rival em vitórias em decisão.

A conquista consagrou de vez a “Era Independência”, importante período responsável por revolucionar o clube durante a década de 90, com 4 importantes títulos em 8 anos, feito inédito na história do América como clube profissional. Afinal, como já foi ressaltado, desde 1948, o América não vencia dois títulos em um espaço tão curto de tempo, desde 1957-59 não alcançava três finais consecutivas (1999, 2000 e 2001) e, desde os tempos do deca-campeonato, não vencia final contra o Cruzeiro e Atlético de forma consecutiva (2000 e 2001). Dessa forma, o título de 2001 pode ser considerado a cereja do bolo de um importante ciclo de conquistas do clube desde a aquisição do estádio do Independência. Primeiro campeão mineiro do novo milênio, o América provava de vez que não é só um time do passado, como também é um campeão do futuro.

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O artilheiro Alessandro pedindo o silêncio da torcida atleticana após o gol que garantiu o título do Coelho, durante uma das cenas mais épicas da história do clube. (Fonte: Acervo Mário Monteiro)

Campeonato Brasileiro da Série C (2009)

Campeão Brasileiro da Série C de 2009

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(Foto: Reprodução – Jornal “O Estado de Minas”)

Em 2009, o América renasceu das cinzas com o segundo título brasileiro de sua história, durante a conquista do Campeonato Brasileiro da Série C de 2009. Depois de vivenciar a maior crise de sua vida a partir do rebaixamento no Estadual de 2007, o título nacional da Terceira Divisão deu início a um incrível processo de renascimento que culminaria no retorno à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro em 2010.

O acesso americano foi celebrado nas quartas-de-final contra o Brasil de Pelotas, enquanto o título foi conquistado após duas vitórias nas finais contra o Asa de Arapiraca.

As quartas-de-final foram especialmente emocionantes. Depois de segurar um empate dificílimo por 0x0 no primeiro jogo, disputado fora de casa sob uma forte tempestade, com o campo alagado e com direito a um pênalti desperdiçado pela equipe mandante que garantiu o empate sem gols. No entanto, o resultado era traiçoeiro, já que um empate com gols na segunda partida classificaria o time de Pelotas. Na segunda partida, em um Independência completamente lotado, o América entrou em campo disposto a voltar ao grande cenário nacional. Luciano abriu o placar, mas a equipe visitante empatou no segundo tempo, causando muita tensão no Horto. Quando muitos já xingavam para todos os lados, o América conseguiu marcar 2 gols na segunda metade do segundo tempo para garantir a classificação para a Série B.

 

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CAMPANHA:

Primeiro turno:

América 2×0 Gama
Data: 24/05/2009
Estádio: Independência
Gols: Euller 42’ do 1º tempo, Evanílson 11’ do 2º tempo
Expulsão: Alex Guiero (GAM)
Árbitro: Rodrigo Nunes de Sá (RJ)
Público: 2680

América 2×0 Guaratinguetá-SP
Data: 14/06/2009
Estádio: Independência
Gols: Wellington Paulo 24’ e Euller (pênalti ) 45’ do 2º tempo;
Expulsão: Renato Santiago (GUA)
Árbitro: Wagner do Nascimento (RJ)
Público: 2.672

América 0x0 Ituiutaba
Data: 20/06/2009
Estádio: Fazendinha (Ituiutaba-MG)
Árbitro: Luiz Carlos da Silva (MG)
Horário: 15h00
Público: 943

América 1×0 Mixto
Data: 27/06/2009
Estádio: Geraldão (Cáceres-MT)
Gols: Wellington Paulo 43’ do 1º tempo
Árbitro: Wilson de Souza Mendonça (PE)
Horário: 16h00
Público: 878

América 2×1 Ituiutaba
Data: 05/07/2009
Estádio: Independência
Gols: Irênio 40’ do 1º tempo; Diego Mineiro (ITU) 10’ e Wellington Paulo 45’ do 2º tempo
Expulsões: Rafael Pulga e Diego Mineiro (ITU)
Árbitro: Juliano Lobato (MG)
Público: 2.747

América 0x2 Guaratinguetá-SP
Data: 11/07/2009
Estádio: Professor Dário Rodrigues Leite
Árbitro: Luis Alberto Bites (GO)
Gols: Laércio 3’ e Diego Dedoné 7’ do 2º tempo

América 5×1 Mixto
Data: 19/07/2009
Estádio: Independência
Gols: Valderrama (MIX) 4’ do 1º tempo; Bruno Mineiro 6’ e 16’; Leandro Ferreira 14’; Moisés 36’ e 42’ do 2º tempo
Expulsões: Micão; Finazzi e Bebeto (MIX)

América 0x2 Gama
Data: 02/08/2009
Estádio: Bezerrão
Horário: 16h00
Gols: Doda (pênalti) 42’ do 1º e 43’ do 2º tempo
Público: 4.265

QUARTAS DE FINAL:

América 0x0 Brasil de Pelotas
Data: 09/08/2009
Estádio: Bento Freitas
Árbitro: Arilson Bispo da Anunciação (BA)
Público: 12.386

América 3×1 Brasil de Pelotas
Data: 16/08/2009
Estádio: Independência
Gols: Luciano 41’ do 1º tempo; João Rodrigo (BRA) 8’ Leandro Ferreira 24’ e Bruno Mineiro 26’ do 2º tempo
Árbitro: Wilson de Souza Mendonça (PE)
Público: 9.755

SEMIFINAL:

América 1×2 Guarantinguetá (SP)
Data: 23/08/2009
Estádio: Professor Dário Rodrigues Leite
Gols: Nenê (GUA) 18’ e Diego Dedoné 40’ do 1º tempo; Luciano (pênalti) 20’ do 2º tempo
Árbitro: Wagner Tardelli (SC)

América 2×1 Guarantinguetá (SP)
7×6 nos pênaltis
Data: 30/08/2009
Estádio: Independência
Gols: Samuel, contra (GUA) 7’ e Laércio (GUA) 22’ do 1º tempo; Moisés 34’ do 2º tempo
Árbitro: Luiz Antônio Silva Santos (RJ)
Pênaltis:
Guaratinguetá:
Marcou: Júnior, Renato Santiago, Jackson, Rocha, Diego Dedoné e Rafael Silva;
Perdeu: Diego Araújo
América:
Marcou: Irênio, Zé Eduardo, Fábio Bala, Wellington Paulo, Zé Rodolfo, Bruno Mineiro e Moisés

FINAL:

Primeiro jogo:
América 3×1 Asa
Data: 13/09/2009
Estádio: Coaracy da Mata
Horário: 16h00
Gols: Evanílson 10’, Fábio Bala 15’ e Rodriguinho (ASA) 28’ (pênalti) do 1º tempo; Bruno Mineiro 13’ do 2º tempo
Cartões Amarelos: Paulão, Didira, Júnior Viçosa (ASA); Evanílson e Micão (AFC)
Expulsões: Júnior Viçosa
Árbitro: João Alberto Gomes Duarte (RN)
Público: 9.464
América: Flávio, Micão, Preto e Wellington Paulo; Evanílson, Dudu (Capixaba), Leandro Ferreira, Irênio e Zé Rodolfo; Bruno Mineiro (Yan), Fábio Bala (Zé Eduardo).
Técnico: Givanildo Oliveira
Asa: Tuti, Leandro, Paulão e Edson Veneno; Ricardinho (Flávio), Jota, Ivo (Renatinho), Fábio Lopes (Thiago), Rodriguinho e Didira; Júnior Viçosa.
Técnico: Vica

Segundo jogo:
América 1×0 Asa
Data: 19/09/2009
Estádio: Independência
Horário: 16h00
Gols: Bruno Mineiro 45’ do 2º tempo
Cartões Amarelos:  Flávio, Wellington Paulo, Moisés, Irênio, Preto e Fábio Bala (AFC); Henrique e Nena (ASA)
Expulsão: Henrique (ASA)
Árbitro: Luiz Alberto Sardinho Bites (GO)
Público: 10.828
América: Flávio, Micão, Preto e Wellington Paulo; Evanílson, Danilo, Leandro Ferreira, Irênio (Zé Eduardo) e Zé Rodolfo (Rodrigo); Bruno Mineiro e Fábio Bala (Euller).
Técnico: Givanildo Oliveira
Asa: Tuti, Leandro, Henrique e Edson Veneno; Ricardinho (Flávio), Jota, Ivo, Renatinho(Fábio Lopes); Rodriguinho e Didira; Júnior Viçosa (Thiago).
Técnico: Vica