Campeão Mineiro de 1993

América 1993

América, campeão mineiro de 1993 após 22 anos de jejum. (Foto: Revista Placar)

Em 1993, o América encerrou o maior jejum de títulos estaduais de sua história como clube profissional com a conquista do Campeonato Mineiro após 21 anos de jejum. O título foi aguardado por toda uma geração de torcedores do clube que nunca haviam visto o time ser campeão estadual.

Afinal, o América não botava as mãos na taça que foi sua dez vezes consecutivas desde o título mineiro invicto em 1971, mas o presidente Magnus Lívio prometia mudar esse cenário ao traçar como planejamento o retorno a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro e a volta do título estadual.

O Coelho já havia retornado para a Série A do Campeonato Brasileiro, após ser vice-campeão da Taça de Bronze (Série C) em 1990 e conseguir o acesso durante a Série B de 1992. Em 1992, o clube também quase antecipou o destino do ano seguinte, quando foi vice-campeão mineiro e encerrou a hegemonia de decisões entre Atlético e Cruzeiro, que pairava desde o duelo entre o Coelho de Juca Show contra a Raposa de Nelinho em 1973.

Mas a grande redenção estava mesmo guardada para 1993, quando o América fez uma brilhante campanha para conquistar o título mineiro de forma autoritária, sem perder nenhum clássico contra seus principais rivais. Provando da força de sua nova casa, o Coelho foi campeão invicto como mandante e com a melhor defesa da competição, responsável por alcançar a incrível marca de menos que “meio-gol” gol sofrido por jogo (8 gols sofridos em 18 jogos, média de 0,44 gols sofridos por jogo). A segurança defensiva americana era tamanha que o goleiro Milagres, recordista de partidas pelo clube, acumulou mais de 400 minutos sem sofrer gol durante o certame.

O trio de ataque americano naquele ano também deixou saudades: Formado por Hamilton, Robson e Euller, “o filho do vento”, o trio anotou 23 dos 34 gols marcados pelo clube na competição. Outro grande ídolo da conquista foi o identificado Flávio Lopes, que mais tarde venceria 2 títulos como treinador do América e outro como diretor.

Ao todo, foram 11 vitórias em 18 jogos, com outros 6 empates e apenas 1 derrota. Com 8 vitórias, 3 empates e 1 derrota na primeira fase, o América classificou-se para o quadrangular final como o primeiro lugar de seu grupo, animando sua torcida desde então. Na fase final, o clube duelou contra Atlético, Cruzeiro e Democrata, sendo campeão com 9 pontos, após 3 vitórias e 3 empates, enquanto seus rivais da capital somaram 7. Após golear o Atlético por 4×0 na estreia do quadrangular, o Coelho decidiu o título contra o Democrata em Governador Valadares com nova goleada: 4×1, em jogo que contou com a presença em massa da torcida americana, que foi maioria no estádio mesmo como visitante. Hamilton foi o artilheiro da competição com 14 gols, enquanto Euller foi eleito a revelação do campeonato.

CAMPANHA:

18 jogos, 11 vitórias, 6 empates, 1 derrota, 34 gols marcados, 8 gols sofridos

REGULAMENTO

A primeira fase do Campeonato Estadual Mineiro de 1993 reuniu 19 equipes do interior do Estado, divididas em 3 grupos. Os dois melhores de cada grupo classificavam-se para a fase seguinte, que já contava com o trio da capital (América, Atlético, Cruzeiro), mais o campeão do interior (Democrata-SL), como “cabeças de chave”.

Já a segunda fase previa 2 grupos de 6 participantes, com partidas de turno e returno entre equipes de chaves distintas. Os dois melhores de cada grupo garantiam vaga no quadrangular final que decidiu o campeão.

Na fase final, quatro equipes duelavam entre si em jogos de ida e volta. O time que mais somasse pontos durante o quadrangular ficava com o título. Em caso de empate na pontuação, um jogo extra seria marcado para decidir o campeão.

PRIMEIRA FASE

NO INDEPENDÊNCIA O BICHO PEGA!

As principais conquistas do América durante a década de 90 foram auxiliadas por campanhas impecáveis da equipe como mandante. A escrita valeu para todos os principais títulos da “Era Independência” e, durante o Campeonato Mineiro de 1993, não foi diferente: O Coelho venceu 4 das 5 partidas disputadas em casa pela primeira fase, empatando a outra, e impressionou ainda mais ao marcar 10 gols e não sofrer nenhum. O fator mandante também prevaleceu no Gigante da Pampulha, e o Coelho terminou a competição invicto como mandante em partidas no Mineirão ou no Independência.

PRIMEIRA E ÚNICA DERROTA

A única derrota do Coelho no Campeonato Mineiro de 1993 foi contra o Valério, pela segunda rodada da primeira fase, em partida disputada no acanhado estádio da equipe em Itabira. Essa derrota acabou impedindo que o América conquistasse o título estadual invicto pela décima vez em sua história.

Mas vale lembrar que o América foi muito prejudicado pelas más condições do gramado e pela arbitragem caseira que predominou durante toda partida. Afinal, o duelo já caminhava para um empate quando o juiz cedeu a pressão da torcida local e assinalou um pênalti muito duvidoso contra o América, responsável por definir a vitória da equipe mandante por 2×1.

FREGUÊS CELESTE

O América de 1993 ficou marcado pela valentia em clássicos. Afinal, aquele time não perdeu nenhuma partida para os badalados rivais da capital durante a campanha. Como manda a escrita, o Coelho provou que estava mesmo endiabrado principalmente contra o Cruzeiro.

Até então, todos os títulos estaduais do América contaram com campanhas invictas contra a Raposa e em 1993 não foi diferente. Na primeira fase, o Coelho se vingou da derrota na final de 92 e levou a melhor em ambos os clássicos, vencendo por 3×1 e 1×0, resultados que conferiram grande força moral ao futuro campeão. Na fase seguinte, o Coelho voltou a enfrentar seu antigo rival mais duas vezes e permaneceu invicto no confronto com 2 empates.

Confira o vídeo das partidas da primeira fase:

América 3×1 Cruzeiro
Quinta rodada – Primeiro turno
Primeira fase
Estádio do Mineirão

América 1×0 Cruzeiro
Terceira Rodada – Segundo Turno
Primeira Fase
Estádio do Mineirão

PRIMEIRO TURNO:

Rodada 1: América 0x0 Democrata
Local: Estádio do Independência
Rodada 2: Valério 2×1 América
Local: Itabira
Rodada 3: América 4×0 URT
Local: Estádio do Independência
Rodada 4: América 2×0 Flamengo de Varginha
Local: Estádio do Independência
Rodada 5: Cruzeiro 1×3 América
Local: Estádio do Mineirão

SEGUNDO TURNO
Rodada 1: América 2×0 Valério
Local: Estádio do Independência
Rodada 2: URT 1×1 América
Local:
Pato de Minas
Rodada 3: América 1×0 Cruzeiro
Local: Estádio do Mineirão
Rodada 4: Democrata-SL 1×1 América
Local: Sete Lagoas
Rodada 5: América 2×0 Democrata-GV
Local: Estádio do Independência

QUADRANGULAR FINAL

O Quadrangular final que decidiu o Campeonato Mineiro de 1993 foi formado por América (1o lugar do Grupo B), Atlético (1o lugar do Grupo A), Cruzeiro (2o lugar do Grupo B), e Democrata-SL (campeão do interior e 2o lugar do Grupo A).

PRIMEIRA RODADA: AMÉRICA 4×0 ATLÉTICO

Na primeira rodada do quadrangular final, o Coelho aplicou uma memorável goleada sobre seu maior rival, o Atlético-MG, quando venceu a equipe alvinegra por nada menos que 4×0. Para muitos torcedores, foi a melhor partida da equipe na competição.

SEGUNDA E TERCEIRA RODADA:
AMÉRICA 0x0 CRUZEIRO
AMÉRICA 1×0 DEMOCRATA

O América permaneceu invicto em clássicos durante um equilibrado empate sem gols no Mineirão contra o Cruzeiro durante a segunda rodada. Na sequência, bastou uma vitória magra sobre o Democrata, no Independência, para garantir o primeiro lugar do grupo, já que Atlético e Cruzeiro empataram em 2×2.

QUARTA RODADA: AMÉRICA 1×1 ATLÉTICO

Na primeira partida do returno, o América quase colocou tudo a perder durante o jogo mais dramático da competição. Diante de um Mineirão lotado por quase 50 mil pessoas, o Coelho perdia o clássico para o Atlético por 2×1 até os 10 minutos finais, placar que colocava os alvinegros na liderança do quadrangular.

Eis então que o camisa 10 Flávio Lopes cava uma falta nos momentos derradeiros da partida. O próprio jogador se encarrega da cobrança, mas a jogada ensaiada dá errado. Por um capricho dos “deuses do futebol”, a pelota sobra limpa para o voluntarioso Gutemberg após bate-rebate na grande área. O zagueiro não pensa duas vezes, enche o pé e empata a partida com um verdadeiro petardo de fora da área. Sorte de campeão! Uma jogada que contou com a ajuda dos americanos lá de cima.

O 2×2 manteve o América na liderança. O Coelho agora dependia apenas de suas próprias pernas para encerrar o longo jejum. Mas um novo empate contra o Cruzeiro, que se recusou a perder para o América pela terceira vez na competição, ofereceu um cenário de muita tensão para a última rodada do Campeonato Mineiro: Para ser campeão, o Coelho precisava vencer o Democrata na última rodada e ainda torcer para o Atlético não vencer o clássico contra o Cruzeiro no Mineirão. Caso a equipe alvinegra conseguisse a vitória, um jogo extra entre América Atlético seria imposto para decidir o título. Haja coração, amigo!

ÚLTIMA RODADA: A INVASÃO A GOVERNADOR VALADARES

Auxiliado pela mais legítima “zica” dos americanos, o Cruzeiro conseguiu levar a melhor sobre o Atlético no Mineirão. Dessa forma, o América precisava derrotar o campeão do interior Democrata para garantir o fim de um jejum de mais de 20 anos.

A torcida americana não decepcionou e fez valer o momento histórico, com uma excursão em massa para a cidade de Governador Valadares. A invasão foi tamanha que, segundo Carlos Paiva, historiador oficial do clube, a presença alviverde esgotou os bares da região três vezes e fez valer os rendimentos de um mês de trabalho. Apesar da bebedeira, a “minoria esclarecida” americana, que naquele dia era uma massa de milhares, foi simpática, respeitou e preservou a cidade, deixando até alguns torcedores como legado. O encontro entre as torcidas adversárias também foi incomumente pacífico, de tal forma que a torcida adversária “Pandemônio” cedeu parte de sua sede oficial para armazenar as bandeiras das organizadas americanas como a Avacoelhada e a UNA, que também foram recebidas com simpatia por outra torcida alvinegra, a “Pantera Cor de Raça”.

Apesar de ser a equipe visitante, o América lotou mais da metade do estádio e jogou como quem estivesse na própria casa. Embalado pela força de sua torcida e disposto a dar fim a um jejum de 22 anos, o time americano inspirou uma goleada histórica por 4×1 que serviu para lavar a alma de uma geração inteira de americanos. Com dois gols do artilheiro da competição Hamilton, um gol da revelação Euller e outro do veterano Robson, o América anunciava o fim do tabu e o início de uma nova era para quem quisesse ouvir. Com um campanha soberana, sem derrota em clássicos, o América era campeão após 22 anos. Era o fim do jejum!