Campeão da Copa Sul-Minas de 2000

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As margens do tradicional torneio Rio/São-Paulo e dos grandes públicos produzidos pela Copa do Nordeste, equipes de Estados fortes no futebol brasileiro, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, julgaram não estar disputando um campeonato regional de nível técnico considerável: afinal, a Copa Centro-Minas não tinha muito apelo entre os mineiros assim como a Copa Sul não oferecia grande desafio aos gaúchos. Durante um período, até foi considerada a inclusão dos clubes de Minas Gerais ao torneio Rio-SP, com a criação da Copa Sudeste, mas a solução não abrangia as equipes da região sul. A alternativa então ficou clara: incluir os clubes de Minas Gerais do Sul do Brasil na mesma competição regional.

Assim foi criada a Copa Sul-Minas, fadada a ter poucos anos de vida, morrendo junto a todos os outros torneios regionais brasileiros no ano de 2002. Porém, a tentativa de criar um campeonato regional de alto nível técnico fora do eixo Rio-SP deu certo – mesmo que apenas por 3 anos -, já que a competição teve formação equilibrada e reuniu equipes importantes do futebol brasileiro:

– Minas Gerais: América, Atlético e Cruzeiro;
– Rio Grande do Sul: Grêmio, Inter e Juventude;
– Paraná: Atlético-PR, Coritiba e Paraná Clube;
– Santa Catarina: Avaí, Figueirense e Grêmio Maringá.

Isso significa dizer que estiveram presentes no torneio 10 equipes campeãs nacionais e 5 equipes campeãs do Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão (o Atlético-PR seria campeão do Brasileirão apenas um ano depois, em 2001).

Mesmo diante de fortes adversários, o América teve o brilho e a raça necessária para ser o primeiro campeão da respeitável competição: Depois de eliminar adversários como o Internacional do tetra-campeão Dunga e do penta-campeão Lúcio, e o Atlético-PR campeão brasileiro na temporada seguinte, o Coelho levou a taça depois de duas vitórias inesquecíveis sobre seu grande rival Cruzeiro em pleno Mineirão. Sem dúvidas, trata-se de um dos grandes títulos da história americana, não só pela qualidade técnica das equipes participantes, como por toda superação, heroísmo e emoção envolvida durante a campanha.

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O capitão Pintado e o artilheiro Zé Afonso estão consagrados como dois grandes símbolos do título regional de 2000.

REGULAMENTO

Um total de 12 equipes distribuídas em 3 grupos duelaram em jogos de ida e volta. As equipes na primeira colocação se classificaram para as semifinais, acompanhadas do melhor 2º colocado entre os 3 grupos. As eliminatórias foram disputadas em jogos ida e volta. O campeão do torneio garantia lugar na Copa dos Campeões (2001), que reunia todos os campeões regionais do Brasil, oferecendo uma vaga na Copa Libertadores da América.

PRIMEIRA FASE

Classificação
Clube                                 PG    J      V      E       D       GP     GC   SG
América-MG                      11    6      3       2       1       10      5       5
Atlético-PR                         11    6      3       2       1        14     10     4
Internacional RS                 9     6      2       3       1        7       5       2
Avaí SC                                     6      0      1      2        3      14    -11

Partidas (primeira fase):
 rodada: Internacional-RS 0x1 América-MG;
 rodada: América-MG 4x1 Atlético-PR;
 rodada: América-MG 2x0 Avaí;
 rodada: Atlético-PR 3x2 América-MG;
5ª rodada: América-MG 1x1 Internacional-RS;
6a rodada: América-MG 0x0 Avaí

JOGOS DE IDA

Com seriedade e comprometimento, o América tratou a Copa Sul-Minas como prioridade desde o início da competição, encarnado na filosofia de “uma final por vez”, e não à toa, os jogadores anunciavam o sonho de ir longe na competição desde as primeiras partidas durante as entrevistas e coletivas de imprensa. Além disso, os dirigentes do clube foram os principais idealizadores da competição e tinham grande desejo de ver o América fazer uma boa campanha no torneio.

O foco e comprometimento tiveram resultados imediatos: O América teve 100% de aproveitamento nas três rodadas que abriram a competição, conquistando resultados convincentes.

Já na primeira rodada, o Coelho surpreendeu o Internacional, em pleno Beira-Rio, com uma vitória suada por 1×0, gol do lateral Rui “Cabeção”. Na sequência, Palhinha e Fabrício garantiram uma vitória tranquila sobre o Avaí no Independência por 2×0. Na terceira rodada, o time mostrou que estava mesmo entrosado e goleou em casa o Atlético-PR por 4×1, gols de Pintado, Rinaldo e 2 do Fabrício), resultado que alavancou de vez a moral daquela equipe que liderava o grupo B e já sonhava com vôos mais altos.

JOGOS DE VOLTA

Nos jogos de volta, a classificação até esteve ameaçada por alguns momentos, mas o Coelho soube reagir como um campeão. Na quarta rodada, o Atlético-PR aplicou a única derrota do América na competição: 3×2, na Arena da Baixada (os dois gols americanos marcados por Wellington Amorin). Após empatar sem gols com o Avaí no estádio da Ressacada, um empate contra o Inter bastava para a classificação. Porém, em caso de vitória colorada, o Coelho estava desclassificado.

A partida que decidiu a vaga no mata-mata foi emocionante e esteve aberta até os últimos minutos. O Inter instaurou o desespero no Horto aos 28 minutos do 2o tempo, quando abriu o placar com gol do zagueiro Lúcio, futuro capitão da Seleção Brasileira. Alguns americanos já haviam perdido a esperança, quando o iluminado Zé Afonso, ex-jogador do  Grêmio e antigo algoz colorado, marcou o gol do empate, apenas aos 39 de etapa final, garantindo o delírio do Independência. Fim de jogo: 1×1, vaga assegurada e o Internacional do tetra-campeão Dunga e do penta-campeão Lúcia era eliminado pelo América pela segunda vez em três anos, uma vez que o Coelho também despachou o Inter das oitavas de final da Copa do Brasil de 1998.

O resultado garantiu os 11 pontos necessários e idênticos aos do Atlético-PR, mas que conferiam o primeiro posto do grupo A ao Coelho em razão do saldo de gols. O Internacional de Porto Alegre, um dos grandes favoritos ao título, ficou em terceiro, com apenas duas vitórias, sendo eliminado diretamente pelo América.

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O zagueiro Wellington Paulo, autor de mais de 300 partidas pelo América, não poupou nas botinadas e a equipe colorada foi eliminada da competição após empate por 1×1 contra o Coelho, que também já havia eliminado o Inter da Copa do Brasil de 98. (Reprodução: Acervo Torcida Desorganizada Avacoelhada)

Semifinais:

Primeiro jogo: América 2×2 Atlético-PR

As semifinais da Sul-Minas apresentou um duelo equilibrado entre duas formações históricas que estão guardadas com muito carinho na memória de suas respectivas torcidas: América, campeão regional de 2000 e estadual de 2001, versus Atlético Paranaense, campeão estadual de 2000 e nacional de 2001.

O rival era um adversário conhecido do América naquela época. Ambos os clubes já haviam se enfrentado duas vezes durante a primeira fase, com uma vitória em casa de cada lado (4×1 pro Coelho no Independência e 3×2 pro Furacão na Arena da Baixada), além de outros duelos pela Copa João Havelange, equivalente ao Campeonato Brasileiro. Se o confronto terminou com uma vitória para cada lado durante a fase de grupos, a semifinal prometia ser interessante e não decepcionou.

Ambas as equipes empataram na primeira colocação do grupo I em número de pontos, o que já sugeria equilíbrio desde então. O América ficou com a primeira vaga apenas no saldo de gols, enquanto o Atlético se classificou para a semifinal como o melhor segundo colocado dos três grupos, e a goleada no Independência influenciou diretamente nesse aspecto. Muito graças aquela goleada por 4×1, que acabou valendo muito mais que 3 pontos, o América pôde decidir a semifinal no Independência, o que viria a ser decisivo para a classificação da equipe.

Cruzeiro e Paraná disputaram a outra semifinal. Curiosamente, os clubes gaúchos, tidos como favoritos a uma possível final, foram previamente eliminados durante a fase de grupos, diante da boa fase de algumas equipes mineiras e paranaenses durante o início dos anos 2000.

Melhor 2º colocado entre os 3 grupos, o time atleticano derrotado pelo América possuía a escalação mais vencedora de sua história, famosa por ser campeão brasileiro no ano seguinte. No rubro-negro paranaense, brilhavam jogadores como Kléberson, convocado para a Copa do Mundo de 2002, os atacantes Ilan e Kléber Pereira, artilheiros da edição de 2000 da Sul-Minas, além do atacante revelado pelo América, Alex Mineiro, artilheiro e craque do Brasileirão 2001.

Apesar do embalo paranaense, o Coelho não temeu à grande equipe rubro-negra e se impôs rumo à final desde o primeiro minuto da primeira partida das semifinais. Por pouco, não conseguiu um resultado heroico, quando vencia na Baixada por 2×1, gols de Palhinha e Zé Afonso. Porém, já nos acréscimos, uma falha do ídolo Milagres permitiu o empate dos atleticanos. Ironicamente, o futuro herói do título voltou para casa como o vilão da primeira partida das semifinais.

Apesar do empate com gosto amargo, uma vitória simples em casa bastaria para a classificação americana. Mas se tratando de América, nada é simples, e uma vitória simples, nunca é tão simples assim…

América 2(4)x(2)2 Atlético-PR

Apesar do entusiasmo da torcida americana, que compareceu em bom público no estádio do Independência rumo à final da Copa Sul-Minas, o Atlético-PR não se deu por vencido e viajou à Belo Horizonte sabendo que precisava marcar gols para sonhar com a final do torneio. Enquanto muitos previam postura cautelosa dos paranaenses e um jogo baseado no contra-ataque, o time do Atlético, pelo contrário, preferiu provar da força que lhes tornou campeão brasileiro no ano seguinte, apresentando um futebol ofensivo e pressionando o Coelho desde o início, mesmo jogando fora de seus domínios.

O América foi pego de surpresa com a ofensividade do adversário e os rubro-negros aproveitaram para abrir o placar com Kléber Pereira, de cabeça. Pouco depois, quase aprontaram um desastre no Horto, quando marcaram mais um com Luizinho, de pênalti, além de carimbar a trave americana com um chute de fora da área. Fim do primeiro tempo e o placar apontava 2×0 para os visitantes.

Sentindo a pressão do momento histórico, o Coelho demorou a assimilar o tamanho da ocasião, mas a torcida americana, famosa pela cobrança do bom futebol, tratou de lembrar. Sem conseguir tolerar a apatia da equipe, a torcida presente no Horto despejou vaias para todos os lados, chegando a criticar até os grandes ídolos da equipe. No entanto, as reclamações vindas das exigentes arquibancadas do Independência parecem ter surtido efeito, já que o América voltou diferente para o segundo tempo, demonstrando, enfim, estar à altura do desafio.

Renovado pela bronca do técnico no vestiário, o time voltou disposto a doar 110% de suas forças em busca do resultado histórico. Com raça, vontade e sorte de campeão, o Coelho provou que tinha o necessário para ir à final.

Primeiro, brilhou a estrela do veterano e craque Palhinha, que diminuiu o placar com um dos gols mais importantes de sua carreira pelo América. Vale lembrar que o famoso atacante americano marcou no jogo de ida e volta, sendo um dos grandes personagens do título.

O Atlético continuou a pressionar após o 1×2, mas Milagres, o vilão do jogo de ida, ia se tornando o herói do jogo da volta, salvando a meta alviverde com defesas à altura de seu nome. O jogo permaneceu intenso e tumultuado até fim.

Após algumas chances desperdiçadas por ambos os lados, o atacante Rinaldo disparou em contra-ataque quando ninguém mais esperava, e serviu o artilheiro Zé Afonso com belo passe na entrada da área. Aos trancos e barrancos, o artilheiro ainda teve tempo de limpar um zagueiro antes de empatar a partida: 2×2! Na comemoração, Zé imita um Coelho e promove o delírio geral no Horto. Depois de estar perdendo por 2×0 no placar, o América conseguiu o empate histórico com a força de sua torcida.

Minutos depois, o mesmo Rinaldo quase selou a vaga americana na final: Porém, “cara a cara” com o goleiro, desperdiçou a chance do gol, de sua consagração definitiva e de protagonizar uma das maiores viradas da história do clube. Depois de dois resultados idênticos e constantes reviravoltas no placar, a emocionante semifinal foi decidida nos pênaltis. Um confronto à altura das duas formações históricas.

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Craque Palhinha em ação contra o Atlético-PR, em partida válida pelas semifinais da Copa Sul-Minas. (Reprodução: Acervo Torcida Desorganizada Avacoelhada)

O clima era tenso. Ambas as equipes converteram as duas primeiras penalidades. Logo após o América converter a terceira cobrança, coube ao ídolo Milagres finalmente se redimir da falha no jogo anterior, com bela defesa durante o pênalti cobrado por Luizinho, ironicamente o autor do segundo gol do jogo. Na sequência, o meio-campo Tucho converteu e fez 4×2 para os alviverdes.

Quando o atleticano Marco Antônio se aproximou da marca da cal para cobrar o quarto pênalti de sua equipe, a pressão foi grande. Em suas pernas estava o destino de duas equipes. Em seus ombros, todo peso do Horto. Caso perdesse, era o fim dos paranaenses na competição, e os americanos fizeram sua parte, com uma chuva de xingamentos ao jogador. Não deu outra: pressionado pela torcida, o jogador chutou para fora as chances de classificação de sua equipe. O estádio desabou! Glória e drama no Independência! O O Coelho consegue mais uma final, a terceira grande decisão do clube em 4 anos (97, 99, 00).

Um desempenho que reflete toda energia e sinergia do Independência durante àqueles bons tempos americanos. Vale lembrar que, somando o título estadual de 2001, o América alcançaria três finais consecutivas (99, 00, 01), além de 3 títulos (97, 00, 01) em 5 anos. Foi o último grande momento da história recente americana por muito tempo.

Final: América x Cruzeiro

Com a vitória do Cruzeiro sobre o Paraná, o clássico mineiro superou o paranaense durante a decisão da Copa Sul-Minas. Como reza o figurino de uma boa final mineira, o estádio Mineirão foi o palco das duas partidas. Para o Cruzeiro, bastava um empate, já que a equipe havia tido a melhor campanha que o Coelho.

O time da toca da raposa contava com jogadores conhecidos, como  Muller (campeão de tudo com o São Paulo) e Viveros (jogador da Seleção Colombiana), além do folclórico atacante Óseas, e do treinador Paulo Autuori, campeão brasileiro com o Botafogo (1995) e mundial com o São Paulo (2005). Mas acabou não sendo suficiente para deter Palhinha, Pintado, Milagres, Zé Afonso, Wellington Paulo e Dênis.

Primeiro jogo: América 1×0 Cruzeiro

O Coelho venceu a primeira partida das finais pelo apertado placar de 1×0, após pênalti marcado em Palhinha e convertido pelo experiente Pintado, aos 36’ do 1º tempo. O Coelho foi superior durante a partida e teve chances claras de abrir maior vantagem para o segundo jogo. No fim, não ter feito mais gols quase foi fatal para as ambições dos americanos.

Segundo jogo: América 2×1 Cruzeiro

Na segunda partida, as arquibancadas do Mineirão se entupiram para assistir ao jogo que definiria qual a equipe mineira seria campeã da primeira edição da Copa Sul-Minas. O Cruzeiro, como clube de melhor campanha, precisava apenas de uma vitória simples para levar o troféu sem prorrogação ou pênaltis. A torcida celeste era ampla maioria no Mineirão, mas a minoria mineiro-americana estava agigantada em entusiasmo e vibração.

No início da partida, como já era previsto, a Raposa partiu com tudo pra cima do Coelho. Ora com Muller, ora com Óseas, a equipe de Paulo Autuori procurou exaustivamente o primeiro gol, mas sequencialmente foi interrompida pelas inspiradas defesas do goleiro Milagres que, naquela noite, mais do que nunca, imortalizou seu status de ídolo do Coelho.

Salvo algumas poucas chances, o América só se defendia da ”blitzkrig” cruzeirense. Mas aos 34 minutos, a retranca enfim cedeu, quando o lateral Estevam cometeu pênalti sobre o colombiano Viveiros. Dessa vez, nem Milagres fez milagre: bola de um lado, goleiro de outro, e o Cruzeiro estava na frente. Nos últimos minutos da primeira etapa, ainda houve tempo para Oséias, livre de marcação, carimbar a trave americana. Por capricho de um destino já selado, o Cruzeiro não abriu um placar que dificilmente seria revertido.

Fim do primeiro tempo e o jogo estava aberto. Os americanos não sabiam o que esperar. Mas, contra tudo e contra todos, o Coelho fez uso de sua tradição para levar o título para o Horto. Cada dividida tinha o peso de uma história, e os jogadores do América demonstraram foco, raça e muita paixão para buscar a taça na segunda etapa.

No reinício da partida, o Cruzeiro até ameaçou alguma pressão, mas, pouco a pouco, a agressividade cessou diante da voluntariedade dos americanos em cada jogada. Em um piscar de olhos, aqueles que vestiam verde e negro se agigantaram sobre os trajados de azul. No espetáculo do Coelho, a Raposa se tornou coadjuvante.Sem dar chance ao azar, o time alviverde voltou a ter o brilho que o levou a final. ​

O escolhido foi Zé Afonso, o mesmo que decidiu as semifinais e o primeiro lugar do grupo durante a primeira fase. Após passe caprichado do craque Palhinha, o iluminado atacante invadiu a área e bateu de bico na bola. Por força de um detalhe imperceptível, a pelota desviou no zagueiro celeste e morreu no ângulo adversário. Já estava escrito: Um grito, contido há eras e gerações, explodia em um só som. Empate do América!

Na jogada seguinte, o Coelho mostrou que estava mesmo embalado rumo ao título quando o mesmo Zé Afonso arrancou em um contra-ataque que levou abaixo o Gigante da Pampulha. Perseguido pela defesa cruzeirense, o artilheiro disparou da intermediária e carregou a bola até as redondezas da área, quando um zagueiro desesperado o derrubou. Apesar de ser derrubado fora da área, o árbitro marcou pênalti. No entanto, o capitão Pintado, símbolo da equipe e autor do gol que definiu a vitória na primeira final, surpreendentemente desperdiçou a cobrança.

Porque nem tudo são flores, porque pênalti mal marcado não entra, porque um título histórico não poderia estar marcado por um gol irregular. Porque ganhar com pênaltis inexistentes não faz parte da identidade americana, perder com um pênalti inexistente é que faz.

Poderia ser a hora da balança do destino virando para o lado de lá, como tantas vezes, lamentavelmente, ocorreu na centenária e romântica história americana. Mas o destino já estava traçado e apenas por mais um de seus caprichos não deixou que uma noite tão mágica ficasse manchada com um pênalti mal marcado. A boa despedida pedia um golaço. E coube ao jovem Álvaro de apenas 20 anos cumprir o papel de herói.

O jogador, futuro ídolo de times da Suécia, substituiu o identificado Rinaldo e não precisou nem de 10 minutos para marcar o gol que consagrou sua carreira. Aos 42 minutos do segundo tempo, o volante interceptou um passe antes do meio de campo e arrancou em disparada.

Álvaro limpou quem apareceu pela frente e decidiu que só ia parar dentro do gol. Dois adversários já se haviam ido enquanto o jovem volante apostava corrida rumo a meta celeste e mais zagueiros chegavam para obstruir a jogada Mas, com a ginga dos deuses, Álvaro fez que foi, não foi, e deixou mais um deitado. Sozinho, bateu com tranquilidade no canto, enquanto adversários jogados ao relvado assistiam a bola graciosamente beijar as redes. Foi o gol do êxtase, do sonho, da vida, de uma história! Coelho campeão, e a galeria, enfim, estava completa, com taças em nível nacional, regional e estadual compondo o eterno museu americano.