Taça dos Campeões de 1948

Taça dos Campeoes 48

Para comemorar a reinauguração do Estádio da Alameda, modernizado e ampliado em março de 1948 sob o comando do presidente americano Alair Couto, o América promoveu um torneio quadrangular comemorativo que ficou conhecido como a “Taça dos Campeões”. A disputa reuniu os campeões estaduais de Rio de Janeiro (Vasco), São Paulo (SPFC) e Minas Gerais (Atlético), além do anfitrião América, sendo o único torneio interestadual da temporada.

Em uma época marcada pela ausência de campeonatos nacionais, convidar os ídolos do futebol carioca e paulista para enfrentar as equipes mineiras era uma iniciativa de alto interesse para o público mineiro. Afinal, pela primeira vez na história, uma partida entre um time carioca e um time paulista foi sediada em Belo Horizonte.

Definidos pelo jornal “O Estado de Minas”, sob as palavras do lendário jornalista Ari Barroso, como “legítimos expoentes do futebol paulista e carioca”, as equipes que visitaram a Alameda em 1948 se situavam entre as melhores do futebol brasileiro na época. Para se ter uma ideia, o Vasco da Gama foi campeão estadual e o primeiro campeão continental da América do Sul naquele mesmo ano e ficou lembrado como “O Expresso da Vitória” por seus torcedores. Nada menos que sete jogadores que foram goleados por 4×2 pelo América em no torneio participaram da Copa do Mundo de 1950: o goleiro Barbosa, os meias “Príncipe” Danilo e Eli, além do histórico quarteto de atacantes formado por Ademir de Menezes, Friaça, Maneca e Chico.

Já o São Paulo, apelidado de “Rolo-Compressor” pela imprensa paulista, venceu cinco títulos paulistas na década e vinha reforçado por craques de Copa do Mundo como Leônidas da Silva e Dino Sani, enquanto o Atlético, famoso pelo “trio maldito” de atacantes formado por Jairo, Sahid e Mário de Castro, era o atual bi-campeão mineiro de 1946-47.

No entanto, nenhuma dessas badaladas equipes foram páreas para o América, que tornava-se o dono do maior patrimônio esportivo do Estado e do quarto maior estádio do Brasil com a modernização do estádio da Alameda no início do ano. Afinal, o time americano de 1948 também possui seu lugar de honra na história do futebol: Não bastasse todas as conquistas extra-campo, o América também conquistou seu primeiro título mineiro na Era Profissional naquele ano, empatando com seu maior rival em número de títulos estaduais (11) e evitando um até então inédito e muito cobiçado tri-campeonato estadual atleticano, e, de quebra, ainda levou pra casa o único torneio interestadual da temporada. Grandes ídolos do pavilhão participaram das conquistas, como o folclórico treinador Yustrich, campeão mineiro como técnico por quatro equipes diferentes, o camisa 10 argentino Valsechi, ex-jogador do Boca Juniors, Botafogo e do próprio Atlético, o artilheiro Petrônio, autor de gol na final e terceiro maior artilheiro da história do clube, e o craque Murilinho, marcado por um talento fora do comum, além do goleiro Tonho e do zagueiro Gaia, que estão entre os 5 jogadores que mais serviram o América e foram os únicos jogadores do clube que participaram tanto do título estadual de 48, quanto o de 57.

RODADA DE ABERTURA

A expectativa em relação ao desempenho dos times mineiros na Taça dos Campeões eram relativamente pessimistas antes do início da competição, principalmente em função da qualidade das equipes que visitavam a Alameda. De fato, a primeira partida do certame deixou o público mineiro preocupado: No jogo de abertura do torneio, o São Paulo não teve maiores dificuldades para vencer um decepcionante Atlético por 3×1.

Na sequência, o América enfrentou o poderoso Vasco da Gama, campeão carioca e sul-americano daquele ano. Muitos já previam nova goleada dos visitantes, mas o Coelho queria fazer bonito em seu primeiro jogo no novo estádio e não decepcionou, goleando a histórica equipe cruzmaltina, campeã carioca e sul-americana de 1948, por 4×2, com gols de Valsechi, Jorge, Murilinho e Hélio. O futebol demonstrado pelo América de Yustrich naquele jogo foi tão absoluto e eficiente, e a festa para a vitória foi tamanha, que a partida terminou com a torcida da Alameda entoando “olés” há cada passe do Coelho. Em uma tarde histórica, o América alcançou um resultado muito epor ser sua primeira vitória na Nova Alameda, mas também diante da qualidade do adversário, talvez a equipe mais importantes do mais de 110 anos de Vasco da Gama.

SEGUNDA RODADA

Na segunda rodada, o Galo provou não ser Coelho e perdeu para o temido “Expresso da Vitória” do Vasco da Gama por 2×0. Os alvinegros seguiam decepcionando sua torcida na competição, tendo 5 gols sofridos e nenhuma vitória contra os times de fora do Estado.

Na sequência, o América tinha um novo grande desafio, dessa vez contra o “Rolo Compressor” do São Paulo que havia depenado o Galo na primeira rodada. No fim, o placar de 0x0 acabou por refletir o equilíbrio das duas históricas equipes em campo.

RODADA FINAL

A partida que abriu a rodada final, entre São Paulo e Vasco da Gama, foi o primeiro jogo disputado entre um time carioca e um paulista em solo mineiro. Como as equipes ainda tinham chances de título, ambos buscaram a vitória com agressividade a todo instante. O “Expresso da Vitória” cruzmaltino chegou a abrir 2×0, o que pressionaria o Coelho a vencer o clássico da última rodada, mas o “Rolo Compressor” precisou de apenas 20 minutos para empatar o jogo, estimulado pelo enorme público presente na Alameda, que havia adotado o time paulista fim de facilitar a conquista do título pelo América. Fim de jogo: empate por 2×2 entre duas equipes históricas que marcaram a história do futebol brasileiro e de suas respectivas torcidas. No fim, tiveram uma nobre passagem pelas páginas mais gloriosas do América e da saudosa Alameda.

O resultado deixou o América em boa posição para faturar a Taça dos Campeões na rodada final, precisando apenas de um empate no clássico contra o Atlético para ser campeão. Disputado apenas 20 minutos após o termino do jogo entre cariocas e paulistas, o clássico mineiro pedia apenas um empate para pintar a taça de verde e branca, mas a pressão era grande, já que uma vitória atleticana daria o título aos paulistas. Dessa forma, o Galo foi à campo com uma única motivação: evitar a histórica conquista americana.

CLÁSSICO DAS MULTIDÕES

A partida decisiva teve clima de final. Tenso e sem gols durante todo o primeiro tempo, o clássico foi marcado pelo bom desempenho defensivo das equipes durante a partida. Segundo relatos, o goleiro Tonho, terceiro jogador que mais atuou pelo América em toda história e campeão estadual pelo clube em 48 e 57, estava inspirado e foi uma verdadeira parede dentro do gol durante a partida, evitando que os atleticanos saíssem na frente e ameaçassem o título.

As zagas estariam fadadas a sucumbir apenas no final do primeiro tempo: o Coelho saiu na frente com Hélio, que deu belo drible em seu marcador antes de afundar as redes do célebre goleiro Cafunga, ídolo histórico do Atlético. O Coelho botou meia mão na taça, mas os alvinegros responderam em seguida, empatando o jogo após escanteio cobrado pelo meia Lusitano, nos minutos finais da primeira etapa. Os 2 gols da partida aconteceram em menos de 5 minutos.

Como não podia deixar de ser, o segundo tempo foi carregado de pura tensão e ansiedade. Oportunidades claras de gols vinham de ambos os lados do campo, mas os atacantes pecavam diante de tanta pressão.

Ao final, o América teve mais forças para segurar resultado e inaugurar o seu novo estádio com uma festa de gala, com a taça e as faixas de campeão sendo entregues por seu maior rival. O título abriu as portas para o futuro título estadual, conquistado no mesmo ano, naquele mesmo estádio, contra o mesmo adversário.

A reinauguração da Alameda com um título de tamanha qualidade técnica trouxe novos ares ao clube e representou o ressurgimento de um gigante adormecido do futebol mineiro. Após ser deca campeão, peitar a federação mineira de Futebol e protestar contra a falta de profissionalismo das equipes mineiras, o América finalmente retornou em 1948 ao grande cenário do futebol mineiro e brasileiro como um clube de alto escalão no futebol profissional. Além disso, a conquista também revela a força do Coelho de 1948 em nível nacional, já que foi o único campeonato do gênero disputado naquela temporada.