Campeão Mineiro de 2001

campeao mineiro 2001 c legenda

O América venceu seu décimo quinto e último título estadual em 2001. Com um time majoritariamente formado por jogadores pratas da casa, a conquista representou a consagração final das categorias de base do clube, que já havia vivenciado tempos vencedores e revelado grandes jogadores durante a década passada. Afinal, nada menos que 10 entre os 11 titulares do time campeão foram formados no próprio América e apenas o goleiro Fabiano não advinha da base alviverde. O zagueiro Wellington Paulo, maior revelação americana daquele ano e autor de mais de 300 partidas pelo clube, ficou marcado como capitão da conquista: Foi o quarto título do jogador pelo clube, entre 6 no total, o segundo como titular e o primeiro como capitão.

O título também consagrou o América como o primeiro campeão estadual do novo milênio e completou um importante ciclo de conquistas e grandes decisões do clube desde a aquisição do estádio do Independência. Afinal, ao levantar a taça de 2001, o América comemorou 4 títulos em 8 anos pela primeira vez em sua história como clube profissional. Além disso, a dobradinha de títulos Sul-Minas 2000-Mineiro 2001 foi a primeira vez que o América conquistou dois títulos em um espaço tão curto de tempo desde 1948 e também foi a primeira vez desde 1957-59 que o América participou de três finais consecutivas. Por essas e outras que o título de 2001 pode ser considerado a conquista que consagrou de vez a “Era Independência”, responsável por revolucionar a história do América com com quatro títulos, quatro finais, três vice-campeonatos e mais outros 2 títulos nacionais em nível de base em menos de 9 anos.

A conquista foi ainda mais emocionante por todo drama e superação envolvido durante campanha e finais: Após vencer apenas uma entre as sete partidas iniciais, o Coelho esteve ameaçado de ser rebaixado para a Segunda Divisão do Campeonato Mineiro pela primeira vez na história, mas protagonizou uma memorável volta por cima, com 9 vitórias em 11 jogos. Curiosamente, o desempenho foi muito semelhante à campanha do décimo terceiro título estadual do clube em 1957, quando o América também reagiu com 9 vitórias em 11 partidas após início turbulento, sem vitória nas 5 partidas iniciais.

Durante as duas finais que decidiram a competição contra o Atlético, Na primeira partida, todos pensaram que a fatura já estava resolvida quando o Coelho deu um baile no Mineirão e goleou seu rival pelo histórico placar de 4×1. Mas clássico é clássico, e ,na segunda final, a equipe alvinegra chegou a abrir 3×0 no marcador, resultado que levaria a partida para os pênaltis. Os americanos já previam o pesadelo quando o jovem atacante Alessandro saiu do banco de reservas para marcar o primeiro dos tantos gols importantes que fez pelo Coelho, garantindo o silêncio da massa alvinegra e o delírio da minoria esclarecida americana do Mineirão.

No fim, as finais acabaram sendo o reflexo da campanha americana: Caracterizada pelos altos e baixos, pelo contraste entre céu e inferno, mas, sobretudo, pela valentia de uma juventude que superou todas dificuldades e preferiu ficar na história como o primeiro campeão mineiro do século, do que como a primeira equipe do América a ser rebaixada no estadual.

Comandada por Lula Pereira em parceria com Procórpio Cardoso (grande jogador de América e Cruzeiro durante os anos 1960), a garotada do Coelho acumulou 10 vitórias, 2 empates e 7 derrotas em 19 jogos, com 30 gols marcados e 22 sofridos. O atacante Rodrigo foi o artilheiro do América na competição, com 8 gols, enquanto Wellington Paulo foi o capitão da conquista, naquele que foi seu quarto título pelo clube.

CAMPANHA:

18 jogos:

PRIMEIRA FASE:

Ao somar apenas uma vitória nos sete jogos iniciais da competição, o futuro campeão América chegou a estar a ameaçado de ser rebaixado no Campeonato Mineiro pela primeira vez na história, para as muitas críticas da torcida e imprensa. No entanto, quando ninguém mais acreditava, a molecada americana enfim demonstrou sua qualidade e reagiu com 5 vitórias consecutivas – desempenho que livrou o time do descenso e, de quebra, garantiu um lugar na fase seguinte.

Jogos – Primeira fase – Estadual 2001:
28/01: América 1×1 Rio Branco
Cidade: Andradas
04/02: América 0x0 Ipatinga
Estádio: Independência
10/02: América 1×4 Cruzeiro
Estádio: Mineirão
18/02: América 2×0 Uberlândia
Estádio: Independência
24/02: América 1×2 Villa Nova
Estádio: Independência
04/03: América 2×3 Mamoré
Cidade: Mamoré
12/03: América 2×1 Caldense
Estádio: Independência
07/03: América 0x1 Atlético
Estádio: Mineirão
25/03: América 4×0 Guarani
Estádio: Independência
01/04: América 2×1 URT
Estádio: Independência
07/04: América 1×0 Democrata-GV
Cidade: Governador Valadares

SEGUNDA FASE:

O desacreditado time americano de 2001 protagonizou uma grande volta por cima na segunda fase do torneio, quando deixou de ser um time ameaçado pelo rebaixamento para se tornar um verdadeiro candidato ao título. Depois de um início decepcionante, o Coelho mais uma vez surpreendeu a todos ao reagir com 9 vitórias e 2 empates em 11 jogos entre a primeira e segunda fase da competição, desempenho que garantiu a primeira colocação do Campeonato e uma vaga na final contra o Atlético.

A partida que decidiu a vaga americana nas finais ocorreu principalmente no clássico contra o Cruzeiro, pela quinta rodada, quando o América se vingou da derrota por 4×1 na primeira fase e goleou seu rival por 4×2. Bastou mais uma vitória  e ainda venceu o Ipatinga, fora de casa, por 1×0, na rodada final.

Com 3 vitórias e 3 empates em 6 jogos, o Coelho terminou a segunda fase de forma invicta, com 14 pontos, enquanto o clube rival se classificou na segunda posição com 10. A decisão teve um gostinho ainda mais especial para os americanos porque o adversário era o mesmo da última final estadual disputada pelo clube em 1999. Era a oportunidade de vingança.

América 4×1 Atlético

O CLÁSSICO DAS MULTIDÕES

Em 2001, América e Atlético decidiram o Campeonato Mineiro de forma direta ou indireta pela décima sexta vez na história, entre 17 no total. Ao todo, foram 8 títulos do Coelho (1916-17-18, 1921, 1923, 1948, 1993 e 2001) contra 9 do Galo (1915, 1927, 1939, 1942, 1949, 1958, 1995, 1999 e 2012), em um confronto histórico que predomina o equilíbrio.

PRIMEIRA PARTIDA – BAILE

A primeira partida das finais do Campeonato Mineiro de 2001 foi uma espécie de “jogo dos sonhos” para os torcedores americanos, que saíram do Mineirão de alma lavada após uma histórica goleada por 4×1 sobre seu maior rival.

O JOGO

O Coelho abriu o placar com menos de 5 minutos de jogo, quando o meia Fabrício, titular da equipe desde o título regional no ano anterior, cruzou na medida para o capitão e ídolo Wellington Paulo marcar, de cabeça, o gol mais importante de suas 315 partidas pelo clube.

O Atlético ainda tentava reagir, mas, aos 18 minutos, o lateral Ruy arremessou com força uma cobrança de lateral, que surpreendentemente deixou Tucho na cara do gol. Considerado a “Revelação do Campeonato”, o meio-campo não desperdiçou a oportunidade e acertou em cheio. O goleiro ainda resvalou na pelota, mas nada pôde fazer: 2×0 para a minoria esclarecida.

Sem capacidade de reação, pouco a pouco, o Atlético se tornava coadjuvante no espetáculo do América, que ainda marcou o terceiro antes dos 30: Aos 28 minutos, o herói póstumo Claudinei (jogador de grande talento, mas tragicamente falecido em 2004) fez uma jogada imortal pela lateral e serviu o artilheiro Rodrigo, que não titubeou em decretar a goleada: 3×0 e os americanos ainda se beliscavam sem saber se era sonho ou realidade.

Na sequência, aos 32, o rival enfim diminuiu o placar, quando Marques alçou bola na grande área e Gilberto Silva, por ironia do destino, marcou contra seu primeiro clube, o que voltaria a acontecer na segunda final. Mas o Coelho não permitiu a reação do rival e cozinhou o restante da partida com uma dura marcação, isso pra não dizer que cozinhou o Galo. Com a experiência que muitos pensavam que aquela juventude não tinha, o América administrou a partida embalado pelo nervosismo de seu adversário. Quando o Atlético já perdia as esperanças de empatar a partida, se contentando em tentar marcar um gol para diminuir a vantagem, foi aí que o América deu o último golpe de misericórdia, no seu tradicional contra-ataque. Aos 38 minutos do segundo tempo, após falha do zagueiro atleticano, a bola sobrou para Rodrigo, artilheiro americano na competição, que disparou como uma Ferrari em direção ao gol adversário e finalizou por debaixo das pernas do goleiro. Parecia o Ronaldo de verde-negro! Golaço!

Podem fechar os portões! 4×1 para o América! Uma goleada histórica que deixou o time muito perto do título. No fim, o quarto gol provou ser decisivo para a grande conquista americana. 

“O time não pode ser tão ridículo assim numa final. Tem gente aqui que não sabe que isso aqui é uma final. Esse time foi ridículo, ridículo! Desanima bastante.” – Guilherme, camisa 11 atleticano, descrevendo a atuação de sua equipe em entrevista a imprensa após o primeiro jogo das finais.

América 1×3 Atlético

O Atlético fez de tudo para acabar com a festa do América na segunda partida das finais, mas o Coelho resistiu e conseguiu ser campeão com a derrota mais saborosa de sua história. Depois de quase colocar tudo a perder e chegar a estar perdendo por 3×0 – resultado que levava a partida aos pênaltis – o jovem Alessandro foi o escolhido para marcar o gol da redenção americana, que garantiu o título do clube no placar agregado por 5×4.

CAMPEÃO DO APAGÃO

O América se recusou a entrar em campo após um “misterioso” corte de energia em seu vestiário e demorou mais de 20 minutos apenas para subir aos gramados. A polêmica causou muita confusão entre os jogadores e a partida começou quase 40 minutos depois do planejado. Desde então, a imprensa já batizava o futuro vencedor como “O Campeão do Apagão”. 

O JOGO

Diante de um Mineirão lotado por cerca de 46.934 pagantes, o América degustou a derrota mais saborosa de sua história com muito drama e emoção.

O time até começou bem a partida, tendo duas chances claras de gol, mas foi prejudicado por um pênalti polêmico, marcado aos 11 minutos do primeiro tempo, tudo que o rival queria. O atacante Guilherme, que tanto criticou a atuação do time no jogo anterior, não desperdiçou: 1×0.

Depois da marcação controversa, o clássico permaneceu lá e cá. Os atleticanos chegavam bem, mas os americanos se defendiam com voluntariedade, dispostos a reagir no contra-ataque. O primeiro tempo terminou 1×0 para o adversário: resultado perigoso, mas de acordo com os planos.

Porém, no início do segundo tempo, o Atlético não demorou em trazer mais emoção a final. Após bate e rebate na área americana, o goleiro Fabiano fez duas milagrosas defesas, mas na terceira tentativa, Gilberto Silva novamente marcou contra seu ex-clube: 2×0, resultado que tornava o pesadelo dos americanos uma possível realidade.

Aos 13 minutos, enfim o pior dos sonhos virou real. Após chute despretensioso de Guilherme, a bola rebateu no defensor americano e sobrou limpa para Lincoln, que marcou um gol confuso. O novo resultado levava a partida para os pênaltis e fazia os americanos questionarem suas religiões.

Como síntese da campanha americana, marcada pelo contraste entre extremos, o Coelho também foi do céu ao inferno do inferno ao céu em questão de minutos durante as finais. Os americanos já estavam de olhos aguados quando o jovem Alessandro substituiu Carlos Alberto aos 27 minutos. Então com 19 anos, o atacante que foi autor de tantos gols importantes pelo clube durante a carreira lavou a alma dos torcedores após um lance iluminado. Desde então, o artilheiro mostrava que tinha estrela com a camisa do Coelho.

Aos 31 minutos, o lateral Ruy fez bela jogada pela esquerda e serviu o bem posicionado atacante, que fugiu do marcador no jogo de corpo pouco antes de receber a bola. Depois, bastou dois toques para ajeitar e finalizar com precisão no canto direito do goleiro Velloso, que ainda resvalou na bola, mas nada pode fazer.

Delírio no Setor 13! 1×3 para o América! Em um Mineirão cheio de lágrimas, em um contraste automático de emoções, enfim, os torcedores americanos voltavam a celebrar suas crenças e religiões. Vítimas dos “Deuses do Futebol”, dessa vez, mais do que nunca, tinham certeza dos planos lá de cima. A emoção pelo gol de Alessandro foi tão grande que  causou o infarte do ilustre torcedor X, torcedor do Coelho há 50 anos. No fim, a paixão do torcedor acabou sendo imortalizada na história do América como um dos contos mais dramáticos e românticos da campanha. O clube homenageou a taça ao seu antigo adepto, que ao menos faleceu em glória com o time do coração -tão do coração, que até causou um infarte. E se você me perguntasse se esse é um bom jeito de morrer…. Bom, eu apenas diria que existem piores.

Na sequência, aos 35’’, por pouco o Coelho não matou a partida, quando Alessandro mostrou que estava mesmo endiabrado, fez um carnaval na defesa atleticana e devolveu a gentileza para Ruy, que o serviu com uma bela assistência no primeiro gol. O lateral chutou na trave e, no rebote, o artilheiro Rodrigo, autor de 2 gols na primeira final, chutou torto e desperdiçou uma chance clara de gol, mesmo com o goleiro Veloso já batido no lance. Mas o atacante americano, artilheiro do time na competição, tinha crédito para ser poupado de maiores críticas, ainda mais em função do desfecho vencedor.

Nos minutos finais, o Atlético ainda teve mais duas boas oportunidades para tentar levar o clássico aos pênaltis, mas foi interrompido pelo inspirado goleiro Fabiano. Aos 40 minutos, o arqueiro americano fez uma defesa magistral, digna de um quadro, após falta cobrada com perfeição pelo ídolo atleticano Marques. Já aos 48’’, quase na marca do pênalti, o Atlético tentou o último golpe com o zagueiro Lelei, que também foi campeão estadual pelo América, mas o goleiro Fabiano novamente mostrou segurança e garantiu o título.

Bastou mais um minuto para o pesadelo tornar-se sonho e o inferno virar paraíso: O América era campeão mineiro pela décima quinta vez, a oitava sobre o Atlético, igualando-se a seu rival em vitórias em decisão.

A conquista consagrou de vez a “Era Independência”, importante período responsável por revolucionar o clube durante a década de 90, com 4 importantes títulos em 8 anos, feito inédito na história do América como clube profissional. Afinal, como já foi ressaltado, desde 1948, o América não vencia dois títulos em um espaço tão curto de tempo, desde 1957-59 não alcançava três finais consecutivas (1999, 2000 e 2001) e, desde os tempos do deca-campeonato, não vencia final contra o Cruzeiro e Atlético de forma consecutiva (2000 e 2001). Dessa forma, o título de 2001 pode ser considerado a cereja do bolo de um importante ciclo de conquistas do clube desde a aquisição do estádio do Independência. Primeiro campeão mineiro do novo milênio, o América provava de vez que não é só um time do passado, como também é um campeão do futuro.

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O artilheiro Alessandro pedindo o silêncio da torcida atleticana após o gol que garantiu o título do Coelho, durante uma das cenas mais épicas da história do clube. (Fonte: Acervo Mário Monteiro)