Campeão Mineiro Invicto de 1971

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Elenco campeão estadual invicto de 1971. (Reprodução: Super Esportes)

O América conquistou seu primeiro título no estádio do Mineirão em 1971, quando foi campeão estadual invicto durante uma temporada que ficou conhecida na época como “o ano de ouro do futebol mineiro”: Além do América campeão estadual invicto, o Atlético comandado por Telê Santana foi campeão brasileiro pela primeira vez naquele ano, o Cruzeiro de Tostão e companhia teve uma séria penta-campeã estadual interrompida um ano antes e perdeu o título estadual em 71 apenas na última rodada, e até o Villa Nova, de Nova Lima, foi campeão da Taça de Prata, sendo o primeiro time brasileiro a conquistar o título da Série B nacional.

Apesar da concorrência, o América de craques como Jair Bala, Pedro Omar, Amaury Horta, Dario Alegria e Dirceu Alves, não decepcionou, foi brilhante durante toda campanha e conseguiu permanecer invicto para levar a taça mesmo diante dos fortes adversários locais. Apelidado de “Abacate-Atômico” em razão da estreia do novo modelo de uniforme verde-negro em 1970, a equipe de 1971 quebrou marcas históricas, como o melhor desempenho da história do clube nas rodadas iniciais do Campeonato Mineiro desde o deca-campeonato, com sete vitórias seguidas e 10 vitórias nos 11 jogos do primeiro turno. O Coelho também mostrou sua força ao vencer os dois clássicos contra o histórico Atlético campeão brasileiro de 71 (2×1 e 1×0).

Mas se a competição prometia equilíbrio, não decepcionou, e foi decidida apenas na última rodada, quando os americanos precisavam vencer o Uberlândia, no Mineirão, e “torcer” por uma vitória do Atlético sobre o Cruzeiro, em uma das raras oportunidades onde americanos e atleticanos uniram forças a fim de evitar novo título celeste. Caso a equipe palestrina vencesse o clássico, empataria em pontos com o América, mas levaria a fatura, já que, pela primeira vez na história, o Campeonato Mineiro seria decidido no saldo de gols.

O Coelho venceu o Uberlândia por 3×2 – com mais um gol de bicicleta de Jair Bala, artilheiro da competição e responsável por nada menos que 5 gols de bicicleta durante o certame, segundo lenda propagada não apenas por torcedores americanos. Já o Atlético não permitiu o Cruzeiro levantar a taça em suas costas e venceu o clássico por 2×1, ajudando o América a ser campeão invicto de forma indireta. Afinal, depois de liderar durante toda competição, seria muita perseguição do destino se aquela equipe que foi cinco vezes vice-campeã estadual desde a tríplice coroa 1957 fosse vice-campeã após uma campanha invicta quase perfeita como a de 71. Seja como for, os jogadores americanos fizeram uma romaria em agradecimento ao final feliz rumo à Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira do clube. Curiosamente, o “favor” atleticano foi curiosamente retribuído em 1979, quando uma vitória do América sobre o Cruzeiro, liderado pelo mesmo Jair Bala, dessa vez como treinador, garantiu o título mineiro à equipe alvinegra.

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Os reis do Mineirão: Poster comemorativo do título invicto de 1971. (Reprodução: Revista Placar)

CAMPANHA:

JOGOS:

Primeiro Turno:
América 1×0 Tupi
América 2×1 Uberaba
América 3×0 Casemiro de Abreu
América 1×0 Valério
América 2×1 Atlético
América 3×0 Flamengo de Varginha
América 2×1 Atlético de Três Corações
América 1×1 Cruzeiro
América 1×0 Villa Nova
América 3×1 Fluminense de Araguari
América 2×0 Uberlândia

Segundo Turno:
América 2×2 Tupi
América 2×2 Uberaba
América 2×2 Casemiro de Abreu
América 1×0 Valério
América 1×0 Atlético
América 1×0 Flamengo de Varginha
América 1×0 Atlético de Três Corações
América 1×1 Cruzeiro
América 2×0 Villa Nova
América 1×1 Fluminense de Araguari
América 3×2 Uberlândia

PRIMEIRO TURNO

Depois de repatriar grandes craques do futebol brasileiro, como Jair Bala, Amaury Horta, Dario Alegria e Dirceu Alves (jogadores que tiveram passagem de destaque pelo Coelho durante as campanhas vice-campeãs de 1964 e 65), América do técnico Biju começou o estadual de forma avassaladora e com pinta de favorito quando alcançou 100% de aproveitamento nas sete rodadas iniciais, o melhor início de Campeonato Mineiro do América desde desde a conquista do deca-campeonato, e 10 vitórias nos 11 jogos do primeiro turno, empatando apenas com o Cruzeiro. O desempenho que garantiu a liderança isolada da competição, com vantagem de 4 pontos sobre o segundo colocado, e o “título” do primeiro turno, segundo expressão utilizada na época.

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Recorte de jornal da época destaca os jogadores do América em 1971.

Durante a primeira fase, o América conseguiu resultados históricos, como a primeira derrota no ano do Atlético Mineiro de Telê Santana, futuro campeão brasileiro e equipe mais celebrada da história rival (2×1, gols de). Contra o Cruzeiro de Tostão e companhia, o América dividiu os pontos durante a última rodada da primeira fase (1×1), naquele que seria o único empate do América no primeiro turno; De resto, só vitória. Desde já, evidenciava-se que a briga pelo título de 71 seria mesmo entre as históricas escalações de América e Cruzeiro.

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Jair Bala em ação contra o Cruzeiro em 1971: Considerado o melhor jogador da história do América, Bala repetiu o feito de 64 e foi novamente artilheiro da competição. (Reprodução: Super Esportes)

SEGUNDO TURNO

Tudo parecia estar dando certo ao Coelho, que jogava bonito, estava invicto e liderava a competição com quatro pontos de vantagem para o segundo colocado. No entanto, uma fatalidade conseguiu abalar aquela equipe que parecia inabalável, quando o técnico Biju,  antigo e vitorioso americano, foi obrigado a abandonar o Coelho por questões de saúde. Um grande baque, gravemente sentido por jogadores e torcedores.

Nas partidas seguintes sem Biju, o América sentiu a ausência do querido treinador, e empatou três jogos em sequência. A liderança apertou, e uma provocação da época, que tanto atormentava a torcida americana, ressurgia com força: Marcados pelo azar de cinco vice-campeonatos estaduais desde a conquista da Tríplice Coroa em 57, diziam as más línguas que o América só conseguia ser campeão do primeiro turno, já que o Coelho desperdiçou títulos estaduais na década de 60 após campanhas brilhantes. A equipe americana foi testada com toda pressão extra-campo que se possa imaginar, não apenas por parte das torcidas rivais, como da própria imprensa mineira em si. Porém, àquela equipe se tornou ainda mais histórica por ter resistido a tudo isso de cabeça erguida.

Auxiliar técnico de Biju, Henrique Frade foi quem assumiu o leme. Conhecido por ser um torcedor americano fanático, Frade se saiu bem na missão ingrata de substituir o antigo comandante. Sua primeira grande missão foi recuperar o emocional daquela equipe abalada por empates indesejados e pelos problemas de Biju. Sob a liderança do novo treinador, os atletas se reuniram e assinaram um quadra com a foto da equipe, onde estava escrito “serei campeão mineiro”. O episódio acabou se tornando o símbolo da reação americana na competição.

Após vencer X por X, a moral da equipe se renovou de vez com uma nova vitória em clássico contra o Atlético campeão nacional, dessa vez, por 1×0. Na sequência, o pressionado Coelho conseguiria mais duas vitórias, apagando os 3 empates em sequência com 4 vitórias consecutivas.

Nas rodadas finais, o América novamente empatou contra o Cruzeiro por 1×1, mas conseguiu uma vitória importante no clássico inter-municipal contra o Villa, campeão brasileiro da Série B no mesmo, por 2×0, garantindo a liderança.

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O Cruzeiro dificultou a vida do América na competição e brigou com o Coelho pelo título até a última rodada. O rival foi o único adversário que o América não venceu no Estadual daquele ano, empatando ambas as partidas por 1×1. (Reprodução: Super Esportes)

Com o resultado, o América tinha uma tarefa aparentemente fácil para garantir o título com antecipação, durante a penúltima rodada do certame, bastando uma simples vitória diante do modesto Fluminense de Araguari. Mas o “Flu-pirata” tinha craques como Juca Show, lendário jogador americano, que acabou sendo o principal responsável pelo empate em 1×1. Nessa partida, Juca jogou tanta bola, que os torcedores americanos, impressionados, fizeram uma vaquinha para trazer o jogador à equipe.

O empate amargo desiludiu alguns americanos, já que com o resultado, o clube dependia da vitória ou empate do Atlético Mineiro sobre o Cruzeiro, na última rodada, para ser o campeão. Caso o Cruzeiro ganhasse, o clube celeste empataria em pontos com o Coelho, e seria campeão por saldo de gols (pela primeira vez o campeonato mineiro seria decidido por esse critério). O jogo do América seria no sábado, enquanto o clássico seria disputado no domingo.

Depois cinco vice-campeonatos traumáticos desde o título mineiro em 1957, seria muita perseguição do destino se o Coelho fosse vice-campeão invicto em 1971. Porém, calejado por anos difíceis, alguns achavam que o azar era iminente, e o América encarou o Uberlândia no Mineirão, pela última rodada, com menor público que o esperado, em contraste com jogos lotados durante todo campeonato. Mesmo assim, a equipe fez sua parte e venceu por 3×2, com direito a um histórico gol de bicicleta de Jair Bala, que já acumulava 5 gols do tipo na competição, um feito único na história do futebol brasileiro. Bala também foi o artilheiro do Campeonato Mineiro pela segunda vez na carreira, com 14 tentos.

Dessa forma, bastava um empate ou vitória do Atlético sobre o Cruzeiro, em clássico disputado no dia seguinte, para o América pintar a taça de verde, branco e preto. Em uma das raras vezes na história em que americanos e atleticanos uniram força, à fim de evitar novo título da equipe celeste, a sorte do Coelho prevaleceu e a vitória no clássico foi alvinegra.

Se o último jogo do América na competição não teve tanto público como esperado, já que o Coelho dependia do resultado do clássico entre Atlético e Cruzeiro, a comemoração pelo título, essa sim, teve o tamanho da ocasião. À época, os americanos ainda clamavam ser a segunda maior torcida da capital, e a celebração pelo décimo terceiro título estadual pareceu comprovar esse fato, com milhares americanos invadindo os quatros cantos de Belo Horizonte. Os atleticanos se juntaram à festa e foram bem-recebidos, já que contribuíram para evitar novo título cruzeirense. A revista Placar!, em reportagem em homenagem ao título do Coelho, registrou:

Para agradecer a sorte do destino, uma romaria de jogadores e torcedores partiu em direção à Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, que carrega o nome da padroeira oficial do clube.

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